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quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Quem "matou" a mudança? Suspeito n-º 4 - O Motivo

"Estava pestes a iniciar mais um jogo do F.C. Galácticos, no camarote presidencial estavam várias pessoas, entre elas o Presidente Sr. Mark Angie e um convidado especial, o Detective Colombo, que nas últimas semanas e a pedido do Presidente, tem estado a investigar os responsáveis por “matar” a mudança no Clube e consequentemente comprometer o seu progresso. As bancadas com lugar para 80.000 espectadores, que outrora estariam repletas de apoiantes vestidos com as cores do clube, bandeiras, um entusiasmo contagiante, estavam, agora, “despidas” de pessoas, entusiasmo, vida. O Presidente sentia-se descontente e com cânticos aos jogadores e à equipa e dizia em voz alta o que pensava - “gastámos milhões em infraestruturas, em estádios, pavilhões; passámos e estar nas redes sociais; temos bilhetes anuais e campanhas e, tirando um punhado de partidas, temos pouca assistência e entusiasmo nos jogos! O que é que nos está a impedir de encher os estádios e os pavilhões com pessoas, cor, alegria, entusiasmo e apoio incondicional?”.
“Sr. Presidente fizeram e estão a fazer muitas coisas, mas não está a funcionar, não estão a conseguir os resultados que desejavam” – e continuando perguntou - “como é que despertam nas pessoas o desejo de virem aos jogos, de apoiarem os Atletas e as Equipas do Clube?” – tentava interessadamente verificar o Detective Colombo.
“Apostamos em duas ideias” – respondeu o Presidente Angie – “um, a das pessoas estarem interessadas em terem experiências em que sintam prazer, por sentirem capacidade, competência e importância e para isso, destacamos a vitória como meio para conseguirmos esses objectivos. É como que se as pessoas ganhassem através das vitórias do Clube e com isso se sintam importantes; e outra, das pessoas desejarem evitar situações de desconforto, viverem, no caso, evitando as derrotas do Clube. Com isto, os jogos tornam-se em momentos de “vida ou morte”. Ou seja, polarizamos e dramatizamos as competições, com expressões como o “céu ou o inferno”, “viver ou morrer””.
“Estas duas ideias têm ajudado o Clube a conseguir os resultados de presença, entusiasmo e apoio que desejam?” – inquiriu o Detective Colombo.
O Presidente Angie hesitou na resposta, parecia que tinha a boca seca, mas dado o seu genuíno interesse em melhorar a situação, respondeu – “efectivamente não, o apoio às equipas jovens reduziu drasticamente e dificilmente vemos as famílias dos sócios, os grupos de amigos e os grupos de pessoas que trabalham nas mesmas empresas, nos jogos das Equipas Profissionais.”
“Qual poderá ser a razão de tal afastamento?” – tentava explorar o Detective Colombo. “A ideia do segundo ser o primeiro dos últimos, de ganhar ou perder, viver ou morrer com que se encaram os jogos e as suas consequências: nos escalões de formação, observamos que alguns pais exibem um comportamento agressivo para com os árbitros, os adversários e, por vezes, até em relação aos seus filhos e aos jovens das equipas adversárias. Pontualmente, acontecem desrespeitos e desacatos entre os Pais das duas Equipas. Nos jogos das equipas seniores, alguns adeptos não trazem as famílias aos jogos, com receio do que possa acontecer, dado que, em situações esporádicas, há algumas reacções extremas, que os intimidam e, pontualmente, até nos sentimos embaraçados” – respondeu cabisbaixo o Presidente e acrescentava – “a ideia de despertar o interesse através da procura do prazer – ganhando - e de evitar o desconforto – não perdendo - onde o segundo é o primeiro dos últimos, quem ganha sobrevive e quem perde “morre”, não funciona.”
“Sr. Angie de toda a sua experiência no desporto, alguma vez “tropeçou” num caso de algum Clube ou de algum Campeonato em que as coisas não fossem assim ou fossem como deseja?” – perguntou o Detective Colombo.
“Sim, já assisti. Por exemplo, as finais da Taça são vividas de outro modo. Aliás, são apelidadas como a “Festa do Futebol”. As pessoas vão acompanhadas dos familiares e amigos, vestem-se com as cores do Clube, chegam mais cedo, fazem o seu piquenique e convivem amistosamente com os adeptos do outro Clube. Durante o jogo, desfrutam da experiência e no final, independentemente do resultado, a festa continua” – respondeu o Presidente Angie, acrescentando – “nas ligas norte-americanas também “só há um vencedor” e nem por isso os pavilhões e os estádios deixavam de estar sempre com muita gente entusiástica.”
“Já assistiu a um jogo da NBA, da MLB ou da NFL, Sr. Angie?” – perguntou o Detective Colombo. “Sim, já” – respondeu o Presidente Angie. “Como foi a experiência?” – inquiriu o Detective Colombo.
“Foi sensacional ao ponto de a primeira vez que assisti a um jogo da NBA quase não vi o jogo” – devolveu o Presidente. “Então, quando foi ver o seu primeiro jogo da NBA, quase não viu o jogo!” – exclamou o Detective Colombo.
