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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Vermelhão: Empate, a caminho da qualificação...

Rangers 2 - 2 Benfica


Enredo parecido com a '1.ª parte da Luz, com o Benfica a sacar o empate, na recta final, quando parecia que a derrota era certa... Mas as parecenças ficaram pelo resultado, porque o jogo foi bastante diferente!

Um Rangers, que apesar de estar a jogar em casa, jogou mais recuado, arriscando menos nas saídas para o contra-ataque, com menos jogadores, e com as linhas mais recuadas... uma estratégia nada escocesa, momentos houve que parecia que estávamos a jogar contra uma equipa Italiana! Com o 3-3 da Luz, um empate com menos de 3 golos, servia ao Rangers e com 1-0, provavelmente ainda ficaram mais convencidos que a estratégia estava correcta!

Assim o Benfica, foi 'obrigado' a tomar conta da 'bola'! E a diferença na posse de bola não foi maior, porque o facto da maior parte da posse de bola do Rangers, ter sido em zona defensiva, nas saídas de bola, acaba por não ser reflectida na estatística!

Mas este domínio aparente do Benfica, acabou por não ser traduzido em situações de golo, porque jogámos lentos, e nunca tivemos capacidade de criar desequilíbrios entre-linhas e/ou nas laterais! O 1.º tempo acabou, com um golo para o Rangers, na única oportunidade escocesa, e duas oportunidades para o Benfica desperdiçadas: Everton e Rafa!

O 2.º tempo, até à entrada do Gonçalo (2.º golo do Rangers), foi parecido, com a equipa da casa, a marcar praticamente na 1.º oportunidade (a bola no braço do Gabriel não conta...)! Mas a vontade dos jogadores em dar a volta, e a presença do Gonçalo entre-linhas, acabou por ser determinante... pois, mesmo quando o Gonçalo 'perdeu a bola' o Benfica ganhava os ressaltos, algo que até aí nunca tinha acontecido!!!

Muito sinceramente, apesar do jogo menos conseguido (lento em muitos momentos... e mais uma vez, com muitos passes fáceis, falhados...), o Benfica foi quem mais fez por vencer. O Rangers, defendeu bem, mas pouco ou nada arriscou... e acabou por ter a 'sorte' de uma alta eficácia...

Obviamente que o Benfica quer sempre ganhar, mas nas circunstâncias que rodearam este jogo, com as muitas ausências, principalmente do Darwin e do Taarabt (curiosamente dois jogadores que estiveram no 3.º golo do jogo da Luz), o empate acabou por ser um bom resultado...

Nos momentos finais da partida, além dos golos do Benfica, surgiram também boas notícias da Bélgica, com a vitória do Standard, que assim deixou ao Benfica (e o Rangers) a qualificação para a próxima fase, somente a 1 ponto de distância, nas duas jornadas que faltam realizar!

Uma nota para o Jardel, que foi importante, nem que seja por fazer aquelas faltas úteis, de forma dura, deixando o adversário no mínimo intimidado, algo que no actual plantel do Benfica, quase ninguém faz, e em qualquer equipa é necessário ter... E diga-se, que desta vez, não fomos ultrapassados com bolas nas costas dos centrais uma única vez, algo que tem sido recorrente noutras partidas... e não foi por falta de espaço, porque a linha defensiva do Benfica, jogou quase sempre adiantada!!!

E já agora, ainda bem que ninguém avisou o Gerard, que as substituições são permitidas no futebol!!!

Em nome de D10S


"O mundo do futebol está de luto. Faleceu aquele que mais embelezou o chamado jogo bonito, considerado, por muitos, o melhor jogador de sempre.
Apelido do astro argentino, "Maradona" tornou-se sinónimo de arte, de magia, de encanto, de rebeldia, de feitos inauditos e de capacidade de desafiar o destino. "Maradona" tem a musicalidade do que nos faz sonhar. "Maradona" ascendeu a epíteto de divindade.
Maradona foi dos poucos, em plenitude, a demonstrar o que, de facto, a bola é: um objeto inanimado que obedece às leis da física através da vontade e ação de um indivíduo.
E Maradona, antes de ser o Maradona, foi o Diego Armando, apenas um entre milhões e milhões de apaixonados por futebol, condição que nunca abandonou até morrer e que sempre a exibiu sem quaisquer pruridos na proximidade de uma bola ou aquando da presença nas bancadas de estádios.
Maradona foi um dos símbolos mais expressivos da magia que envolve a paixão pelo futebol, um sentimento que se notabiliza pela transversalidade das suas manifestações, sem constrangimentos de fronteiras, credos ou estratos.
Nunca o esqueceremos!
E a melhor forma de homenagear a sua memória é sabermos que todos os dias, em milhares de campos, esta paixão continua imparável e passa de geração em geração com novos heróis e mitos.
Hoje todos estaremos atentos ao nosso Benfica porque jogará, em Glasgow, frente a um Rangers igualmente apostado em passar à ronda seguinte da Liga Europa. Apesar das várias ausências e reconhecendo a competência do adversário, é com o objetivo de vencer e somar três pontos que os nossos jogadores se apresentarão em campo.

