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segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Cliver Sánchez é craque. Apostem nele!


"Sem acreditação para a final da Libertadores, um jovem peruano de 15 anos subiu ao topo de uma montanha e relatou o Palmeiras-Flamengo. Era o início de um conto de fadas que emociona...

A saga de Cliver Huamán Sánchez, peruano de 15 anos que se lançou em viagem de 800 quilómetros ao longo de 18 horas de autocarro para relatar a final da Taça dos Libertadores da América, é muito mais do que uma curiosidade que viralizou. Em tempos de fakenews e desinformação despudorada, é um episódio inspirador do que significa amar verdadeiramente o jornalismo e o futebol. Um adolescente recupera, na inocência dos verdes anos, a essência desta profissão — a paixão genuína de contar uma história mesmo perante obstáculos (in)ultrapassáveis como a falta de uma acreditação para entrar no Estádio Monumental, onde o Flamengo ergueu o troféu após vencer o Palmeiras (1-0).
Com o sonho de fazer carreira no jornalismo desportivo, não desistiu e subiu até ao topo de Cerro Puruchuco, a montanha que circunda Lima e miradouro privilegiado para adeptos sem bilhete espreitarem o encontro. Improvisou, então, um estúdio ao ar livre e via TikTok — munido só de um telemóvel fixo num tripé e de um microfone, de fato com uma bandeira da cidade natal de Andahuaylas nas costas, à boleia do Pol Deportes, projeto pessoal que encanta nas redes sociais — produziu um hino ao romantismo que emociona.
No negócio da comunicação, é hoje em dia decisivo estar atento a métricas, cliques, visualizações e algoritmos, sob pena de as empresas não resistirem. Cliver lembra-nos, porém, que a base de tudo é a entrega, o brio, a vontade indómita de informar. E foi isso que mostrou aos quase 47 mil espectadores que o acompanharam em direto, enquanto o vídeo que mostra toda a façanha já soma mais de 12 milhões de visualizações no TikTok.
«Cumprimos a promessa de narrar a decisão da Libertadores», congratulou-se, eufórico, junto dos seguidores, incrédulo com a recetividade.
Sem tecnologia de última geração ou produção grandiosa a apoiá-lo, apenas ele — a sua voz, a sua emoção, a sua coragem — operou o milagre. Uma aventura de superação, de entrega, de amor puro. Não esteve no relvado que consagrou Danilo com um cabeceamento eterno, mas viveu cada momento como se estivesse. E transmitiu essa energia a milhares de pessoas.
«És o reflexo do peruano que se esforça todos os dias e que contribui para o desenvolvimento do país. Estou muito orgulhoso de ti. A vida e o futebol vão dar-te o lugar que mereces. Quero que estejas comigo na cabine e vais narrar alguns minutos», elogiou Peter Arévalo na transmissão da L1MAX, durante o intervalo do Sporting Cristal-Alianza Lima, quatro dias depois, na primeira mão das meias-finais do campeonato do Peru.
Uma jornada gloriosa para Cliver, que ainda recebeu de oferta uma edição especial da camisola do clube local oferecida por Julio César Uribe, antigo selecionador e internacional peruano. Também Paolo Guerrero, avançado de 41 anos que brilhou no Bayern, Hamburgo, Corinthians e Flamengo, entre outros, presenteou o jovem com uma camisola dos forasteiros. Na quarta-feira, assistirá no Bernabéu ao Real Madrid-Manchester City a convite do canal Latina Televisión, duelo de gigantes da fase de liga da Champions.
Quem não souber o que é um conto de fadas, pergunte a Cliver Huamán Sánchez. Ele está a escrevê-lo ao vivo — e nós temos a sorte de o testemunhar."

