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terça-feira, 9 de abril de 2019

Exercício físico, cérebro e sexo

"Depois de um título tão estimulante já estou a ver, principalmente os meus amigos, a salivar como o cãozinho de Pavlov esperando recompensas mentais para a sua lascívia e desenfreada imaginação libidinal. Aviso-os de que não fazem mal, pelo contrário, as deambulações sobre sexo e fantasias sexuais tem um efeito positivo sobre o cérebro humano.
Investigadores da Universidade de Groningen, na Holanda, juntaram um grupo de voluntários, homens e mulheres, separados em dois grupos, o grupo experimental (estes eram estimulados a pensar em sexo) e o grupo de controlo (estes eram estimulados a pensar num estímulo neutro). Consecutivamente, todos os elementos de ambos os grupos, tinham como a tarefa a resolução de problemas de lógica e de matemática. E, qual a surpresa, o desempenho dos que estavam com ideias “pecaminosas” foram os que obtiveram melhor classificação. Segundo os cientistas, este fenómeno acontece porque quando pensamos em sexo, o nosso cérebro ativa uma área que é responsável pela evolução, que nos ajuda num dos principais papéis (senão o principal) que é a reprodução. Assim, quando esta área está activa, começamos a dar maior atenção às outras pessoas, a achá-las especialmente atraentes (eu a pensar que a culpa era do álcool) e a tentar identificar sinais de interesse sexual… Desta forma, estas mudanças mentais que acontecem naturalmente para favorecer a reprodução, intensificam a nossa atenção e o nosso foco nos detalhes, o que deixa a percepção mais apurada acabando por favorecer deste modo o raciocínio.
A experiência sexual aguda aumenta os níveis circulatórios de corticosterona e o número de neurónios do hipocampo. A experiência sexual crónica, não aumentando os níveis de corticosterona, continua a promover a neurogénese em adultos e a estimular o crescimento dos prolongamentos (spine) dendríticos. A experiência sexual crónica reduz os comportamentos de ansiedade e melhora o bem-estar. Uma experiência prazerosa não só actua como tampão contra o efeito deletério da elevação dos glucocorticoides, mas também promove o crescimento neuronal e reduz a ansiedade. Tem, contudo, um efeito secundário adverso – a cara de palerma com que a maioria dos machos fica depois do intercurso. Existe uma razão científica para tal. A actividade sexual, principalmente após a fase orgástica, pode rapidamente exercer um efeito relaxante no status de humor do indivíduo (masculino principalmente), provavelmente relacionado como o aumento do tónus opióide no Sistema Nervoso Central.
A partir destes dados podemos inferir que atletas ansiosos e com dificuldade em dormir na noite que antecede a competição podem ter na actividade sexual um mecanismo relaxante. Logicamente que esta actividade sexual deve ser considerada como um “medicamento” ad hoc ou profilaxia ansiolítica e não como forma de exaltar as qualidades de “tarzão do quinto esquerdo”.
O exercício tem inquestionáveis benefício sobre a saúde cerebral. Dados epidemiológicos evidenciaram que o exercício físico regular reduz o risco de demência. Experiências em ratos demonstram que o exercício físico reduz a patologia beta amiloide (doença de Alzheimer) e melhora a função cognitiva.
A investigação suporta a evidência que o exercício crónico promove o desenvolvimento de novos neurónios no hipocampo com resultados positivos sobre a memória e aprendizagem. A neurogénese induzida pelo exercício contraria os efeitos deletérios e degenerativos do envelhecimento, nomeadamente atenuando a formação de placa amiloide em indivíduos propensos a doenças degenerativas cerebrais.
A actividade física sistemática está associada com a preservação da memória e da função executiva. Num estudo realizado na população inglesa, durante 10 anos, comprovou-se que a trajectória degenerativa era, em muitos caos, anulada e mesmo revertida, com os efeitos positivos mais pronunciados a verificarem-se nas mulheres.
A sociedade actual está fortemente marcada por diversas disfunções entre as quais se salientam as disfunções do foro mental. Por exemplo, nas sociedades sul-coreana e japonesa a taxa de suicídio é muito elevada e normalmente relacionada com crises profundas de depressão relacionadas com o desemprego, isolamento social e frustração de sonhos de realização profissional e social. Situações de depressão profunda caracterizam-se por: (i) níveis reduzidos do Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro, um marcador de neurogénese; (ii) aumento de citoquinas pró-inflamatórias (e.g. IL-6); aumento de marcadores de stresse oxidativo (e.g. superóxido dismutase; (iv) redução das enzimas antioxidantes (e.g. glutationa-peroxidase); (v) alterações na anatomia do cérebro (e.g. redução do volume do hipocampo) e (vi) alteração da actividade de algumas estruturas corticais (e.g. actividade anormalmente reduzida dos córtices pré-frontais laterais durante situações de que exigem controlo motor e emocional).
Assim, o exercício físico pode ser um adequado “medicamento” para as patologias relacionadas com a depressão. Assim, uma simples sessão de treino é suficiente para aumentar a concentração plasmática do Peptídeo Natriurético Atrial e Peptídeo Natriurético Cerebral (reguladores da volemia e tensão arterial), de copeptina (marcador da produção de arninina-vasopressina, hormona fundamental na manutenção do equilíbrio hídrico e do tónus vascular) e hormona de crescimento (segregada pela glândula hipófise e que controla a produção de vários factores de crescimento). Um dos efeitos mais importantes do exercício físico crónico relaciona-se com a saúde vascular. Parece que a plasticidade vascular tem uma importância fundamental na aprendizagem e memória. A investigação evidencia o aumento da plasticidade vascular induzida pelo exercício. A saúde vascular tem uma acção protectora contra o declínio cognitivo que acompanha o processo de envelhecimento.
Alguns autores defendem a teoria que mais que a neurogénese é a angiogénese o factor crítico na promoção da aprendizagem e memória. Dados da investigação apontam para o crescimento capilar nas áreas motoras do córtex cerebral como resposta ao exercício físico prolongado. Em adição ao aumento da capilaridade verifica-se, também, um aumento da vascularização com melhoria do fluxo vascular nas zonas cerebrais activadas.
Como não quero parecer um fundamentalista do exercício como alguns me acusam, acusação que eu tomo como elogio, apresso-me a evidenciar que não só o exercício físico crónico é indutor de neurogénese. Verificou-se que a corrida duplica o número de células cerebrais; contudo, o aumento da diversidade e riqueza do envolvimento parece ter o mesmo efeito. Por isso, viajar, conhecer novos lugares, interagir com novas gentes, visitar museus, catedrais, restaurantes originais, lugares de paisagens paradisíacas, etc., tem o mesmo efeito que o exercício físico na neurogénese.
Contudo, as vantagens de uma prática desportiva regular não se radicam nos efeitos positivos na neurogénese. As múltiplas adaptações sistémicas positivas tornam o desporto e a actividade física como realidades culturais e biológicas incontornáveis no panorama de défice de saúde actual.
Antes de ser realidade biológica, o desporto é uma cultura do corpo que devemos assumir como radical modeladora de comportamentos que toca em todas as dimensões do humano."

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