Últimas indefectivações

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Outro 'fanático' Benfiquista!!!

Rui Vitória recupera forças

"Só o empate com o 'fraquinho' Sporting nos distanciou de um início de temporada perfeito. Estamos mais fortes.

O Benfica termina um ciclo terrível com bom aproveitamento. Na liderança do campeonato e com apuramento milionário para a Liga dos Campeões, Rui Vitória recupera forças numa posição invejável. Escrevi que nada se ganharia neste início de temporada, mas que se poderia perder tudo. O Benfica tinha oito jogos seguidos, com alguma dificuldade, e, se caísse em dois ou três, comprometia a época financeira e desportivamente. Só o empate contra o fraquinho Sporting nos distanciou de um início perfeito. Estamos, pois, mais fortes e mais perto da época de reconquista, que anunciamos como o objectivo.
Momento simbólico daquilo que é um grupo à Benfica foi o golo de Seferovic na Madeira com Svilar e demais suplentes a entrarem em campo para festejar com o suíço. Quem está no banco ou na bancada faz parte do mesmo espírito de quem está em campo. A lesão de Fejsa preocupa, pois ninguém é tão difícil de substituir como o sérvio neste Benfica. Estive mais receoso a ver o jogo na Madeira do que na Grécia. Mas o Benfica marcou quatro e podiam ter sido oito. Mas, agora que Seferovic marca e joga a alto nível, é altura de, contra a corrente, quero deixar escrito que Ferreyra foi uma excelente contratação e vai provar em campo isso mesmo. Precisa de se adapte, precisará até de mais rotinas e mais treino, mas, para mim, vai marcar muito e bem. Haverá muitos (também benfiquistas) que agora dizem e escrevem sobre Ferreyra, que serão proibidos pela consciência de festejar o muito que o ex-Shakhtar ainda nos vai dar ao Benfica.
Se o terceiro golo na Grécia tinha sido fantástico, voltar a ver o segundo e quarto golos na Madeira é pura poesia. Classe e objectividade, rapidez e eficácia. Há jogadores, há soluções, há plantel e há Benfica, este ano, na luta pela reconquista.
Em tempo de selecções esperemos que, como frequentemente acontece, não venham mais lesionados. O período é para recuperar jogadores e não perder mais disponíveis, porque a concorrência está aí, embora pareça mais entusiasmada em ganhar fora do que dentro do campo.
O Sporting vai a eleições, há que esperar com respeito pelo resultado, mas, pelo andar da carruagem, resta esperar para saber qual o anti-benfiquismo que vence. No Sporting, aprender com os erros não parece ser o forte da prestigiada instituição, a analisar pelas críticas feitas aos seus dirigentes que tiveram uma postura cívica e educada no derby."

Sílvio Cervan, in A Bola

Bom começo

"Passados 27 dias e 8 jogos, o Benfica lidera o Campeonato Nacional e assegurou a presença na fase de grupos da Liga dos Campeões, patenteando um nível exibicional entusiasmante e consistente, só pecando, em alguns dos jogos, pela escassa eficácia na concretização das inúmeras oportunidades criadas. Sem Jonas nem Krovinovic, entre outros, mas com Gedson e João Félix, produtos do excelente trabalho feito no Seixal (a que se lhes junta o “veterano” Rúben Dias e Alfa Semedo entre os utilizados).
Não por acaso, de acordo com um relatório do CIES sobre a facturação com a venda de passes de atletas para os cinco principais campeonatos europeus entre 2010 e 2018, o Benfica surge na oitava posição, com 618 milhões de euros, a apenas dez do quarto neste ranking, o Barcelona. Saliente-se que, neste período, o Benfica conquistou cinco Campeonatos Nacionais, duas taças de Portugal, seis Taças da Liga e três Supertaças, além de ter disputado duas finais da Liga Europa e ter sempre participado na fase de grupos da Liga dos Campeões a partir de 2010/11. Só este percurso desportivo permite o enaltecimento do sucesso financeiro, agora fortalecido pela recente amortização integral do endividamento à banca.
Será esta a razão que levou, subconscientemente, a antiga deputada à Assembleia da República e psicóloga Joana Amaral Dias a clamar pela extinção da Benfica, SAD? Não sei, a especialista é ela. Do meu ponto de vista, manifestamente leigo, limito-me a citá-la: “O maior risco, quer para as pessoas discriminadas quer para o público, encontra-se nos preconceitos e desinformação”. Então se partir do roubo de emails e deturpação e descontextualização do conteúdo dos mesmos, nem se fala..."

