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segunda-feira, 17 de junho de 2024

Eurolândia, dia 2: o vórtice suíço, a vertical Espanha e a resistente Itália


"Alguns pensamentos e notas tiradas sobre o Campeonato da Europa de 2024

O dia 2 do Euro 2024 não trouxe surpresas. Espanha, Itália e Suíça venceram os encontros em que eram favoritos, com maior ou menor distância do rival, e os dois primeiros marcam já encontro para uma segunda jornada de alta intensidade.
O jogo grande do dia foi, obviamente, o Espanha-Itália, com a Roja a marcar a diferença na primeira parte. O triunfo, por 3-0, foi expressivo e talvez demasiado penalizador para o conjunto de Zlatko Dalic. Mas já lá vamos.

Venceu a melhor (e mais simples) estratégia
Começo pelo Hungria-Suíça, que trouxe a abordagem tática mais interessante do dia, com o protagonista a ser, sem dúvida, o helvético Michel Aebischer, jogador do Bolonha. O médio assistiu e marcou no triunfo por 3-1 sobre os húngaros.
Murat Yakin montou a sua equipa desta forma:

Só que no momento com bola organizava-se assim:

O 1-0, assinado por Kwadwo Duah, a escolha surpreendente de Yakin para o 11 titular, chegou ao fim de 22 passes, com a Suíça a mostrar todo o esplendor do seu ataque posicional. O 21.º foi feito por Akanji, com a bola descoberta (sem ser pressionada). O central descobriu Aebischer entre linhas e igualmente com espaço no corredor central e o médio isolou Duah, numa diagonal nas costas de Orban.
Já o 2-0 surge com Aebischer em posição frontal mais uma vez, para o remate de fora da área, depois de uma jogada de envolvimento pela direita e passe de Freuler. Nesse momento, nem Vargas nem Rodríguez estavam na esquerda e quando o central/lateral esboçou o movimento já Aebischer se decidira a rematar. Grande golo. E, mais uma vez, resultante da tal dinâmica.
Já o italiano Marco Rossi também tentou supreender os suíços com uma abordagem que sobretudo disfarçava o excesso de elementos defensivos (Fiola, Lang, Orbán, Attila Szalai e Schaffer) no seu 11. Este foi o ponto de partida:

É verdade que assim que entrava em ataque posicional a equipa recuperava a forma original, com Kerkez como lateral e Schaffer no meio-campo, mas no momento da saída eram vários os elementos a procurar posicionamentos diferentes, como em baixo:

A Hungria foi apenas perigosa nas bolas paradas na primeira parte e, na segunda, chegou ao 1-2 num cruzamento para a área, com Sallai e Szoboszlai a crescer na influência e até mais próximos entre si, agora com mais uma unidade ofensiva na equipa: Bolla substituiu Lang ao intervalo. A Suíça ainda se assustou, mas reorganizou-se e Orbán - tarde para esquecer - errou e ofereceu o 3-1 a Embolo.

Onde está o tiki-taka?
Mais do que nuances táticas, que há sempre, o mais interessante do Espanha-Itália foi a forma como a equipa de Luis de la Fuente destroçou a mesma Croácia que há dias tinha vencido e convencido diante de Portugal. Há um dado estatístico que denuncia o que se passou. Vamos a ele:
Sim, a Espanha teve 47% de posse de bola e foi a primeira vez que venceu um jogo com esta estatística inferior à do adversário desde a final do Euro 2008.
La Roja chegou ao 1-0 aos 29 minutos. Nessa altura, depois do domínio espanhol durante o primeiro quarto de hora, a Croácia tinha equilibrado e estava a ganhar ascendente. É num momento de reação à perda, de contrapressão, que tudo se precipita. Os laterais croatas, Stanisic e Gvardiol, estão projetados, e os centrais Sutalo e Pongracic têm demasiada largura para cobrir. Sobretudo, assim que Rodri coloca a bola ao jeito de Fabián Ruiz. O passe de rotura apanha Morata precisamente no espaço entre os centrais e diante de Livakovic. O avançado mantém a calma, finalizando com o pé esquerdo.
A fase de superioridade espanhola também se explica pela pressão alta bem executada, sobretudo ao obrigar Sutalo a delegar em Pongracic (destro como central à esquerda) a construção. Com o trio de médios igualmente apertados, a Croácia tinha de se livrar da bola, algo de que não gosta de fazer.
Há também alguma infelicidade da equipa de Dalic. Logo após cada um dos dois primeiros golos, reagiu e teve oportunidade para marcar. Valeu Unai Simón e alguma falta de pontaria, sobretudo de Lovro Majer no segundo momento.
O 2-0 surge de uma jogada de envolvimento, mas resolvida pelo talento individual de Ruiz, que fez o que quis de Modric e dos outros adversários à sua volta para penetrar na área e rematar. O 3-0, já nos descontos, surge na sequência de uma bola parada, com cruzamento de Yamal e finalização de Carvajal. Resumindo: contra-ataque, jogada individual e bola parada; onde está o tiki-taka?

'Azzurra' emocionalmente forte
A Itália sofreu o 1-0 aos 23 segundos, recorde em fases finais, e, com o coração sempre perto da boca, podia ter entrado numa espiral negativa. No entanto, o conjunto de Luciano Spalletti não se deixou abanar diante dos albaneses. Nem poderia, uma vez que vem aí, na segunda jornada, um embate com a Espanha.
Também a squadra azzurra se organizou de forma interessante.

Apesar de o esquema de partida ser o acima, transformava-se no de baixo para a saída com bola.

Com Bastoni e Calafiori, dois canhotos, no eixo defensivo, era o segundo a transportar e a participar mais na construção. Rigoroso na marcação e muito forte nos duelos pelo ar e pelo chão, o defesa do Bolonha ainda se mostrou muito confortável com a titularidade e exibiu-se a altíssimo nível, ao ponto de rapidamente surgirem comparações (sugestionadas pelo físico também) com Paolo Maldini ou Alessandro Nesta. Apenas no final, se deixou ultrapassar por Rey Manaj, com Donnarumma a evitar o empate.
A capacidade de desequilibrar proporcionada por Chiesa e a verticalidade de DiMarco são obviamente importantes para a Azzurra, no entanto o que mais se destacou foi o pentágono formado no corredor interior. Scamacca funcionou na perfeição como 9 e falso 9, abrindo espaços para os companheiros (genial, a jogada da bola ao poste de Frattesi, após desvio do guarda-redes Strakosha) e as restantes quatro pontas do polígono entraram em rotação permanente, confundindo as marcações do adversário, que cedo baixou cedo o bloco perante a vantagem no marcador.
É verdade que a Albânia causou problemas ao ataque posicional transalpino, porém o mais importante foi conseguido: entrar a vencer no Euro 2024."

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