Últimas indefectivações

sábado, 7 de julho de 2018

Obrigado, senhor Shéu

48 anos ao serviço do Benfica, não é para qualquer um... e ainda não acabou!
O Sr. Shéu deixou hoje as suas funções junto da equipa, mas vai continuar ligado ao Benfica... para sempre!

Os rapazes, os passarinhos e o idiota da aldeia

"O Estádio da Luz abre hoje as portas para que os adeptos assistam livremente a uma sessão de trabalho da equipa principal de futebol. São de esperar uns quantos milhares movidos pela volúpia de retomar o contacto com aquilo que verdadeiramente os faz vibrar: a bola. Começa, assim, em termos públicos a temporada de 2018/2019 sucessora de uma temporada a todos os títulos medíocre em função das expectativas naturalmente criadas com o desempenho mais do que eficiente de uma equipa que desafiou a História conquistando quatro títulos nacionais consecutivos entre 2013 e 2017. O Benfica contratou neste defeso muita gente que se adivinha importante mas o frenesi maior nas bancadas será o da avaliação "in loco" dos jovens produtos da casa como João Félix ou Gedson Fernandes. São estes jogadores, agora inseridos num ambiente de adultos, que toda a gente vai querer ver hoje em acção na Luz. Em acção hoje e amanhã e depois… porque grande desgosto seria ver Félix e Gedson vendidos aos alegados "tubarões" que os cobiçam no mercados deste Verão antes de os ver dar uns pontapés oficialmente na bola ao serviço de quem os formou.
A meia-dúzia de visitas da Polícia Judiciária ao Estádio da Luz não afastou o patrocinador principal do futebol – a Fly Emirates – da órbita do Benfica. Ora aqui está uma excelente notícia. E, porventura, inesperada.
Divulgadas pela Liga de Clubes, as matérias "condicionantes" do sorteio do próximo campeonato nacional não desdenham a possibilidade de haver dérbis ou clássicos nas primeiras três jornadas da prova. Por um lado é aceitável porque os sorteios querem-se livres como os passarinhos. Por outro lado é inaceitável porque, ao contrário das justas benevolências concedidas na época passada ao Sporting por força da sua participação na fase de apuramento para a Liga dos Campeões, não haverá este ano a menor benevolência no que respeita ao calendário do Benfica no exigentíssimo mês de Agosto que se adivinha. Não é de crer que a Liga não considere de "interesse nacional" uma eventual qualificação do Benfica para a prova mais importante de clubes a nível continental tal como considerou no ano passado quando tratou de proporcionar a um outro emblema as melhores condições de acesso ao mais alto patamar do futebol europeu. E o Benfica, o que tem a dizer a isto? Passarinhos?
"O drama da internet é que promoveu o idiota da aldeia a figura nacional", explicou, muito bem explicado, o escritor e filósofo italiano Umberto Eco numa das suas derradeiras aparições públicas. Eco preocupava-se com "a legião de imbecis" que "antigamente eram imediatamente calados" e que agora "têm o mesmo direito à palavra do que um Prémio Nobel". Vêm estas sábias reflexões a propósito de outras sobre o mesmo tema com que se têm justificado recentemente os clamorosos idiotas da aldeia do futebol em Portugal."

Heróis de chuteiras

"Hoje joga a Croácia e lembramos Davor Suker, avançado da ‘nação aos quadradinhos’ que gravou o seu nome na História dos Mundiais em 1998 e ainda se tornou o maior goleador do país com 45 golos em 69 jogos. Suker começou a carreira na antiga Jugoslávia, tendo sido convocado para o Mundial de 1990. Pelos jugoslavos chegou à final do Europeu de Sub-21 de 1990 e venceu o Mundial de Sub-20 de 1987. Em cada torneio marcou 6 golos. Haveria de repetir o número.
Em 1991, tudo se precipitou na região, após os croatas exigirem a independência da Jugoslávia. Era o apito inicial para um novo xadrez político e uma história de um país aos quadradinhos.
Foi já pela nação croata que Sukerman marcou novamente 6 golos, agora no Mundial de 1998, perfazendo o 666, o número da ‘Besta’. Na competição, fez-se visão apocalítica à solta, surgiu com o diabo no corpo e fez dos defesas adversários pobres diabos.
Em 7 jogos marcou 6 golos e foi o goleador do torneio, ajudando os croatas a espantar o Mundo com o terceiro lugar alcançado, após perderem na meia-final com os anfitriões franceses por 2-1.
Contra os gauleses, Sukerman ainda colocou a Croácia a vencer, mas o defesa Lilian Thuram também quis um quadrado na história e respondeu com dois golos… os únicos que marcou pelos ‘bleus’ em 108 jogos!
Se Sukerman tentou tornar-se o maior super-herói croata, Thuram surgiu como a improvável kryptonite que enfraqueceu o seu poder. Nada que apagasse o protagonismo de Sukerman.
Em França, os croatas escreveriam uma bela estória aos quadradinhos e Sukerman assumiu-se como herói nacional, dando uma alegria a uma jovem nação nascida da guerra. Com a camisola quadriculada, pautou o jogo com golos e desenhou, a partir de um Mundial que era página em branco, um resultado histórico.
Contribuindo para quatro Mundiais – dois como jogador e dois enquanto presidente da Federação, cargo que ainda ocupa –, Sukerman merece a canção que lhe os croatas lhe dedicaram: "In Suker we trust"! Hoje, sem Sukerman pode gerar-se outra história feliz aos quadradinhos e um novo herói! Qual queres ser quando fores grande, Modric?"

