Últimas indefectivações
quarta-feira, 27 de maio de 2020
Em memória de uma antiga opulência
"O Benfica sempre se deu bem com adversários da Hungria, mesmo quando os húngaros ainda era dos grandes da Europa. Os velhos nomes passaram pela Luz: Upjest, Vasas, Honvéd... No dia 1 de Novembro de 1989, o mágico clube de Púskas perdeu em Lisboa por 7-0.
Um mal insidioso tomou conta do mundo, espalhando-se como um fedor, virando-nos de costas uns para os outros, transformando a nossa vida numa coisa qualquer que não é a nossa vida. Olho para a data do calendário e percebo que não saio de Alcácer há mais de dois meses, e foi como se tivesse posto na porta da existência letreiro a dizer. Volto já! Maio, não tarda, caminha para o fim. Deveria estar neste momento a preparar-me para ir para mais um Campeonato da Europa, o sétimo da minha carreira de jornalista, viajando para Budapeste, essa cidade sempre sentimental onde Portugal jogará, eventualmente para o ano, o primeiro jogo da fase final. Mas não. Os países escolheram-se dentro de si próprios. Fecharam fronteiras. O futebol caiu num desânimo que entristece adeptos, e nem o anúncio de que vai voltar, ainda que sem público nas bancadas, parece animar as gentes.
O Benfica sempre se deu bem com adversários húngaros. Desde o seu primeiro confronto, em 1960-61, com o Upjest, para a Taça dos Campeões que haveria de conquistar. Vitória por 6-2 em casa; 1-2 na Hungria. Em 1964-65, nas meias-finais, foi a vez do Vasas Gyor: 1-0 fora e 4-0 na Luz. Em 1967-68, nos quartos-de-final, outro Vasas, o de Budapeste: 0-0 e 3-0. O Ujpest vingou-se em 1973/74: 1-1 e 0-2. Em 1975-76, pagou o atrevimento com juros: 5-2 na Luz, 1-3 na Hungria. Depois, o futebol húngaro ficou doente, também atacado por uma espécie de epidemia. Mole, sem chama, perdeu a categoria do passado e os nomes de Kubala e Czibor, Púskas, Hidegkuti e Florian Albert não tiveram sucessores à altura. Ficaram para sempre guardados na memória do romantismo.
1 de Novembro
Quando, no dia 1 de Novembro de 1989, estive na Luz, em trabalho, no Benfica-Honvéd, sabia que o Honved já não era mais a equipa assustadora no final dos anos 40, princípios de 50. Clube do exército húngaro, tinha gente como Ferenc Púskas, que ganhou a alcunha de Major Galopante, Sàndor Kocsis, József Bozsik e Zoltán Czibor, e um treinador chamado Bélga Guttmann. Mas o nome estava ali, sobreposto à realidade. Era o Honved, e só isso merecia uma vénia e um obrigado por tudo quanto deu à história do futebol.
Na Hungria, o Benfica vencera por 0-2. O jogo de Lisboa foi um passeio, numa tarde agradável e luminosa. Os benfiquistas andavam felizes com o regresso de Sven-Góran Eriksson, apesar de Toni, que passou para seu adjunto, ter levado a equipa ao titulo nacional e à final da Taça dos Campeões Europeus perdida nos penáltis para o PSV Eindhoven. Era tempo de sonhos grandes na Europa dos grandes. Os jogadores de categoria afirmavam a categoria: Aldair e Ricardo Gomes no centro da defesa; Valdo, Thern e Vítor Paneira no meio-campo; Diamantino e Magnusson na frente.
Um vendaval vermelho percorreu o relvado verde, bonito. Um futebol gracioso, encantador, à moda dos antigos húngaros, aqueles que se atreveram a ir a Wembley bater a Inglaterra por 6-3, e, no encontro de desforra, chegaram ao descaramento divino que o Eça atribuía ao Alencar: 7-0.
E 7-0 também na Luz, primeiro de Novembro, feriado.
César Brito (15' e 42'), Abel Campos (36'); Vata (62' e 64') Mats Magnusson (86' e 89').
