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sábado, 29 de março de 2025

‘Viva la muerte!’ ou o cansaço do Leão Enfurecido


"Unamuno é um nome basco como poucos. E Miguel traz à memória Victorio e o chamado de Bilbau.

Unamuno: um daqueles apelidos telúricos. Em basco significa algo como colina solitária. Depois veio Miguel: Miguel de Unamuno y Jugo, nascido em Bilbau, no Casco Viejo, no dia 29 de setembro de 1864. Foi basco que falou e em basco escreveu, mas para o final da vida tornou-se bastante salamanquenho. Cedo órfão de pai, sofreu o dano dos dias difíceis. Fixou a frase: «Edozein egunetan ongi deritzot», qualquer dia é bom para mim. Estudou em Madrid, fez-se homem de princípios. Ensinou os outros. Teve dez filhos e viu seis morrerem ainda meninos. A dor fechou-se-lhe num lugar escondido do peito e fugia em letras. Miguel pode ter sido, de certa forma, uma colina solitária. Um rochedo rompendo o mar de um Espanha que perdia as colónias, punha em causa a monarquia, entrava em decadência cultural e caminhava a passos lentos e inevitáveis para uma das guerras civis mais sangrentas e cruéis que alguma vez alguém viu. No dia 12 de outubro de 1936, na Universidade de Salamanca, leu com voz firme o que terá sido o discurso mais minaz da sua vida: «Infelizmente há aleijados demais na Espanha hoje em dia», disse falando do general Millán Astray, um aleijado de inteligência aleijada. Ouviu em troca: «Muera la inteligência! Viva la muerte!». E os falangistas apontaram metralhadoras à sua cabeça. Morreu mesmo, seis semanas mais tarde: esvaiu-se por desilusão.
No anterior mês de abril, a Guerra Civil parou o campeonato espanhol de futebol. Os rapazes deixavam os relvados para mergulharem nas trincheiras. Talvez porque o destino não contemple coincidências e seja inevitável por natureza, o último campeão fora Basco: Athletic Bilbao. O treinador era inglês de Wolverhampton, Frederick Beaconsfield Pentland, antigo internacional pela Inglaterra, que orientara a seleção olímpica da Alemanha e fora apanhado em Berlim no início da I Grande Guerra e encafuado na prisão de Spandau. Um episódio sem ballett…
Mr. Pentland raramente abandonava o charuto e o chapéu de coco. Um daqueles ingleses que estão seguros de que a Terra é um planeta onde existe a Inglaterra, portanto. Trouxe consigo métodos de treino até então não vistos no país Basco e pôs os seus jogadores a praticarem um jogo de passe e repasse, controlando a bola na sua progressão em direção às balizas adversárias e, na fase final desse processo, insistindo nos remates fortes ou nos centros bem direcionados para a cabeça dos avançados. Na baliza tinha um seguro de vida: o enorme Ricardo Zamora. Na frente um quinteto de espaventar uma manada de mamutes: Gorostiza, Lafuente, Iraragorri, Bata, Chirri II e Unamuno. Era precisamente de Unamuno que eu queria falar. Até parece que nem falei antes, mas enfim. Victorio Unamuno Ibarzabal, natural de Bergara, Muy Noble y Leal Villa, na confluência dos caminhos de Oñate, Elgueta e Zumárraga, no território da Guipúzcoa. Forte como a Torre Luzea de Zarautz, duro como as Rochas de Zumaia, batalhador como Basajaun, o Homem Selvagem das Madeiras, sagaz como os iratxoaks da mitologia basca, Unamuno derrubava centrais com a facilidade com que um martelo pneumático fura uma parede de adobe. Aprendeu com o pai o ofício de avançado. Em seguida requintou-o. O maior dos seus rivais vivia porta com porta, e também vestia a mesma camisola: Agustín Sauto Arana, o Bata, El León Enfurecido, que lhe disputava o lugar e marcou sete golos ao Barcelona num 12-1 que não voltou a ter lugar. Foi para Sevilha três anos, jogar no Bétis. E o Bétis, com ele, foi campeão. Atraía triunfos à moda de um íman. Mas, ao contrário de Miguel, tinha por dentro um chamado irresistível. Era Bilbau e las balbainadas. Talvez aquele luar que se espalha sobre a ria espelhando areias, o movimento quase sexual das Siete Calles, as sombras das bétulas do Parque de Doña Casilda. Por causa de tudo isso, Yves Montand cantou: «Vieille lune de Bilbao que l’amour était beau/Vieille lune de Bilbao fume ton cigare là-haut». Regressou e foram dois: ele e Vicente, seu irmão, o Unamuno II. E um ano apenas, campeão outra vez. Já o Leão Enfurecido desistira de lutar…"

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