Jovem de Espírito procura Velha Senhora para Relação Séria

"Será que é desta que Cristiano Ronaldo diz adeus a Madrid? Parece que foi ontem que um jovem desconhecido, mala de cartão numa mão e uma solitária bola de ouro na outra, desembarcou no aeroporto de Barajas para se apresentar discretamente à entidade patronal. A história não foi bem assim, mas o que interessa é que parece mesmo que foi ontem que Cristiano Ronaldo gritou “Hala, Madrid!” pela primeira vez no Bernabéu.
Nove anos que passaram num instante. O casamento entre o maior (atenção, o maior) jogador do mundo e maior clube do mundo foi longo e proveitoso, sem dúvida, mas, desenganem-se os românticos, nunca foi uma história de amor. Casaram-se de branco e de branco hão de separar-se. Porém, nesta história que não é de amor, é inútil procurar virgens ou anjinhos. Não os há. Aqui é business, puro e duro.
Há histórias que se contam através de sentimentos, descrições, ideias. Esta só se conta pelos números. Quatro bolas de ouro, quatro ligas dos campeões, 438 jogos, 450 golos. Nenhum jogador marcou mais na história do Real Madrid. Poucos conquistaram tanto. Os números da transferência, os números dos contratos, os números das estatísticas, os números de golos e de conquistas, os números dos decibéis dos assobios que, por mais de uma vez, o Bernabéu ofereceu ao seu herói.
Números e mais números. Após a final da Liga dos Campeões, Ronaldo poupou os adeptos às críticas. Disse que sempre estiveram com ele. Despeitado com Florentino, não se importou de mentir. Muitas vezes, os adeptos não lhe perdoaram falhas e assobiaram-no como se fosse um novato ou um incapaz. Melhor, como se fosse um jogador do Real Madrid, porque ali ninguém escapa aos caprichosos veredictos da bancada.
Cristiano não fica no coração dos madridistas porque nunca lá entrou. E nunca lá entrou porque, para começo de conversa, Madrid não tem coração. O Real, sobretudo o de Florentino, tem bolsa e palmarés. Para reforçar este abre os cordões àquela, mas nunca entrega o coração que não tem. Paga a traidores, a mercenários, a galácticos e, cumpridas as tarefas, dispensa-os sem sentimentalismos de telenovela. Não tem estilo definido, uma estética, uma filosofia. Se não tem coração, tão-pouco tem cabeça. O que tem é um lema: ninguém é mais importante do que a próxima vitória. Agora, “a por la decimoquarta” porque, ali, até as maiores conquistas têm número em vez de nome.
Se Ronaldo foi pedir amor apresentando em sua defesa os números, foi ingénuo. Florentino tem guardado um lenço branco para a despedida. Só está à espera que a mão direita receba o cheque com que há de secar as lágrimas próprias daquele animal que vive nas margens do Nilo. O craque madeirense devia saber que, no Real, os números não compram amor, compram tempo. E pouco, já se sabe. Zidane, que esteve para ser escorraçado, conhece a máquina e como ela tritura. Por isso, saiu pelo próprio pé. As memórias de um pontapé fenomenal em Glasgow e de três Ligas dos Campeões como treinador podiam nem chegar para durar até Dezembro.
Se Ronaldo for para a Juventus, faz bem. O clube de Turim é, neste momento, demasiado grande para um campeonato que tem conquistado com uma facilidade humilhante para os adversários. É demasiado grande para os títulos europeus que ostenta. E, mais do que os prometidos milhões de Agnelli ou o amor dos adeptos que, em abril, lhe aplaudiram a monumental bicicleta, esse será o desafio, essa será a ambição de Ronaldo.
Não é num oitavo scudetto consecutivo que ele tem os olhos postos. É na décima-quarta do Real, que ele, com toda a força da sua obstinação, na flor da sua terceira idade futebolística, há de querer transformar na terceira da Velha Senhora. E então, sim, se Ronaldo raptar a sabina ao Real Madrid, que a julga sua por direito divino, nesse dia Florentino há de chorar de dor autêntica e não haverá cheque nem lenço que lhe seque as lágrimas. E talvez descubra, talvez descubram os dois, que o amor é aquela coisa que só existe no momento em que se perde. No campo e na vida."

