"Foi um jogo interessante, até pela irreverência arsenalista, com vitória, por números que deviam ter sido mais expressivos, de quem apresentou melhores argumentos. Minhotos só assustaram num lance de bola parada...
Ao derrotar o SC Braga, pela margem mínima, mas de forma clara, o Benfica deu um passo de gigante para chegar à final da Taça de Portugal, que já não vence desde 2017. Nesta altura, entre os encarnados e o Jamor, encontra-se o Tirsense, a primeira equipa do quarto escalão do nosso futebol (9.º da Serie A do Campeonato de Portugal) a atingir as meias-finais da prova rainha. E, atenção, os jesuítas têm história na Taça, ou não tivessem eliminado o Sporting dos Violinos (em dia em que Cândido de Oliveira fez poupanças a pensar na final da Taça Latina, com o Barcelona) por 2-1, a 17 de abril de 1949.
Assim, como só a pescada antes de o ser já o era, os encarnados não podem, nem devem, dar nada por garantido, por respeito ao Tirsense, e também por saberem que no futebol ninguém ganha nada antes do jogo acabar. Mas essas serão contas de outro rosário, para já importa saber de que forma o Benfica fez na Taça aquilo que não tinha conseguido na Liga: derrotar a equipa de Carlos Carvalhal. De então para cá, muita água correu debaixo das pontes, os arsenalistas estabilizaram e passaram a ser mais regulares, e o Benfica tornou-se numa equipa mais solidária, mais compacta e mais eficaz, independentemente de terem estado ausentes dois jogadores que normalmente funcionam como cola entre setores, Florentino e Manu. E talvez seja interessante começar precisamente pela transformação verificada na equipa de Bruno Lage, que perdeu em arte aquilo que ganhou em pragmatismo, prefere correr menos riscos desnecessários nas saídas de bola, e defende, com todos, de forma compacta e organizada.
Tanto isto é verdade quanto o SC Braga, que foi à Luz, desinibido, para discutir o jogo, apenas por uma vez, na sequência de um canto, por Racic (23), colocou em risco as redes à guarda de Samuel Soares (grande tranquilidade e excelente jogo com os pés). No mais, o futebol de bom quilate que saia dos pés de Ricardo Horta, Roger e depois Gharbi, foi neutralizado pela solidariedade e entreajuda benfiquistas. Com uma equipa montada em 4x2x3x1, Carlos Carvalhal teve em Racic um ‘joker’, que procurou jogar entre linhas, à frente de Moutinho e Gorby e atrás de El Ouazzani.
Já o Benfica, começa a mostrar, ao longo dos 90 minutos, algumas variantes muito interessantes, que aparentam estar sistematizadas: a equipa é capaz de jogar em 4x3x3, com Kokçu como elemento mais recuado, destinado a pautar jogo no trio de meio-campo; como passa para 5x4x1 com a integração de Dahl como lateral esquerdo e a passagem de Carreras para defesa central; como ainda adota um 4x4x2 puro, como aconteceu quando teve Pavlidis e Belotti em campo em simultâneo; e mostra também capacidade para se transformar num 4x3x2x1.
O que têm todas estas variantes do 4x3x3 inicial em comum? O pouco espaços entre setores, e a agressividade no momento da perda da bola. Foi isso que maiores dificuldades criou ao Sporting de Braga, e Carvalhal percebeu-o bem, preferindo que a sua equipa saísse a jogar com futebol direto; porém, quis o destino que numa das raras vezes em que procurou iniciar a jogada de trás, Paulo Oliveira teve um mau passe que Dahl intercetou, servindo de imediato Pavlidis que assinou um golo de bandeira. A vantagem do Benfica, que já tinha atirado uma bola ao poste por Akturkoglu (6) e vira Bruma (37) rematar de mira levantada sobre a baliza do muito promissor Hornicek, era mais do que justificada, e só não foi ampliada antes do intervalo porque aos 45+2 um cruzamento de Carreras não foi aproveitado nem por Kokçu, nem por Bruma.
DANÇA DOS BANCOS
Na segunda parte, Carvalhal não mexeu na estrutura, mas alterou peças, chamando a jogo Fran Navarro e Bambu. Mas o sinal mais, em termos de oportunidades continuou a ser do Benfica, que viu Bruma (54) e Pavlidis (57), muito perto de aumentar o ‘score’. Foi então que Carvalhal, sagaz, decidiu ‘partir’ o jogo, tirando Moutinho e fazendo entrar o excelente Gharbi para a esquerda, e passando Horta para as costas de Navarro.
Bruno Lage percebeu que o xadrez minhoto estava alterar-se e, aos 67 minutos, assumiu um 4x4x2 de inspiração nórdica, com as linhas recuadas e juntas: Belotti foi para o lado de Pavlidis, e Aursnes passou para defesa direito, entrando Barreiro para o meio-campo. Mas o SC Braga aumentou a pressão, passou a defender mais alto e Bruno Lage teve de corrigir a correção, passe a redundância: aos 79 minutos colocou o Benfica a jogar em 4x2x3x1, tirando Pavlidis, situando Amdouni nas costas de Belotti, e refrescando a ala esquerda com Schelderup na vez de Dahl.
O Benfica retomou o controlo da partida e não mais o perdeu, não obstante as entradas, nos minhotos, e Diego e Gabri, mais vocacionados para o ataque. O jogo chegaria ao fim com o Benfica a afirmar-se como justo vencedor, e o SC Braga, que não fez mais porque os donos da casa não deixaram, a explicar a razão de ter os mesmos pontos do FC Porto. Daqui para a frente, mesmo quando regressar Di María, o Benfica irá manter esta dinâmica coletiva, que defende e ataca, e se mostra altamente competitiva? Esta é uma questão que terá resposta na forma como Bruno Lage quiser aproveitar as qualidades do astro argentino, sem ser penalizado pelas suas insuficiências. Para já, do ponto de vista coletivo, na movimentação e na entrega, esta versão do Benfica é a que mais se assemelha à equipa encarnada que foi campeã com Bruno Lage."
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