Últimas indefectivações

quinta-feira, 21 de março de 2019

Sabe quem é? Caiu, partiu a perna... - Luís Filipe Vieira

"Primeiro jogo que viu na Luz acabou em drama, à pendura no eléctrico; O destino ao lado de vice-campeão olímpico

1. O pai era pedreiro, a mãe trabalhava numa fábrica de confecções. Viviam numa casa de lusalite no Bairro das Furnas, por trás do Jardim Zoológico. Jogando pela rua com bolas feitas de restos de jornais e papéis - ainda se aventurou à equipa de futebol do bairro: Os Leões das Furnas, porém não foi grande o seu sucesso por lá.
2. Não tanto pelas orelhas grandes mas mais pelas suas reguilices e irrequietudes - o pai desatou a chamar-lhe Ventoinha. Aos domingos sobretudo, saltava o muro do Zoo para ir, sorrateiro, recolher moedas que o elefante rejeitava. Aos 12 anos entrou na Luz pela primeira vez para ver jogo do Benfica com o FC Porto. De súbito, a felicidade transformou-se em drama: regressando do estádio pendurado no eléctrico, caiu e partiu uma perna.
3. Pelos 17 anos, espírito de aventura levou-o a zarpar das Furnas. Com Silvério, um dos amigos, procurou arranjar emprego num hotel em Coimbra, não conseguiu. Largaram ambos, então, para Viseu - para casa de colega de Silvério. Como Fernando e Benvinda, os pais, dele nada sabiam, lançaram-se, em pânico à sua busca, chegaram a meter anúncio com foto num jornal procurando-o - e acabou por ser a GNR a ir buscá-lo a Viseu.
4. Ao chegar a hora da tropa, andou por Beja e Torres Novas. Mobilizaram-no para Moçambique. Estava na Beira quando, algures por 1970, por graves problemas de estômago, o mandaram de regresso a Lisboa.
5. Ao segundo ano de liceu no Pedro de Santarém, largara a escola. Em resposta a um anúncio, conseguiu emprego no escritório da Morgado & Fernando, loja de pneus em Campo de Ourique que pertencia já a atirador de renome: Armando Marques - o Armando Marques que, no tiro dos Jogos Olímpicos de Montreal haveria de ganhar, tal como Carlos Lopes nos 10 000 metros, a medalha de prata. Do escritório saltou, num ápice, para o balcão, revelando jeito impressionante para vendedor (e não só...)
6. Não tardou que lhe fosse dada a gestão comercial da firma - e a dado instante fez a Armando Marques uma proposta: que além do ordenado recebesse comissão na venda das jantes de liga leve que conseguisse fazer. Foi tal o sucesso que, o dinheiro que assim juntou, lhe deu para comprar o primeiro automóvel: um Morris GT 1275. Impressionado com os seus dotes para o negócio, apareceu-lhe a Justino Gomes Bessa (para além de venda de pneus combustíveis) a desafiá-lo para gerente, oferecendo-lhe de ordenado o que muitos jogadores na I Divisão não recebiam.
7. Antes dos 30 anos, de sociedade com Eduardo Carvalho, lançou a Auto-Pneus da Póvoa e foi criando império nos pneus. (Contou-o numa entrevista à Sábado «Kadhafi dos Pneus foi alcunha que me foi posta por Gomes de Lourosa, empresário do Norte, muito brincalhão. Quando comecei era impensável alguém de Lisboa ir vender ao Porto. Nós íamos. E quando os nossos concorrentes tentavam vender qualquer coisa diziam-lhe que já nos tinham comprado. Éramos uns terroristas. E começaram a chamar-me Kadhafi. É alcunha carinhosa, não, não levo a mal».
8. Já na década de 80, trocou os pneus pela construção civil e o sector imobiliário - e a sua fortuna não mais parou de crescer. Por meados de 1991 lançou-se no futebol como presidente do Alverca, levando-o da II Divisão B à I. Nesse tempo, um dos seus grandes amigos era Pinto da Costa (por isso se diz que sócio do FC Porto se fez...) Sócio do Benfica era - e Manuel Vilarinho (a quem expressara apoio na luta com Vale Azevedo) chamou-o a seu assessor na SAD do Benfica, abrindo-lhe a porta à imortalidade.
9. A 3 de Novembro de 2003, tornou-se o 33.ª presidente do Benfica. Bento Mântua (o dramaturgo que Cosme Damião lá pusera por não querer que o cargo fosse seu...) estivera na presidência durante 9 anos, 3 meses e 1 dia - e foi ele que lhe bateu esse recorde. Pelo caminho, desentendeu-se (ou pior...) com Pinto da Costa, ganhou muito mais do que seis campeonatos (alguns deles sem poder ver, por determinação médica jogos nas bancadas, deixando-se ficar, assim, fechado no balneário sem sequer ouvir relato...), fez muito mais do que o novo estádio - e por isso há benfiquistas que o consideram o Maior Presidente da sua história..."

António Simões, in A Bola

1 comentário:

  1. E é por isso que fez muitos inimigos, sendo alvo a abater. Os adversários, mesmo a liga e federação têm medo que com o crescimento do SLB acabe com as outras equipas consideradas grandes e tudo fazem para o desacreditar, e parar com o crescimento do Benfica.

    ResponderEliminar

A opinião de um glorioso indefectível é sempre muito bem vinda.
Junte a sua voz à nossa. Pelo Benfica! Sempre!