"NUNCA se tinha visto uma coisa assim: um monumental apagão no final de um jogo entre o Benfica e o FC Porto. Naturalmente, no país não se fala noutra coisa.
Mas um apagão durante um jogo entre o Benfica e o FC Porto, na verdade, já se tinha visto. Aconteceu em 1994, no Estádio das Antas num jogo que não servia para atribuir o título a nenhum dos rivais mas que serviu para enriquecer a história da electricidade em Portugal.
Esse FC Porto-Benfica do apagão de 1994 teve transmissão televisiva em directo, através da RTP. Vimos todos a luz ir abaixo e o estádio ficar às escuras no segundo a seguir a Kulkov protagonizar uma entrada a pés juntos sobre Isaías, que o árbitro, Donato Ramos, acabaria por não sancionar, quando a luz voltou, já se devia ter esquecido do lance, o que se compreende.
As imagens deste apagão nas Antas, se alguém as quiser consultar, estão disponíveis no Youtube. É só procurar em 'falhas de energia no Estádio das Antas'. Como é natural quando se trata de apagões, as imagens nunca podem ser muito boas.
Ficam escuras, vislumbram-se apenas contornos indistintos, enfim, não dá para ver nada em condições. No caso da transmissão desse momento pela RTP, todo o lado visual do espectáculo padece desse mesmo mal: sem luz não se podem esperar milagres cénicos.
Mas, quem quiser recordar o apagão de 1994 dando-se ao trabalho de o procurar no Youtube, que se deleite com o espectáculo áudio.
Ou seja, com os comentários do repórter de serviço da RTP explicando cientificamente o apagão a meio do jogo com o Benfica e recordando até que, na semana, anterior já tinha ocorrido um outro apagão nas Antas num jogo internacional do FC Porto.
Diz-nos o jornalistas da RTP que «as vibrações dos adeptos portistas» têm o condão de «colocar em risco o sistema de iluminação do estádio». E com certeza que é verdade. O que explica também o apagão de domingo passado e a incredibilidade dos responsáveis do Benfica que ainda não conseguiram descobrir quem foi o responsável pelo desligar do interruptor. Nem nunca vão descobrir...
Podem dar por encerrado o inquérito para o apuramento do nome do responsável pelo negro incidente porque não foi ninguém da casa.
Podem dormir com a consciência tranquila os dirigentes do Benfica e os adeptos e sócios do clube que, por uma honrada questão civilizacional, não gostaram nada do apagão do último domingo e que o interpretaram como uma habilidade de maus perdedores que não nos assenta bem.
Relaxem, benfiquistas. Não tivemos nada a ver com o assunto.
Porque se as «vibrações» dos adeptos portistas tinham, em 1994, o condão de deitar abaixo a luz das Antas não há nada que impeça, em 2011, que as mesmas «vibrações» dos mesmos adeptos tenham o mesmíssimo condão de apagar a luz do Estádio da Luz.
Foi apenas isto o que se passou e sempre a fazer fé na explicação científica da RTP para o episódio semelhante ocorrido em 1994 nas Antas:
Tanto vibraram, tanto vibraram que rebentaram com as lâmpadas todas!
Como diz o povo, a ocasião faz o apagão.
NO site oficial do Sporting Clube de Portugal, Fernando Cardinal lamentou perante os sportinguistas o facto de, no último domingo, se ter «exposto» em demasiado na liderança da turba dos Superdragões a caminho do Estádio da Luz.
Fernando Cardinal é atleta do Sporting na modalidade de futsal e foi ver o Benfica-FC Porto na modalidade de membro proeminente da claque a que pertence. Apresentou-se trajado a rigor e com um jogo histriónico à altura da importância do acontecimento.
Registe-se o lamento de Fernando Cardinal que, com toda a franqueza, nos parece despropositado. Excesso de zelo, é o que é.
Em primeiro lugar, ninguém de bom sendo nestes tempos modernos exige aos atletas que sejam adeptos desde pequeninos do clube cujas cores defendem circunstacialmente.
Em segundo lugar, os Superdragões, como foi veementemente repetido durante toda a semana, são uma claque legalizada, ou seja, que funciona de acordo com a lei geral do país. E quem disto duvide que consulte algumas passagens da autobiografia de Fernando Madureira, líder máximo da claque dos Superdragões.
É mais do que uma leitura, é um consolo cívico!
Em terceiro lugar, Fernando Cardinal não é José Cardinal, Ou é? Serão parentes?
Fernando joga futsal e pode ser Superdragão à vontade.
José é fiscal-de-linha e também poderá ser Superdragão à vontade desde que seja um bom fiscal-de-linha e saiba fazer cumprir as leis do futebol. E, tal como os Superdragões, também as leis do futebol estão legais face à lei do país.
Na sequência deste episódio folclórico do último clássico, um amigo, portista, forneceu-me uma explicação muitíssimo lógica para o caso.
Começou por contextualizar:
-Viste o Varela e o João Moutinho abraçados no fim do jogo a festejar o facto de serem campeões? Foi a contribuição do Sporting para a nossa festa...
Depois de contextualizar, deleitou-se em particularizar:
-Tens de compreender que o FC Porto ainda não quis ter futsal portanto é compreensível que esteja a apostar no futsal do Sporting, que é um clube amigo, para poder fazer frente ao Benfica, que é um clube inimigo. E, assim sendo, pensámos que para além de oferecemos o Nuno André Coelho à equipa de futebol de onze do Sporting como contrapartida do negócio Moutinho, também seria gentil da nossa parte oferecemos à equipa de futsal do Sporting um destacado líder dos Superdragões.
Não está mal visto, não senhor. Devemos reconhecer mérito aos adversários quando eles pensam bem as coisas. E, perante este idílio entre FC Porto e o Sporting, augura-se a Fernando Cardinal uma grande carreira no Sporting.
Ainda o havemos de ver como director desportivo da equipa de futebol de onze de Alvalade. Tem todos os requisitos historicamente necessários para o preenchimento da posição.
O Benfica é bem capaz de dever a Roberto o facto de jogar hoje à noite com o PSV Eindhoven para a Liga Europa. Em Paris, no jogo da segunda-mão com o PSG, foi Roberto quem segurou o sucesso na eliminatória com um par de defesas de grande nível. E estas coisas valem dinheiro.
O guarda-redes do Benfica teve um percurso valoroso até Abril tendo em conta que em Agosto era um guarda-redes morto, passe o exagero da expressão. Um ror imparável de erros entre os postes e fora dos postes tinham atirado o espanhol para o limbo de onde nunca mais sairia.
Estava resolvido o problema Roberto à terceira jornada do campeonato, quando Jesus o substituiu por Júlio César. Mas Júlio César mal garantiu a confiança do seu treinador e logo se fez expulsar infantilmente no jogo da Luz com o Vitória de Setúbal, cometendo uma falta para grande penalidade. E, perante o pessimismo geral, Roberto lá saltou do banco para, sem ter feito sequer o aquecimento, defender o penalty, proeza que lhe garantiu a estima do público e a continuidade no posto.
Tudo isto para dizer que já vimos todos Roberto ressuscitar uma vez. Falta agora vê-lo ressuscitar a segunda vez.
O Benfica tem três competições para disputar até ao final da temporada e presume-se que pretende apresentar-se em todas com um guarda-redes na baliza. E o guarda-redes chama-se ou não se chama Roberto?"
Leonor Pinhão, in A Bola