Ah! Pobre Honvéd, de tal, forma destruído. Destruído pela sabedoria de Valdo, de régua e esquadro e tira-linhas, a fazer desenhos finos, a tina-da-china, traçando arbitrárias e pondo os companheiros no caminho da baliza de um infeliz Péter Diszit. Já não lhe bastava o nome complicado, de provocar cãibras na língua de qualquer cidadão português que resolvesse relatar o que se ia passando numa Luz cheia de luz, sobrava-lhe a infelicidade de ter pela frente defesas incapazes e avançados assassinos, os primeiros da sua própria equipa, claro está, os segundos com as camisolas rubras de águia ao peito.
Era apenas um Honvéd bisonho, só com nome e sem conteúdo, mas também tinha sido, primeiro, e Derry City(1-2 e 4-0), como seriam depois o Dnipro (1-0 e 0-3) e o Marselha (2-1 e 1-0), antes da final impossível com o Milan intratável dos holandeses Rijkaard, Gullit e Van Basten (0-1).
A águia voava pelos céus da Europa e sentia-se bem, era ali o seu lugar. Talvez esses céus ainda tenham guardado um lugar para o seu regresso. Um lugar vermelho, agora vazio."
Afonso de Melo, in O Benfica
Eusébio,superstar no Real Madrid
"Em dia de festa, o Real Madrid exibiu em Madrid uma equipa peculiar, com Eusébio a envergar a camisola dos 'merengues'.
Em Maio de 1962, o Benfica sagrava-se bicampeão europeu, após uma final sensacional em Amesterdão, contra o Real Madrid de Puskás, Di Stéfano e Gento. A estrela emergente do Benfica, o jovem Eusébio, marcou dois dos golos que deram o título europeu ao Benfica, o jovem Eusébio, marcou dois dois golos que deram o título europeu ao Benfica. Durante os anos seguintes, o avançado benfiquista assumiu o protagonismo no futebol nacional e internacional.
Ao longo da sua carreira, Eusébio foi convidado para diversos eventos, entre eles, em 1972, para participar num jogo de homenagem a Francisco 'Paco' Gento, extremo madrileno, inserido nas comemorações do 25.º aniversário do Estádio Santiago Bernabéu.
Curiosamente, a equipa convidada para o evento foi aquela que, 1947, inaugurou aquele mesmo estádio: o Belenenses. Para alinhar pelo Real Madrid, ao mais talentoso internacional português juntaram-se outros três grandes nomes do futebol europeu: o romeno Nicolae Dobrin de Arges, o jugoslavo Dragan Dzajic do Estrela Vermelha e o húngaro Ference Bene do Úspest FC, pois 'o Real quis formar uma linha dianteira à base de estrangeiros'. O homenageado, considerado por muitos como o nariz rápido extremo do mundo, era 'uma figura quase lendária do clube'. O jogo foi caracterizado pela imprensa nacional como 'um jogo artístico, quase de circo, com alguns futebolísticas, especialmente os 'super-stars', a quererem mostrar quanto valem'.
O avançado do Benfica, apesar dos seus 30 anos, impressionou os cerca de 70 mil adeptos que se deslocaram, naquela noite de 14 de Dezembro, ao estádio do Real Madrid. Era 'Eusébio que de vez em quando espantava o público com as suas arrancadas fulgurantes e colocava a bola à frente dos companheiros com passes primorosos' e tudo isto 'sem correrias, sem loucuras. Apenas com talento'. Somente um futebolista de primeira categoria como Eusébio seria capaz de um espectacular entendimento com companheiros de equipa com os quais não jogava, estando envolvido nos lances dos dois golos do Real Madrid. Eusébio e Dobrin 'fizeram do futebol um jogo extremamente fácil. Ambos montaram cátedra e demonstraram como se joga em tabela, como se coloca a bola à frente de um companheiro lançado para golo, como se refém o esférico e como se produzem jogadas'. Só faltou mesmo marcar, mas as suas palavras foram esclarecedoras 'não marquei golos porque não calhou, evidentemente, e porque a defesa do Belenenses não deixou. Mas ainda bem, porque, se tivesse marcado algum, agora quase estava com remorsos - o Belenenses é um clube português e de minha simpatia'. Apesar de não ter sido eficaz na festa de Gento, Eusébio foi o melhor marcador do Campeonato Nacional em 1972/73, com 40 golos, e o vencedor da Bota de Oura, a segunda da sua carreira.