P.S.: Parabéns a Rui Bragança, o nosso atleta que conquistou, ontem, a medalha de ouro no Campeonato da Europa de Clubes de Taekwondo."

Outro Olhar - 22/11/20

O Cantinho Benfiquista #9 - Paredes, Glasgow, Funchal...

A arte como inevitabilidade


"A questão de separar o homem da obra, como tão bem sabemos hoje em dia, é uma problemática reservada aos artistas. Reservemos-lhe, portanto, a questão. No fim, no triste rescaldo, amontoam-se contradições: morreu agora o homem, morreu já há muito o artista, é para sempre o melhor de sempre. Nunca antes tinha sentido tristeza ao afirmar que Maradona foi o melhor futebolista de todos os tempos. Hoje, porém, expresso-o não como uma afirmação, mas como um rescaldo. Encurtou-se o tempo para o melhor de todos os tempos. Chegou o dia de recordar o inesquecível.
Há muito que a distinção de “melhor” vinha sendo atribuída a Diego Armando, mas nunca com a consensualidade que agora se verifica. Recataram-se os que preferem Pelé, ajuizaram-se os que arriscam Messi ou Ronaldo. O luto tem destas coisas, destas mesuras. Mas o luto, às vezes, só maquilha - ignoramos os defeitos, e exacerbamos qualidades ao ponto de se descaracterizar o finado, e acabarmos a velar uma entidade que já não é a pessoa que ali jaz. Ontem, caso raro, a etiqueta lutuosa não nos conduziu à mentira, nem à fábula, antes à realidade: Maradona, o melhor futebolista de todos os tempos.
Quando passar o período de nojo, sintam-se à vontade para discordar da minha premissa. Agradeço até que o façam, já que a subjectividade é essencial para apurar o ponto que aqui trouxe. Nada disto é estatístico, nada disto tem que ver com palmarés. É subjectivo, é afectivo, é arrebatador (como as coisas deste domínio têm de ser). El Pibe nasceu artista, e um tratado de estética estará mais próximo de interpretá-lo do que um almanaque desportivo.
Pensar o futebol como Arte, se não chega a ser polémico, é certamente um exercício foleiro. Concordo, e até por isso urge tratar Maradona como excepção. Caracterizá-lo como praticante duma modalidade, ou profissional dum desporto, é uma verdade míope, uma verdade tão impostora quanto qualquer mentira. O que Diego Armando fazia em campo - a afagar a bola, a servir os colegas, ou a acordar as redes - não se cinge a linguajares técnicos ou adjectivos futeboleiros
Ele queria ganhar, é claro que queria ganhar. Queria tanto ganhar que nem sempre se preocupava em fazê-lo com lisura ou justiça. Mas mesmo esse lado utilitário rumo à vitória (o objectivo natural de um desafio de futebol) exacerba o génio. A História tem destes iluminados: gente que almeja a utilidade e, pelo caminho, não consegue evitar a Arte - é uma matéria que tem entusiasmado os filósofos desde a Grécia Antiga. Em campo, Maradona adornava porque era esse o seu pragmatismo; deslumbrava porque desconhecia outra maneira; transcendia o jogo porque lhe era inevitável.
Bem sei que o futebol continua a fazer franzir sobrolhos. É cultura descartável por favorecer incultura, ou um desporto de (e para) canhestros (não forçosamente canhotos). Nem é que eu acredite nisto que acabo de declarar, mas antevejo sempre as portagens sobranceiras - cancelas que nunca quererão deixar passar a excepção artística de Maradona. Para cabeças com monóculo e cartola será sacrilégio imaginar um Mikhail Baryshnikov nascido na lama de Buenos Aires, terceiro de cinco filhos numa família pobre. Negar-se-á a Diego Armando o dom da coreografia imediata, o critério perfeito de cada temps lié, a artisticidade virtuosa de um pé esquerdo.
Este classismo que nos atira, pessoas comuns, mais aos bancos da Bombonera que aos do Bolshoi, não é tópico de somenos. Foi a consciência desse classismo que mais determinou Diego nas suas declarações políticas, mas também vem desse classismo a motivação do seu futebol (que insisto em chamar de outra coisa). Maradona fez do relvado uma galeria de Arte acessível aos desafortunados - àqueles a quem nem sequer se permite a ideia de gostar de Arte, ou de chamar Arte ao que se gosta. Contrabandeou elevação num jogo rasteiro, e permitiu-se ser rasteiro para que não duvidássemos que ali estava só um indigente como nós.
Foi pela noção do classismo, do menosprezo e da opressão, que Diego Armando combateu o preconceito dum país inteiro. Foi com relva e com bola nos pés que El Pibe de Oro, número 10 do Nápoles, deu voz a um Sul de Itália desprezado, e castigou hegemonias e sobrancerias do Norte. A voz de muitos resgatada pelos pés de um só. E pés que faziam apenas coisas de pés, mas com perfeição que entusiasma, Arte que empodera.
Recordo que em 1986 o futebol pouco me dizia. Contudo, nem a indiferença pela modalidade me impermeabilizou para o grande fenómeno de que todos falavam. Durante o Campeonato do Mundo no México, Maradona não me tornou um fã da bola, mas tornou-me fã do espectáculo que só Maradona podia dar. Vi-o vencer em 86 com a naturalidade dum herói que não pode conhecer outro desfecho. Vi-o perder em 1990 com a tragédia que assola só os heróis. Vi-o desabar em 1994 com a queda dos heróis corrompidos.
É notório que escrevo este texto impregnado por memória afectiva. Mas se me limito a considerar apenas o Maradona dentro de campo, é porque comporto outras memórias que não pretendo celebrar. Há demasiada matéria na vida pessoal e pública de Diego Armando que me impede de efectivá-lo como bom exemplo. Nunca lhe chamarei “Deus” – esse epíteto sacrílego que camufla a tremenda humanidade do seu génio. Nunca lhe chamarei “Deus” porque creio residir na idolatria a raiz de todos os seus males. Foi a idolatria que lhe germinou o sentimento de impunidade, lhe acercou o impermissível. Foi a idolatria que facilitou cadência a esta estrela.
O melhor de sempre nem sequer chegou a ser tudo o que podia. Génio ilimitado numa figura que muito se limitou. E será que aquilo que Maradona foi fora do futebol corrompe a memória das maravilhas que fez em campo? A questão de separar o homem da obra, como tão bem sabemos hoje em dia, é uma problemática reservada aos artistas. Reservemos-lhe, portanto, a questão. No fim, no triste rescaldo, amontoam-se contradições: morreu agora o homem, morreu já há muito o artista, é para sempre o melhor de sempre."

