"Pior que acharem a liga portuguesa a 4.ª melhor do Mundo é alguém acreditar
A Federação Internacional de História e Estatística do Futebol, além de ter um nome extraordinário, faz distinções extraordinárias, a última a eleição da liga portuguesa como a quarta melhor do Mundo, à frente de França, Alemanha e Itália. Mesmo considerando o desempenho internacional recente na segunda divisão europeia, não vejo como, ainda que a classificação tenha sido sublinhada até pelo presidente da FPF, ex da Liga.
Comparemo-nos com a liga alemã, 6.ª na lista. Na Alemanha há 36 clubes profissionais e só três tiveram dificuldades financeiras nos últimos quatro anos. Na Bundesliga o volume de negócios cresce há anos e em 2010 atingiu o valor recorde de 700 milhões de euros. As receitas de publicidade crescem na casa dos 20 por cento desde 2007 e com a dependência dos direitos televisivos que é metade dos espanhóis e um terço da dos italianos. A diferença pontua média entre o vencedor e o quinto classificado na Alemanha na última década é de 16,4 pontos. Em Portugal é de 24, ilustrador da competitividade. A média de golos nos últimos anos foi de 2,83 por jogo, acima de Inglaterra, Espanha, Itália ou Portugal. A de assistências nos jogos é de 42790. Em Portugal é de 10894. E concentrada em três, enquanto na Alemanha há sete com lugar nos vinte europeus com mais gente nos estádios: Dortmund, Bayern, Schalke, Hamburgo, Monchengladbach, Colónia e E. Frankfurt (mesmo na segunda!), todos acima dos 46 mil. Os alemães têm mais dinheiro para bilhetes? Têm. E têm bilhetes mais baratos. Rondam os 15 euros e incluem transporte público. Quando se admitiu a possibilidade de aumentá-los os patrocinadores impediram-no; preferem estádios cheios. Quarta melhor do Mundo? Hã?
E, já agora, quando se iludirem com o poder da formação e a supremacia dos nossos orientadores, olhem para Espanha, que tem, realmente, campeões do Mundo em qualquer modalidade. É cinco vezes maior e tem cinco vezes mais gente, sim. E faz quantas vezes mais? Tenham juízo. Ou pelo menos vergonha."
Miguel Cardoso Pereira, in A Bola