Saiba mais sobre este especular jogador na área 24 - O 'Pantera Negra' e Outras Lendas do Museu Benfica - Cosme Damião."
Carina Santos, in O Benfica
Disney
"1. Uma gelataria de Hong Kong criou o sabor a gás lacrimogéneo para recordar os protestos. Será que têm sabor a estupidez? Calma senhores dirigentes dos clubes portugueses, façam fila. Copo ou cone?
2. Frederico Varandas diz que o nosso futebol é doentio. O diagnóstico é bom, sem dúvida, falta a vacina da coragem contra o terrível vírus da autorregulação.
3. Nunca fui fã do estilo de liderança de Pedro Proença na Liga, mas adiantaria ter mão de ferro em trono de gelatina?
4. «Uma orquestra boliviana de flautas de pan está presa em castelo alemão rodeado por lobos.» Se eu não estivesse habituado ao futebol português, esta notícia (Blitz) até seria surpreendente.
5. A NBA está em negociações para acabar a época no complexo desportivo da Disney. Era uma óptima solução para a nossa Liga. Não nos faltam ratos e patetas.
6. Curioso: o regresso do campeonato fomentou a retoma de outros dois desportos: ginástica artística e tourada.
7. Acho muito bem que se tenha limitado ao máximo o número de estádios. 18 eram muitos, 15 é que é (talvez 16, vá).
8. Não vejo nenhum problema em os árbitros viajarem com as equipas. O único risco é comerem marisco para lá e um pacotinho de snacks para cá.
9. A ministra da Saúde não quer concentrações para assistir aos jogos. Imagino que as agressões entre claques também fiquem limitadas a pequenos grupos.
10. O Marselha contratou um Cientista de Informação Desportiva, para analisar dados. Lembro-me logo da frase épica de Manuel Cajuda. «Hoje fala-se em encurtamentos, transições multissetoriais, passe de primeira e segunda estação, mas ninguém fala do passe de m...»
11. Quase todos os dias são dias D em Alvalade: dívidas ou demissões. Assim não há clube que aguente.
12. O PAN quer impedir que os deputados tenham cargos no desporto. Só uma dúvida: a ideia é proteger os deputados da selva ou a selva dos deputados?
P. S. - Caro leitor, continue a cuidar-se e lembre-se: mais vale um desconfiado na mão do que dois desconfinados a voar."
Gonçalo Guimarães, in A Bola
Em Maio começaram as 'nortadas'
"Ainda faltam duas semanas para a retoma da Liga mas sente-se já a poeira que anda no ar, trazida por palavras que espalham a desconfiança e agitam a suspeição
A cartinha que resolveu enviar ao Presidente da República, solicitando-lhe, pelo que consta, que intercedesse junto das operadoras no sentido de aceitarem a transmissão de jogos da Liga em canal aberto, foi apenas o último problema que Pedro Proença arranjou desde que decidiu interromper o campeonato sem se dar ao cuidado de abordar o caso com elas ou, no mínimo, ter a elegância de informá-las do facto consumado e dar-lhes as necessárias explicações antes da notícia ser pública.
No desejo de tornar-se o actor principal em todo o processo, foi ziguezagueando para não perder o equilíbrio e retardar até ao limite do possível o trambolhão anunciada. Era uma questão de tempo. A missiva dirigida a Marcelo, na sequência de outras tendo por destinatários membros do Governo, foi apenas a gota que fez transbordar o copo. Não lembraria nem ao Diabo procurar envolver a primeira figura de Estado em tema menor e, ainda por cima, que o tivesse feito, mais uma vez, sem sujeitar a sua magnífica ideia a uma discussão prévia com quem se julgava no direito de ser informado. Se bem percebi, a direcção da Liga.
