Últimas indefectivações

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Adivinhava-se fatal

"No próximo Verão quando Proença foi outra vez recebido pelo Benfica para novas lições ao plantel, não se esqueçam de lhe dizer que a culpa foi do Bertino. Para desanuviar o ambiente.

ADIVINHAVA-SE fatal o jogo com o Belenenses no culminar de uma semana em que, aparentemente, o único tema da agenda encarnada foi o caso Jesus, o parecer dos especialistas sobre o caso Jesus, o termo de identidade e de residência de Jesus, a solidariedade do presidente com Jesus.
O Benfica embarcou alegremente nisto ao ponto de o jogo com o Belenenses ser transformado num não-acontecimento.
Visto da semana passada, o jogo com o Belenenses destinava-se, modestamente, a assinalar a singular efeméride: uma semana já se tinha passado sobre o caso Jesus.
Não terá sido, porventura, por esta razão que o Benfica empatou com um Belenenses muito defensivo, naturalmente, e que jogou os últimos minutos na Luz exactamente como o Benfica deveria ter jogado os últimos minutos no Dragão, na antepenúltima jornada do último campeonato.
Veja-se, por exemplo, como caso Mitchel Van der Gaag, bem mais ponderoso no seu grau de gravidade, em nada afectou o rendimento da equipa do Restelo, antes pelo contrário. Foi um Belenenses trabalhador, muito unido e intensamente focado no jogo que se apresentou em campo e de lá saiu todo sorridente.
Deve-o agradecer ao árbitro? Também, é verdade que sim. Mas tem sido sina dos adversários do Benfica, neste arranque do campeonato, terem qualquer coisinha para agradecer aos árbitros. Marítimo, Sporting e Belenenses que o digam.
O golo com que o Belenenses empatou na Luz é irregular à vista desarmada tal como Pedro Proença, assim noticiaram os jornais, foi explicar aos jogadores do Benfica, reunidos no Seixal, ainda era Verão, para o ouvirem perorar sobre a nova interpretação da lei do fora-de-jogo.
Menos de dois meses depois lá está, outra vez, Pedro Proença nas bocas do mundo graças ao melhor penalty dos últimos 30 anos, penalty que lhe coube assinalar no passado fim-de-semana.
No próximo Verão, quando Pedro Proença for outra vez recebido nas instalações do Benfica para novas lições ao plantel, não se esqueçam de lhe dizer que a culpa foi do Bertino. Para desanuviar o ambiente.

ESTA coisa das redes sociais dá cabo da reputação de muita gente. A do jovem presidente da AF Lisboa, por exemplo, está pelas ruas da amargura. E, a propósito, seguiu já para a UEFA uma queixa do FC Porto porque Nuno Lobo chamou macaco a Hulk na sua página do Facebook no tempo em que Hulk jogava com a camisola do FC Porto.
Configura racismo? Configura, sim senhor.
Será esta a prova de carácter mais do que suficiente para expor como grande mentiroso o presidente da AF Lisboa que veio acusar oficiais do FC Porto de o terem molestado no camarote onde todos assistiam ao jogo no Estoril? Não, não senhor.
Porquê? Porque uma coisa e a outra são, temos pena, coisas diferentes.
No entanto, ainda que não o mereça, Nuno Lobo pode encontrar uma sonora atenuante para o delito de que é acusado nas palavras avisadas do director de comunicação do FC Porto quando, em Fevereiro de 2012, veio a público refutar as acusações de Balotelli. Lembram-se?
O italiano, então ao serviço do Manchester City, queixou-se ter sido tratado como um macaco pelo público do Dragão e recebeu uma resposta que o deixou tonto: os gritos de macaco eram por Hulk porque os cânticos pelo jogador – Hulk! Hulk! Hulk! – «podem ser facilmente confundidos com cânticos racistas». 
Perante isto, julgo que Nuno Lobo nada tem a recear. A não ser a si próprio.