Rui Vitória, olé!

"Tenho este desejo, cá dentro. Sonho com o dia - espero que breve - em que os 6 mil da Catedral, embalados por mais uma conquista, cantem todos juntos o nome do treinador da equipa principal de futebol. O que é que vocês querem?
Estas coisas, passam-me pela cabeça. Todos a cantar pelo homem. Todos! Os que lhe chamaram Derrotas, os que disseram que sem Krovinovic nada feito, os que choram pelo 4-4-2 (como eu...), os que pensam que sabem mais de futebol no sofá do que os outros no relvado, os heróis do teclado, todos! Sem excepção, a gritar 'Rui Vitória, olé! Rui Vitória, olé!', até ele se levantar do banco suplentes, levar a mão ao coração e agradecer-nos por isso. Só conheço o nosso mister da televisão e de o ver das bancadas. Nunca me cruzei com ele nos corredores do estádio, nem na BTV, nem social ou pessoalmente. O que sei dele é o que vejo, como todos os adeptos veem.
Vejo um homem educado, correcto, profissional, com ideias próprias, respeitador e que tem o respeito dos jogadores com quem trabalha. Só assim se explica que, em vez de 11 titulares, tenha sempre 30 jogadores aptos para a batalha (tirando os lesionados...). Ou 18, com os que vão para o banco. Jonas e Castillo estão lesionados, Ferreyra está em adaptação, entra Seferovic e o suíço marca, dá a marcar e contribui para a festa. Tem de ser uma pessoa especial. Vai à equipa B e aos juniores e traz miúdos que jogam como homens grandes, como Alfa, Félix ou Gedson e cala os críticos sem ter que encomendar notícias em jornais ou pedir favores a comentadores.
Vamos lá começar a ensaiar. Em todo o estádio, com palmas à mistura: 'Rui Vitória, olé! Rui Vitória, olé!"

Ricardo Santos, in O Benfica

Pausa para selecções? Prefiro curling

"O leitor consegue imaginar aquele momento em que está em casa a sós com a sua companheira, abraçados no sofá, clima romântico no ar, e entretanto chegam os seus pais? Caso seja um mandrião como eu e apenas conte abandonar o ninho aos 30, é provável que tenha esta situação bem presente; se já é independente, terá certamente um destes episódios armazenados na gaveta de memórias menos agradáveis. Ora bem, é precisamente essa a frustração que estes interregnos no campeonato causam em mim. Mas alguém estava interessado nas selecções, sobretudo agora que o Benfica começava a carburar? Nem eu, nem o leitor, nem sequer o Salvio, que até estava convocado para a Argentina e vai ficar em Lisboa a tratar de uma lesão - se eu tivesse a mulher dele também não ia achar piada nenhuma que me obrigassem a estar longe durante 15 dias. Normalmente, o meu nível de interesse pela Selecção à excepção das fases finais é este: prefiro assistir a um jogo de Curling na Eurosport. 
Todavia, desta vez vou estar atento dadas as convocatórias do Pizzi, do Rúben Dias e do Gedson. A presumível titularidade do Rúben e a chamada do João Cancelo vêm, com uns meses de atraso, mas ainda faltam o Rafa e André Almeida, que terão de fazer um esforço se quiserem ser seleccionáveis. O Rafa tem de ser menos rápido para que Fernando Santos perceba quando ele está em capo e não pense que a bola se desvia tão agilmente dos adversários como se fossem mecos sozinha. Quanto ao André, tem de descobrir qual é a caixa de vinho que o Cédric oferece ao Engenheiro no Natal, e dar uma ainda melhor. Se não for por este miminho, não compreendo o porquê de o Nélson Semedo e o Almeidinhos continuarem de fora."