#Neymar

"João Vieira Pinto e Paulo Futre moveram montanhas de paixão na relva. Foram amados por adeptos de Benfica, Sporting e F. C. Porto. Vão continuar a ser admirados como encantadores de plateias, mestres do drible, incorrigíveis do golo. Foram transportadores de esperança, verde, azul, vermelha, e a glória ergueu-os até ao estatuto, tão raro, de heróis do povo da bola, daqueles que todos gostam, independentemente das cores clubísticas. São gémeos na diferença, porque eram iguais, dois bons malandros, à maneira de Mário Zambujal. João Vieira Pinto e Paulo Futre foram, lá está, os melhores que conheci nas fintas aos árbitros com mergulhos convincentes dentro da grande área. Tantos juízes enganados, aconteceu mesmo assim, mas até isso foi emoção e festa, porque, normalmente, o penálti dá em golo. Estão, portanto, perdoados. Mas ninguém perdoa a Neymar. Nem eu, que repliquei uma engraçada provocação numa rede social. Estou arrependido da minha maldade, ainda que não tenha importância nenhuma. Este brasileiro, que ontem foi para casa em lágrimas, merecia ter ficado até ao fim no Campeonato do Mundo. Ninguém cai como Neymar, mas também poucos encantam, lutam e choram como ele pela honra do Brasil. Merecia mais tempo na Rússia - onde a festa verde e amarela desse incrível povão vai fazer falta. Ficamos, ansiosos, à espera do próximo penteado."

O milagre pode acontecer: os vilões passaram a heróis e o poder político apressou-se a colher os dividendos

"São várias razões para tanto optimismo, sendo de destacar a onda de simpatia e apoio que a selecção russa passou a gozar principalmente depois da vitória a penáltis contra a Espanha, uma das mais sérias favoritas à taça. De súbito, a depressão deu lugar à euforia A selecção russa é, sem dúvida, uma das equipas mais surpreendentes do Campeonato do Mundo de Futebol. Antes, eram muito poucos, nomeadamente russos, aqueles que acreditavam que os futebolistas iriam além da fase de grupos, mas, hoje, pelo menos os adeptos russos acreditam que a equipa do seu país pode chegar à final e até ser campeão.
Mesmo que a selecção russa seja eliminada nos quartos de final pela forte equipa croata, ela entrará na história do desporto nacional, pois conseguiu o maior dos êxitos conseguidos após o fim da União Soviética.
Mas Valeri Gazaev, conhecido treinador russo, não tem dúvidas: “Devemos colocar agora tarefas mais globais. A chegada à final!”, e justifica o seu optimismo: “Os nossos jogadores e o corpo de treinadores devem compreender: uma possibilidade tão real aparece uma vez na vida! É preciso centrar os futebolistas exclusivamente na luta pela final, porque para lá chegar, não restam dez partidas, mas apenas duas”.
São várias razões para tanto optimismo, sendo de destacar a onda de simpatia e apoio que a selecção russa passou a gozar principalmente depois da vitória a penáltis contra a Espanha, uma das mais sérias favoritas à taça. De súbito, a depressão deu lugar à euforia.
No início do Campeonato do Mundo, os especialistas e adeptos em geral não davam um “tostão” pelos futebolistas russos, pois a equipa tinha perdido vários jogos amigáveis e alguns consideravam mesmo que ela chegou à fase final por ser a equipa do país que organizou o torneio.
Porém, depois das vitórias sobre a Arábia Saudita e o Egipto, os jogadores russos cumpriram o seu principal objectivo: passar à fase do “mata-mata”. A derrota frente ao Uruguai levou alguns a concluir que a seleccção russa estava condenada a cair frente à Espanha, mas o milagre aconteceu.
Os vilãos passaram a heróis e o poder político apressou-se a colher os dividendos. Dmitri Peskov, porta-voz do Presidente Putin, comparou os festejos da passagem aos quartos de final às manifestações de alegria realizadas pelos soviéticos a 9 de Maio de 1945, dia em que a Alemanha nazi capitulou na Segunda Guerra Mundial.
Além do forte apoio dos adeptos, a selecção russa tem agora jogadores muito mais motivados e que estão sujeitos, diríamos, a uma pressão positiva. Independentemente do resultado frente à Croácia, eles já fizeram história, mas, se vencerem mais uma partida…
É preciso reconhecer que o jogo dos russos não tem sido bonito, alguns acusam-nos até de terem realizado anti-jogo frente à Espanha, mas, em torneios como o Campeonato do Mundo, o principal é vencer. Recordemos a vitória de Portugal no Europeu de 2016.
Outro factor que poderá contribuir para o êxito da equipa russa consiste em que ela não terá de enfrentar selecções tão fortes como as do Brasil, França, Bélgica e Uruguai. Segundo Gazaev, “os restantes adversários também são fortes, mas não os podemos considerar intransponíveis”.
E não nos podemos esquecer que a selecção russa tem jogadores de grande valor, embora não gozem da visibilidade necessária porque jogam apenas em casa.
Quanto às conversas sobre doping e compra de resultados, investiguem."