AINDA as redes sociais como destruidoras de reputações. Depois de perder um jogo do campeonato de andebol para o FC Porto, veio o Benfica lamentar o fanatismo do árbitro do dito encontro, um adepto assumido do FC Porto que, tal como Nuno Lobo, se espraia no Facebook em considerações altamente desprestigiantes para os rivais.
Também aqui há uma diferença. Nuno Lobo não é árbitro. Não decide jogos com o seu julgamento. E mesmo que à paisana, sentadinho, sem fazer nada, lhe caia em cima um Adelino Caldeira, ou mesmo meio Adelino Caldeira, nunca terá por perto um Proença para o punir admiravelmente com um penalty.
É este o mundo em que vivemos, o das redes sociais. O que, fracamente, espanta neste episódio é o facto de o Benfica, conhecendo, como se presume, o perfil do árbitro e as suas pérolas, tenha-se permitido entrar em campo para disputar um jogo de andebol cujo resultado, à partida, se adivinhava fatal.

MAS também há gente com graça nas redes sociais. A propósito da recente cerimónia oficial de inauguração do museu do FC Porto que, apesar de inaugurado, só abre portas ao público a 26 de Outubro, leio num blogue benfiquista, Benfiliado, o seguinte comentário: «Podem abrir as portas ao público e aproveitam logo para comemorar o 13.º aniversário do museu.» Tem a sua graça, que não ofende.

O Atlético de Madrid é a equipa do momento do futebol europeu. Conseguiu nos últimos dias resultados fantásticos contra dois gigantes do futebol europeu, o Real Madrid e o FC Porto, indo-lhes ganhar nas suas próprias casas. É obra. Pode-se discutir se o Real Madrid, bem vistas as coisas, não será mais gigante do que o FC Porto mas isso, para o caso, pouco conta.
A verdade é que o Atlético de Madrid, a jogar e a ganhar assim, sem respeito nenhum pelos emblemas superiores, se vem transformando numa bandeira para todos os que gostam de futebol mas a quem ofende as apregoadas obscenidades financeiras dos valores dos contratos de Messi & Neymar, em Nou Camp, e de Ronaldo & Bale, em Chamartín.
Por tudo isto, muito gostariam os românticos do futebol de ver o Atlético de Madrid ganhar o campeonato espanhol. Incluo-me nesse grupo, com um patriótico pedido de desculpa a Cristiano Ronaldo, a Pepe e a Coentrão, os portugueses do Real. Mas há coisas que são mais fortes, tal como o romantismo.
O Atlético de Madrid foi ganhar a casa do Real Madrid por 1-0, no sábado, e foi ganhar a casa do FC Porto, por 2-1, na terça-feira. O Real Madrid, mesmo sendo mais gigante do que o FC Porto, de vez em quando ainda perde uns joguitos em casa. No fundo, trata-se de futebol, não é? Quanto ao FC Porto é raríssimo perder no seu campo. Mesmo empatar é uma raridade. Este Atlético de Madrid é poderoso. 

DECO foi agora suspenso por um ano pelo Supremo Tribunal de Justiça Desportiva brasileiro o que pouca ou nenhuma mossa lhe faz porque o mesmo Deco anunciou a sua retirada em Agosto. Ou seja, auto-suspendeu-se para sempre antecipando-se, advertida ou inadvertidamente, à sentença que se adivinhava fatal.
Triste epílogo de uma altíssima carreira. Convém que se diga que Deco foi um jogador extraordinário e que só assim poderá ser recordado. Esta mancha sobre o seu nome, para mais num tópico tão sensível como o do doping, não é de todo a cereja no topo do bolo do grande fantasista luso-brasileiro.
A perfeição não existe, é a grande verdade. Umas belas semanas depois da decisão do Supremo Tribunal da Justiça Desportiva brasileiro, Deco falou para a sua enorme legião de fãs em Portugal e confessou se muito grato ao Benfica por o ter deixado ir jogar para o Porto. Foi o que teve de mais urgente para dizer assim que se lhe ofereceu o ensejo de, desde o país-irmão, comunicar directamente com o também país-irmão.
Duas vezes país-irmão, pois com certeza! É assim com Deco, luso-brasileiro com carimbos e tudo, e, por isso mesmo, tudo para ele são irmãos dos dois lados do oceano Atlântico.
Deco é sagaz. O facto de se ter reformado antes que o reformassem é já prova quase bastante disso. Mas genial, genial mesmo, em Deco é que, mesmo longe do primeiro país-irmão, continua a saber que lhe basta pronunciar a palavra Benfica para que desaparecesse da agenda o tema absurdo da hidrocloratiazida e do tamoxifeno que lhe foram detectados no organismo depois do jogo do campeonato estadual carioca contra o Boavista de Saquarema.
A justiça desportiva brasileira é muito diferente da nossa. Vejam só que o Boavista de Saquarema nem sequer desceu de divisão.

