" 'Jogos internos' em canal aberto perturbarão algumas consciências que se mostravam muito preocupadas com o 'futebol dito fechado'
1. Na pausa de Natal e do Novo Ano será o tempo da Taça da Liga, a última competição a ser criada no âmbito do futebol em Portugal. E, em concreto, do futebol profissional. Teremos jogos internos em sinal aberto, em razão do acordo celebrado entre a Liga Portuguesa de Futebol Profissional e a TVI. Todos nos recordamos que esta Taça da Liga esteve associada ao patrocínio da BWIN. Com a impossibilidade objectiva, em razão de decisões judiciais, desse patrocínio, e face à difícil e complexa realidade económica-financeira do País, era previsível que não fosse possível encontrar patrocinador equivalente. Os prémios são relevantes já que, ao que creio, o vencedor pode arrecadar um prémio acumulado superior a 500.000 euros. Como, também, não foi possível que qualquer canal televisivo de canal aberto concretizasse uma oferta razoável para um jogo por jornada da nossa principal Liga de futebol. E tal impossibilidade resultava da indefinição que atinge o futuro próximo da RTP, por um lado, e por outro, pela canalização de recursos financeiros específicos da SIC para a Liga Europa - onde, agora, acolherá o Benfica! - e no âmbito da TVI para um conjunto de jogos da Liga dos Campeões, onde se mantêm o Futebol Clube do Porto e os grandes monstros do futebol europeu. Perante este conjunto de circunstâncias - e, também, o acordo da TVI para a transmissão televisiva de 7 jogos em canal aberto a partir da 3ª fase de grupos das duas próximas edições da Taça da Liga -, era previsível a rescisão do contrato da Olivedesportos Profissional. Agora o que fica é uma disputa jurídica. Já que a disputa política há muito se iniciou. E iniciou-se com a vitória do Doutor Mário Figueiredo para a Presidência da Liga. Mas, aqui, recordo sempre Maquiavel: «Os que vencem, não importa como vençam, nunca conquistam a vergonha«! O que é certo é que nos próximos meses teremos jogos internos em canal aberto. O que perturbará algumas consciências que se mostravam muito preocupadas com o futebol dito fechado.
2. O Benfica passa o ano na liderança da nossa Liga. Sei bem que é à condição, em razão do adiamento do jogo do Bonfim. Não discuto a decisão de Pedro Proença. O que se nota é um desporto para o inverno habitual. Aquele em que chove e faz frio. Ou, em outro prisma, muitos dos nossos relvados já não aguentam, por falta de efectiva manutenção, chuvas mais intensas. Mas, no jogo frente ao Marítimo, Óscar Cardoso, ao fim de cinco anos e meio com a camisola do Benfica, chegou, no passado sábado, aos 100 golos. Como ele só símbolos imensos da nação benfiquista: Eusébio, José Águas, Nené, Arsénio, Julinho, José Torres, Rogério Pipi, Nuno Gomes e José Augusto. Sou daqueles que, aqui e ali, sempre defendeu a utilidade e o proveito de Cardoso. Tenho muito mais prazer com ele do que, naturalmente, e por vezes, algumas dores. É um homem da área. E não de fora da área, como bem explicou no seu estilo peculiar Jorge Jesus. De fora ficam os seus livres. Alguns deles mortíferos. E que nos proporcionaram já muitas e muitas alegrias. Parabéns Óscar Cardoso por este centenário!.
3. O Sporting, com o empate frente ao Nacional, está, à 12ª Jornada, a vinte pontos do Benfica. Com os seus doze pontos, o Sporting conquistou apenas um ponto por jornada. O que é pouco. Muito pouco. O anúncio de Jesualdo Ferreira para manager é, acima de tudo, e na minha leitura, mais uma chicotada psicológica. O que é fundamental é que o Sporting, no âmbito do futebol de topo, recupere desportivamente. Ganhe mais pontos por jornada. E que marque mais golos. Em 12 jornadas marque mais golos. Em 12 jornadas marcou 11 golos. E recordando nós que foi Fernando Peyroteo o mais rápido jogador português a chegar, entre nós, aos 100 golos. Foi a 30 de Março de 1941. Há tempo suficiente para recordar Dom Quixote: «A história é émula do tempo, repositório dos factos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro».
4. Na passada sexta-feira, bem ao final da tarde - como a lei e a prática determinam! - foi anunciada a fusão entre a Zon e a Optimus. Inicia-se, quero apostar um tempo de fusões entre emrpesas e um tempo de novas pracearias no sector das telecomunicações e das plataformas digitais com consequências ao nível do nosso audiovisual. E tais parcerias e consequências vão chegar ao núcleo central do futebol e aos titulares dos direitos com ele conexos. E se olharmos para o valor que se fala dos sete jogos da Taça da Liga em canal aberto é tempo de alguns gerirem, com todo o cuidado, o stress que os atinge. E de outros assumirem que, por ora, é o sonho que comanda a vida...
5. Miguel de Unanumo é, reconhecidamente, um dos grandes pensadores espanhóis dos finais do século XIX e da primeira metade do século XX. Uma das suas reflexões acerca de Portugal tem o sugestivo título: Portugal: Povo de suicidas. E ouso recordar um dos seus trechos: «O povo era formado de homens tristes e resignados, é certo, mas também inteiros e verdadeiros». E «ser homem inteiro e verdadeiro é mais do que ser semideus». Aqui lhes deixo, nesta semana que antecede o Natal, esta síntese que nos marca e que nos identifica. A partir de fora. Vendo Portugal em aberto!"
Fernando Seara, in A Bola