"«Jogar bem não chega quando não se ganha!...
Ganhar não chega se não se jogar bem!...
Ganhar e jogar bem não chega se não tivermos jogadores de grande nível
… e ao grande nível não se chega, jogando apenas bom Futebol!...»
(Jorge Valdano)
O ser humano ao longo da sua evolução é sujeito a diversas influências, que podem contribuir para o processo favorável de desenvolvimento.
Claramente, o ambiente familiar torna-se um excelente meio, para que a criança perceba um código de valores existenciais de segurança, alegria e bem-estar.
No que concerne à prática desportiva, verificamos que, enquanto alguns pais adoptam uma atitude modelar de intervenção, outros porém, exercem sentimentos de frustração, mágoa, ira e raiva perante o contexto participativo dos seus educandos.
Todos sabemos que a influência dos pais e a forma como se adaptam, ligam e acompanham a prática desportiva dos filhos, “acusa” uma extraordinária influência ou suporte para o alcance da persistência na obtenção do êxito, ou pelo contrário, pelo abandono devido ao fracasso obtido.
Esta influência torna-se mais evidente, tendo em conta a forma como avaliam o desporto, as suas experiências desportivas prévias e a importância que atribuem ao desporto enquanto factor promotor de desenvolvimento dos filhos, bem como as expectativas face a estes.
Por vezes gera-se uma controvérsia, pelo facto de alguns profissionais entenderem que os pais podem atrapalhar o desenvolvimento, atendendo a diversos factores, como as expectativas que tiveram ou não enquanto praticantes, obrigando a um desempenho que por vezes se torna irritantemente desadequado nos treinos e pior ainda nas competições realizadas, com lamentáveis comportamentos verbais e exacerbados contra tudo e contra todos.
Contudo, ainda aparecem relatos de manifestações saudáveis de certos pais na promoção do contacto com os seus filhos, assumindo uma postura de permanente apoio perante o rendimento exercido, relativizando as condições do sucesso ou insucesso obtido.
Ainda na área formativa, jamais deveremos esquecer que o treinador tem de assumir uma função positivamente pedagógica, em que o rendimento das competências exercidas está muito para além do resultado alcançado. Isto é, uma competição em que o rendimento foi superior a algumas das componentes do jogo, mas cujo resultado foi negativo … esse resultado negativo pode ser a mãe de muitas vitórias do futuro. Por outro lado, ao existir um rendimento negativo, mas porventura registando-se um resultado positivo (exemplo, golo na própria baliza por parte do adversário), é possível que esse resultado seja a base de futuras derrotas, caso o rendimento não evolua.
No entanto, é frequente os próprios treinadores, dirigentes e pais, preocuparem-se mais com os resultados em detrimento de todo um processo de ensino/aprendizagem, acelerando a preparação dos atletas, queimando etapas de progressão, tudo fazendo para que ainda em idade infantil se atinja uma especialização precoce, fazendo o que antes do tempo se deveria evitar, e …um dia esse jovem adulto naturalmente descompensado, irá ter todos os argumentos para antecipar a própria carreira desportiva, podendo advir de várias hipertrofias que por consequência podem conduzir a traumatismos articulares, ligamentares e músculo tendinosos, culminando frequentemente no esgotamento e até abandono.
Também a desenfreada luta que a dinâmica empresarial, cedo, muito cedo, aprisiona de forma totalmente inquietante, para não dizer desonesta, este gradiente de pressão, no sentido de elaborar um requisito contratual de quem muito precocemente caminha nas lides da oferta e procura, vendo quantas vezes o clube, o treinador, o dirigente e os próprios pais comprometer esta fuga para a liberdade, dum crescer rápido para render depressa. Ultrapassam-se etapas, consumidas pelos ecos dum oportunismo económico e social prematuro, tratando as crianças como adultos em miniatura. Felizmente que são muitos clubes que ainda se disponibilizam em capitalizar de forma equilibrada os seus quadros, quer em termos técnicos como pedagógicos.
Treinadores capazes de respeitar o grau de desenvolvimento maturacional dos seus jovens atletas, tornando os treinos motivadores e criativos, evitando instruções de forma hostil ou primitiva, mas sempre encorajadora, corrigindo sem ofender e orientando sem humilhar. Os valores da honestidade e a firmeza das convicções constituem o eixo da sua verdadeira identidade.