Pedro Proença diz entender mal a reacção que a sua atitude suscitou e respaldou-se na posição antes assumida pelo secretário de Estado de Juventude e Desporto, o qual também admitira a solução de abertura de transmissões televisivas, de modo a evitar ajuntamentos em cafés, restaurantes e outros espaços comerciais. O governante em causa pode ser muito hábil noutras tarefas e noutras áreas, mas no exercício específico das funções para que foi eleito, enfim, o ainda presidente da Liga só por ingenuidade imperdoável terá tomado como boa a comparação que se lembrou de apresentar em sua defesa.
Marcelo sem sequer leu a cartilha, pois claro, e o caldo entornou-se, não só pelo atrevimento do remetente, mas também pela trapalhada que deve ter incomodado as administrações das operadoras por causa do défice de contenção revelado por quem se deixou trair pelo seu excesso de entusiasmo.
Vejo em Pedro Proença uma pessoas inteligente, educada, cortês e que sabe pensar, mas a solidão perturbou-se e retirou-lhe a capacidade de reflectir, procurar apoios e delinear uma estratégia segura e que a protegesse de uma constipação à primeira corrente de ar. O acordo com transmissões em canal aberto deveria ter sido tratado nos locais próprios. Não sei se alguma abordagem foi feita, mas partindo do princípio que sim não me custa acreditar que todas as operadoras, até por respeito aos seus assinantes, terão destacado a inoportunidade da sugestão, que também tem motivado discussão em Inglaterra, por exemplo, sem progressos significativos.
O calendário está concluído e creio que houve a preocupação de retirar os jogos de FC Porto e Benfica dos fins-de-semana, pois só na jornada 30 a águia recebe o Boavista, no sábado, e o dragão o Belenenses, no domingo.
Nas restantes, os dois candidatos ao título jogam a meio da semana e em dois horários, apenas com uma excepção, o Marítimo-Benfica, às 18 horas, sempre depois das sete da tarde ou das nove da noite. Prevaleceu esse cuidado e as aglomerações,que até ao momento a população em geral tem sabido evitar com sábia prudência, a ocorrerem, não passarão de atropelos isolados, sobretudo no exterior dos estádios, e promovidos pela estupidez das claques, mas sem nenhuma relação com o facto de os jogos serem transmitidos em canal aberto ou pago.
Voltando a Pedro Proença, e como a coerência não é uma das características da classe dirigente, vou seguir com interesse as cenas dos próximos capítulos, para ver o que irá acontecer na assembleia geral de 9 de Junho: se ela aprovará ou não a sua saída e independentemente da deliberação que vier a ser tomada qual será a atitude do ainda presidente da Liga. Isto é, se aceita continuar a servir de bola neste pingue-pongue de interesses ou se, tomando consciência dos erros que cometeu (só não erra quem são decide), agradece a confiança nele depositada e vai à sua vida.
Poderá parecer uma saída cambaleante, mas de cara levantada. Porque se adivinham tempos muito complicados que podem obstruir o imenso esforço que está a ser desenvolvido para se completar o campeonato com a normalidade possível, dado ser no mês de Maio que começa a época dos nortadas e acaba a época dos futebóis. A diferença é que, por força das exigências da pandemia, este ano vão conciliar até ao final de Junho, o que nada, mesmo nada, indicia de tranquilizador.
O confinamento obrigatório foi sufocante e apesar de ainda faltarem duas semanas para a retoma sente-se já a poeira que anda no ar, trazida palavras ditas escritas que espalham a desconfiança e agitam a suspeição. O costume, tal como convém a quem aprecie este tipo de comunicação feito de frases suspensas, usual em ambiente de cabaré do antigamente: todos fazem de contam que se entendem, sem ninguém se comprometer. Assim nascem os boatos..."
Fernando Guerra, in A Bola
Regresso a Casa: Benfiquistas de todo o mundo, uni-vos!
"Não, não sou comunista. Não acredito em utopias nem em mitos e ideias irrealizáveis. Se calhar até consigo sonhar alto, como a ínfima possibilidade de o Sport Lisboa e Benfica se sagrar campeão europeu. Mas se calhar nós, portugueses, também nunca pensámos que nos viríamos a sagrar campeões de duas competições internacionais, e, no entanto, os pés direitos de Éder e de Gonçalo Guedes chutaram o sonho português para dentro da baliza.