Quero ouvir o murmúrio das estrelas

"Sochi - Mais uma noite mal dormida e uma manhã sem sono. Quem é este homem de olhos claros não de todo estranhos que me fita do outro lado do espelho, como Alice sem maravilhas? Quem é esta criança luminosa que faz um esforço para agarrar a minha mão? Sinto o calor da sua mãozinha na minha pele fria. Não me importava que ficasse aqui ao meu lado durante um bocado: gostava de a ver rir. Deve ter um sorriso inesquecível e um brilho abundante nos seus olhos azuis crédulos... 
Sento-me para escrever e as palavras brotam-me aos milhares. Quero voltar a falar da Sibéria neste Mundial injustamente sem Sibéria. Quero fechar estes nacos de página em branco e regressar ao livro que ficou aberto sobre a cama: “In Siberia”, de Colin Thubron. Jornalista, viajante libertário e solitário, proprietário de todos os mundos ao seu alcance.
Saio para me excitar com cafés bebidos em sofreguidão.
É tão cedo ainda e já há expressões conformadas de quem sabe que nada há para fazer.
Mas que nada é esse? Mas porque me rodeiam as multidões mansas do absolutamente nada? Ah! O efeito que teria agora um grito... Um berro que estilhaçasse olhos vítreos, também eles claros e multiplicados. Um grito que afastasse as nuvens escuras que vieram durante a noite para nos tapar o sol.
Dostoievski na Sibéria.
Ossip Mandelstam na Sibéria: morto.
“Os poetas são assim mesmo: primeiro matam-nos, depois veneram-nos.”
Boris Pasternak; Ana Akhmatova, a poetisa que teve de esfregar soalhos; Maiakovski, o suicida; Tchekov e Pushkin; até Gorki, Máximo.
Nunca fui à Sibéria no inverno. Só no final da primavera, quase outono.
Preciso de ir à Sibéria no inverno. Quero ver o nada.
Uma brancura completa na qual não cabem gestos, palavras, sons, imagens. Como se estivesse à deriva no preciso centro de uma concha vazia. Nunca pensei que dentro das conchas houvesse um silêncio tão profundo. Sempre estive convencido de que dentro das conchas houvesse o vento e ondas e mar.
A Sibéria no inverno é a brancura?
Thubron escreveu: “Em Oymyakon registou-se uma temperatura de -97,8 Fahrenheit. Com um frio assim, o aço racha, os pneus explodem e os larícios soltam faíscas ao simples toque de um machado. À medida que o termómetro desce, o nosso bafo gela em cristais e tilinta no chão com um barulho a que eles chamam murmúrio das estrelas...”
Quero ouvir o murmúrio das estrelas.
Quero caminhar para leste e ser inverno.
Sochi, morna e terna na beira do mar Negro. Aqui me traz o futebol, paixão das paixões do homem por mais que a gente se convença, ou tente convencer, de que é apenas a coisa mais importante das coisas menos importantes.
A madrugada também foi branca, insone. Por quanto tempo mais continuarei preso a estes sonhos brancos sem significado nem sons? Não. Não quero continuar aqui por mais um minuto que seja. Quero poder levantar-me! Quero que algum destes fantasmas que esvoaçam em meu redor na sua tristíssima condição de almas penadas me ajude a erguer-me e a pôr-me de pé, andando.
Mas não posso: escrevo nesta vontade contumaz de Sibéria sem Sibérias.
Umas senhoras conversam molemente à beira do rio Sochi, na ulitsa Novaya Zarya.
De súbito, tu no que escrevo.
Podia apertar a tua mão na minha com muita força, que é assim que se exprime o carinho através das mãos. Faria sorrir a senhora dos cabelos negros com uma palavra a despropósito. E tu também te ririas muito. Até talvez eu, embora apenas um pouco. Desafiava-te: vamos à procura de uma Sibéria qualquer e do murmúrio das estrelas. De mãos dadas atravessaríamos sem medo todos estes corredores brancos e infinitos, entrando decididos nas estepes da eterna saudade."