Proteção do talento jovem: o desafio jurídico das transferências de menores no espaço europeu


"Num cenário cada vez mais competitivo e globalizado, o futebol profissional tem revelado jovens talentos que se destacam precocemente. Multiplicam-se os casos de atletas que, ainda em idade júnior, conquistam espaço nas equipas principais e assumem papéis decisivos em competições de alto nível, provando que a idade não é barreira para o sucesso.
Esse protagonismo inicial desperta, inevitavelmente, o interesse de emblemas estrangeiros que procuram assegurar, desde cedo, as futuras promessas.
Porém, esse ímpeto colide com uma das normas basilares da FIFA: o artigo 19.º do Regulamento sobre o Estatuto e a Transferência de Jogadores (RSTP), que, em regra, proíbe as transferências internacionais de jogadores com menos de 18 anos, admitindo apenas exceções estritamente delimitadas.
Tal proibição não é uma imposição burocrática, mas uma opção de política desportiva global, que visa prevenir fenómenos de exploração, migrações desportivas precárias e situações de desproteção social.
Entre as exceções previstas destacam-se: a mudança de residência dos pais para o país do novo clube por motivos alheios ao futebol; a residência do jogador a menos de 50 km da fronteira e inscrição em clube situado até 50 km dessa fronteira, não excedendo 100 km entre residência e clube. No contexto europeu, acresce ainda o cumprimento de requisitos atinentes ao percurso académico e a garantia de condições de treino de excelência, a possibilidade de transferência de jogadores entre os 16 e os 18 anos dentro da União Europeia ou do Espaço Económico Europeu.
É nesta exceção europeia que se trava um dos mais delicados e decisivos desafios do futebol contemporâneo. A convergência normativa entre o regime FIFA e os princípios fundamentais da livre circulação de trabalhadores e da igualdade no mercado interno europeu - consagrados na jurisprudência emblemática do Caso Bosman e reforçados pelo diálogo institucional entre a Comissão Europeia e a FIFA - permitiu desenhar um equilíbrio: a mobilidade antecipada torna-se possível, porém condicionada a um robusto sistema de garantias materiais e procedimentais que assegurem o interesse superior do jovem atleta.
Na prática, a proteção deste superior interesse traduz-se num modelo de controlo particularmente rigoroso e exigente: o clube que pretende inscrever o atleta menor deve apresentar, paralelamente ao pedido de transferência internacional, um dossier detalhado que comprove, de forma clara e objetiva, a garantia de formação desportiva de qualidade, integração escolar que assegure uma alternativa de carreira fora do futebol, condições de alojamento dignas e estáveis, assim como um sistema estruturado de tutoria e acompanhamento pessoal ao longo de todo o período de formação.
O processo de compliance é submetido a um duplo escrutínio hierárquico. Antes de chegar à FIFA, as federações nacionais certificam a integridade do pedido, sob pena de devolução imediata. Ultrapassada esta triagem preliminar e confirmada a conformidade integral com os requisitos regulamentares, o processo é remetido à Players' Status Chamber do Football Tribunal da FIFA, instância decisória competente para a deliberação final. A homologação proferida por este órgão confere plena validade jurídica à transferência internacional de menor, dotando-a de eficácia «erga omnes» no ordenamento desportivo internacional.
No entanto, cumpre não olvidar que as consequências da não conformidade poderão ser severas. O incumprimento poderá implicar não só indeferimento do pedido, mas também sanções disciplinares para os clubes, incluindo proibições temporárias de registo de novos jogadores.
A «porta europeia» não é, portanto, uma abertura de mercado, mas um corredor estreito reservado a clubes que demonstrem compromisso sério com a formação integral do atleta menor. Atua como um modelo que transcende o mero rendimento desportivo, impondo aos clubes padrões de responsabilidade social e ética, garantindo que os objetivos competitivos dos clubes coexistam com superior interesse do jovem atleta, equilibrando o direito à livre circulação com a salvaguarda dos seus direitos fundamentais. Nesta esteira, promove-se uma cultura de sucesso sustentável, onde o talento floresce num ambiente protegido, ético e socialmente responsável."

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