“Nem mais, lembro-me de ir ver os Atlanta Hawks com os Chicago Bulls. Nenhuma das equipas estava no topo da classificação, mas o pavilhão estava cheio. Na rua e antes de entrar, fui surpreendido. A palavra Atalanta servia de pilares de apoio à estrutura do pavilhão, ao entrar, deparei-me com um hall de entrada com um pé direito descomunal, talvez com altura de uns 8 pisos e numa das paredes, a ocupar toda essa área, havia um ecrã gigante, que quer do hall quer das varandas de todos os pisos era visível. Ainda antes do pavilhão, deparei-me com uma avenida interior, com palmeiras, sobre uns vasos gigantes, uma praça da alimentação e ao fundo o edifício sede da CNN” – descrevia do Presidente Angie, enquanto o Detective Colombo lhe perguntou – “e quanto ao jogo, disse que quase não o viu, o que é que aconteceu?”.
“Detective Colombo” – respondia o Presidente Angie – “vi o jogo, mas havia tanta coisa interessante e divertida a acontecer durante a partida, que não sabia se havia de olhar para o jogo ou para o que estava a acontecer fora das 4 linhas, estava dividido. Já se passaram uns anos desse esse jogo e ainda me lembro, como se fosse ontem, que num dos cantos, a umas 10 filas do campo, estava montado um pequeno palco e havia uma banda de música a tocar ao vivo, durante todo o jogo. Os acordes da guitarra, o som do piano, a acústica do baixo e a repercussão da bateria. Todos os músicos a tocarem não só ao ritmo do jogo, mas também em função da equipa da casa estar a atacar ou a defender e, as espaços, fechava os olhos e desfrutava da música, ora da guitarra, da bateria ou do conjunto. Frequentemente, as pessoas que estavam na bancada apareciam no ecrã central: fossem homens ou mulheres, jovens ou adultos; adeptos da equipa da casa ou da visitante; eram premiadas com lembranças e convidadas a participarem em concursos e desafios. No intervalo, o Clube homenageava pessoas das mais diversas áreas, que tinham sido fundamentais para o sucesso da organização, no passado. Sentia-me vivo, importante, aceite e experimentava diversas sensações agradáveis. Ao fim destes anos, lembro-me de toda esta experiência, mas curiosamente se me perguntar qual foi o resultado do jogo, não lhe sei responder quem ganhou” – justificava o Presidente Angie.
“Presidente, se fosse hoje e tivesse a oportunidade de ter uma experiência semelhante, voltava a ir ver um jogo desses? Levaria a sua família?” – indagou o Detective Colombo. “Detective, a experiência foi tão agradável, os Hawks jogaram mais duas vezes em casa, nos dias em que estive em Atlanta, comprei bilhetes para esses dois jogos e levaria a minha família, amigos e colegas de trabalho sem “pestanejar”, a um desses jogos” – devolveu o Presidente.
“Presidente” – disse o Detective Colombo – “parece que descobriu mais um suspeito de estar a “matar” a mudança que deseja …” – sendo de imediato interrompido pelo Presidente Angie – “sim, descobri que há a perspectiva do segundo ser o primeiro dos últimos ou de ganhar ou perder, viver ou morrer, baseada nos princípios de evitar o desconforto, que tem norteado os motivos do nosso Clube e que existe a alternativa do espectáculo, do entretenimento, da emoção apoiada no princípio de procurar o prazer e na necessidade de viver momentos memoráveis e significativas, na possibilidade de nos sentirmos importantes, na opção de despertar o interesse através da oferta de experiências diversas, como acontece com a possibilidade de apoiar várias modalidades ou da variedade de experiências que podemos proporcionar durante os jogos e na oportunidade de desfrutar do sentimento de aceitação e de pertença a um Clube, a uma causa, a propósitos nobres e a uma organização que valoriza o que é importante na vida das pessoas.”
“Realmente, os motivos pelos quais as pessoas apoiam e vivem o Clube podem fazer a diferença” – pensava o Presidente – “que via os Campeonatos nos países Europeus e os Campeonatos Profissionais Americanos de Basquetebol, de Futebol Americano e de Beisebol, a apoiarem-se em diferentes motivos. Para voltar a ter os estádios cheios, os dias dos jogos podiam ser momentos de festa e as pessoas desfrutariam de experiências memoráveis e desejariam repeti-las, mas para isso, necessitamos de activar outros motivos ou razões, para além da vitória ou da derrota.”
“Sra. Burlington” – chamou o Presidente Angie. “Sim, Presidente” – respondeu a famosa Secretária do Presidente. “Amanhã cedo, marque-me uma reunião com o departamento de marketing e comunicação, vamos mudar algumas coisas.”
Nisto, o árbitro apita, o jogo começou e enquanto o jogo decorria, o Presidente pensava que o Clube tinha de mudar os motivos pelos quais as pessoas podiam querer acompanhar, apoiar e desfrutar do Clube, que tinha que “montar” um espectáculo e o Detective Colombo recordava a quantidade de organizações que tinha investigado em que a qualidade dos motivos tinha e estava a “matar” a mudança desejada."

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