Últimas indefectivações

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Três tristes casos!

"Poderíamos escrever páginas infinitas sobre o Processo Apito Dourado, a maior bandalheira do futebol português, para usar a terminologia de um presidente de clube profundamente envolvido nesse caso. Durante algumas semanas descrevemos aqui momentos de uma investigação que trouxe à superfície elementos vergonhosos. Terminemos com três casos demonstrativos do que é tráfico de influências no seu sentido mais puro.

À medida que as investigações prosseguiam, ficava claro para a Polícia Judiciária que a pedido do presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, Valentim Loureiro usava a sua influência junto dos juízes da Comissão Disciplinar da Liga Portuguesa de Futebol Profissional para obter decisões favoráveis a casos pendentes. E, ao lermos o processo, deparamos com exemplos significativos como o 'caso Deco', o 'caso Maniche' e o 'caso Mourinho/camisola de Rui Jorge'.
Expliquemos cada um desses casos.
'Caso Deco' - No final 29 de Outubro de 2003, Valentim Loureiro dá a entender a Pinto da Costa que estará pronto a interceder para reduzir a pena do jogador Deco, expulso no decorrer do jogo entre Boavista e FC Porto, disputado no dia 27 de Outubro, e durante o qual, num momento de irritação, atirou uma bota na direcção do árbitro da partida, Paulo Paraty.
Escrevo o inspector Casimiro Simões no seu relatório: 'A 30/10/2003, Valentim Loureiro pediu ao dr. Emanuel Medeiros, da LPFP, que lhe descobrisse o nome do juiz a quem tinha sido entregue o processo disciplinar de Deco. Valentim Loureiro pretendia saber se o relator era 'algum gajo assim acessível'.'
Entretanto, Pinto de Sousa falou com o árbitro do jogo em questão, Paulo Paraty, tendo-o convencido a evitar colocar a expressão 'agressão' no relatório do jogo. Paraty terá garantido que utilizaria o termo 'comportamento incorrecto', tendo em seguida Pinto de Sousa transmitido a Pinto da Costa o teor desta conversa.
'Nas sessões 1431 e 1434 do alvo 1A596, o presidente da LPFP falou mesmo com o juiz desembargador a quem foi distribuído o processo. Valentim Loureiro deu-lhe conta da conversa que tivera com Pinto da Costa e depois combinaram encontrar-se pessoalmente para falarem da pena a aplicar a Deco. Pelo teor da conversa, fica a ideia de que o juiz não iria decidir nada sem conversar primeiro com Valentim Loureiro. Na sessão 1435 do alvo 1A596 (Apenso VI, fl. 107), Valentim Loureiro contou ao seu filho João Loureiro que Pinto da Costa admitia perfeitamente uma punição de 2 ou 3 jogos de suspensão para Deco, por se tratar aliás da pena mínima prevista para este tipo de situações. E acrescentou que iria discutir pessoalmente o assunto com o juiz desembargador que tinha o processo. Deco viria a ser efectivamente suspenso por 2 jogos.'
Este caso fez com que o presidente do FC Porto se desdobrasse em manobras junto de determinada Comunicação Social, promovendo através de jornalistas amigos a ideia de que Deco, aborrecido com a situação em que se vira envolvido, estaria disposto a recusar a chamada à Selecção Nacional.

Mas houve mais...
'Caso Maniche' - No dia 5 de Janeiro de 2004, Valentim Loureiro contactou um juiz desembargador da Comissão Disciplinar da LPFP, Gomes da Silva, procurando saber como iria ser decidido o processo disciplinar intentado pelo Sport Lisboa e Benfica contra o presidente do FC Porto. Argumentava o Benfica que o presidente do FC Porto tinha aliciado o seu jogador Maniche numa altura em que este ainda tinha contrato válido com o clube da Luz.
O juiz garantiu-lhe que o processo seria arquivado e que Pinto da Costa já sabia dessa decisão. Constatou a investigação que, no decorrer de uma sessão de agradecimento, Pinto da Costa ofereceu a Valentim Loureiro um valioso relógio em ouro.
'Caso Mourinho' - No dia 4 de Fevereiro de 2004, Valentim Loureiro contactou o juiz desembargador que presidia à Comissão Disciplinar da LPFP, fazendo-lhe o pedido para que recebesse Adelino Caldeira, administrador da SAD do FC Porto, no sentido de poderem conversar sobre o processo disciplinar movido contra José Mourinho, treinador do FC Porto e acusado, no final de um encontro entre Sporting e FC Porto, em Alvalade, de ter insultado e rasgado a camisola do jogador do Sporting Rui Jorge.
O juiz concordou sob a condição de o encontro entre os três não ser divulgado. Acrescenta o inspector Simões: 'Pela hora da sessão (14h06), pode presumir-se que Valentim Loureiro realizou este telefonema a pedido de Jorge Nuno Pinto da Costa. De facto, a sessão 10476 do mesmo alvo indica-nos que Valentim Loureiro e Pinto da Costa se encontraram à hora de almoço'.
Vejamos o que se escreve no relatório da Polícia Judiciária: 'A 2/2/2004, três dias após o jogo, Adelino Caldeira, jurista do Futebol Clube do Porto, tomou conhecimento de que um delegado da LPFP, identificado como 'Paulino', de Braga, destacado para acompanhar o jogo acima referido, elaborava um relatório a descrever em pormenor a história da 'camisola'. Adelino Caldeira avisou de imediato o presidente do Futebol Clube do Porto avisando-o de que, se o delegado fosse ouvido pela Comissão Disciplinar da LPFP e corroborasse o conteúdo do relatório, o treinador do Porto arriscava-se a ser punido com uma sanção disciplinar pesada. Para obstar a essa eventual penalização, Adelino Caldeira aconselhou Pinto da Costa a arranjar uma maneira de convencer aquele delegado a declarar que não teria testemunhado nenhum dos factos e que se limitara a relatar o que alguém lhe havia contado. (...) A 5/2/2004, Adelino Caldeira informou o presidente do Futebol Clube do Porto de que afinal o delegado alterara a sua versão inicial: que no relatório havia declarado que não tinha presenciado nenhum dos facto e que tinha sido um dirigente do Sporting a contar-lhe os pormenores da situação. Adelino Caldeira e Pinto da Costa concluíram: 'Melhor do que isto é impossível!'.
Ficaram, para que nunca ninguém se esqueça, registadas nessas escutas as expressões utilizadas por Pinto da Costa em relação ao roupeiro Paulinho, do Sporting.
A baixeza das ditas leva a que não as traga até aqui.
Até para a bandalheira devia haver limites..."