Porém, com o título alegórico que dei a este texto pretendo fazer uma chamada de atenção a todos os Benfiquistas que perderam a confiança no nosso Glorioso, antes de um vírus nos ter afastado o futebol. Sim, perdemos os sete pontos de vantagem que tínhamos sobre o Futebol Clube do Porto, e sim estamos agora em segundo lugar do campeonato português a um ponto do primeiro classificado.
Benfiquistas, vamos olhar para esta pausa prolongada como um timeout, daqueles que se fazem no basquetebol, por exemplo. Vamos acreditar que os jogadores e todo o staff vão voltar com ainda mais empenho que antes para chegar ao fim e levantar a taça por todos nós. É apenas um ponto. Claro, não estamos a depender de nós próprios, mas é apenas um ponto. O nosso papel a desempenhar é muito simples: apoiar, deste lado do ecrã, enquanto a equipa faz o espectáculo nos campos de futebol.
Na minha passagem pelo Bola na Rede, na época 2018/2019, redigi um artigo de opinião no qual fiz precisamente aquilo que estou a fazer agora neste Regresso a Casa, sendo que ainda estávamos a 17 jornadas do fim, a cinco pontos do FC Porto, e já se ouvia o barulho das toalhas a cair ao chão, por parte daqueles que as devem segurar até ao fim, os adeptos. Tal como escrevi nesse mesmo artigo: “isto não é uma atitude à Benfica”.
Vamos então mostrar por todo o lado que os adeptos, apesar de não poderem estar presentes nas bancadas, estão aqui, deste lado, a apoiar a nossa equipa. Vamos mostrar o que é uma atitude “à Benfica” ao Jorge Baptista Laires de 2019. Mal sabia ele, coitado, que estaria cerca de um ano depois fechado em casa sem poder ver um joguito ou outro do seu Benfica, não podia ir ter com os avôs ao café para ver o Glorioso jogar, nem com os amigos que vestem a mesma cor para berrar os golos do Benfica.
Avante, Benfiquistas!
Avante pelo Benfica!
PS: desculpem-me as contínuas referências. Volto a frisar que não sou comunista."
SL Benfica | Milhões empatados devido à COVID-19
"Com a situação mundial, provocada pelo surto do coronavírus, a conjuntura económica dos clubes deteriorou-se bastante. Agora, os clubes (sobretudo os clubes sem investidores) irão procurar soluções mais acessíveis e explorar a sua formação. Isto é bom do ponto de vista da sustentação do clube, mas é negativo para emblemas que procurem colocar jogadores. O SL Benfica enquadra-se perfeitamente nisto.
Os encarnados serão privados de cerca de 20 milhões de euros, fruto de cláusulas de compra que não serão activadas. No lote de emprestados que irão regressar à Luz estão Bruno Varela, Ferreyra, Cádiz, Lema e Fejsa (podendo ainda incluir-se outros jogadores como Pedro Pereira).
Facundo Ferreyra esteve emprestado uma época e meia ao RCD Espanyol, onde marcou nove golos em 33 partidas. Esta temporada o avançado argentino tinha vindo a receber poucos minutos, mas com a chegada de RDT as oportunidades escassearam ainda mais. Ferreyra regressa agora à Luz, mas dificilmente será opção para Bruno Lage. O já experiente avançado parece estar longe da forma que demonstrou nas últimas épocas ao serviço do FC Shakhtar Donetsk.
Bruno Varela representou o AFC Ajax nas últimas duas épocas. No entanto, o guarda redes luso-cabo-verdiano tem apenas três jogos realizados e nestas três partidas não impressionou os responsáveis do clube de Amesterdão.
Bruno Varela regressa agora ao SL Benfica, onde até poderia ser um bom suplente para Vlachodimos, mas o seu futuro deverá passar pela saída do clube encarnado.
