Últimas indefectivações

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O primeiro a vermelho e verde...

"Vamos hoje muito atrás. Até 1908, mês de Outubro. O Benfica já é Sport Lisboa e Benfica e o Sporting já joga de verde e branco. Duplamente inédita, portanto, a compita. E com um toque de vingança 'encarnada'.

Regressemos aos Benfica-Sporting! Vale sempre a pena. E este é especial por causa das cores. Isso mesmo: por causa das cores. E dos nomes!
Vamos então até ao dia 25 de Outubro de 1908.
Aí já não era Sport Lisboa e sim Sport Lisboa e Benfica.
Ou seja, estávamos perante o primeiro autêntico Benfica-Sporting. E assim mesmo: Benfica-Sporting, porque jogado no Campo da Feiteira, ali junto à igreja de Benfica. Onde isso já vai...
Disputava-se a segunda jornada do Campeonato de Lisboa, e ambos vinham de vitórias na primeira: a do Benfica mais folgada (6-0 ao Ajudense); a do Sporting mais pragmática (1-0 ao União Belenense). Também onde já vão tais adversários.
Sonhavam os de Belém/Benfica (não esquecer as origens!) com a primeira vitória sobre os irmãos fugidos, encantados pelas ofertas de mãos largas dos seus adversários. E eles continuavam por lá, do outro lado do campo, agora com as vistosas camisolas bipartidas, metade verdes, metade brancas, imaginadas por Eduardo Quintela de Mendonça, conhecido por Farrobo, e importadas especialmente de Inglaterra para todos os atletas de todas as modalidades do clube.
Foi, por isso, também o primeiro Benfica-Sporting a vermelho e verde, já que nos anteriores, ao garrido encarnado do Sport Lisboa, opusera o Sporting um sóbrio equipamento intocavelmente branco, com excepção do oval emblema verde de leão ao centro. Os calções sportinguistas continuavam, para já, brancos. Os pretos surgiram apenas em 1915, por sugestão do jogador Raúl Barroso.
Era assim um jogo duas vezes inédito! Só por isso merece aqui a croniqueta semanal deste que se assina. Com ajudas, claro! Quando vamos em busca do tempo perdido precisamos de ajuda. E a que aqui utilizo é da boa, de luxo!

O Sporting reclamou: quem diria?
Por muita pesquisa que fizesse, não encontrei muitos dados sobre este Benfica-Sporting, mas também mais de cem anos se passaram entretanto.
Socorro-me da «História do Sport Lisboa e Benfica», de Mário Fernando de Oliveira e Carlos Rebelo da Silva, encontrada em estado impecável num alfarrabista da Rua do Alecrim e que faz agora parte da minha bem fornida colecção de livros velhos e saborosos.
Bom apetite!
«O encontro começou ao meio.dia. Lançada a moeda ao ar, coube ao Benfica o direito de escolha do campo, tendo Cosme optado pelo lado norte do terreno do jogo. Dado pelo Sporting o pontapé de saída, o jogo caiu logo para o campo ocupado pela equipa 'leonina', que se manteve numa defesa denodada, na qual se salientou José Belo, jogador de muito mérito. Não se tornou por isso viável a marcação de qualquer ponto. Ao intervalo o resultado era de 0-0.
No segundo tempo, o Benfica abriu a série de golos e fixou-a em dois tentos, marcado um por Cosme Damião e apontado o outro por David da Fonseca. O resultado final foi, pois de 2-0.
As duas turmas tiveram a seguinte constituição:
SPORT LISBOA E BENFICA - João Persónico; Henrique Cosa e Leopoldo Mocho; Artur José Pereira, Cosme Damião e Luís Vieira; António Costa, David da Fonseca, Carlos França, Eduardo Corga e António Meireles.
SPORTING - Augusto Freitas; José Belo e António Neves Vital; Francisco Stromp, António Couto e Albano dos Santos; António Rosa Rodrigues, F. Amorim, Carlos Shirley, Cândido Rosa Rodrigues e Nóbrega e Lima.
Arbitrou Gastão Pinto Basto.
O Sporting reclamou o resultado do jogo, mas a reclamação não foi considerada procedente.»
A vingança consumava-se. E tinha requintes de malvadez. O ciclo de êxitos encarnados iria estender-se até 1915."

Afonso de Melo, in O Benfica

Benfica em modo sub-21

"A forma como o Benfica está a tentar retocar o seu plantel já para Janeiro, confirma e até acentua esta tendência sub-21 que está em acelerada implementação na Luz. O primeiro de todos os factores passou a ser a produção própria, made in Seixal, mas a ideia de rejuvenescimento vai-se alargando aos outros campos de recrutamento. Todas as compras previstas para este mercado de Janeiro, por exemplo, encaixam em absoluto na nova política.
Grimaldo, que Record fotografou ontem em Lisboa, é um jogador sobre quem recaem altíssimas expectativas. Tem apenas 20 anos e chega para discutir com Eliseu um lugar no lado de esquerdo da defesa. Um reforço claramente de futuro, mas que até pode ter oportunidades no imediato. O argentino Cervi, de 21 anos, é um caso semelhante. Com contrato assinado desde Setembro, o 'novo Gaitán' está a ser pressionado para embarcar de imediato para Portugal - embora o seu clube, Rosario, não esteja disposto a facilitar os planos do Benfica. Tem condições, tal como Grimaldo, para conquistar rapidamente o seu espaço.
E há ainda o surpreendente caso de Diogo Jota, de 19 anos. Está a ser uma das boas revelações deste campeonato, no Paços de Ferreira, e os responsáveis encarnados querem 'agarrá-lo' rapidamente. Ou seja, a fenómenos emergentes como Nélson Semedo, Renato Sanches ou Gonçalo Guedes, o Benfica quer juntar mais estes três 'dentes de leite', sem esquecer que na lista de compras das águias continuam Andrija Zivkovic (19 anos) e Branimir Kalaica (17), duas das maiores promessas do futebol sérvio e croata. 
Decididamente, Vieira é um presidente de ideias fixas. O tempo dirá se este era, ou não, o melhor caminho."

