Últimas indefectivações

sexta-feira, 28 de março de 2014

A voz da serpente

" 'Águia voa para o título', 'Perto do Céu', 'Festa Rija', 'Campeões à vista'. Estes são alguns dos cabeçalhos que pudemos ler em diários desportivos nos últimos tempos. Paralelamente, nas televisões, comentadores mais ou menos isentos atribuem o Campeonato ao Benfica como se a respectiva conquista se tratasse de uma mera formalidade. A tal ponto que a partida entre Sporting e FC Porto foi abordada por muitos como uma simples luta pela segunda posição. Isto passa-se há já várias semanas. Porém, se o Benfica não tivesse ganho os jogos que entretanto foi disputando, nesta altura já nem sequer estaria no primeiro lugar da tabela classificativa. Provavelmente, era essa a intenção de tão vistoso foguetório.
Não nos deixemos iludir. Juntamente com uma campanha de pressão, condicionamento e coacção de árbitros, existe uma outra que visa o adormecimento da nossa equipa. Sem ponta de inocência, os nossos adversários tentam, de uma penada, alimentar o deslumbramento da família benfiquista, e criar condições para, ao mais pequeno deslize, derramarem sobre nós o ónus desse mesmo deslumbramento - à semelhança do que fizeram na época passada, a propósito dos festejos de um simples vitória no Funchal.
Faltam seis jornadas para terminarem o Campeonato Nacional, e, caso cheguemos às Finais de todas as provas em que estamos inseridos, faltarão ainda quinze jogos para concluir a temporada futebolística. Muitos jogos. Muitas dificuldades. Muitos perigos. Demasiados perigos!
Em Maio do ano passado faltavam apenas três partidas para erguer três troféus. Sabemos o que aconteceu. Ninguém nos convencerá agora que, com quinze longas e duras batalhas pela frente, poderemos baixar as guardas e dar o sucesso por adquirido.
Não! Ainda não ganhámos nada! E se pensarmos o contrário, corremos sérios riscos de repetir dramas passados, satisfazendo a ânsia dos rivais. A 'guerra' trava-se jogo a jogo, e só no fim se fazem as contas. Até que a matemática dite leis, a mínima dose de triunfalismo poderá ser fatal."

Luís Fialho, in O Benfica

Brilhante goleada do FC Porto...

"A vitória sobre a Académica foi mais um passo seguro rumo ao 33.º título de campeão nacional. Faltam seis jornadas e a margem é muito boa. Uma vitória em Braga colocava o título a salvo de catástrofes mais imaginativas.
Com tanta poupança no Dragão não se pode pedir outra coisa. O Benfica, ao prescindir de seis titulares contra o FC Porto, ficou seis vezes mais longe de ganhar a Taça de Portugal. O FC Porto, ferido e com uma cicatriz de doze pontos, conseguiu uma brilhante goleada sobre o Benfica e tem motivos para festejar. São justos todos os festejos azuis e brancos.
O Benfica não deve, na minha opinião, fazer uma gestão tão audaz na Liga Europa, tendo chegado aos quartos de final. O AZ Alkmaar é pior que o melhor Benfica, mas pode eliminar menos utilizados. Mudar um ou dois jogadores é gerir recursos, mudar seis é prescindir de ganhar. Nos quartos-de-final de uma prova europeia os adeptos pendem... o sonho. E têm razão.
Os adeptos do Benfica esperam ganhar títulos e não tirar cursos de gestão. Jorge Jesus terá experiência, e vontade, para contrariar os meus receios, mas transformar uma excelente época, numa coisa mais ou menos, é um erro. Vamos então dar mais um passo para ser campeões, já no domingo. Porque, na verdade, perto do final de Março continuamos a ambicionar ganhar tudo. Se esse feito não pode ser ignorado, e mostra o valor de técnico e equipa, por outro lado não pode ser desperdiçado.
Reconheço que jogar mais seis semanas à quinta-feira e ao domingo, sem descanso, deixa marcas, mas no fundo é isso que se ambiciona quando começa a época. Dirão os pessimistas que ainda estamos numa época do sonho, dirão os optimistas que é uma época de sonho. Venha a realidade dar razão aos optimistas."