Jhonder Cádiz esteve esta época emprestado ao Dijon FCO. Na Liga Francesa, Cádiz chegou a impressionar, tendo marcado quatro golos em 20 jogos, incluindo o golo da vitória frente ao PSG. O avançado venezuelano tem, na minha opinião, alguma qualidade, mas dificilmente consigo imaginar um cenário onde seja habitualmente opção nos encarnados.
Jhonder Cádiz, provavelmente, ainda dará um pequeno encaixe financeiro à equipa das águias.
Depois do empréstimo ao CA Penarol, Cristian Lema esteve esta época emprestado ao CA Newell’s Old Boys clube histórico de Messi e Marcelo Bielsa. Após 22 jogos e cinco golos, o clube argentino demonstrou interesse em adquirir em definitivo o jogador, mas não estava disposto a pagar a cláusula de compra de 2,5 milhões de euros. Lema já demonstrou não ter interesse no regresso a Portugal, passando o seu futuro por um novo empréstimo ou uma venda a um clube sul-americano.
De todos os jogadores nesta lista, Ljubomir Fejsa foi sem dúvida o mais importante para o SL Benfica, mas com a chegada de Bruno Lage perdeu espaço no meio campo dos encarnados. Em Janeiro foi emprestado Deportivo Alavés, onde realizou apenas cinco jogos. O clube espanhol já disse que não irá accionar a cláusula de compra, obrigando assim o jogador a regressar ao clube encarnado. Dificilmente Fejsa conseguirá recuperar o lugar num “lotado” meio campo encarnado. O futuro do sérvio deverá passar por uma transferência ou mesmo uma rescisão de contrato amigável. Uma partida ingrata para um jogador que tanto deu ao clube.
Germán Conti está emprestado até dezembro. Yony González irá render três milhões de euros aos encarnados (na sequência do negócio de Pedrinho). Filip Krovinovic provavelmente continuará em definitivo no West Bromwich Albion FC. Gedson Fernandes está emprestado até ao final da próxima temporada, podendo o Tottenham Hotspur FC exercer a cláusula de compra de 50 milhões de euros. Caio Lucas, emprestado ao Al Sharjah FC dos Emirados Árabes Unidos, conta com uma cláusula de compra a rondar os dez milhões de euros."
Tudo muda para que tudo fique na mesma
"A Liga ainda não recomeçou e o futebol português continua igual a si próprio. A situação mais mediática é a da eventual saída de Pedro Proença, que, aparentemente, terá irritado alguns clubes por defender a transmissão dos jogos em sinal aberto. É um dossier complexo: envolve demasiados milhões de euros. Por um lado, é inegável que as operadoras (e a própria SportTV) vão querer defender a sua posição, os seus investimentos e as suas fontes de rendimento. Os clubes, naturalmente, temem que um cenário diferente do actual os penalize financeiramente. No entanto, com os estádios fechados ao público, jogos fora do circuito pago seriam uma agradável surpresa nesta pandemia, e podia-se até prevenir eventuais aglomerados desnecessários de adeptos ávidos para acompanhar os jogos do campeonato.
Pelo meio, percebe-se também que já surgem desentendimentos entre vários clubes e a Altice, devido ao pagamento (ou falta dele) dos direitos televisivos de Abril e Maio. Além disso, a NOS já assegurou que não vai prolongar o contrato de patrocínio da Primeira Liga. Repito, o dossier é complexo, mas este avolumar de situações prometem semanas de mais polémicas. Tudo como dantes, portanto.
Frágeis continuam também os jogadores. Desde isolamento prolongado de desportistas saudáveis (terá um quê de inconstitucional?), maior risco de lesões - como aconteceu na Bundesliga - e, evidentemente, maior risco de contágio em treinos e jogos. Começa a ficar a ideia que os atletas não tinham grande alternativa: ou jogam ou jogam. A ideia do recomeço, ao que sei, não é consensual entre todos, mas os desabafos tendem a ficar em off.