Pedro Soares, in O Benfica

A lógica do absurdo

"Se o estimado leitor for ao futebol com um grupo alargado de amigos, ocupar sempre o mesmo sector do estádio, apoiar o Benfica com cânticos de incentivo, e não se registar como 'claque', facultando dados como estado civil, profissão ou nome dos pais, poderá estar a causar danos ao clube. Pelo menos é esse o entendimento do IPDJ, presidido (até ver...) por um ex-atleta do Sporting, e membro da Comissão de Honra de uma das candidaturas às eleições do clube de Alvalade. Deve dizer-se que o primeiro problema reside na própria legislação, que é ambígua na definição de 'grupo organizado de adeptos' - para utilizarmos a terminologia da Lei 16/2004. O que é um 'grupo organizado de adeptos'? Será, por exemplo, uma Casa do Benfica, que organiza excursões à Luz, coloca tarjas alusivas à localidade de onde vem, e é apoiada pelo clube?
O segundo está na aplicação da mesma, pois existem 'claques legalizadas' contando com três ou quatro mil elementos, dos quais meras centenas, ou mesmo dezenas, constam nos registos. Há uns meses pudemos ver, em Alcochete, o exemplo de uma 'claque legalizada' em acção. Já antes, no centro de trino de árbitros na Maia, uma outra 'claque legalizada' actuara impunemente aos olhos do país. Em sentido contrário, aplicaram-se no passado sanções duríssimas a adeptos que normalmente ocupam o topo sul do Estádio da Luz, e não foi necessário qualquer registo prévio para as autoridades policiais e judiciais fazerem o seu trabalho. Estamos então perante incapacidade para resistir à pressão mediática? Vontade de agradar ao eventual empregador? Ou simples incompetência?"

Luís Fialho, in O Benfica

Filipa e Cláudio

"O recital na Choupana começou no sábado à noite, quando mais de meia centena de adeptos do SL Benfica receberam a equipa no Aeroporto Cristiano Ronaldo. Liderados por Filipa Calisto e Cláudio de Jesus, dois benfiquistas envolvidos na criação da futura Casa do Benfica na Madeira, a nossa comitiva foi recebida, por volta das 23 horas, com muitas palmas e cânticos estimulantes. Dias antes, Filipa e Cláudio já haviam manifestado o seu benfiquismo na BTV, com intervenções telefónicas, em directo, no programa Benfica 10 horas e no sábado, véspera do jogo, compareceram no directo do Benfica 14 horas, no Funchal, entrevistados pelo repórter Nuno Amaral Saraiva. Esta dupla de benfiquistas conseguiu mobilizar os adeptos para o aeroporto e no dia do jogo lá estavam no Estádio da Madeira a puxar pelo Glorioso.
Filipa e Cláudio são dois bons exemplos dos verdadeiros reforços que todos os fins de semana apoiam, de forma incondicional, o Maior Clube Português. É assim em todos os estádios, sobretudo fora.
São adeptos como Filipe e Cláudio que precisamos em todos os jogos, com uma tremenda capacidade de mobilização e causadora de inveja nos nossos adversários e tanta preocupação no Instituto Português do Desporto e Juventude. Está ainda por explicar as razões que levaram um organismo público a condenar duramente o Benfica. Se a utilização em nove jogos de tarjas com frases: 'Honra agora os ases que nos honraram o passado', 'Demasiado fiéis para desistir', 'E Pluribus Unem', e 'Sport Lisboa e Benfica, O Glorioso desde 1904' são consideradas manifestações graves e violadoras do regime jurídico do combate à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos, valendo uma multa de 56.250 euros e uma sanção acessória de realização de um jogo à porta fechada... estamos conversados acerca da sensatez de quem dirigia o IPDJ. Augusto Baganha devia ter posto o lugar à disposição com a posse do novo Governo. Nem isso fez! Logo..."

Pedro Guerra, in O Benfica

Ninguém as para!