Sílvio Cervan, in A Bola

O Destino não nos dá tréguas

"Quando, após aquele final de época 2012/13 em que do tudo nos restou o nada, a Direcção do Benfica renovou com Jorge Jesus, eles, os especialistas, garantiram que se acabara de perder o actual campeonato. Nós, que vivemos o benfiquismo, não acreditámos. O mesmo aconteceu quando Cardozo ficou no plantel e tantos peroravam como isso seria fatal para a época corrente. Com a derrota na primeira jornada, acentuou-se a ladainha do apocalipse. À terceira jornada e com apenas uma vitória, eles, os especialistas, já nos tinham feito a extrema-unção e encomendado a alma. Quando estivemos a cinco pontos do primeiro lugar (à época ocupado pelo FCP da estrutura perfeita) aconselharam-nos a começar a preparar a nova época. Os empates caseiros com Arouca e Belenenses fizeram com que os especialistas garantissem a infalibilidade das suas teses.
A suspensão de Jorge Jesus por um mês deu aos especialistas permanentes e aos abutres de ocasião a oportunidade para fazer sangue, acertar contas antigas com o treinador e garantir a falência desportiva da época. Mais tarde, foi a lesão de Cardozo a dar-lhes o alento para agoirarem (vindo dos especialistas, até os agoiros são científicos) a época. Atendendo a que a realidade sempre se encarregou de desmentir os seus desejos disfarçados de opiniões, esperaram pela saída de Matic para garantir que isso é que faria com que deixássemos de contar para a vitória no campeonato. Sempre que eles, os especialistas, garantiram que tínhamos o campeonato perdido, nós, os que vivemos o benfiquismo, não acreditámos e continuámos, com os nossos, a lutar.
Agora, porque faltam seis jornadas e temos sete pontos de avanço para o segundo classificado e doze para o terceiro (o FCP da estrutura perfeita), eles, os especialistas, querem convencer-nos de que temos o campeonato ganho. E nós, os que vivemos o benfiquismo, continuamos a não acreditar neles, pois sabemos que em Portugal só há um clube que ganha de véspera e nós, Benfica, não ganhamos nem perdemos de véspera. Lutamos sempre para construir permanentemente um destino que não nos dá tréguas."

Pedro F. Ferreira, in O Benfica

Amibas

"1. Sempre me fez espécie a canina adoração que algumas figurinhas devotam ao Madaleno. A vacuidade da personagem e a sua convicção de que vivemos num mundo em que a lei vale tanto como a Oeste de Pecos (e em Portugal vivemos mesmo!) faz-me crer que os seus apóstolos têm a consistência intelectual de uma amiba que, como sabemos, não prima pela complexidade do raciocínio.

2. Mais estranho é ver que há quem queira copiá-la, no tiques de caudilho e na propagação das arruaças. Seria divertido se não fosse triste. Este espalhafato diário do presidente do Sporting, que fala por tudo e por nada e ameaça por nada e por nada, traz-me à memória um exemplo botânico: o tropismo. Só com uma variante, neste caso: não necessita de estímulos. Como dizem os brasileiros: há gente que em silêncio é poeta...

3. O presidente dos árbitros - o tal que o presidente do FC Porto queria deixar de cócoras no Estádio das Antas - teme pela vida e saúde dos seus rapazes. A saúde sabemos que não se recomenda - e as baixas estão directamente ligadas à inconveniência dos jogos. Quanto à preocupação do personagem: deve ser esse o motivo que o leva a publicar as nomeações logo à terça-feira. Sempre fornece mais uns dias de trabalho aos energúmenos que gostam de destruir talhos."

Afonso de Melo, in O Benfica

Qual é a dúvida?