Afonso de Melo, in O Benfica

António...

Jogador português, que futuro?

"O nosso Carlos Manuel fez 60 anos. A "locomotiva do barreiro" reuniu os amigos do futebol e de toda a vida para celebrar esta data. O Carlos é dos nossos. Para além das emoções daquele golo à Alemanha, recordo "Saltilho" e o seu impacto na classe e no futebol profissional. O Carlão é, sobretudo, um homem agregador, honesto e alegre. Obrigado!
Paralelamente, o Sindicato dos Jogadores apresentou os resultados do estudo sobre a utilização de jogadores portugueses nas competições profissionais. Expresso, desde já, o meu agradecimento aos oradores José Couceiro, Armando Evangelista e Joaquim Milheiro pela riqueza do debate. Comungámos na necessidade de uma aposta, efectiva, na formação nos jovens jogadores formados em Portugal e da necessidade de espaços de debate.
Além disso, discutimos se a lógica meramente desportiva (resultados) ou economicista (lucros) da gestão desportiva potencia a aposta nos jovens ou, em sentido inverso, constitui uma ameaça ao seu desenvolvimento, abordámos o modelo de certificação das entidades formadoras, promovido pela FPF, enquanto instrumento de valorização do jogador, na sua dimensão integral, debatemos o papel das equipas "B" na progressão do jogador e os espaços competitivos mais adequados ao desenvolvimento dos jovens atletas, em articulação com a vida escolar e familiar.
Abordámos, ainda, o modelo de compensação pela formação e o mecanismo de solidariedade, procurando saber se têm repercussões na aposta em jovens jogadores e traduzem o ressarcimento do investimento feito pelos clubes, bem como os motivos que levam ao recrutamento, contratação e utilização de jovens jogadores nas competições portuguesas.
Tudo visto e ponderado, será que investimos realmente na formação dos nossos jogadores?"

Um director com dotes para a música

"O homem que conseguiu transpor para uma canção todo o sentir dos benfiquistas.

Paulino Gomes Júnior (1912-2000) chegou à Direcção do Sport Lisboa e Benfica, em 1948, pela mão de Fernando Valentim Lourenço, tesoureiro do Clube. 'De suplente rapidamente passou a ocupar, assumiu o cargo de Secretário' e, ainda nesse ano, assumiu o cargo de 'director de «O Benfica», por demissão de António José de Melo'. À frente do periódico por cinco períodos distintos, foi o director responsável pelo maior número de edições (819), até à data, e uma 'figura imprescindível' nas campanhas Pró-Estádio. Porém, é, sobretudo, pela autoria de uma canção que o seu nome é conhecido por todos os benfiquistas.
Foi no início do ano de 1953 que Paulino Gomes Júnior deu asas a 'esta «doença» dos versos e da música, dos meus tempos de estudante', como o próprio referiu, e escreveu a letra e a música de um dos maiores êxitos musicais de exaltação clubista de que há memória: Ser Benfiquista.
Em Março, em sua casa, 'ao piano' deu-a a conhecer ao tenor Luís Piçarra e ao maestro Vítor Bonjour, a quem solicitou, respectivamente, a interpretação e a orquestração da canção. Os dois ouvintes, apesar de inicialmente cépticos das capacidades do director d'O Benfica, ficaram imediatamente rendidos e, 'com um cálice de Porto', felicitaram o autor e brindaram à música, certos que iria agradar a todos os consócios do Clube.
Não se enganaram! Dias depois, a 11 de Abril de 1953, no II Sarau Artístico da Comissão Central do Novo Parque de Jogos, Luís Piçarra deu voz pela primeira vez em público à música Ser Benfiquista. E, no Pavilhão dos Desportos que apresentava uma 'lotação totalmente esgotada', a canção provocou 'manifestações clubistas que raras vezes teremos visto; vibrantes apoteóticas, plenas de euforia e desbordante entusiasmo'. O êxito foi 'tão clamoroso que o público ovacionou longamente, de pé, autor e interprete' e exigiu a repetição do número.
Desde então, Ser Benfiquista tornou-se presença assídua 'no nosso estádio e nas mais variadas manifestações de pura alegria e mais são e elevado espírito clubista'. O seu êxito é tanto que, embora não seja o hino do Clube, a canção de Paulino Gomes Júnior é tida por muitos como tal.
Saiba mais sobre este e os restantes 19 directores na exposição Jornal O Benfica - 75 anos de Missão, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

Rescaldo Chaves

Benfiquismo (DCCXXVI)

Chalanix

Jonas 'Pilhado' !!!

Chama Imensa... Futebol