"A semana passada foi repleta de acontecimentos, qualquer um deles digno de destaque. Poderia realçar a vitória categórica e histórica do Benfica no Dragão ou o empate do Sporting em Alvalade, que corresponde a um passo atrás na luta pelo título. No entanto, houve um que se sobrepôs a todos. Como dizia Arrigo Sacchi, o futebol é a coisa mais importante das coisas menos importantes. Esta frase encaixa na perfeição na pessoa que quero homenagear no meu artigo de hoje: o Sr. Aurélio Pereira.
Um homem de valores
Devo confessar que falei poucas vezes com o Sr. Aurélio Pereira. Foi com espanto que recebi uma mensagem sua no dia 27 de novembro de 2023 a agradecer um parágrafo, que justamente lhe tinha dedicado, aquando da homenagem que foi alvo por parte da FPF. Depois dessa primeira mensagem falámos mais algumas vezes, por telefone e por mensagens. Paralelamente, estudei com um dos seus sobrinhos, o que me permitiu ter uma noção mais clara da forma de estar e de ser do Sr. Aurélio. Tratava-se de alguém genuíno, humilde e dedicado. Nunca procurou tirar louros dos seus feitos e da sua competência. Não procurou estar nos holofotes. Sempre se manteve no seu canto, satisfeito e orgulhoso pelos vários talentos que ajudou a descobrir. Nunca quis puxar para si o mérito da descoberta de jogadores como Cristiano Ronaldo, Figo, Futre, Quaresma, Dani ou Nani entre tantos outros. O seu sucesso foi sempre partilhado com aqueles com quem trabalhou. Ao contrário de outros, nunca recebeu comissões, não entrou em esquemas e não enriqueceu com o futebol. Das conversas que tive com ele percebi que a grande riqueza que retirou dos anos que serviu o futebol foi o reconhecimento daqueles que com ele trabalharam.
O exemplo
Em 2023 escrevi o seguinte: «O desporto, mais especificamente o futebol, é muito atrativo pelo mediatismo que gera. Esta atratividade acaba por atrair todo o tipo de pessoas. Umas que pretendem protagonismo, outras que querem apenas aparecer e estar presentes, outras que se querem aproveitar do fenómeno para progredirem socialmente, outras que se querem servir do futebol e, por fim, aquelas que servem o futebol de corpo e alma e que não querem estar sob os holofotes, preferem antes ficar na sombra. Para este último tipo de perfil, o sucesso dos outros é o seu sucesso.» Recuperei estas palavras que escrevi porque me parece que identificam na perfeição e definem a mensagem que pretendo passar. Num mundo e numa sociedade cada vez mais estranhos onde impera a lei dos supostos influencers e se medem o valor das pessoas pelo número de seguidores nas redes sociais, exemplos como Sr. Aurélio Pereira fazem muita falta e devem ser devidamente valorizados.
Interesse nacional
São escassos os perfis como o do Sr. Aurélio Pereira no futebol. Não é preciso andar muitos dias para trás para percebermos a forma antagónica com que os nossos dirigentes olham para a sua função. O reconhecimento social, o estatuto e a ambição desmedida caraterizam uma grande parte dos dirigentes que têm funções de responsabilidade no futebol em Portugal. Não se importam de abrir guerras por egos. Uns têm como objetivo poderem perpetuar-se no poder. Outros, tomam decisões a pensar nos seus interesses pessoais e sem olhar a meios para atingirem os fins. No limite, o que pretendo dizer é que muitos estão no futebol a pensar em si próprios e não na importância que as suas decisões e posicionamentos podem ter na evolução deste desporto que tanto gostamos. Posso assim considerar que pessoas como o Sr. Aurélio Pereira são cada vez mais a exceção. Foi alguém que sempre viveu no futebol por paixão e não por interesse.
A dedicação, o fair play, o profissionalismo, a empatia, a admiração, a honestidade, a amizade, a sensibilidade para trabalhar com miúdos e graúdos, o reconhecimento, o trabalho em equipa, a competência, a humildade, a visão, o olho clínico, o conhecimento do jogo e do ser humano, a preocupação e a missão de fazer evoluir o seu clube e o futebol nacional, são valores e competências que caraterizaram o Sr. Aurélio Pereira e que marcaram quem teve o privilégio de ter trabalhado com ele ou passado pelas suas mãos. De uma forma muito direta, o Sr. Aurélio Pereira foi alguém que sempre pensou no interesse nacional acima do seu interesse pessoal ou dos cargos que poderia ter alcançado. Infelizmente, partiu um de nós, um dos nossos, frontal, direto, sincero e que gostava genuinamente de futebol. Apesar de nunca ter tido um cargo de grande relevância no futebol português, a verdade é que tem muito mais reconhecimento e admiração do que a maioria dos que têm cargos de outra dimensão. Isso, por si só, deve incomodar e causar inveja a muita gente. Obrigado Sr. Aurélio Pereira.
A valorizar: Vítor Pereira
Está a fazer um trabalho incrível no Wolverhampton. Chegou à jornada 17 com 9 pontos e abaixo da linha de água. 14 jornada depois tem 32 pontos e está a 12 da linha da descida!
A valorizar: Bruno Lage
Num campeonato em que o vencedor será o menos mau, Bruno Lage, treinador do Benfica, conduziu os seus jogadores a uma vitória histórica no Dragão e aumentou a confiança do universo benfiquista.
A desvalorizar: Martín Anselmi
A falta de qualidade do plantel não justifica tudo. Defensivamente o FC Porto comete muitos erros de posicionamento, seja em bolas paradas, em transições defensivas ou com a defesa organizada. Ofensivamente tem dificuldades em criar situações de finalização."
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