"No seu mundo ideal aquele mundo platónico onde se imagina diariamente triunfal e em que também é presidente das Nações Unidas, por obra sua acabou-se finalmente com o Benfica. E por unanimidade e aclamação, como não podia deixar de acontecer. Perante esta grossa novidade, é feliz. O Benfica deixou de existir.
De um momento para o outro, o maléfico rival evaporou-se, desintegrou-se, explodiu, tossiu três vezes e morreu. Bruno Miguel já pode abrir as portas do seu estádio para vender bifanas a 20 euros a unidade que ninguém fará pouco dele. E, melhor ainda, sobre as ruínas do Estádio da Luz ergue-se agora, com majestade, um parque temático celebrando a vida do grande líder, que não só conseguiu apagar o Benfica da face da Terra como também, pelos ares, se mostrou de uma eficácia tremenda. Exterminou com um piscar de olhos a transportadora Fly Emirates, acusada de associação criminosa num processo que levou de vencida no Tribunal de Haia e lhe granjeou admiração mundial.
É, portanto, um homem satisfeito num mundo perfeito. E foi magnânimo na vitória. Do ex-Benfica, praticamente, só reclamou para si o património imaterial do defunto rival, alegando que, não sendo o parente mais próximo, era, sem dúvida, o vizinho mais próximo o que lhe conferia direitos de que não pretendia abdicar. Com naturalidade e justiça, viu-se a sair em ombros da reunião em que anunciou à banca e aos patrocinadores o legítimo e súbito enriquecimento do seu currículo pessoal em mais 34 campeonatos nacionais, mais 25 Taças de Portugal, mais cinco Supertaças e ainda duas Taças dos Campeões Europeus. Isto sem esquecer as cinco infames Taças da Liga que também pertenciam ao falecido. Abichou tudo. Foi de arromba.
A única contrariedade neste mundo ideal é que, por incrível que pareça, tendo conseguido num passe de mágica fazer evaporar o Estádio da Luz e todos os que estavam lá dentro, não conseguiu fazer o mesmo ao Panteão nem ao homem negro que continua lá dentro. Equaciona neste momento um bombardeamento cirúrgico ao mono de Santa Engrácia desde que seja ele, Bruno Miguel, a pilotar a avioneta. E não lhe deve ser difícil arranjar a autorização, visto que também é presidente das Nações Unidas, ponto.
Essa é que foi uma refeição completa
Com o regresso de Octávio Machado a Alvalade, ficou Augusto Inácio liberto para se debater num estúdio de televisão contra tudo o que mexa com a dignidade do Sporting. Ou do Porto? Ou vice-versa? No último domingo, por exemplo defendeu os arguidos do Apito Dourado com alma. "O Benfica andou a falar da fruta e agora oferece refeições completas aos árbitros" disse. Esqueceu-se, porém, de que a "fruta" de que o Benfica falava não era, na verdade, apanhada das árvores e deixada numa cabaça na cabina dos árbitros por gentileza. Era, imagine-se, a cifra que permitiu à polícia identificar um serviço de prostituição prestado aos árbitros em hotéis de cinco estrelas. Por gentileza e não por "pornografia futebolística".
O problema do sportinguismo de Inácio é o portismo de Inácio, como lhe recordou recentemente o presidente do Marítimo citando de cor os seus propalados méritos de operacional no desvio do grande Paulo Futre do Sporting para o Porto. Essa é que foi uma refeição opípara. E completa."
Leonor Pinhão, in Correio da Manhã