"A história do futebol é a história das pessoas e reflecte o estado civilizacional e a condição feminina no devir dos tempos, coincidindo com um enorme desenvolvimento económico trazido pela generalização da indústria, na viragem do século XIX e sobretudo ao longo de todo o século XX, onde são bem conhecidos os episódios quotidianos envolvendo futebol, por exemplo, durante as duas Grandes Guerras.
As mulheres, a quem a sociedade se habituou a sonegar oportunidades a abafar protagonismos, não podiam deixar de ser as grandes vítimas e também as grandes esquecidas da história. É o caso do futebol feminino que modernamente se vai espalhando e consolidando e a que a opinião pública se habituou a encarar como uma novidade e mais um passo libertador da condição feminina. E isso é verdade, mas vale a pena olhar para trás e ver que o reconhecimento do futebol feminino se trata afinal de um acto de elementar justiça social.
Em Inglaterra, que nos habituámos a ver como o lugar das origens, remontam à última década do séc. XIX (1881 a 1895) os primeiros registos de jogos de futebol feminino. O jogo tornou-se tão popular e as estrelas tão bem-sucedidas, que parece que por estas alturas os tradicionalistas ingleses se ocuparam muito a impedir o povo de jogar golfe para não envergonhar as elites e as mulheres de jogar futebol para deixar brilhar os homens e remetê-las à casa. É certo que se discutia muito se as mulheres deviam trabalhar, no que faziam concorrência aos homens porque eram exploradas no mercado de trabalho e argumentava-se que tiravam o sustento a outras famílias enquanto as suas próprias crianças ficavam privadas da educação e cuidados familiares. A economia falou mais alto, e as mulheres trabalhadoras vieram para ficar. E bem!
Mas no desporto a coisa não se passou assim, e o futebol feminino oficial foi proibido pela Football Association inglesa entre 1921 e 1971. Durante 50 anos a sociedade negou-lhes o direito a jogar à bola porque, cito: 'the game of football is quite unsuitable for females (...)'. Não apropriado, portanto.
E se em Inglaterra não era, imaginem no Portugal do Estado Novo...
Mesmo assim, em 1935 há notícias de jogos femininos no norte do país, mas podemos bem dizer que só no novo século em que nos encontramos se começa a fazer justiça às mulheres do futebol, e, como não podia deixar de ser, o Benfica faz uma vez mais histórica.
Parabéns ao Benfica, pela visão, e a elas porque... ninguém as para!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Verso e reverso de caso perverso

"Casos como o que agora envolve o nome do Benfica tornam o futebol português, a prazo, mais fraco ou mais forte?
Por um lado, da má imagem do maior clube nacional, que está a dar a volta ao mundo, nenhum bem virá; por outro, uma justiça que investigue igualmente ricos e pobres é de louvar.
Mas, se por um lado o inevitável descrédito para a industria do futebol que surge associado a estes processos é nefasto, por outro trará práticas diferentes, mais transparentes, que serão comuns a toda a actividade.
Há mais: se por um lado as aparentes fragilidades da acusação vinda a público nos devem colocar de sobreaviso contra o justicialismo militante (flagrante, há uns meses, no lamentável episódio que envolveu Mário Centeno), por outro, devemos ter consciência de que o Portugal de 2018 não é o mesmo de 2004...
O Benfica confrontado com uma acusação que viu no alegado conhecimento e concordância de Luís Filipe Vieira, quanto a factos que consubstanciam crimes, umas das razões para arrastar a SAD para o banco dos réus, e ao mesmo tempo não produziu efeitos contra o presidente encarnado, terá razões válidas para pensar que eventuais sanções desportivas não passará de um castelo de cartas, incapaz de resistir à primeira brisa.
Mas torna-se inevitável concluir que, para a nação encarnada, haverá sempre um antes e um depois relativamente a este caso. O Benfica deve manter-se unido e coeso nesta fase em que está debaixo de fogo cruzado. Mas essa circunstância não deve impedir uma autocrítica séria, única forma do clube sair mais forte desta provação."

