"A equipa de futebol feminino do SL Benfica conquistou há uma semana o primeiro campeonato da sua história, feito conseguido na sua primeira época completa na Primeira Liga. Numa época que ficaria marcada por algumas adversidades, a equipa encarnada soube superar-se ao longo da época, tendo a sua recompensa no final.
O SL Benfica faria um emagrecimento significativo no plantel, havendo muitas saídas no mesmo. A nível de entradas, destacam-se a contratação das internacionais portuguesas Carole Costa (oriunda do Sporting CP) e Matilde Fidalgo (oriunda do Manchester City FC). Destaque ainda para a internacional jovem holandesa Jolina Amani, o regresso de Jassie Vasconcelos após um ano no FC Metz, e para os regressos de Carolina Vilão e Carlota Cristo após empréstimo.
Nesta temporada, o campeonato teria um novo formato. Sendo constituído por 16 equipas, o campeonato seria dividido numa Zona Norte e numa Zona Sul, constituídas por oito equipas cada, com os quatro primeiros classificados de cada zona a qualificarem-se para a Fase de Apuramento do Campeão. O SL Benfica terminaria a Zona Sul no segundo lugar, a três pontos do Sporting CP, em virtude da derrota caseira para a equipa leonina por 0-3.
A primeira temporada ficaria ainda marcada pelo apuramento para a final da Taça de Portugal referente à época 19/20, com uma vitória frente ao FC Famalicão por 1-2 ao cair do pano e pela participação na Champions. Aí, a equipa do SL Benfica conseguiu apurar-se para os 16-avos-de-final. Depois de eliminar o PAOK Salónica e o RSC Anderlecht por 1-3 e 1-2, respetivamente.
No entanto, ao calhar a poderosa equipa do Chelsea FC nos 16-avos-de-final, esta ainda se mostrou um obstáculo demasiado grande para as encarnadas, com a equipa londrina a vencer por 0-5 na Tapadinha e por 0-3 em Londres.
Entretanto, pouco depois do Natal, com o campeonato em pausa, o clube viria a anunciar a saída de Luís Andrade do comando técnico da equipa, sendo este substituído por Filipa Patão, uma jovem treinadora de 31 anos, com percurso feito nas camadas jovens do SL Benfica.
E logo no seu segundo jogo como profissional, Filipa Patão conquistaria o seu primeiro troféu, ao ganhar a Taça da Liga referente à época 19/20 com uma vitória sobre o Sporting Clube de Braga por 3-0. Uma semana depois, ambas as equipas voltariam a defrontar-se na final da Taça de Portugal de 19/20, com a equipa arsenalista a levar a melhor desta vez, com uma vitória por 3-1.
No mercado de inverno, haveria mais mexidas na equipa. Seriam contratadas as brasileiras Letícia Izidoro, Marta Cintra e Marina Dantas, e a jovem Lúcia Alves regressaria de empréstimo no Valadares Gaia, com Carlota Cristo a seguir o caminho inverso.
Seguir-se-ia a disputa da Taça da Liga 2020/2021, com o SL Benfica a derrotar o Clube da Albergaria por 2-0 nos quartos-de-final e o FC Famalicão por 3-0 nas meias-finais. A final seria disputada em Leiria, no dia 17 de Março, onde as encarnadas derrotariam o Sporting CP por 2-1, quatro dias depois de erem perdido contra a equipa leonina por 0-1 em Alcochete, colocando o título nacional em risco.
A seguir disputaram-se os jogos decisivos na Fase de Apuramento do Campeão no campeonato. No espaço de uma semana, o SL Benfica derrotaria por duas vezes o SC Braga (1-2 em Braga e 4-0 no Seixal) e ainda derrotaria o FC Famalicão por 3-1. Mas o ponto de viragem chegaria na penúltima jornada, quando as encarnadas derrotaram o Clube Condeixa por 7-0 e ainda beneficiaram da derrota do Sporting CP em Braga, saltando para a liderança isolada do campeonato.
O título seria então decidido na última jornada com um derby em Alvalade, onde a equipa encarnada daria provas da sua competência, entrega e superação, derrotando as leoas por 3-0, conquistando assim o primeiro campeonato nacional da sua história.
Todos os intervenientes tiveram mérito nestas conquistas, mas não posso deixar de mencionar a mudança de treinador como um dos principais fatores no sucesso da temporada. A substituição de Luís Andrade surtiu um efeito imediato na equipa.
Filipa Patão alterou o sistema tático da equipa, passando esta a jogar em 4-4-2 losango, que se desdobra num 4-3-3 sem a posse de bola, com Kika Nazareth a ser a principal referência na pressão à saída de bola adversária. O losango era normalmente composto por Beatriz Cameirão, Pauleta, Ana Vitória e Kika a jogar a número 10, havendo ainda Cristy Uchebe e Andreia Faria a serem apostas regulares no onze. Já a holandesa Jolina foi das jogadoras mais influentes com Luís Andrade no comando técnico, mas a sua utilização baixou drasticamente com a chegada de Filipa Patão.
No ataque, tanto Cloé Lacasse como Nicole Raysla demonstraram grandes índices de produtividade, sendo das jogadoras que se complementam bem. A reforço de inverno Marta Cintra, depois de um período de adaptação inicial, também aproveitou uma lesão de Nicole para mostrar serviço, marcando golos importantes.
Uma das grandes mudanças trazidas por Filipa Patão foi também a mais vincada aposta nas jovens. Kika Nazareth foi a melhor jogadora da fase de apuramento de campeão, marcando 12 golos e enchendo os relvados com a sua fantasia e criatividade. Já Beatriz Cameirão era um relógio suíço no miolo, sendo um exemplo de discrição e eficácia, sabendo sempre o que fazer em campo.
Destaque ainda para as jovens Catarina Amado e Lúcia Alves. Duas extremas adaptadas a laterais, que mostraram uma grande evolução ao longo da época, acabando por serem premiadas com uma chamada à seleção nacional.
Já o outro fator determinante foram as mudanças na baliza. Dani Nehaus, guarda-redes internacional brasileira contratada na primeira temporada, nunca convenceu os adeptos, levando o clube a apostar noutra internacional canarinha.
Letícia Izidoro chegou do FFSC Corinthians Paulista e tornou-se mediatamente numa mais-valia, não só pela segurança, agilidade e destreza entre os postes, mas também pela capacidade que demonstrou a jogar com os pés, tornando-se essencial no modelo de jogo da equipa, sendo frequentes as situações em que assumia a posse de bola perto da linha do meio-campo.
Nesse sentido, creio que a prioridade no mercado seria a contratação de uma defesa-central com qualidade a sair a jogar com a bola dominada, visto que Carole Costa é a única central da equipa que cumpre esse requisito.
Em três anos, a equipa feminina do SL Benfica ganhou tudo o que havia para ganhar a nível nacional. Mas como a treinadora Filipa Patão disse no discurso da vitória, o nível do SL Benfica tem de ser outro, subindo de patamar na Europa. E eu acredito que este projeto tem bastante margem de progressão."