Assim se fez

"Experimentem escolher os 50 jogos mais marcantes da história do vosso clube e enfrentarão uma tarefa hercúlea. Primeiro há que definir critérios, logo depois serão atraiçoados pela memória - o que vos condenará a seleccionar os jogos que vivenciaram ou aqueles de que existe registo vídeo. O melhor mesmo é abandonar a tarefa.
Pois o João Tomaz e o Fernando Arrobas arriscaram escrever sobre os 50 jogos mais marcantes da história do Benfica e publicaram, por estes dias, 'Assim se fez Glorioso'. Uma visão criteriosa, naturalmente subjectiva, das 50 partidas mais marcantes do Benfica. O difícil, como bem sublinham, numa história tão longa não foi escolher, mas excluir. Os critérios foram ambiciosos: num clube com a grandeza do Benfica, só podiam constar jogos que fizessem parte de caminhadas vitoriosas. Ou seja, vitórias em competições nacionais que não se traduziram em conquistas de títulos no final do percurso ficaram de fora.
Resta-nos escolher os jogos mais marcantes da nossa história como adeptos. Pois eu que assisti a muitos dos encontros referidos e emociono-me com os relatos de outros que não vivenciei, percorridas as 50 partidas mais marcantes, inclino-me para uma distante, disputada em Fevereiro de 1907, na qual uma equipa só de portugueses, de extracção popular, colocava fim à invencibilidade dos ingleses do Carcavellos, que durava havia nove anos. A razão é simples: a médio-direito jogou o meu tio-avô, que infelizmente não conheci. Tendo crescido numa família em que o futebol é tema estranho e desinteressante, talvez tenha sido essa inscrição genética que me fez benfiquista fervoroso."

Grimaldo

É oficial, Grimaldo é reforço do Benfica. Jovem formado no Barcelona, com passado nas Selecções jovens Espanholas. Uma lesão grave acabou por atrasar a sua evolução... Aquilo que se vê nos vídeos, é promissor, mas o nível competitivo das divisões secundárias Espanholas deixa algumas dúvidas, principalmente nas tarefas defensivas, já que ofensivamente parece-me claramente um bom jogador. Eu não faço parte do coro histérico anti-Eliseu! Tem jogos maus, mas também tido alguns jogos bastante razoáveis, principalmente nos jogos 'grandes'... e por acaso o Eliseu até tem sido mais consistente a defender do que atacar...!!!

O dia em que a pitoresca vila de Sintra foi toda do Benfica

"Vestiram as janelas dos comboios de 'encarnado' e esgotaram as queijadas em Sintra. Os benfiquistas estavam em festa!

A época 1942/43 correu bem ao Benfica. Em Maio conquistou o Campeonato Nacional e um mês depois arrecadava a Taça de Portugal, após uma vitória por 5-1 frente ao Vitória de Setúbal. Tamanho empenho merecia ser rematado com pompa e circunstância, por isso, num quente Domingo de Julho, foi organizada uma excursão a Sintra para homenagear os jogadores do Benfica. O plano de festas era variado e incluía um almoço no parque municipal, jogos de hóquei em patins e um desfile de um dezena de ciclistas da secção de cicloturismo do Clube. A festa prometia!
Na manhã de 19 de Julho, cerca de quatro mil pessoas saíram do Rossio em direcção à pitoresca vila. No interior dos comboios iam adeptos e simpatizantes dos 'encarnados' de sorriso no rosto e farnel no colo, e nas janelas as bandeiras que se agitavam ao sabor de vento não deixavam lugar para dúvidas: ali dentro ia o Benfica. Mas não era apenas no interior das locomotivas que se fazia a festa! Lá fora também se manifestava benfiquismo, como aquela senhora que, da janela de sua casa, agitava freneticamente um xaile vermelho, como que em resposta às bandeiras que vestiam o comboio.
Chegada a Sintra, a multidão inundou a vila, que se encheu de invulgar entusiasmo. Uns aproveitaram para esticar as pernas e passear, outros fizeram fila à porta das pastelarias locais para fincar o dente nas famosas queijadas que, num piscar de olhos, esgotaram. Mas eis que chegam os jogadores! As bandeiras agitam-se no ar, a banda dos bombeiros locais inicia o seu reportório e os aplausos parecem não por fim. Os campeões chegaram. Podia começar a festa!
A sessão solene foi feita no salão nobre dos Paços do Concelho e transmitida por altifalante instalados nas janelas do edifício, para que todos a pudessem acompanhar. Terminadas as boas-vindas, começou a procura do melhor lugar no parque municipal para o almoço que terminou em grande farra com brindes e discursos de agradecimento. Entre as vozes que se fizeram ouvir estava a de Cosme Damião, que incitou os jovens desportivas e fazerem 'sempre mais e melhor pelo prestígio do Benfica'.
os troféus destas conquistas estão expostos nas áreas 5. A 'Taça' e 6. Campeões, sempre do Museu do Benfica - Cosme Damião."

Marisa Furtado, in O Benfica

Reconhecimento