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sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Sabe quem é? Até a bronquite sarou - Luisão

"O caminho aberto pelo avô (e as flores estragadas); O truque contra a lama nos pés (e a noite dos 15 mil euros)

1. O avô, passara (discreto) pela Portuguesa, era Mário Miguel Silva, chamavam-lhe 'Goiaba' - e, depois, andou pelo Cantusio, o Mogiana, o Campinas e o Ponte Preta. Pela Ponte Preta abriu o pai a aventura no futebol, era Mário Luís da Silva, chamavam-lhe 'Amaral' - de lá saltou para o Guarini, o Junior do Paulista, o Paulista de Jundaí, o Serra Negra, o Itapira e o Amparo.

2. Por Amparo, no interior de São Paulo, à beira de Campinas, 'Amaral' conheceu 'Arlete' - e por lá nasceu ele. A mãe contou-o: «'Ander' cresceu com um problema de bronquite, depois que começou a jogar à bola, sarou». (Ainda hoje é por 'Ander' que todos o tratam na intimidade - apesar de ter sido pelo superlativo do seu segundo nome que ele rasgou a história...)

3. Ao 'Amaral', o futebol não lhe deu riqueza. Por isso o filho, não teve nada uma infância de fausto: viviam numa casinha modesta, para se chegar à estrada era preciso calcorrear-se um quilómetro por picada fora, entre o cafezal - e ele arranjou, despachado, truque que os irmãos seguiram: «Se queríamos ir para a cidade, quando chovia para não chegar com os ténis cheios de poeira ou de lama, a gente colocava um saco de plástico em cada pé - quando tomava o asfalto era só tirar, que o pé continuava brilhando».

4. Tendo de cinco anos, 'Amaral' criou em Amparo uma escolinha de futebol - e levou-o com ele: «No primeiro dia, não apareceu mais ninguém, era só nós dois. Me lembro de dizer: 'Vamos embora' - e de papal responder sério: 'Não, vamos é treinar'. Pegou bolinha de borracha, ele tocava para mim, eu tocava para ele. Tudo o que sou, foi ele que me ensinou - e quando comecei a crescer, me disse: 'Tu não vai ser mais volante não, vai jogar de zagueiro» (e sim, foi assim, que deixou de ser o que começara por ser: trinco).

5. Por todo o tempo que tinha, queria andar com os irmãos ao pontapé na bola. «Problema era arranjar campinho - e era o azar de Dona Jacira. Como a nossa era rua de terra sem saída, a gente fazia o gol na porta dela, onde ficavam as flores, a gente batia e quebrava». (Jacira revelou-se ao Globo: «Sim, os garotos acabavam com as minhas flores, eu botei cerquinha até para ver se adiantava, mas eles nunca fizeram malcriação com a gente..»).

6. Os irmãos era o Alex (que agora joga no Wilstermann - e pelo São Paulo também chegou ao escrete) e o Andrei (que anda pelo Santo André). «Acho que só não saíram mais jogadores porque a outra é menina». (e de cabeça rapada, todos jogam...)

7. Do carioca saltou para Rio Branco, tentou (em vão...) o São Paulo e o Corinthians - no Juventus foi a grande figura da equipa que em 1998 ganhou o campeonato paulista de juvenis. No Cruzeiro venceu a Copa Brasil de 2000 e de 2003 - e o Benfica o foi buscá-lo, a troco de um milhão de euros.

8. Uma vez afirmou: «Zagueiro bom não pode sorrir dentro do campo» - o primeiro título de campeão no Benfica saiu-lhe directamente da cabeça para história: o empate podia ser paraíso de Sporting (ou FC Porto) e, chegando onde Ricardo não chegou, fez golo aos 84 minutos. O guarda-redes jurou que foi com a mão - Paulo Paraty, ficou na dúvida. O fiscal de linha garantiu que não, que foi com a cabeça - e Paraty confirmou na TV: «sim, foi golo legal».

9. Pelo Brasil venceu a Copa América de 2004 e a Taça das Confederações de 2005 e 2009. Quique Flores dissera poético o que outros acharam: «É o meu guarda-costas em campo» - e a 26 de Abril de 2015, contra o FC Porto, fez o jogo 329 com braçadeira de capitão (e bateu o recorde de Coluna). Não foi só: 20 títulos no Benfica só ele conseguiu: 6 campeonatos, 3 Taças, 7 Taças da Liga, 4 Supertaças - em 538 jogos (mais só Nené fez, fez 578).

10. Chamaram-lhe 'Pirulito', chamam-lhe 'Girafa' - e na história há o reverso da medalha. Em 2007 foi apanhado, pela madrugada, a conduzir o seu Porche Cayenne, com excesso de álcool - tribunal aplicou-lhe 40 horas de trabalho comunitário, o Benfica multou-o em 15 mil euros (10% do seu ordenado). Em Agosto de 2012, com o Fortuna Dusseldorf, o árbitro queixou-se de que o agredira (e que, na queda, o levara ao desmaio). Tribunal comum condenou-o a indemnização de 60 mil euros, a justiça desportiva já o punira com dois meses - e ele nunca deixou de dar ideia de que Fischer exagerara o «teatro» que fez."

António Simões, in A Bola

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