José Manuel Delgado, in A Bola

Os velhos da minha rua

"Gosto de ouvir histórias, especialmente as contadas por velhos. Normalmente, têm sumo, conteúdo, honradez, fazem-nos transpor para uma imagética a preto e branco, recordar e trazem lições associadas. As soleiras das portas dos bairros costumam ser bons sítios para as ouvir. Depois das manhãs a discutir-se a espuma dos dias, as tardes, normalmente, eram passadas em regressos ao passado, até porque a nostalgia é sempre uma casa que se gosta de visitar por ter as portas abertas e em que as paredes podem ser pintadas das cores que se quer: ou mais garridas ou mais cinzentas, consoante o padrão com que se pretende colorir a memória.
A memória dos adeptos do futebol tem sempre padrões garridos. Nos mais velhos da minha rua, fosse pelas vitórias, pela qualidade dos ídolos; fosse pelo orgulho no comportamento dos adeptos ou na rectidão de princípio e de acções dos seus dirigentes. Quando se conseguia conjugar dois factores ou mais, o peito enchia, os olhos dos mais guardiões da Lisboa antiga até chegavam a marejar de lágrimas mesmo em homens de vida dura, operários feitos de pedra e nos quais as rugas do rosto contavam as histórias da linha da vida.
Os tempos mudaram. Na maioria dos variadíssimos vectores da vida, para muitíssimo melhor. Mas no fim de tudo, hoje, a única coisa que conta é a vitória e o dinheiro daí adjacente. Seja em que indústria for, mas especialmente no futebol que, no fundo, continua a ser uma bola com efeitos mágicos que continua a prender a atenção de milhões e milhões espalhados pelo mundo. Pode dar-se a volta que se quiser mas, no fim, no sentido mais estrito da história, na enorme maioria dos casos, nos dias que correm quem conta é quem contabiliza vitórias. Mas continuo a gostar muito dos velhos da minha rua, mesmo que muitos deles já cá não estejam."

Hugo Forte, in A Bola

Profundidade e tempo

"Fala-se muito em defender alto, fazer pressão alta, jogar em bloco alto, recuperar a bola longe da nossa baliza, o que dito desta forma parece algo fácil, diria que basta subir as linhas. Mas a realidade não é assim tão linear. Por que não dá o treinador indicações nesse sentido?, pergunta o adepto, que naturalmente que ver a sua equipa perto da baliza adversária. Quando uma equipa não tem a bola todos os treinadores pretendem que o espaço da equipa adversária seja limitado; quanto mais reduzido esse espaço, maiores as possibilidades de recuperar a bola. Se assim é, observa o adepto, sobre-se a equipa e o problema está resolvido. Acontece que essa decisão também implica o necessário controlo da profundidade defensiva, sabendo o que significa a linha de meio-campo para a regra que transmite inteligência ao futebol, o fora-de-jogo.
Abordando apenas questões de profundidade, defensiva ou ofensiva, consegue-se entender melhor por que motivo na maior parte das vezes as equipas não têm capacidade, nem condições, para recuperar a bola no terço ofensivo ou mesmo no meio campo ofensivo. As excepções, são as grandes equipas, que conseguem fazê-lo graças a linhas recuadas rápidas e a jogadores de nível superior. Mas não é para todos. Aquele rectângulo de 105m x 68m começa a ser cada vez maior com o cronómetro a correr. Não é interessante para o jogo ver uma equipa a defender constantemente em bloco baixo, tentando apenas, no plano ofensivo, explorar a profundidade. o adversário tem que circular rápido a bola para arranjar soluções, até atingir o objectivo. E aqui entram muitas vezes as situações feias do jogo. Uns querem que o cronómetro ande rápido, outros vão vendo o tempo a passar sem poderem pará-lo. Aqui está um tema interessante, o controlo do tempo de jogo. Defender e atacar a profundidade é importante, mas entendo que controlar o tempo de jogo ainda o é mais."

José Couceiro, in A Bola

Aquecimento... Ataques...