PS – Ontem, à meia hora de jogo no Parque dos Príncipes, com 3-0 a favor do PSG, lembrei-me de Vigo. Felizmente que a coisa ficou por ali. O Benfica nem conseguiria, no entanto, aproximar-se da hipótese do chamado golo de honra. Mas isso, perante o que se viu, era pedir demais. Honra."

Leonor Pinhão, in A Bola

Contrastes !!!

No rescaldo da noite da Champions de Terça-feira, a única inquietação nos avençados Lusos, era a suposta irregularidade no golo da vitória do Atlético de Madrid no antro dos Corruptos!!! Tudo o resto, era pacífico!!! O facto da falta que deu golo aos Corruptos, não ter existido - simulação descarada do Josué -, não deixou ninguém preocupado... O facto do Mangala ter placado o Leo Batistão quando este ficaria totalmente isolado - nem falta foi marcada!!! -, também não preocupou ninguém...!!! O facto do Atlético ter jogado sem vários titulares - e com menos 24 horas de descanso após um jogo muito intenso com o Real Madrid -, uns por castigo, outros por lesão, outros por opção, também não deixou ninguém preocupado...!!!
No rescaldo da noite da Champions de Quarta-feira, para os mesmos escribas, o Mundo parece que acabou !!!
Sendo a exibição do Benfica má, analisando os dois resultados objectivamente, a derrota dos Corruptos, é muito mais grave - jogando em casa -, mas isso aparentemente não deixa ninguém preocupado, nem indignado... O rascord até conseguiu fazer uma linha de fora-de-jogo no 1.º golo do PSG bem à frente da bola, só para não 'cortar' a cabeça ao Zlatan (e do primeiro momento de dúvida, nem valeu a pena falar), situação que até poderia ser aceitável, não tivessem no dia anterior, elevado a crime de lesa pátria o golo do Arda Turan!!!
Com o já tradicional Tour de Benfiquistas a dar entrevistas a tudo o que mexe - sempre que o Benfica não ganha é assim -, as habilidades do Proença, do Bertino, do Tavares e afins, já fazem parte da história longínqua!!! O palhaço do Fonseca, que sem apitos deveria ter 12 pontos (-4), pelo menos - contra os 16 pontos (+5) do Benfica -, e que neste momento só devia ter 1 ponto na Champions, já que em Viena, contra a super-potência do Áustria de Viena, viu uma Mão descaradíssima do Otamendi passar em claro, continua o seu trajecto 'imaculado' para se transformar no próximo Campeão pífio... Com tranquilidade, com todas as atenções, declarações, polémicas, julgamentos e crucificações no Benfica.
Enquanto esta novela se desenrola sem qualquer novidade em relação a centenas de outras que já vimos no passado - com apitos, cartões, malas, bombas, fruta... - os Benfiquistas - deve ser mesmo uma questão de fé -, acham que o novo super-herói Marco Silva, tem o poder de com o seu pensamento eliminar todos estes obstáculos!!! É preciso ter mesmo muita fé...!!!
Tudo isto, quando todos os Benfiquistas, em Julho, quando a nova Benfica TV foi inaugurada, assumiam que o 'ataque' ao Benfica esta época, seria muito maior do que em anos anteriores.