Maradona a tocar o céu com as mãos


"Como a música ou a literatura, o futebol consegue esporadicamente escrever alguma poesia.

Um bailarino sublime a dançar nas quatro linhas. Um homem baixinho, com as pernas mais imprevisíveis da história do futebol, a acumular adoradores. Um fenómeno de má vida, boa vida, excessos variados, más companhias e companhia de casa de todos os que se lembram do século XX. Diego Armando Maradona era o maior mito do futebol e agora está morto.
“Posso ser branco ou negro, o que nunca serei é cinzento.” O culto mundial a um homem divino mas não super-homem também se percebe por isto. Mas na base da comoção que a sua morte provocou em lugares tão distantes da Argentina está a tal “mão de Deus” que fez a vitória da Argentina contra a Inglaterra em 1986 (pouco depois da guerra das Malvinas no que foi assumido como a doce vingança possível), e depois tomou Nápoles e Barcelona. Como a música ou a literatura, o futebol consegue esporadicamente escrever alguma poesia.
Em 2005, na televisão argentina, Maradona fez uma brincadeira: entrevistou-se a si próprio. O entrevistador pergunta ao entrevistado o que diria no dia da sua morte. Resposta: “Obrigado por ter jogado futebol, porque é o desporto que me deu mais alegria, mais liberdade, é como tocar o céu com as mãos.” Maradona tocou o céu com as mãos – e quem o viu apaixonadamente também.
Numa noite de 1989 também estive no estádio de Alvalade a ver o Sporting-Nápoles, em trabalho. Eu não percebia nada de futebol mas os meus chefes queriam mesmo isso: ver o efeito que o mito Maradona produzia numa pessoa nova, sem currículo de desporto nem de coisa nenhuma. Foi nessa noite em Alvalade que o clube de fãs planetário de Maradona ganhou mais uma: a electricidade das pernas de Maradona em campo tornaram aquela uma das noites inesquecíveis da minha vida. As pernas de Maradona eram em si uma contradição: não eram atléticas ou fit, eram impressionantemente curtas e artífices do sublime.
Na sua última entrevista, ao jornal argentino Clarín, Diego Armando Maradona disse ser “eternamente grato ao povo”: “O que vivi nessa volta ao futebol argentino jamais esquecerei, excedeu o que eu poderia imaginar. Estive fora muito tempo e às vezes pergunto-me se as pessoas ainda me vão amar, se continuarão a sentir o mesmo.” Maradona tinha medo de perder o amor das massas, uma coisa normal num fenómeno, porque o amor das massas costuma ser breve. Mas com Maradona não foi assim."

