"Sem acreditação para a final da Libertadores, um jovem peruano de 15 anos subiu ao topo de uma montanha e relatou o Palmeiras-Flamengo. Era o início de um conto de fadas que emociona...
A saga de Cliver Huamán Sánchez, peruano de 15 anos que se lançou em viagem de 800 quilómetros ao longo de 18 horas de autocarro para relatar a final da Taça dos Libertadores da América, é muito mais do que uma curiosidade que viralizou. Em tempos de fakenews e desinformação despudorada, é um episódio inspirador do que significa amar verdadeiramente o jornalismo e o futebol. Um adolescente recupera, na inocência dos verdes anos, a essência desta profissão — a paixão genuína de contar uma história mesmo perante obstáculos (in)ultrapassáveis como a falta de uma acreditação para entrar no Estádio Monumental, onde o Flamengo ergueu o troféu após vencer o Palmeiras (1-0).
Com o sonho de fazer carreira no jornalismo desportivo, não desistiu e subiu até ao topo de Cerro Puruchuco, a montanha que circunda Lima e miradouro privilegiado para adeptos sem bilhete espreitarem o encontro. Improvisou, então, um estúdio ao ar livre e via TikTok — munido só de um telemóvel fixo num tripé e de um microfone, de fato com uma bandeira da cidade natal de Andahuaylas nas costas, à boleia do Pol Deportes, projeto pessoal que encanta nas redes sociais — produziu um hino ao romantismo que emociona.
No negócio da comunicação, é hoje em dia decisivo estar atento a métricas, cliques, visualizações e algoritmos, sob pena de as empresas não resistirem. Cliver lembra-nos, porém, que a base de tudo é a entrega, o brio, a vontade indómita de informar. E foi isso que mostrou aos quase 47 mil espectadores que o acompanharam em direto, enquanto o vídeo que mostra toda a façanha já soma mais de 12 milhões de visualizações no TikTok.
«Cumprimos a promessa de narrar a decisão da Libertadores», congratulou-se, eufórico, junto dos seguidores, incrédulo com a recetividade.
Sem tecnologia de última geração ou produção grandiosa a apoiá-lo, apenas ele — a sua voz, a sua emoção, a sua coragem — operou o milagre. Uma aventura de superação, de entrega, de amor puro. Não esteve no relvado que consagrou Danilo com um cabeceamento eterno, mas viveu cada momento como se estivesse. E transmitiu essa energia a milhares de pessoas.
«És o reflexo do peruano que se esforça todos os dias e que contribui para o desenvolvimento do país. Estou muito orgulhoso de ti. A vida e o futebol vão dar-te o lugar que mereces. Quero que estejas comigo na cabine e vais narrar alguns minutos», elogiou Peter Arévalo na transmissão da L1MAX, durante o intervalo do Sporting Cristal-Alianza Lima, quatro dias depois, na primeira mão das meias-finais do campeonato do Peru.
Uma jornada gloriosa para Cliver, que ainda recebeu de oferta uma edição especial da camisola do clube local oferecida por Julio César Uribe, antigo selecionador e internacional peruano. Também Paolo Guerrero, avançado de 41 anos que brilhou no Bayern, Hamburgo, Corinthians e Flamengo, entre outros, presenteou o jovem com uma camisola dos forasteiros. Na quarta-feira, assistirá no Bernabéu ao Real Madrid-Manchester City a convite do canal Latina Televisión, duelo de gigantes da fase de liga da Champions.
Quem não souber o que é um conto de fadas, pergunte a Cliver Huamán Sánchez. Ele está a escrevê-lo ao vivo — e nós temos a sorte de o testemunhar."