Permitam-me confidenciar dois exemplos marcantes da minha vida profissional e social:
Em 1976, estava eu a fazer a transferência do curso de Direito da U. Coimbra para o 1º ano do 1º curso de Educação Física do ISEF da U.Porto, motivadíssimo por influência dos meus primeiros alunos, que me aplaudiam quando chegava à Escola Preparatória Teixeira de Vasconcelos de Paredes e depois à Secundária de Paços de Ferreira, e me questionavam com tristeza quando por algum motivo tinha faltado (como posso esquecer estes meus primeiros heróis e grandes responsáveis pela minha felicidade profissional) … dizia eu, em 1976, inserido num grupo de bons amigos do F.C.Paços de Ferreira, criamos o I Torneio de Futebol Infantil Primavera/76.
Conseguimos reunir 24 equipas, distribuídas por 4 séries (Porto, Penafiel, Maia e Paços de Ferreira). Recordo que inscrevi 3 equipas da minha Escola, dando a oportunidade à máxima participação desportiva, tendo uma destas obtido o 4º lugar no Torneio. A alegria participativa colectiva imperou e a selecção dos melhores valores ficou para outras “núpcias”.
Um Torneio em que os jogos eram arbitrados com auxílio de jovens das Escolas de Arbitragem. Recordo os primeiros apitos do saudoso Paulo Paraty, Paulo Costa e José Leirós. Também era distribuída fruta, leite, sumos e sandes no final de cada jogo. Havia ainda uma comissão técnica e disciplinar associada, enfim, com as melhores intenções de formar para render.
Dou a conhecer um facto que vale a pena refletir: na fase final do Torneio, havia um jogo entre o Cete e o Penafiel no campo do visitado e eu e um colega fomos nomeados para representar a organização, na qualidade de delegados. Claramente, o Penafiel era uma equipa dotada de mais valias técnicas e competitivas, e próximo do intervalo já ganhava por 4-0. Por cada golo sofrido o treinador da equipa derrotada, vociferava com atoardas de fazer corar qualquer espectador mais distraído e … eis que surge um jogador do Cete, muito pequenino, com a camisola a cair até aos joelhos, franzino, mas com uma habilidade a sobressair dos demais. Até que na posição do meio campo, a bola chega-lhe aos pés. Dá a correr com toda a velocidade para a baliza do adversário, finta, dribla e volta a fintar e após a entrada da área e, tendo um colega desmarcado e com a baliza escancarada, ouvia-se o treinador a gritar: passa a bola f.d.p. passa a bola f.d.p., mas o menino que tanto trabalho tinha tido até ali, resolveu ensaiar um remate à baliza, na tentativa de fazer golo. Contudo, dado a fadiga do esforço obtido, aquilo foi mais um passe ao g.redes do que um remate. Ó treinador dos diabos …corre para fora da zona técnica aos saltos, vocifera uma série de palavrões e ameaças, deixando a assistência verdadeiramente horrorizada.
O menino, cabisbaixo, dirigiu-se para o seu posto e, não é que a bola volta ao seu encontro?! ... Então ele corre em direcção da sua baliza, finta um adversário, passa por 2 ou 3 colegas, deixando-os num espanto, entra na sua área e desfere um forte remate fazendo golo na sua própria baliza. Quando o treinador ensaiava o seu reportório de forma animalesca, o menino retira a camisola, deixa-a cair no campo, correu ao balneário para buscar a roupa e fugiu para casa. Que grande lição!... É claro que fui ao seu encontro … limpei-lhe as lágrimas e dei-lhe um forte e prolongado abraço. Jamais o perdi. Seu nome? Mário João… hoje Engº electrónico e um exemplar pai de família!...
O outro exemplo nasceu-me também do coração. Permitam-me que destaque como modelo um clube muito especial, criado há seis (6) anos e que muito me honrou com o convite para a função de seu padrinho de afectos – Clube de Futsal “Os Afonsinhos”, radicado em S. Martinho de Mouros – Resende.
Ali, na tranquilidade duma terra serena e com as cores da vida, habita um clube exemplo, onde se encontram bem definidos os critérios, onde impera a vontade de crescer numa patilha de carinho, razão e amor de quem lidera o protejo. De seu nome … Marcos Antunes!...
São já seis (6) os escalões em competição. Os índices de assiduidade, os níveis de disciplina e ética desportiva e o rendimento escolar, formam as três matrizes para a permissão em participar no treino e a possibilidade de ser convocado para o jogo a realizar. Resultados? … fez há dois (2) dias (11 de Fevereiro),1 ano que se sagraram Campeões Distritais na categoria Juniores B. Parabéns vivamente vos saúdo."