Neymar: pequeno grande vilão?

"Podemos culpar o Neymar pela queda do Brasil? Não exclusivamente. Mas é evidente que a falta de maturidade do menino-que-já não-é-mais-menino teve um preço alto para toda uma nação.

Quando li a biografia da cantora brasileira Elza Soares, que segue na activa até hoje com 81 anos e foi casada com Garrincha, um dos maiores ídolos do futebol brasileiro, li uma coisa que nunca mais esqueci. O autor afirmava que a geração de Elza e Garrincha (que, se não tivesse morrido aos 50 anos, hoje teria seus 85) foi a última geração a fazer música e a jogar futebol por paixão. A partir daí, ambas as coisas viraram negócio, deixando de ser arte.
De fato, quando olhamos para essa Copa do Mundo, percebemos que há pouco (quase nenhum) espaço para improviso, instinto ou arte. Tudo é absolutamente profissional, direccionado e previamente estipulado. Também, pudera, tantos patrocinadores gigantescos, tantas câmeras precisas, tanto dinheiro envolvido. Ninguém está ali para qualquer tipo de brincadeira. 
Os jogadores tornaram-se máquinas. Treinos quase militares, suplementos alimentares, disciplina rigorosa, comportamento inspecionado. Pensar na selecção brasileira de 94, em Romário e Bebeto, sua indisciplina e seus excessos, é algo quase surreal 14 anos depois. O futebol está ficando chato? Talvez. A qualidade é melhor, mas certamente é um esporte muito pouco humano.
A selecção brasileira cai perante a Bélgica de Lukaku e tantos outros homens imensos e decididos. De quem é a culpa? Gabriel Jesus e sua incapacidade de decidir? Tite e o tempo que levou para mudar o time? Fernandinho e sua falta de solidez? Casemiro e seus dois cartões amarelos? Ou Neymar, pura e simplesmente? Podemos culpar alguém?
Neymar, no meio de um Mundial sério e nada aberto a gracejos e fintas, parece não estar na mesma disputa que os demais. O “menino Ney” é sempre perdoado por sua suposta imaturidade, mesmo que já mais perto dos 30 do que dos 20 anos de idade. Neymar nunca passa despercebido, seja onde for. Causa incômodo, causa furor, causa discussões. Cai no chão, rola, chora, briga, provoca. Destoa de quase todo o resto dos jogadores de 2018.
Ninguém se ilude, pensando que Neymar é um resquício de futebol arte em vez de ser o auge do futebol business. Mas, inegavelmente, Neymar é mais humano e menos máquina do que a média dos grandes jogadores. Menos máquina do que Cristiano Ronaldo, Griezmann, Kane ou Toni Kroos. E é provável que seja exatamente por isso ele nunca vá ser o melhor do mundo.
A humanidade, que tem seu lado positivo por devolver ao futebol um pouco da vida que foi perdida em tempos de VAR, acabou custando muito caro ao Brasil. As quedas, encenações e exageros fizeram, por exemplo, com que Miguel Layún, ao pisar propositalmente no atacante, não fosse expulso do jogo. A fama de simulação instituída por Neymar espalhou-se por todo o time, a ponto do árbitro sérvio não marcar o pênalti claro em cima de Gabriel Jesus no segundo tempo do jogo contra a Bélgica, que poderia ter mantido o Brasil na Copa.
Podemos culpar o Neymar pela queda do Brasil? Não exclusivamente. Mas é evidente que a falta de maturidade do menino-que-já não-é-mais-menino teve um preço alto para toda uma nação que precisava dessa alegria mais do que nunca. É craque? É. É humano? É. É inconsequente? É. E agora vamos de volta para casa. Temos um país para tentar reerguer."

