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sexta-feira, 12 de junho de 2020

Moneyball, Futebol Medieval e uma sugestão para o Verão

"O Moneyball é um filme que hoje em dia todos conhecem ou ouviram falar, onde um Director de um clube, os Oakland A’s, montou uma equipa para rivalizar com o New York Yankees, quando os Yankees gastavam três vezes mais do que os A’s. Mas o Moneyball antes de ser um filme, já era um livro, onde estão muitos mais dados do que no filme. Se lerem o Moneyball, percebem como o Basebol era um desporto medieval antes do aparecerem as estratégias que Billy Beane, antigo Director dos A’s, pôs em prática. Uma das áreas onde se via que o Basebol era um desporto medieval era no Draft.
Nos Desportos Norte-Americanos há um mecanismo para equilibrar as equipas e torná-las mais competitivas. Chama-se Draft, onde a pior equipa da época anterior escolhe o melhor jovem de todas as Universidades ou Escolas Secundárias, a segunda pior escolhe o segundo melhor e assim sucessivamente até ao Campeão escolher. No Futebol Americano para um jogador ser elegível tem estar na Universidade pelo menos três anos. No Basquetebol para um jogador ser elegível para o Draft tem que estar na Universidade pelo menos um ano. No Basebol um jogador pode ser elegível imediatamente ao sair da Escola Secundária mas também pode ser elegível depois de estar na Universidade pelo menos dois anos. Há muito tempo que se debate se o melhor é draftar alguém saído da Universidade ou alguém saído da Escola Secundária. É aqui que entra no Moneyball.
Antes de Billy Beane aparecer, a sabedoria convencional dizia que os jogadores saídos das Escolas Secundárias iam ser melhores jogadores do que os que estavam a sair das Universidades. Por isso, no Draft toda a gente escolhia jogadores das Escolas Secundárias. Até que Billy Beane e a sua equipa decidiram fazer análises estatísticas ao Draft e perceberam que um jogador saído da Universidade tinha quatro vezes maior probabilidade de jogar na equipa principal do que um jogador saído de uma escola Escola Secundária.
E é aqui que entra o Futebol Medieval. A sabedoria convencional diz-nos que se uma equipa não ganha é culpa do treinador. No entanto há várias (cada vez mais) análises estatísticas a desmentir a ideia de que basta mudar de treinador para resolver todos os problemas. É muito mais provável que uma equipa esteja a jogar mal por culpa dos jogadores ou da Direcção do que por culpa do treinador. Como tal, mudar de treinador, em média não tem qualquer resultado positivo. Perguntem a amigos do Sporting. Eles têm anos de prática a mudar de treinadores sem bons resultados. O que aconteceu o ano passado foi uma excepção. Foi a primeira vez que uma equipa mudou de treinador e foi Campeã no mesmo ano em Portugal em muito tempo.
Um treinador é tão culpado dos maus momentos, como dos bons momentos. O Benfica caminha para a terceira época consecutiva com um mau futebol, com excepção à segunda metade da época passada. O Bruno Lage é também responsável pela época 17-18 ou pela primeira metade da época 18-19? Óbvio que não. E a culpa desses 18 meses foi toda de Rui Vitória? Também me parece óbvio que não. Não acredito que Rui Vitória tenha gostado de lhe substituírem Ederson, Nélson Semedo e Mitroglou por Bruno Varela, Douglas e Gabigol.
Um bom treinador é alguém que é difícil de arranjar. Um bom treinador que se encaixa na perfeição na estratégia global do clube (aposta na formação) é ainda mais difícil. Mais do que mau futebol, sem boas ideias, o que temos visto nestes últimos três anos tem sido uma sucessão de más decisões a gestão. Desde jogadores que não foram substituídos devidamente, a jogadores que não foram substituídos sequer, com renovações com jogadores medianos que tinham feito uma boa época pelo meio. Temos visto de tudo. Mais de dois terços dos nossos reforços dos últimos três anos, já não estão no plantel. É mais provável qualquer reforço que o Benfica faça neste verão esteja a jogar noutro clube a partir de Fevereiro do que a titular na Luz. Porque é que isto tem acontecido de forma recorrente?
Porque não há ninguém a dar a cara na escolha dos reforços. Em todos os clubes de futebol minimamente modernos há a figura de Presidente e a figura de Director Desportivo. Quem é o Director Desportivo do Benfica? O Rui Costa? O Rui Costa há 10 anos atrás aparecia em aviões a trazer Pablo Aimar. Agora aparece envolvido em alguma negociação do Benfica? Como é que alguém que queria trazer o Pablo Aimar aceita um Caio Lucas ou um Douglas? Não faz sentido. Nada na política de contratações do Benfica faz sentido. E o nosso futebol é um reflexo de vários anos sem uma política de contratações decente. É o reflexo de não termos um Director Desportivo que seja responsável pela criação e gestão de um plantel.
Para aqueles que dizem que o plantel não foi formado à revelia de Bruno Lage, é só irem ver a primeira entrevista dele desta época, no primeiro dia de treinos. Bruno Lage pediu um plantel curto e competitivo em todas as posições. O que lhe deram foi um plantel com mais de 30 jogadores, sem um lateral direito (começámos a época com um lateral esquerdo a jogar à direita), sem um segundo avançado (uma das posições fundamentais no nosso esquema táctico do ano passado), sem uma alternativa na baliza (passámos o verão todo atrás de um guarda-redes e depois afinal já não era preciso) e sem uma alternativa a Ferro/Rúben Dias, Rafa e Pizzi.
Este verão, se puderem, leiam o Moneyball. Talvez vos ajude a perceber que apesar de serem desportos muito diferentes, o futebol está numa fase medieval, com ideias preconcebidas que todos os dados estatísticos desmentem. E a maior delas, é que um treinador é o culpado das derrotas de um clube que há três anos tem perdido mais vezes do que tem ganho."

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