A tribo do futebol

"A crise de um clube desportivo como o Sporting é um assunto nacional

“Visto objectivamente, este é um dos padrões de comportamento mais estranhos que podemos observar em toda a sociedade moderna.”
Desmond Morris

Um grande clube português, o Sporting, tem mobilizado, desde há vários meses, o interesse generalizado da comunicação social, pelas piores razões.
A crise gerada em maio deste ano poderá ter agora o seu fim, com as eleições de amanhã para uma nova direcção. A crise de um clube desportivo como o Sporting Clube de Portugal é assunto nacional, obviamente, por causa do desporto nacional, o futebol.
Foi por isso que recorri ao livro de Desmond Morris, a quem “roubei” o título para esta crónica, reeditado com algumas actualizações este ano, por ocasião do Mundial de Futebol.
O livro deste zoólogo, observador atento dos seres humanos, escrito em 1981, compara o jogo e toda a sua envolvência, a um complexo ritual tribal, que é seguido actualmente em todo o mundo.
“O animal humano é uma espécie extraordinária. Entre todos os acontecimentos da história humana, aquele que atraiu a maior assistência não foi uma grande ocasião política, nem uma celebração especial de alguma proeza complexa nas artes ou ciências, mas sim um simples jogo de bola - uma partida de futebol. Calcula-se que mais de mil milhões de pessoas terão assistido a uma final do Campeonato do Mundo, quando esta foi transmitida na televisão global”, escreve Desmond Morris na introdução ao seu livro.
Ao analisar toda a envolvência do futebol, Morris debruça-se também sobre o papel dos dirigentes desportivos, a que chama o Conselho Tribal.
E, quando há crise no dito Conselho?
“Tudo muda quando sobre o pano desse prolongado drama que é a cisão directiva. Em termos de contenção e de pensamento racional, esta apresenta todas as qualidades da expulsão do chefe de um bando de babuínos, em que os roncos e as atitudes muitas vezes passam da sala da direcção para as colunas dos jornais. Segue-se um período em que o ar se encontra repleto de ameaças de demissão e de recriminações, até que a poeira assenta e um novo presidente é entronizado como chefe tribal, ou o antigo triunfa finalmente, ferido, mas não vergado. Normalmente, segue-se um rescaldo de ressentimentos que continuam a fervilhar nos corredores tribais durante algum tempo, prontos a transbordar sempre que a sorte do clube é questionada por inglórias derrotas no campo de jogo”.
Será que Desmond Morris andou pelos lados de Alvalade?"

CMTV é a grande vencedora das eleições do SCP

"As eleições do Sporting vão ajudar ironicamente o Benfica a sair, momentaneamente, debaixo dos holofotes. Amanhã, sábado, os amantes do desporto quererão saber quem sucederá ao impagável Bruno de Carvalho, homem que tem alimentado a melhor novela a que o país algum dia assistiu. Chegará ao fim, ou pouco depois, o mandato das comissões de Gestão e de Fiscalização. Quem não irá sentir saudades de ver o também inimitável Sousa Cintra a dar as suas conferências de imprensa? 
Mas estas eleições tiveram o condão de demonstrar a forma que a CMTV ganhou nos últimos dois anos. Foi a estação que mais horas gastou com o assunto e quase todos os candidatos por lá passaram, tendo alguns chegado mesmo a ligarem para a CMTV quando em determinado programa se discutia o clube e não estavam de acordo com o que era dito. A SIC e a TVI acordaram tarde para o fenómeno e foram obrigadas a ir a reboque. Não é por acaso que a CMTV lidera as audiências do cabo, com larga vantagem sobre os concorrentes.
Percebe-se que existe uma certa desorientação dos dois canais mais antigos, pois não queriam entrar em determinados terrenos, que consideravam pantanosos, mas hoje nenhum canal se atreve a não fazer directos nem que seja da detenção do suposto violador do Seixal. Quem diria que isto seria possível há dois anos? Mas as audiências determinam que a programação da TVI24 e da SIC Notícias comecem a sujeitar-se à actualidade. Quando é que encontrarão o seu espaço é uma incógnita, embora a SIC seja a mais prejudicada, pois sempre jogou para o segmentos A e B e agora vê-se obrigada a ir também atrás das classes C e D, embora seja hoje claro que a CMTV alcança todas as classes sociais.
No fundo, concretizou-se aquilo que os estudos de mercado já diziam há muitos anos. Os leitores dos semanários mais conservadores também o eram do “Correio da Manhã”. Para se perceber a força da CMTV, diga-se que há uns três meses um representante da Comissão Fiscalizadora dizia em directo que não falava para a estação e há poucas semanas lá estava ele, em horário nobre, sentadinho no estúdio. É a vida."