Pogba descobriu problemas melhores

"Antes sequer de começar, o primeiro dia dos quartos-de-final colocou todos os envolvidos perante um problema para resolver. Ao Uruguai faltava Cavani, 50% da sua letal dupla ofensiva - talvez a única parelha de avançados no futebol actual capaz de ensaiar jogadas de combinação quando ambos se encontram a cinquenta metros um do outro (como Portugal lamentavelmente confirmou). À França faltava Matuidi, uma espécie de resguardo táctico assimétrico cuja versatilidade ajuda Deschamps a dormir mais descansado e o impede de seguir o seu instinto secreto, que é começar cada partida com sete trincos e três fadas-madrinhas. Ao Brasil faltava Casemiro, que além de ser o jogador mais talentoso na história do futebol a cometer faltas que só são vistas pelos telespectadores, é também um guarda-costas de tremenda eficácia. Quanto à Bélgica, sem ausências forçadas, foi a única a apresentar-se apenas com o problema do costume: como marcar o golo acidental que lhe permita jogar o resto do jogo com espaço livre suficiente para conseguir marcar outro.
Como se veio a verificar, os problemas da França e da Bélgica foram os mais fáceis de resolver, e deixaram todos os espectadores mais ou menos neutrais com o seu próprio problema, que foi sentir que as meias-finais se esgotaram essencialmente nestes dois jogos (ou, no caso do França-Uruguai, no jogo que poderia ter acontecido com Cavani em campo), e que pelo menos três destas equipas eram mais merecedoras de um lugar na final do que qualquer uma das outras quatro que ainda o pode garantir. Também por isso é difícil resistir à conclusão prematura de que o próximo campeão mundial vai ser decidido no França-Bélgica, um confronto onde ambas as equipas vão encontrar aquilo que não as atrapalhou ontem (um guarda-redes de elite, no caso francês; um trinco omnipresente, no caso belga), e onde se prepara um promissor frente a frente entre dois dos melhores médios da competição, Pogba e De Bruyne, cujo nível exibicional tem vindo a subir gradualmente.
Pogba, em particular, tem sido uma surpresa - duplamente reforçada pelo facto de uma "surpresa" ser a coisa mais surpreendente que se podia esperar dele nesta fase da carreira. Foram duas épocas de purgatório reputacional, em grande medida definidas pelo custo exorbitante da sua transferência para o Manchester United e pela percepção generalizada de que o mesmo correspondeu a uma tonelada de recursos dissipados numa fantasia, como se Pogba fosse um efeito colateral na crise de meia idade de terceiros: alguns compram um descapotável, outros fazem uma operação plástica, e depois há quem pague 110 milhões de euros por um médio-centro francês.
Uma etiqueta de nove dígitos, mesmo num mercado hiper-inflaccionado, vai inevitavelmente condicionar e distorcer expectativas. É o género de quantia que compra sucesso enfático e instantâneo, e não esporádicos vislumbres do Sublime. O preço de um jogador regularmente decisivo, mas também regularmente dominante.
O problema é que Pogba prometeu, desde muito novo, ser o primeiro tipo de jogador, mas raramente pareceu ser o segundo: aquele capaz de influenciar e controlar a natureza de um jogo, e o curso de um campeonato. O talento esteve lá desde o início, numa acumulação escandalosa: era óbvio para todos que transbordava qualidade. Mas na verdade, "transbordar" é o verbo precisamente errado. O que ele fazia era "reter" qualidade, mantendo-a em órbita ao seu redor, estabilizada pela sua própria força gravitacional. Traduzi-la num impacto contínuo nunca foi uma prioridade até as circunstâncias (o preço, mas também um clube desesperadamente à procura de referências individuais) o forçarem ao papel de produtor de desequilíbrios em série.
É um papel contra-intuitivo para alguém cujo vocabulário técnico (quase ilimitado, mas zelosamente protegido) era menos um instrumento para comunicar do que um veículo de auto-expressão. Sempre houve um elemento de impassibilidade nos seus maneirismos mais exibicionistas: uma presença berrante, mas estranhamente diáfana em campo, na qual os sinais visíveis de todas as dinâmicas de pressão associadas ao conceito de "jogador-de-futebol-a-jogar-futebol" se destacavam pela ausência, como se estivesse empenhado numa espécie de solidão performativa - em público. Quantas das suas mais memoráveis intervenções (a variação de flanco feita em corrida, por exemplo, com a parte exterior do pé, e perfeitamente calibrada para coincidir com o sprint do colega que vai receber o passe) pareciam espasmos de tímido narcisismo - actos intransitivos que nada iniciavam, concluíam ou modificavam, limitando-se a sancionar a sua brilhante auto-suficiência? Actos que tinham ainda o seu reflexo na postura de desalento quando não encontrava a solução "brilhante" e era forçado ao passe inócuo e mainstream, ao mero gesto de manutenção, desembaraçando-se da bola com um encolher de ombros a meio caminho entre o resignado e o agressivo.
Foi este o Pogba do Mundial do Brasil, do Euro-2016, e dos anos no Manchester - o que se refugiava na inconsequência quando não conseguia ser espectacular - mas não tem sido o Pogba do Mundial. Em vez de procurar problemas para resolver, tem procurado problemas para evitar, assumindo com brio todas as tarefas administrativas que não aparecem em montagens no YouTube, mas sim nas estatísticas da Opta: contra a Argentina fez dez recuperações de bola (o dobro de qualquer outro colega, Kanté incluído); e contra o Uruguai andou a meter o corpo em tudo quanto era barafunda, ganhando catorze duelos individuais - o máximo de um jogador francês num Mundial desde 1998. E ainda lhe sobrou tempo para desbloquear duas dificuldades na fase de grupos.
A maldição do jogador capaz de fazer tudo é provocar debates constantes não sobre o que pode, mas sobre o que deve fazer. Pogba estancou provisoriamente os debates tornando-se, de todas as coisas possíveis e imagináveis, sólido, fiável e seguro. E ganhou uma semana, e talvez duas oportunidades, para se arriscar a fazer parte de um debate completamente diferente."

