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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Dois países

"Foi há 20 anos a minha primeira saída para o terreno. Ia com um objectivo: acompanhar um repórter sénior e perceber o dia a dia de um jornalista no exterior. Tive aí o primeiro choque de realidade que nenhuma universidade ensina: ao perceberem que éramos jornalistas, um grupo de adeptos dirigiu-nos um sem-fim de injúrias, ali entre a sala de imprensa e a entrada principal do Estádio da Luz. Motivo: os jornais tinham noticiado a falta de pagamento do passe de Karel Poborsky ao Manchester United e mais algumas imprecisões de João Vale e Azevedo, o presidente que ganhara as eleições, meses antes, com um discurso populista e apontando o FC Porto como inimigo.
Não demorei muito tempo a perceber a idiossincrasia do futebol português: para combater a promoção do ódio feita por Pinto da Costa (o mais instigador de que me recordo), a resposta tinha de ser proporcional por parte dos clubes de Lisboa. Uma contramentalidade. Foram incontáveis as vezes que ouvi isto da boca de altos responsáveis do Benfica e do Sporting: «Se eles fazem isto, nós também». «Isto» era maltratar jornalistas. Podia elencar uma série de incidentes que testemunhei e aos quais não atribuí muita importância pelo facto de a violência ter-se tornado coisa tão normal no futebol quanto um golo. Como por exemplo das vezes em que Luís Filipe Vieira ofendeu repórteres só porque lhes queríamos fazer perguntas.
Não me surpreende o aparecimento do fenómeno Bruno de Carvalho e os seus cães de fila: ele não é a origem, é uma consequência. E também compreendo a condenação geral ao presidente do Sporting: porque o Portugal de 2018 já não obedece ao «fatalismo muçulmano» de que falava Eça, de «nada a desejar e nada a recear». Um primeiro-ministro já foi detido e o maior banqueiro também. O país está a mudar. Mas só o país que não respira futebol. É pena. Rezemos para que o outro acorde par ao novo século."

Fernando Urbano, in A Bola

PS: Extraordinária a incapacidade de falar do presidente do Sporting, sem fazer falsas equivalências com o Benfica!

Não se tem tempo para elencar 'incidentes', sem importância, mas depois lá se identifica o presidente do Benfica, que muito provavelmente usou algumas expressões 'populares' à frente de jornalistas, mas seguramente de grau muito inferior às que são usadas pelos próprios jornalistas, sobre o presidente do Benfica...

1 comentário:

  1. se até retiram os processos em que foram vitimas de agressoes filmadas e que todos conhecemos como um tal de Catao a subir por uma bancada...20 anos e tal depois vimos capangas as descaradas...

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