A derrapar para o Estado Polícia

"As regras constitucionais para o processo penal têm que ser cumpridas também por quem investiga, sob pena de uma completa subversão dos valores que depositámos na legalidade e funcionamento democrático das instituições e do Estado.

Não pode haver democracia sem um combate sério à corrupção, ao crime organizado, à fraude fiscal e ao branqueamento de capitais. A criminalidade económica e financeira organizada, qualquer que seja a forma pela qual se materialize, corrói os alicerces da sã concorrência, da política e da democracia, impede que uma sociedade possa ser justa e solidária, sendo impeditiva da prosperidade e sã convivência entre cidadãos e empresas.
Defendo por isso que o Estado deve garantir ao Ministério Público todos os meios necessários humanos e materiais à prevenção e repressão da criminalidade organizada. No entanto, tal prevenção e combate à criminalidade, não pode ser feito com violação das regras que a Constituição da República Portuguesa (CRP) consagra como garantias no processo criminal.
No processo crime, aos visados, devem ser assegurados não só a presunção de inocência com a possibilidade de a todo o momento se poderem defender, como a estrutura acusatória do mesmo garante que todos os atos praticados pelo Ministério Público estão sujeitos a contraditório dos visados. Não pode por isso qualquer cidadão responsável deixar de ficar preocupado com indícios sérios de que em Portugal se caminha para uma ditadura do Ministério Público.
Com efeito, a possibilidade que se conferir ao Ministério Público o acesso à ficha fiscal de cidadãos e aos seus dados bancários, sob qualquer pretexto, em meros processos de natureza burocrático-administrativa, sem que exista contra os visados qualquer suspeita da prática de qualquer crime, transforma um Estado de Direito Democrático num Estado Polícia, que se imiscui por curiosidade e obsessão doentias na vida quotidiana de cidadãos e empresas, sem que tenha de prestar contas a quem quer que seja.
Quando o texto da Lei Fundamental consagra as referidas garantias de defesa aos cidadãos em processo penal, o que se pretende é que sempre que alguém seja visado por suspeita sobre o seu comportamento, seja instaurado um processo crime e tal dê lugar a um processo de inquérito, o qual, terminando sem indícios da prática de qualquer crime, e como tal, sem acusação, o investigado não deixe de saber que foi investigado. Nem se pode olvidar que havendo indícios contra o visado, este seja de imediato constituído arguido para se poder defender, sem embargo do segredo que possa abranger as diligências de recolha de prova em curso.
Não instaurar processo crime para contornar a exigência constitucional de garantir aos visados as necessárias garantias de defesa, tem como consequência um estado de vigilância latente e permanente sobre os comportamentos quotidianos de cidadãos e empresas que, a meu ver, ultrapassa em tudo a forma como a nossa sociedade se quis organizar após o 25 de Abril de 1974.
Quando os bons deixam de respeitar as regras com o pretexto de que os maus não as cumprem, passam a ser todos iguais. As regras constitucionais para o processo penal têm que ser cumpridas também por quem investiga, sob pena de uma completa subversão dos valores que a nossa sociedade depositou na legalidade e funcionamento democrático das instituições e do Estado. Nunca é tarde para se prevenir incorrer em abusos. Nunca é tarde para emendar a mão e fazer o que está certo."