Um jogo de sorte e Hazard

"Mesmo descontando o efeito da emoção recente, proclamo que este foi o Brasil que mais gostei de ver jogar em mundiais. Mesmo a perder, nunca perdeu a cabeça, a organização, a fluidez.

Haverá outras formas de dizer isto, provavelmente mais simpáticas, mas o facto é que José Peseiro tem cara de derrotado. Como o rosto vitorioso de alguns indivíduos afronta, humilha, o rosto atreito à derrota, à miséria, convoca a nossa compaixão. Porque é que falo de Peseiro se ele nem está no Mundial? É que o estou a ver aqui à minha frente, na capa de uma jornal desportivo, com um sorriso que não me engana. Naquela fisionomia obnóxia estão inscritas todas as derrotas do passado e prenunciadas todas as derrotas do futuro. Podem argumentar que nada disto é científico, mas olhem bem para Peseiro e digam-me se há ali algo da natureza intimidatória, vagamente irritante, do vencedor? Pois, não há.
Resolvida a questão Peseiro, regressemos ao Mundial. Pobre Uruguai! Sem Cavani, o campo ficou muito grande. Suárez procurava-o como quem procura a perna direita. Como um McCartney sem Lennon, bem que assobiava, mas só lhe saíam coisas como “Ebony and Ivory” e “No More Lonely Nights”. Privado do seu sócio, o avançado do Barcelona viu-se sem dentes. Correu, chateou, bateu com prudência, fez tudo o que se espera de Suárez dentro das leis do jogo. Porém, pareceu sempre inofensivo, nada mais que um rafeiro atrevido.
Este foi um jogo muito semelhante ao Alemanha-França de há quatro anos, também nos quartos-de-final. O que a Alemanha fez então à França, hoje a França fez ao Uruguai, apertando o adversário num abraço que só se percebe que é constritor quando o oxigénio deixa de chegar ao cérebro. Giménez, o central uruguaio, percebeu-o ainda a tempo de nos proporcionar um momento inesquecível: a dois minutos do jogo acabar, com o Uruguai a perder 2-0, não controlou o choro. Muslera também já tinha tido a sua paragem cerebral quando deu um daqueles frangos tão monumentais que nem sequer destroem carreiras, antes criam lendas. Muslera deu hoje o seu frango eterno. Não será esquecido.
Mais do que a comparação com o jogo de há quatro anos, talvez faça sentido dizer que o Uruguai provou do veneno com que tinha derrotado Portugal. Veneno que, por sua vez, Portugal já tinha usado contra Marrocos, por exemplo. Portanto, se a Bélgica empregar o mesmo método para ultrapassar a França podemos dizer que isto não é tanto um Mundial como um fim-de-semana com a família dos Bórgias. Também não faltou ao jogo alguma dose de violência física, de quezílias, quiproquós, pisadelas, admoestações e reprimendas. As coisas atingiram um nível Copa Liberadores e, a certa altura, nem a imponência castrense de Néstor Pitana sossegou os ânimos. Ainda escreverei sobre este árbitro argentino que tem a presença física de um marine – ou, como diria Gabriel Mithá Ribeiro, o físico ideal para professor na Margem Sul – e a vocação teatral de quem ama as luzes da ribalta. 
Quando o futebol é quezilento, sem imaginação, o adepto faminto até na exibição do árbitro procura consolo. Verdade seja dita, quando se chega aos quartos-de-final nenhuma equipa é amável. Dizia Balzac que por trás de uma grande fortuna há sempre um grande crime. Ora, eu acredito que uma presença nos quartos-de-final oculta sempre uma desonestidade fundamental, um crime de Ananias. Ninguém chega a esta fase impunemente. Amei a França que bateu a Argentina. Porém, assim que a projectei nos quartos-de-final, regressaram-me à memória os pecados originais de todos os jogadores franceses – que digo eu? –, de toda a França desde Carlos Magno.
Era assim que pensava antes de ver o Brasil-Bélgica. E não é que os quartos-de-final podem ter não uma, mas duas equipas amáveis? Mesmo descontando o efeito da emoção recente, proclamo que este foi o Brasil que mais gostei de ver jogar em mundiais. Mesmo a perder, nunca perdeu a cabeça, a organização, a fluidez. Criou oportunidades a jogar o seu futebol e isto, sem condescendência alguma, vale certamente alguma coisa. A Bélgica teve um treinador que soube preparar o jogo, teve Witsel e Fellaini, teve Lukaku, teve De Bruyne, teve Courtois, teve Hazard e, quando tudo isto falhou, teve sorte. Contra isto, Tite nada podia."

