Últimas indefectivações

sexta-feira, 10 de junho de 2011

«Transferências»

"1. Coloquei a palavra transferências, no título, entre aspas. É assim que as leio nos diários desportivos. São às carradas aquelas que são dadas como certas ou quase certas. E, depois, quando se concretizam, os jornais não deixam de 'fotografar' os seus títulos, afirmando 'como nós já havíamos antecipado'...

Pois, devo dizer que, à excepção do Nolito e do Artur, não sei o nome de nenhum dos jogadores já dados como certos no Benfica - só me preocuparei em sabê-lo quando começarem, efectivamente, a jogar - tal como não ligo às notícias que dão como prováveis a saída deste, daquele e aqueloutro dos nossos habituais efectivos. Esta é a altura do ano em que mais rapidamente folheio (sim, folheio, não leio) os jornais desportivos.


2. Passaram recentemente os 100 anos sobre a data em que, pela primeira vez, uma mulher portuguesa - Carolina Beatriz Ângelo, médica - pôde votar (foi a única a faze-lô), nas primeiras eleições após a implantação da República. Mulher avançada no seu tempo, era então viúva (recente) de Januário Barreto, também ele médico ilustre, que fora (entre 1906 e 1908) o primeiro presidente do Benfica eleito, após a Comissão Administrativa que governou o Clube nos primeiros anos. Nas suas origens, como ao longo do seu século de existência, o Benfica teve entre os seus sócios mais destacados, ilustres democratas e cidadãos deste País.


3. Alguém imagina o Diário de Notícias (ou qualquer outro jornal feito em Lisboa) incluir em lugar de destaque na 1.ª página uma grande foto referente a um título nacional de Basquetebol do Benfica ou do Sporting? Pois o Jornal de Notícias, 'irmão' nortenho do DN, fê-lo, no dia seguinte ao 7.º e decisivo jogo FC Porto - Benfica. Referimos, em tempos, que o FC Porto, para além das volumosas (e bem pouco claras...) ajudas para a construção do seu estádio, teve (tem) um centro de estágio à borla, acaba de conseguir uma estação de televisão igualmente sem nada investir e agora até já parece ter um jornal generalista diário, cujo o novo director se acaba de transferir de 'O Jogo'. Com tanta ajuda..."


Arons de Carvalho, in O Benfica

Tempos de incerteza

"Costuma a pré-época ser uma espécie de renovação da esperança, de renovação do optimismo. Esta é-o, mas é também um tempo de reserva, de prudência e de algum cepticismo.

Notamo-lo nas pequenas conversas, nos comentários, na agitação da espuma dos dias que correm. Há ainda uma espécie de cicatrização inacabada das feridas da época findada e a expectativa desconfiada para os tempos que estão para chegar. Entre futebolistas, muitos, que são anunciados e confirmados e ameaça de saída de alguns que têm sido referência e porto de abrigo da alma benfiquista, fica aquela sensação de que vamos, novamente, enfrentar o desconhecido, desconhecendo as reais valias do nosso Benfica futuro.

Este cepticismo é um sentimento legítimo, sabendo que muitos dos nossos receios derivam da suspeita e não da realidade. Tal como sabemos que só enfrentando a realidade podemos dissipar receios passados e confirmar certezas futuras. Nestes momentos, é muito fácil cair num pessimismo sistemático e infecundo ou num pragmatismo de tal forma frio que se transforma em algo de acrítico, algo que subverte a nossa essência.

Assim, o equilíbrio do adepto, nestes momentos, é um exercício difícil e, muitas vezes, incompreendido. Em momentos de indefinição, joga-se o tudo ou o nada futuro, o que exige prudência na análise do momento presente.

Escrevia Miguel Torga que “a gente deve lançar a âncora numa praia verdadeira”. Estou convencido de que a praia verdadeira não é o apocalipse que alguns profetas da desgraça anunciam tal como não é o paraíso que alguns vendedores de ilusões apregoam. Está algures aí pelo meio. Saibamo-nos situar, para encontrar esse indispensável equilíbrio."


Pedro F. Ferreira, in O Benfica

O Latim dos outros

"Alguém da FIFA(?) terá dito a alguém da Lusa, que a Taça Latina não era uma competição oficial. Logo houve quem entrasse em histeria, vitoriando o FC Porto como o clube português com mais troféus conquistados. O tema não é do meu particular interesse - o Benfica nunca viveu, nem viverá, em função dos títulos de outrem. Mas como não gosto de mistificações, tenho de dizer o seguinte:
-É discutível considerar-se, nesta contabilidade, a Supertaça, que é pouco mais do que um jogo de pré-temporada, que durante anos não tinha a chancela oficial, servia para rodar suplentes, e chegou a estar, várias vezes, à beira da extinção.
-A Taça Latina pode até nem ter sido uma competição oficial (não havia, na altura, competições oficiais a nível internacional), mas foi indiscutivelmente a antecessora da Taça dos Campeões Europeus. As primeiras onze edições desta prova foram ganhas por equipas latinas, e, em todas elas, só por duas vezes o finalista vencido não foi igualmente latino. Ou seja, na década de cinquenta, ser campeão latino era, objectivamente, ser campeão europeu.
-A vitória do Benfica na Taça Latina foi o primeiro triunfo internacional da história do futebol português, tanto a nível de clubes, como de selecções. Como tal, foi amplamente festejada, quer por benfiquistas, quer por muitos outros portugueses, orgulhosos de quem ali os representava.
-O quadro de vencedores da Taça Latina fala por si. Se descontarmos o Stade Reims (na altura uma potência, e duas vezes vice-campeão europeu), restam Real Madrid, AC Milan, Barcelona e... Benfica.
-A Toyota Cup também nunca foi reconhecida pela FIFA. Envolveu equipas que não tinham sido campeãs da Europa (Atlético de Madrid, Panathinaikos e Malmo), pois os campeões desses anos não mostravam interesse em participar. Teve hiatos (1975 e 1978), por não haver qualquer clube (nem campeões, nem finalistas) a querer disputá-la. Foi, aliás, o patrocínio da marca japonesa que retardou a sua extinção - que ocorreu em 2006."

Luís Fialho, in O Benfica