Últimas indefectivações

sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

A (espessa) espuma dos dias


"À semelhança de muitos benfiquistas, pertenço a uma geração que não viveu nem testemunhou grande parte dos feitos e momentos dourados, que compõem a nossa história, e ainda hoje, ecoam pela eternidade fazendo apaixonar quase imediatamente quem tão simplesmente ouve a palavra e o nome Benfica; mas à semelhança daqueles que como eu não o fizeram, sonho em fazê-lo, e não irei nunca deixar de lutar e fazer a minha parte para que também eu possa um dia testemunhar aos que a seguir a mim vierem, feitos glórias de uma história que tem tudo menos comparação!
Mas tanto a nossa história como a vida de cada um de nós é atravessada pela espuma dos dias e aquilo que a alimenta; resignação e conformismo nunca fizeram parte do imaginário do Benfica, e muito menos foram até hoje as pedras basilares do que fomos alcançando ao longo de mais de cem anos de história. Foi assim na dourada década de 1960, como foi assim nuns anos de 1990, que testaram a fibra e a crença de cada um de nós, de uma forma que nos transportou até ao mais profundo das nossas forças. E é por isso mesmo que na espuma dos dias, dos dias que correm, devemos preservar isso para darmos a volta por cima.
Não quero nem desejo ter um Benfica que normalize muito do que temos visto recentemente, seja pelo que vemos dentro, mas também fora do campo, quero nesse lugar um Benfica que se ganhar quatro campeonatos em cinco anos, «se mate» a tentar perceber porque não ganhamos os cinco ao invés de «apenas» celebrar essas quatro conquistas; não quero um Benfica onde internamente reine um mindset que nos leve a enraizar erros de gestão com consequências palpáveis e visíveis, quero nesse lugar um Benfica em que nunca falte o inconformismo de quem ousa honrar os ases do passado até á última gota de sangue. Um Benfica que vemos vezes de mais a querer relativizar e normalizar muito do que se tem visto e falado nos últimos tempos, não é o Benfica que devemos querer ter, temos forçosa e historicamente de ser um Benfica de orgulho próprio «leal mas onde o jogo é para ganhar», para que a espuma dos nossos dias seja uma que sirva de combustível para voarmos cada vez mais alto.
De certeza absoluta que em muitas ocasiões odiamos ter razão, especialmente naqueles momentos em que sentimos as nuvens negras a aproximar-se, mas esses devem ser os momentos do toca a reunir; não nos enganemos por isso quanto à importância do atual momento do Benfica, somos atualmente presenteados com um conjunto de escolhas, que a médio/curto prazo terão uma importância decisiva na vida do clube, seja relativamente à vertente desportiva, seja no que diz respeito à discussão dos estatutos, ou até no que concerne á componente comunicacional; porque permitam-me a honestidade e não desfazendo da importância de que de certeza o tema aufere, mas há neste momento coisas bem mais importantes para discutir e falar do que um novo estádio com 120 000 lugares.
Aprendi a gostar do Benfica à minha maneira, com as dificuldades a inerentes a quem mora longe de Lisboa, em criança com o olhar iluminado quando de carro passava ao pé do Estádio da Luz, via nesses breves segundos a porta para um propósito maior ... o de fazer daquele o meu campo de muitas batalhas para honrar a nossa história, de ter (como felizmente consegui), o meu lugar anual, de ficar intratável quando não consigo ir a um jogo; cresci por isso a querer ter sempre a sensação de que eu ou o meu contributo nunca serão maiores que o Benfica, a militância benfiquista de cada um de nós, deve fazer-se valer pela força da nossa crença unificada, sem olhar a nomes de quem preside, treina ou joga, esses como nós na vida acabaram por passar, já o Sport Lisboa e Benfica, ficará, e é a nossa responsabilidade garantir com que fique um Benfica maior e melhor e ainda maior que aquele que conhecemos desde os nossos primeiros dias.
Que tenhamos sempre a capacidade de conseguir resistir à tentação de navegar sobre a espuma que nasce dos dias, o mesmo equivale a dizer que a chave para atravessar os tempos e os momentos aparentemente mais tenebrosos, residem no equilíbrio entre a razão e paixão, devemos sempre ser audazes e perspicazes na hora de estarmos do lado certo da história, mas é a nossa paixão e amor ao Sport Lisboa e Benfica que deve a estrela que nos guia nesse caminho; o Benfica é demasiado grande e influencia o suficiente a nossa estabilidade emocional, para corrermos o risco de nos atirarmos para as batalhas que se avizinham (em várias frentes), de olhos vendados e a julgar que é mais fácil construir do que destruir. Porque ao final do dia, todos e cada um de nós, vai querer cair no sono noturno de sorriso na cara e a «ouvir para si mesmo» ... «Sou do Benfica e isso me envaidece»! E tão bom que será sempre sermos do Benfica ..."

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