"Num mundo ingrato, peço apenas que me façam uma justiça. Essa que tem muitos anos, não apenas os mais recentes. E qual é? A minha ligação estreita àquela que reputo a tribo do futebol. Quem inclui? Jogadores e treinadores. Do Benfica? Do Benfica, do Sporting , do FC Porto, de outros emblemas, de muitos emblemas.
Qual a razão da pergunta? Simples, tão simples, mesmo simples. Não conheço nenhum profissional da bola que não considere o Benfica a equipa que melhor futebol pratica em Portugal na paisagem da actualidade. Esse entendimento comummente aceite, no país e fora dele, desmente a tese do menor valimento do avanço encarnado no Campeonato por razões extrafutebol. Que razões? Favorecimentos das equipas de arbitragem? Não há maior dislate, maior atoarda. Só o presidente do Sporting, porventura secundado por alguns antibenfiquista primários, assume e desenvolve a tese. Caí no ridículo, protagoniza o quixotesco.
O Benfica, na Liga nacional tem feito uma demonstração inequívoca de superioridade a todos os níveis. Cultiva, nas palavras, a humildade. Cultiva, na função, a maioridade. Tem valido mais, muito mais do que os antagonistas. Merece a vantagem folgada que usufrui.
Como vai ser até ao termo da competição? Como até agora, seguramente. Há mais vermelho, muito mais vermelho nos recintos nacionais. Mas também há vermelho, vermelho de raiva, nos nossos oponentes. O trilho está traçado. A festa mais próxima. Só depende da nossa proficiência, da nossa prédica. No campo e fora dele. Uma certeza? Há um grande Benfica no campo, não há menor Benfica fora dele."

João Malheiro, in O Benfica

Faltam 11 pontos...

"1. Bom jogo e importante vitória (mais uma!...) no jogo com a Académica, que se previa complicado. Faltam agora seis jornadas, correspondentes a 18 pontos, dos quais precisamos de ganhar 11. Domingo, em Braga, seria bem importante conquistar mais três. Também na Liga Europa as coisas estão a correr bem... mas será necessário passar a formação holandesa do AZ Alkmaar, que não terá chegado aos quartos-de-final por acaso. O excesso de confiança na parte final do jogo com o Tottenham foi um aviso...

2. Muito se falou nas (tristes) atitudes de Jorge Jesus no jogo de Londres, com o Tottenham. Foi bastante infeliz. Não vale a pena regressar ao assunto. Volto apenas para salientar a diferença de tratamento que na nossa comunicação social é dada às infelizes atitudes de Jorge Jesus e José Mourinho. Enquanto o nosso treinador, que (infelizmente) ferve em pouca água, é sempre fortemente criticado, ao actual treinador do Chelsea, que guerreia com meio mundo, muitas vezes em infelizes jogadas estratégicas que de desportivismo nada têm, tudo é perdoado pois é o 'melhor treinador do Mundo'. Não o contesto, mas, como português, não me orgulho nada das suas atitudes. Enquanto Jorge Jesus é genuíno, é ele próprio, 'passa-se' com facilidade (o que não o desculpa), José Mourinho é 'jogador', prepara aquilo que vai dizer e contra quem o diz. Para ele vale tudo, desde que sirva para a sua equipa ganhar. De desportista nada tem.

3. Faleceram na semana passada dois benfiquistas que foram figuras públicas (Medeiros Ferreira e Manuel Barbosa) e um terceiro, porventura menos conhecido do grande público mas com décadas de grande dedicação ao Clube e ao nosso râguebi - Carlos Nobre. É daqueles benfiquistas que, anonimamente (ou quase), trabalham para o Clube dia após dia. Foi jogador, treinador, dirigente, foi tudo no nosso râguebi, desde o tempo do Campo Grande nos anos cinquenta e sessenta. E sempre cem por cento amador. É (também) com homens como Carlos Nobre que o Benfica se tornou no grande Clube que é hoje nas mais variadas modalidades."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Já faltou mais...

