"O que torna diferentes Rui Vitória, Nuno Espírito Santo e Jorge Jesus? Qual é o melhor para liderar uma grande equipa?
E se estivesse à procura de um (ou de dois) treinadores para a sua equipa, quem destes três, Rui Vitória, Nuno Espírito Santo e Jorge Jesus, escolheria?
Ao fim de 5 jornadas - e já com uma chicotada psicológica (tão previsível...) - desafio-vos, assim, leitores, para um pequeno exercício: quem de entre os treinadores dos três grandes, escolheria para liderar a sua equipa, construir um projecto equilibrado, se tivesse essa responsabilidade... e claro - não vos movessem sentimentos de inveja, nem nenhum complexo de inferioridade por algum dos outros clubes rivais que condicionassem a opção? E, já agora, que não dependesse de um treinador para sobreviver (o que também é importante)...
E também, se cada um dos leitores fosse presidente - independentemente da paixão clubista - dos três treinadores dos grandes (mesmo sendo um deles o melhor do mundo) - quem não escolheria para o seu clube? Qual deixaria de fora? De acordo, com os seus objectivos, mas, também, com os seus princípios, o seu carácter e a sua razão. Como diria Bocage, bem sei que «no mundo há muitos enganos», mas, atendendo à possibilidade de fazer duas escolhas, e meditando no que mais desejariam, o que fariam?
Mas vamos por partes, ou melhor, por treinadores!
Rui Vitória
1. Começo por aquela que é a hipótese mais lógica: a do tricampeão. Bem sei que sou suspeito... E que, quanto a este assunto, me repito várias vezes. Mas, de facto, Rui Vitória é uma ludada de ar fresco, além de ser detentor de uma grande alma benfiquista.
Como afirmou antes de ganhar ao Braga, para o campeonato, «no Benfica somos um todo». Não é Rui Vitória, não é o jogador A ou o jogador B, somos todos um. Porque, correndo o risco de me repetir e de repetir um velho cliché, a união faz a força.
A união do plantel e da equipa técnica, em primeira instância, e a dos adeptos - que na passada segunda-feira, depois de um dia de trabalho, compareceram no Estádio da Luz: mais de 51 mil!
O treinador que, sendo de todos, percebe que só ganha porque todos os seus jogadores se identificam com ele.
O treinador que dá - como é a sua obrigação - oportunidades aos mais novos e que sabe que o azar de uns é a oportunidade de outros, como costuma dizer.
O treinador, ainda, que, apesar de ter sempre presente a sua humildade, desde logo por afirmar que não muda o discurso e que não há campeões à 5.ª jornada, não obstante ser líder, dará, novamente, da concentração e da união de cada um deles, e de cada um de nós, a força de um colectivo.
Porque, no Benfica, o treinador nunca ganha sozinho!
Um treinador que tem o cuidado de apostar, não só nos jovens jogadores da formação, como ainda não tem qualquer tipo de receio (ou de pudor) de escolher jogadores portugueses.
No último jogo, frente ao Braga, o Benfica acabou com seis portugueses em campo: Nélson Semedo, André Horta, André Almeida, Pizzi, Gonçalo Guedes e Zé Gomes.
Escolhê-lo-ia?
Nuno Espírito Santo
2. É um treinador de um clube que fez um grande investimento no plantel para esta nova época! Está a treinar, pela primeira vez, o clube onde jogou muitos anos, o que não impede algum período de adaptação.
Tem uma equipa nova, que se encontra em fase de construção. Mas, apesar disso, é um treinador que não se inibe de dar um murro no banco - como o fez, no último jogo do Campeonato, frente ao Tondela, quando, por circunstâncias óbvias, estava obrigado a ganhar - quando o jogo não lhe corre bem, ou, até, quando os seus jogadores não respondem ao mínimo exigido.
No fim desse mesmo jogo, na flash interview e na conferência de imprensa, assumiu a total responsabilidade pelo resultado obtido.
Um treinador que, depois de perder pontos na última jornada frente à equipa de Petit, não teve qualquer problema em afirmar, publicamente, que, a sua equipa, a continuar assim, não será campeã.
Quem tem uma atitude assim, dando a cara, como responsável máximo, tem, no mínimo, um grande carácter!
Escolhê-lo-ia?
Jorge Jesus
3. Por último, um treinador que puxa dos galões, para se enaltecer, mesmo que isso implique rebaixar os seus jogadores (mesmo os de sua escolha pessoal). Aqueles que deveria defender de tudo e perante todos.
O treinador que se auto-intitulou de cérebro, mas que, recentemente, perdeu (mais uma vez) nos últimos instantes. Nesse jogo, a sua equipa estava a pouquíssimos minutos de conseguir um grande (e histórico) resultado em pleno Santiago Bernabéu.
Mas, ainda assim, e não satisfeito - ninguém sabe com o quê ou quem... - conseguir ser expulso (inevitável será concluir que, lá fora, não há qualquer receio em fazê-lo), quando a sua equipa, mais do que nunca, naquela fase do jogo, precisava da sua ajuda.
Se não tivesse sido expulso talvez não tivesse perdido o jogo da maneira que perdeu!
Ele, fiel a ele próprio - e embeiçado pelos poucos minutos que o separaram da vitória (sempre os poucos minutos finais...) - foi ainda mais longe na conferência de imprensa de antevisão do jogo frente ao Rio Ave, na véspera de uma deslocação difícil. Pois surpreendendo apenas os que se esqueceram, em 48 horas, do que tinha dito em Madrid (eu sei que em espanhol, mas bastante perceptível para um português médio...), veio afirmar que, independentemente dos jogadores que tivesse, o facto de treinar uma equipa faz imediatamente a diferença. Citando-o: «o treinador faz a diferença!»
Ora, sendo ele o factor diferencial - embora não tenha sido isso o que o seu presidente veio dizer posteriormente, reiterando que todos juntos, sem excepção, fazem um plantel de qualidade - fiquei surpreendido como, no dia seguinte, perderam por 3-1, frente ao Rio Ave.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, mas neste caso, mantêm-se a arrogância e a altivez desmedida, com um ego do tamanho do mundo, como se este não chegasse para ele...
Pois, apesar das suas limitações, não deixará nunca de ser o «rei da selva»...
E como cada um tem a selva que merece...
Escolhê-lo-ia?
Pois, caro Leitor, qual seria a sua escolha?
E, já agora, sem pagar 3 milhões e 850 mil euros líquidos por ano ao treinador que pudesse escolher. Um pequeno detalhe que faz toda a diferença!
PS - Eu sei que ninguém é campeão em Setembro, mas, na verdade, à 5.ª jornada, o Benfica é líder isolado. Vale o que vale, embora se outros lá estivessem, valesse muito mais!
O Benfica, de facto, é muito grande!"
Rui Gomes da Silva, in A Bola