Uma justiça para arguidos outra para o MP

"Não se pode passar de um país que dá a sensação de ter uma Justiça para pobres e outra para ricos, para um Estado que aparente ter uma Justiça para arguidos e outra para Ministério Público

Com o aproximar do fim do prazo para os arguidos da Operação Marquês pedirem abertura de instrução foi possível ler-se em vários jornais que estes preferiam que fosse o juiz Ivo Rosa a decidir se existem ou não indícios suficientes para os levar a julgamento. Numa primeira leitura este apontamento pode não surpreender, uma vez que os suspeitos deste caso, que tem José Sócrates como peça central, já tentaram por diversas vezes afastar Carlos Alexandre - o outro juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal e que tem o caso em mãos desde o início.
Mas se se parar alguns minutos a pensar no assunto não deixa de impressionar que em 2018, em Portugal, haja juízes preferidos dos arguidos e outros do Ministério Público - sim, porque não é preciso grande memória para nos lembrarmos de que há poucos meses dois procuradores do MP pediram o afastamento de Ivo Rosa de três processos, um dos quais o da EDP, invocando a sua imparcialidade. Ou seja, na prática o mesmo que os arguidos apontam a Carlos Alexandre.
A realidade é conhecida de todos e, inclusivamente, já é noticiada com naturalidade.
Mas o que aconteceu esta semana é particularmente grave. Não se trata apenas de se exercer um direito legal - de pedir o afastamento de um magistrado que tenha tomado uma decisão concreta -, trata-se de ser notícia que os arguidos preferem um juiz a outro, antes ainda do sorteio. E qualquer que seja a justificação que se dê para isto é a Justiça que fica mal na fotografia, como uma Justiça que aparentemente assegura diferentes direitos, diferentes liberdades e diferentes garantias.
E nem é que se possa dizer que se trata de uma invenção dos jornalistas, que os arguidos nunca verbalizaram essa preferência. Ricardo Salgado, que decidiu nem sequer pedir abertura de instrução - por considerar que não pode exercer a sua defesa - afirmou esta semana que caso seja Carlos Alexandre o sorteado para conduzir a instrução os arguidos não terão outra hipótese que não seja seguir para julgamento.
“Se tal vier a suceder, o arguido (Ricardo Salgado) não tem ilusões quanto aquele que seria ou será o desfecho de uma eventual instrução”, defendeu Salgado.
O que está a acontecer na Justiça torna-se particularmente preocupante uma vez que não é um problema exclusivo da Operação Marquês - são vários os mega-processos que estão em investigação e que num futuro mais próximo ou mais longínquo chegarão a esta fase. É preciso que se perceba onde é que a Justiça está a falhar, para que o sentimento que criou nos portugueses, de ser igual para todos, não se perca. Não se pode passar de um país que dá a sensação de ter uma Justiça para pobres e outra para ricos para um Estado que aparente ter uma Justiça para arguidos e outra para Ministério Público."

Benfiquismo (CMXLIII)

Lendas...

Proposta (in)decente...!!!

"Proponho o seguinte exercício. Se a Tânia Laranjo se chamasse Paulo Gonçalves de quantos crimes é que já teria sido acusada? Mas quem diz Tânia Laranjo pode dizer outros distintos especialistas em violação de segredo de justiça como Pedro Candeias, Carlos Rodrigues Lima e outros famosos jornalistas de investigação cujo principal mérito é cometer o crime de receber e divulgar informação a que deviam estar impossibilitados de lá chegar. E depois as contrapartidas. O que receberão as inúmeras toupeiras da justiça que fazem o trabalho sujo desta associação de violadores do segredo de justiça? Ou teremos de acreditar que essas toupeiras o fazem apenas por amor à liberdade de imprensa? Quanto e a quem custarão essas informações? E serão pagas de que forma? Idas ao futebol? Idas ao Estoril Open? Idas a espectáculos de música e outros? Outro tipo de contrapartidas? 
Acho que todos temos o direito a saber. E sobretudo acho que todos nós temos o direito a que estas pessoas sejam investigadas e punidas pela forma como constantemente violam o segredo de justiça. Seria um acto de justiça e para qualquer um de nós seria inspirador pensar que neste país não há cidadãos acima da lei. Sobretudo aqueles que fazem da violação da lei uma forma de vida."

Percebido?!