Morreu a alegria dos povos


"Estes são aqueles momentos em que não nos apetece escrever nada. Só o entende quem partilha a paixão pelo Futebol, desde menino, que cresceu a ver o “belo jogo” ser jogado ainda com aquela quase inocência e pureza que só não o era porque estava sempre muita coisa em jogo – demasiadas coisas em jogo num mundo de homens em que nem sempre o respeito é o mote. Hoje morreu um dos últimos baluartes desse futebol, o maior dos seus representantes: Diego Armando Maradona.
Confesso, sem vergonha (talvez devesse ter). No auge de Maradona, lutei muito contra o fascínio que, no meu íntimo, sentia ao ver tudo o que de mágico “El Pibe” fazia em campo. Desde cedo formei um gosto por um futebol mais pragmático, objectivo, de eficiência e implacabilidade. Pelos anos 80, admirava a “máquina musculada” de nome Karl-Heinz Rummenigge. Mais tarde deixei-me arrebatar pela frieza e letalidade daquele que considero, ainda hoje, o melhor “9” de sempre, Marco van Basten. 
Mas havia aquele tipo de cabelo encaracolado, que eu teimava em descartar dos meus ídolos, porque era demasiado rebelde e indisciplinado para caber na minha concepção de futebol eficiente. Estava cego. Mas com os anos passou. E com algum alívio posso hoje dizer que, a tempo, me rendi a um génio. Que era mais do que isso. Era uma espécie de “Deus” da bola, colocado no pedestal dos imortais, não pelos “donos da bola”, mas pela sua verdadeira alma: os povos.


O futebol é uma caminhada. Longa de histórias, ídolos e deslumbramento. Não há geração que não tenha um período, um clube, ou jogador de referência. Mas há muitos “futebóis”. Tal como há muitas sociedades, culturas, classes, religiões. O futebol é o espelho do que somos, da nossa tribo, dos nossos interesses, modos de vida. É o “campo de batalha” de sonhos, cores, nações, ideologias, mas também a impressão digital das raízes de cada um de nós e das nossas origens.
Maradona era o representante do povo argentino, mas não só. Era também o representante maior de todos aqueles que, descalços – felizmente hoje menos descalços -, sonhavam com o “Olimpo”, na rua, na terra batida, no chão coberto de pó, com uma bola de trapos ou, com sorte, com uma bola sim, mas em farrapos, pesada… com o peso de todos os sonhos dos miúdos, na rua, que fantasiavam eles próprios em ser ídolos. Muitos deles para fugir à pobreza, à miséria e ao abandono das suas sociedades. Para meter comida na mesa, dar uma vida digna, uma casa, um futuro aos seus pais, irmãos, família.


Diego era isto tudo, e assumiu-o ao longo da sua vida. “El Pibe” era do povo… representava o povo que conseguiu chegar “lá”. Era o reflexo de cada um dos argentinos do povo, que enchiam as bancadas da La Bombonera ou de qualquer estádio do país das Pampas. Ou de qualquer outro da América Latina. Ou até de Portugal.
Em 1982 estalou a guerra das Malvinas – um arquipélago sob domínio britânico, situado ao largo da Argentina, bem lá no Sul do Atlântico. A humilhação suprema para os sul-americanos, que reclamavam a soberania sobre aqueles territórios. A “mão de Deus”, que se seguiu ao “golo do século”, foi um acto de vingança – não gosto da palavra, mas foi isso mesmo. Nesse jogo fundamental do Mundial de 1986, Maradona foi, mais uma vez, o representante de toda a Argentina, o instrumento da desforra de uma guerra perdida e que feriu o orgulho nacional. Ele sabia-o e nesse dia foi tudo o que que podia ser para bater a “nação opressora”. Foi herói.


Hoje morreu grande parte do futebol puro, rebelde que amamos e que definha sob o jugo da mercantilização, a nova “nação” que oprime o Futebol. E o vazio que deixa nunca será preenchido. Hoje choramos todos, porque hoje somos todos argentinos."