"Muito mais. Já faltou tudo. Quando faltavam 29 jornadas, o Benfica tinha zero pontos, um derrota; quando faltavam 28, o Benfica dera a volta a um resultado em cima dos 90 minutos; quando faltavam 27, o Benfica empatara com um penalti a favor ignorado e um golo contra marcado irregularmente pelos 'campeões' da demagogia e da choraminguice. E assim por diante. Agora que já faltou mais, muito mais, já faltou tudo, agora que na verdade faltam simplesmente seis jornadas, o Benfica está confortável na liderança e a exibir um futebol de elevada qualidade - como se viu no jogo frente à Académica, onde o maior obstáculo a uma goleada foram os postes - mas na verdade ainda não ganhou nada.
Para ganhar, o Benfica só depende de si próprio. O campeonato, que é certamente o objectivo mais desejado porque dá o título de Campeão, está ao alcance da mão, isto é, aqui ao pé. Já não há jogos fáceis, especialmente para o Benfica, contra o qual todos se arreganham. Mas o Glorioso tem equipa e futebol para ganhar todos os desafios. E tem bancadas como nenhum outro, a transbordar de boa e generosa gente e de entusiasmo.
E tem - é justíssimo que se diga - uma direcção, uma organização, uma estrutura única no desporto português. Não é por acaso nem por favores que o Benfica disputa todos os títulos, em todas as modalidades. E como na verdade há mais desporto para além do futebol, no fim-de-semana em que derrotou a Académica, o Benfica também venceu em casa do CAB Madeira, no basquetebol, do reduto do Castêlo da Maia, em voleibol, e na Luz bateu o Sporting no futsal, o Paço de Arcos, no hóquei em patins, o SC Horta no andebol.
Este é de facto o Clube Lutador, do qual os adeptos constituem a Chama Imensa. Já não falta tudo..."

João Paulo Guerra, in O Benfica

A queda dum anjo

"Ninguém admira mais Oscar Tacuara Cardozo do que eu. Quando o nosso ponta de lança enfiou o terceiro ao Sporting na Luz eu fui visto a gritar: “AMO-TE, CARDOZO!!! AMO-TE, CARALHO! AMO-TE!”. Uma pessoa que grita isto no meio de uma multidão só pode ser levada a sério. No Benfica da minha vida adulta, Tacuara Cardozo foi o homem que mais admirei, o jogador que nunca teve um assobio meu, a quem aplaudi mesmo todos os falhanços.
Não me interessa se é desengonçado, se não parecia capaz de ganhar os Jogos Sem Fronteiras. Oscar Cardozo é o maior marcador estrangeiro do Sport Lisboa e Benfica. E, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, é um ponta de lança além da quantidade estúpida de golos que já marcou.
Foi-me penoso ver Cardozo ontem. Doeu-me. Cardozo, no Dragão, fez uma exibição tão péssima – fruto da sua gritante falta de ritmo e entrosamento neste novo Benfica – que eu sofri como sofrem os pais quando vêem os filhos a serem goleados num jogo de infantis. Tive vontade de o tirar dali, não só para o bem do Benfica (que era o mais importante), como por ele. Cardozo não merece não estar à altura do Benfica.
No livro de Camilo de Castelo Branco, Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda é um miguelista provinciano e conservador que, chegado à capital, se torna um liberal um bocado para o devasso. A sátira da vida política portuguesa faz de Calisto um anjo caído, personagem cómica de costumes caricaturados. Cardozo merece tudo menos ser uma personagem cómica, um corpo estranho que os adeptos querem ver fora dali. Cardozo merece o nosso carinho, as nossas palmas, a nossa paciência, mas devido ao seu estilo de jogo – e à mudança de estilo do Benfica – só pode voltar em condições físicas que agora, obviamente, não tem.
No entanto, se o Sport Lisboa e Benfica se encontra líder do campeonato com 7 pontos de avanço, em todas as frentes e num estado anímico que faz quase esquecer que ao minuto 90 da segunda jornada com o Gil Vicente corríamos o sério risco de acabar a segunda jornada com zero pontos, muito se deve a Oscar Cardozo. Foi ele que marcou a Belenenses, Académica, Olympiakos, Nacional e aqueles 3 ao Sporting (cada um melhor que o outro). Numa fase da época onde o Benfica não jogava o que joga agora e onde tudo estava por um fio, Jorge Jesus incluído, Cardozo – como um anjo – manteve-nos vivos e permitiu-nos chegar a Março com o campeonato mesmo à mão.
Cardozo, neste momento, tem de estar no banco. Até Funes Mori teria sido mais útil que o grande Tacuara ontem. Mas é nosso dever não deixar cair Cardozo. Se Cardozo tantas vezes segurou o Benfica, agora é o Benfica que o deve segurar. Um matador destes não merece assobios e não pode ser exposto assim. Se há coisa que eu considero fatal para um clube e os seus adeptos é a falta de memória. E Cardozo deve perdurar sempre na nossa pelas melhores razões. Para mim, serás sempre um anjo."