"Foi um dérbi com mais emoção do que qualidade, por vezes elétrico outras pobre, e o empate (2-2) conta a história de ambas as equipas não só esta noite mas também no campeonato: um Sporting inseguro nas duas vantagens e o Benfica eficaz a resolver problemas no ataque
Não é nada que Rúben Amorim não tenha já referido, demasiadas vezes porque demasiadas vezes tem sido tema no Sporting a sombra que se abateu naquilo que fez o leão campeão. A equipa dessa época histórica não sendo uma máquina arroladora, era eficaz no ataque. Mas era, essencialmente, um adamastor defensivo, um panzer coletivo. Há duas temporadas, o Sporting provavelmente não teria perdido o dérbi deste domingo, em que se viu duas vezes em vantagem para duas vezes a deixar fugir e isso diz muito sobre o Sporting destes dias.
Os de Alvalade, entre o fim da surpresa e o depauperar do plantel, tornaram-se uma equipa insegura e sem fome. Apesar do empate não interessar a nenhum dos envolvidos, parece massacrar mais o Sporting emocionalmente, porque a história da temporada é isto: bons momentos que rapidamente são apagados por erros e inseguranças, a antítese do outro Sporting, do Sporting campeão. Ao Benfica bastou fazer um jogo de reação, aproveitando as fragilidades defensivas do leão. Já foi bem mais de encher o olho a águia esta temporada, mas o que faltou em vertigem, em urgência, chegou em eficácia, num jogo com mais emoção do que qualidade.
Ajudou a isso o Sporting, claro. Com Roberto Martínez na bancada, a equipa de Rúben Amorim entrou com um plano bem definido, tentando roubar a bola ao Benfica e convidando os jogadores de Schmidt à pressão (e, quem sabe, aos erros). Ainda assim, a única situação de perigo nos primeiros 20 minutos seria num livre de Porro aos 6’. O espanhol e Edwards foram uma espécie de dupla ameaça para Grimaldo, muitas vezes desguarnecido de ajuda, tal como Bah do outro lado.
Só aos 20 minutos se viu um lamiré da tal vertigem encarnada, com dois lances de perigo seguidos: Adán estava atento aos remates pela direita de João Mário e depois de Rafa. Foi já dentro desse aparente crescimento da equipa da casa que o Sporting marcou, aos 27’, golo a meias de Trincão e Bah depois de uma combinação pela direita de Porro e Edwards, com o inglês a cruzar para a pequena área.
O golo era um presente tardio pela boa entrada do Sporting, pela agressividade a meio-campo, a insistência nas bolas recuperadas - Ugarte estava em todo o lado. E quando se pedia o leão coeso de há duas épocas, surgiu aquele que tem sido uma constante esta temporada: num momento de aparente controlo, Gonçalo Inácio deixou Gonçalo Ramos fugir na área e com um toque subtil o internacional português fez de um cruzamento de Rafa o empate. Estávamos ao minuto 37 de um jogo repartido.
A 2.ª parte começou praticamente com o penálti que deu nova vantagem ao Sporting - remate puxado à esquerda de Pote, sem hipótese para Vlachodimos, que ainda acertou o lado. E novamente com a dificuldade leonina em segurar o jogo, controlar. Sem soluções de qualidade no banco, Rúben Amorim mexeu pouco e mexeu tarde, porque quem lhe fazia falta neste momento talvez esteja a jogar por Inglaterra.
A reação do Benfica foi, agora, mais rápida e a vantagem do Sporting durou pouco mais de dez minutos. Desta vez o cruzamento foi de Grimaldo e Gonçalo Ramos, de novo com apenas um toque, abandonado à sua sorte pelos seus marcadores, colocou o resultado em 2-2.
Daí para a frente faltou frescura física e soluções ao Sporting e inspiração ao Benfica. Neres entrou para trazer magia, mas pouco deu ao jogo, ficando sempre a sensação que uns encarnados de outros períodos da temporada teriam esticado a resistência dos leões até bem mais longe. Os últimos minutos souberam a pouco: tudo mal jogado, equipas partidas, pouco discernimento. Ao Sporting foram dados espaços, mas era Chermiti que Amorim tinha para lançar e o jovem avançado deslumbrou-se quando já nos descontos se viu praticamente isolado frente a Vlachodimos.
Para o Benfica, o dérbi foi uma espécie de contenção de danos, a voltar à tona depois de duas desvantagens, mas a exibição esteve longe de outras noites de glória da era Schmidt. Já o Sporting fica longe, cada vez mais longe. Por erros próprios, que não têm maneira de ir embora. Como quem batalha dentro de um poço seco, sem dar-se conta da corda que tem ali mesmo ao lado."