Treino aberto...

Benfiquismo (DCCCLXXXI)

Tapete vermelho...

Jogo Limpo... Guerra & Fanha

Palhaçada... cozinhada!!!

Foram precisas duas chaves para termos calendário da I Liga, curiosamente o adversário na 3.ª jornada é o mesmo, nas duas chaves, logo na jornada 'enfiada' no meio do Play-off de acesso à Champions!!!
Mesmo assim, e apesar de todas as manhocises este 'segundo' calendário, é um bocadinho mais meigo!!! Apesar de uma 2.º volta 'carregada' de deslocações difíceis...!!!
Mas para ter uma 'imagem' completa temos que 'encaixar' os compromissos Europeus nestas jornadas, principalmente a combinação entre deslocações ao estrangeiro, com jogos fora da Luz...

1.ª Benfica-Vitória SC
2.ª Boavista-Benfica
3.ª Benfica-Sporting
4.ª Nacional-Benfica
5.ª Benfica-Aves
6.ª Chaves-Benfica
7.ª Benfica-Corruptos
8.ª Belenenses-Benfica
9.ª Benfica-Moreirense
10.ª Tondela-Benfica
11.ª Benfica-Feirense
12.ª V. Setúbal-Benfica
13.ª Marítimo-Benfica
14.ª Benfica-Braga
15.ª Portimonense-Benfica
16.ª Benfica-Rio Ave
17.ª Santa Clara-Benfica


A equipa B, também ficou a conhecer o calendário:
1.ª Benfica B-Farense
2.ª A. Académica-Benfica B
3.ª Benfica B-Varzim SC
4.ª FC Penafiel-Benfica B
5.ª Benfica B-CD Mafra
6.ª FC Arouca-Benfica B
7.ª Benfica B-FC Famalicão
8.ª Estoril Praia-Benfica B
9.ª Benfica B-P. Ferreira
10.ª CD C. Piedade-Benfica B
11.ª UD Oliveirense-Benfica B
12.ª Benfica B-Leixões SC
13.ª SC Covilhã-Benfica B
14.ª Benfica B-Ac. Viseu
15.ª Corruptos B-Benfica B
16.ª Benfica B-Vitória SC B
17.ª SC Braga B-Benfica B

Relativamente aos prémios individuais relativos à época anterior, destaque para o Jonas que com os 34 golos foi o melhor marcador da Liga e ainda fez parte do 11 ideal.
O Rúben Dias foi eleito o jovem jogador do ano...
O Pizzi fez parte do 11 ideal (!!!)...
A nossa equipa B, recebeu o prémio Fair-Play...
E o nosso reforço Chiquinho, ao serviço da Académica, foi eleito o Melhor Jogador Jovem da II Liga...

Félix vs. Gedson