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terça-feira, 22 de junho de 2021

Valada, duas vezes nascido no Cartaxo


"Um insólito da Volta a Portugal de 1966, no Cartaxo, levou ao nascimento de uma estrela, natural da mesma vila

No Portugal de Agosto de 196, os telespectadores assistiam aos primeiros ensaios das transmissões do ciclismo português na RTP, com a Volta a Portugal. O Benfica colocou dez ciclistas na prova, contando com elementos de topo como Peixoto Alves, vencedor da edição anterior, Pedro Moreira e Fernandes Mendes.
Entre eles ia ainda Francisco Valada, que poucos dias antes se tinha destacado na frente de um 'compacto pelotão'. Nascido na vila do Cartaxo, em 15 de Maio de 1941, representaria Portugal nos Jogos Olímpicos de Roma, em 1960.
A 29.ª Volta a Portugal iniciou-se no Estádio das Antas. Tinha um traçado considerado 'demasiado duro nos primeiros dias', prejudicial ao desempenho dos velocipedistas, tendo em conta que fora uma época atípica, com poucas provas.
A camisola amarela foi sendo disputada entre Mário Silva, do FC Porto e Peixoto Alves nas primeiras etapas. Entre os dias 13 e 15 de Agosto, sucedeu uma 'caleidoscópica sucessão de acontecimentos' surpreendente e insólita. Para além de uma quebra física e psicológica de Mário Silva e da equipa do FC Porto, Peixoto Alves foi confrontado com aproximação dos ciclistas belgas que lhe iam apertando o caminho. Fernando Mendes foi obrigado a 'escapar-se aos seus companheiros de fuga', cortando a meta em lugar de Peixoto Alves. Falou-se num 'fratricídio' insólito, porém necessário à equipa 'encarnada', impedindo que a camisola amarela 'conhecesse outro corpo que não fosse o de um ciclista do Benfica'.
Na etapa seguinte, que arrancou do Cartaxo até Lisboa, passando por Óbidos, Francisco Valada tomou parte das novas hostilidades que se abriram no pelotão. Desde então, mostrando-se 'cada vez mais firme', o ciclista ribatejano envergou a camisola amarela, 'não mais a largando até (ao) final', no dia 21. Com o apoio da equipa, que nunca faltou, foi o vencedor individual da prova mesmo sem ter sido dos mais destacados corredores. Foi, no entanto, o mais regular e o que em menos tempo 'cobriu os 2342 quilómetros', somando 64h 38m e 36s, menos 72 segundos que o segundo classificado, Peixoto Alves.
A chegada dos dez elementos da equipa benfiquista, sem nenhuma desistência, até à última meta foi um facto único na história da prova até então. O Benfica conquistou a 'Volta-66' em equipas e individualmente pela bicicleta de Valada, que nasceu como pessoa e como vencedor na terra de José Maria Nicolau.
Descubra esta e outras histórias do ciclismo 'encarnado' na área 4 - Momentos Únicos, n Museu Benfica - Cosme Damião."

Pedro S. Amorim, in O Benfica

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