“Se yo fuera Maradona, vivería como él”


"Foi irresponsável, disparatado, apaixonado, controverso, divertido, foi sobretudo autêntico, e morreu cedo mas viveu muito, e como quis.

Chegam depressa as notícias más, ainda mais depressa agora, diretas no telemóvel, tantas mortes por estes dias, mas o Clarín argentino diz que morreu Maradona, Diego, El D10s, e com esse na Argentina não pode haver confusão, e não surge de um site de boataria, iludo-me que seja mentira mas temo a verdade, em grupos de whatsapp amigos manifestam a mesma incredulidade e receio igual, antes da confirmação, quando as fontes se multiplicam.

Morreu mesmo, é verdade
Maradona foi único e dele até a notícia mais triste me devolve memórias de encantamento, regresso aos 10 anos e às primeiras fotos que vi na revista Onze, no azul e dourado do Boca que foi a sua casa, tenho 16 logo após, vibro com cada exibição no México inesquecível e lembro horas seguidas a treinar o meu pé esquerdo na ilusão de lograr algo vagamente parecido com o que o via fazer, nos relvados de um Mundial como se estivesse ainda no pelado dos Cebolitas onde o filmaram pela primeira vez. Faz a jogada imortal, na vingança das Malvinas frente a Inglaterra, mas tantas outras em jogos injustamente esquecidos, com a Coreia, a Bulgária ou o Uruguai, quando buscava a baliza e evitava a pancada ao mesmo tempo, nada ia impedir que o mundo percebesse que Maradona resgatava no México o trono que Pelé por lá ocupara em 70.

Predestinado, acima de todos
Génio é uma das palavras de gasto exagerado no desporto, classificativo de tanta gente de mérito comum, herói é pior ainda, que um único dia feliz, ou um gesto apenas, parecem autorizar o epiteto em capas de jornais, e há ainda a lenda, quando as há tão poucas de verdade, que dizer então de Maradona, quantos dias, quantos gestos, quantas capas, génio desde o berço, herói definitivo de um país, lenda eterna na Nápoles que torceu por ele contra a própria Itália na meia final de 90, uma cidade que troca o país por um homem só não voltarei a ver decerto, e só mesmo Pelé se lhe compara – descontem os do presente para fugirmos a debates sem sentido nesta hora – mas nem o brasileiro dos mil golos terá emocionado tanto como Diego, o mais predestinado dos que algum dia jogaram futebol. Alguém disse que para se confirmarem como os melhores há futebolistas que precisam de uma equipa, outros de uma baliza, a Maradona bastava a bola.

Nascer Maradona
Maradona é um nome musical, que se enche a boca para dizer, e Diego Armando dá-lhe o balanço certo, morreu aos 60 depois de ter nascido em 60, números redondos numa história feita em ciclos, virtuosos no relvado, viciosos fora dele, excessivo no talento como no comportamento, mas como pedir perfeição fora do relvado a quem só a realizava dentro dele? Por isso o contraste entre o jogador de fábula e o treinador de farsa, que aquela foi sempre a pele errada num homem autêntico, na impossibilidade concreta de ensinar o que só ele conseguiria executar, que o jogo que ele jogou não se ensina nem se aprende, brota, é intuição pura, capacidade de perceber e executar antes acima dos mortais, génio, desta vez sim, génio absoluto indiscutível.

Morrer Maradona
Poucos minutos depois da notícia e ao referir lembranças de Maradona, Valdano, companheiro de uma vida, falou de sorrisos mas não conteve as lágrimas, pois chorar Maradona será sempre sorrir também, tantos os momentos singulares que preenchem as seis décadas de um homem imperfeito que acolheu o futebolista perfeito. Foi irresponsável, disparatado, apaixonado, controverso, divertido, foi sobretudo autêntico, e morreu cedo mas viveu muito, e como quis. Manu Chao cantou “se yo fuera Maradona, vivería como él”. Não consigo dizer o contrário."

Sempre Diego – A Final de 86


"Ontem no Futebol Total do Canal 11 tive a oportunidade de fazer a minha homenagem ao ídolo de toda uma vida. As jogadas infindáveis, os golos absurdos, o gesto técnico impossível todos o viram – Dos mais velhos aos mais novos pelo Youtube. Mas, o que jogava Diego Armando Maradona?
O que jogava El Pibe para lá dos tantos e tantos lances que lhe trouxeram a notoriedade? Fui analisar a sua Final no México em 86, o Mundial que o consagrou."

Fever Pitch - João & David... Inglaterra!