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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

E dinheiro para o Rio?

"Confesso: já temia que Portugal não conquistasse nenhuma medalha em Londres. Recordei, nos últimos dias, inúmeras imagens e conversas que testemunhei nos Jogos de Barcelona, em 1992, quando, pese uma representação vasta, aconteceu de tudo aos nossos atletas (inclusive situações bizarras) menos assegurar lugares no pódio. No entanto, o despertar matinal de ontem valeu a pena. Fernando Pimenta e Emanuel Silva, dois jovens canoístas que quase todo o país desconhecia (nomeadamente aqueles que, como sempre, foram céleres a associar-se à festa, mas que se esquecem de aparecer quando as coisas correm menos bem...), em boa hora acederam ao galarim do desporto luso.
A canoagem nunca tinha dado uma medalha olímpica a Portugal mas, nos últimos anos, após uma aposta séria dos responsáveis federativos (a contratação de um técnico reputado e a criação de boas condições de treino foram fulcrais), evoluiu imenso e, hoje em dia, embora a maioria da população ignore o facto, rivaliza com as principais potências internacionais em várias categorias. E se os resultados em Londres têm sido notáveis, convém acrescentar que fora das competições da capital britânica ficou mais um punhado de valores que, muito em breve, poderão seguir as pisadas dos dois nortenhos que, após tanto sacrifício, atingiram o sonho de qualquer desportista: chegar à maior competição desportiva do planeta, figurar entre os finalistas e trazer uma medalha para casa.
Um galardão olímpico não é apenas um troféu pitoresco que se coloca num local vistoso de uma qualquer estante de sala. É mais uma “assinatura” de qualidade, que fará prova eterna da dedicação de alguém a um desporto. Ninguém fica nos três primeiros lugares de uma prova olímpica sem investir anos e anos de trabalho, sem sofrer, sem deixar de lado tantas e tantas coisas que todos consideramos normais e gostamos de fazer. Quem pretender chegar ao topo não se limita a praticar uma modalidade, antes abraça uma “religião” que obriga a rotinas verdadeiramente impensáveis para a maioria dos mortais.
Mais do que olhar apenas para a medalha da canoagem, os portugueses deviam tentar perceber os sinais positivos que nos chegaram através de outros desportos pouco ou nada mediáticos como remo, tiro, ténis de mesa, vela, triatlo, ginástica ou hipismo. É evidente que continuamos a estar (e estaremos sempre por várias razões) a léguas dos grandes tubarões do desporto mundial, mas agora já se conseguem ver atletas nacionais competitivos em diversas modalidades. Só que isso, para além do talento e da qualidade dos “artistas”, significa uma aposta de muito dinheiro para proporcionar as melhores condições de trabalho a quem acredita ser possível atingir o topo. E é por isso que, desde já, me interrogo sobre algo tão simples como isto: com a crise que nos martiriza diariamente, onde é que se poderão encontrar as verbas necessárias para, em 2016, no Rio de Janeiro, Portugal continuar a aproximar-se dos melhores?"

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