PS: A irritação dos Benfiquistas com a declaração honesta do Presidente Lagarto, assumindo não conhecer Rui Costa, é completa infundada!!! Ainda se Bruno Carvalho tivesse ido a Nyon, ao sorteio das competições europeias!!!! Agora, como ainda não sabe o caminho para Nyon, até é normal...!!!

Con(trastes)

"Ainda só se atingiu 1/5 da Liga e parece que estamos na antecâmara do fim da prova, tal a efervescência e guerrilha que a vem envenenando. Curiosamente, as jornadas sucedem-se com clamorosos con(trastes). Eis alguns:
O Benfica que havia ganho pontos ao Porto e ao Sporting, jogando fora, perde os mesmos pontos a seguir, jogando em casa.
Jorge Jesus esteve em três campos na jornada anterior, disse Paulo Fonseca. O técnico portista, nesta jornada, esteve apenas em dois. É mais económico e eficiente.
Enquanto o Benfica terá de meter requerimento para uma grande penalidade, a fartura de penalties abunda em outros ambientes. O penalty mal marcado contra o Porto no Estoril foi compensado por um penalty mal marcado a seu favor pela distinta sociedade Proença & Bertino.
Falando em con(trastes), Pedro Proença está entre os melhores do mundo (dizem) lá fora, mas está entre os piores (acho) cá dentro. Já são casos a mais - e curiosamente sempre no mesmo sentido - para não serem relevantes na sua apreciação.
Proença arrogante não dá a mão ao cumprimento do educado Rui Vitória, mas no mesmo palco e em outros jogos, já abraçou comovidamente jogadores e técnico da casa.
Há árbitros que não vêem o que claro foi, enquanto outros há que até conseguem ver o que nunca houve. Os primeiros são cegos, mas os segundos são artistas de primeira água.
O Arouca - excepcionalmente - não tem nenhum jogador expulso antes de receber o Porto. Guimarães, Estoril, etc. tiveram jogadores expulsos e castigados antes de jogar com o Porto.
O Benfica até à 6.ª jornada já perdeu 7 pontos (39% dos possíveis). Na passada época, só à 18% jornada atingiu tal desperdício (13%)."

Bagão Félix, in A Bola

Garay, su casa...

Há desporto para além do futebol

"Dois feitos notáveis e inéditos no nosso desporto. Duas vitórias de eleição em dia de eleições. João Sousa vence o Open na longínqua Malásia, eliminando o nº 4 do ranking e outros acima dele nessa tabela dos melhores. Façanha inédita de um jovem valoroso que faz o seu caminho sem deslumbramentos perversos, sem exibicionismos feitos de tontarias, tatuagens e penteados.
Rui Costa é o campeão do Mundo em ciclismo, depois de uma Volta à França notável e de ser duplo vencedor da Volta à Suíça. Também com a serenidade dos melhores e a capacidade de trabalho e iniciativa que, discreta mas sustentadamente, vem evidenciando época após época. Pena que no hóquei em patins, onde já fomos reis e senhores, tenhamos sucumbido, de novo, numa meia-final ingrata.
Atafulhados pelo futebol jogado e por tudo o que à sua volta se consome entre gritarias, desvarios e, não raro, pouca vergonha, é refrescante para a mente e reconfortante para o espírito ver dois jovens levantarem o nosso direito ao orgulho de sermos portugueses. Como, aliás, noutros desportos bem menos mediáticos que o futebol, desde o atletismo, ao remo e canoagem ou ao judo e vela.
Mera coincidência ou não, estas históricas vitórias surgem num tempo em que, no chamado desporto-rei, ninguém se entende e (quase) todos acusam todos, numa girândola imparável de incompetência, vaidades, má-fé, truques e golpes baixos. Estes acontecimentos despertam-nos para a ideia de que, afinal, sempre há desporto para além do futebol. Desta coluna cujo nome está associado... ao futebol (pontapé-de-saída), as minhas vivas felicitações e o agradecimento a João Sousa e a Rui Costa."

Bagão Félix, in A Bola