Infelizmente, muitos jogadores têm gatilho rápido nas redes sociais, mas pouca vontade para abordar directamente os problemas que os afectam enquanto classe. É certo que milhões de trabalhadores estão também (demasiado) expostos aos riscos da pandemia, e se esses devem ser defendidos acima de tudo, os jogadores são também trabalhadores e têm o mesmo direito de estar em segurança (ou, pelo menos, junto das famílias). Não esquecer que um suplente de uma equipa de meio da tabela dificilmente ganha um salário principesco…
Para finalizar, a perder a 100% estão os adeptos. Os jogos vão ser à porta fechada, e não sabemos quando os estádios voltam a abrir. A julgar pela postura de muitos clubes nesta fase de recomeço da Liga, os adeptos não estão no topo das prioridades, pois não representam uma fatia fundamental nas receitas dos clubes. Que, sejamos francos, na era dos clubes-empresa, é o que interessa.
Se os estádios acabarem por abrir com limitações, o que os espera? Bilhetes mais caros pela escassa oferta e muita procura? Prioridade para quem teve lugar ou bilhete anual em épocas anteriores? Todo um mar de dúvidas. E com os jogos apenas disponíveis nos canais pagos, e com os efeitos de uma anunciada crise, também se percebe que muitos vão perder o acesso ao espectáculo futebol. Preocupante, mas nada de novo.
Lá está, tudo muda para que tudo fique na mesma."
Liga Menos ao Futebol
"O campeonato volta para a semana. O futebol? Não sei.
No futebol, ainda não há sinais do regresso à normalidade. Abro um site de um jornal desportivo e a homepage rapidamente me apresenta a resposta em relação a uma pergunta que há muito fazia na minha cabeça: quem será o novo treinador do F91 Dudelange, o actual detentor do título de Campeão do Luxemburgo? A investigação jornalística não desilude: é Carlos Fangueiro quem vai estar ao leme dos colossos luxemburgueses. Pronto.
O pior? Muito dificilmente seremos compensados desta longa abstinência futebolística com uma merecida bebedeira de bola. Se em Portugal se praticava um futebol pobre no pré-Covid, para a semana começará algo provavelmente semelhante a um Interturmas do 2º ciclo de um agrupamento de escolas no Interior do país. Se o debate futebolístico já era baixo e infantil, imaginemos nos próximos dois meses, em que, dado o pouco tempo entre jornadas, poucas horas haverá para debater lançamentos laterais, inventar crises internas, pressionar árbitros e levar a cabo comédia de adereços em programas no cabo.
Os jogos serão à porta fechada, o que é necessário mas triste. Mas mais deprimente é a ideia de utilizar o sistema de som dos estádios para replicar o apoio dos adeptos. O ambiente no futebol não se pode comprimir num .mp3. Não estou a ver os adversários que visitarem o Estádio da Luz a sentirem-se intimidados com o CD "Ninguém Pára o Benfica Vol. 2" que saiu com “A Bola” em 2002 ou algo assim. E, já agora, se a playlist não incluir uma faixa de assobios ao Pizzi, não estará a replicar na perfeição o complexo ambiente da Luz. Não, não. Já joguei demasiado FIFA nos últimos dois meses para continuar a querer uma simulação.
A NOS não renovará o patrocínio com a Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Especula-se sobre qual poderá ser o novo patrocinador: Liga Sagres, Liga Prozis ou Liga Car Wash e Detalhe Automóvel "O Cláudio" - Quinta do Conde - Setúbal. Mas um sponsor não tem necessariamente de ser uma marca, pode ser um conselho. Nesse sentido, e tendo em conta a qualidade do futebol, o peso mediático do extra-futebol e a situação financeira de muitos clubes, o melhor nome que o campeonato poderia ter era Liga Menos. A obsessão com o futebol não aumentou a qualidade do desporto que é praticado em Portugal. Prestar-lhe menos atenção pode ser uma estratégia vencedora para melhorá-lo."
Suicídios no desporto
"No passado fim de semana fomos confrontados com as notícias de que o futebolista sérvio de 38 anos Miljan Mrdakovic, que alinhou pelo Guimarães em 2007/2008, e de que a japonesa Hana Kimura, ‘Pro Wrestler’ de 22 anos, teriam cometido suicídio. Ventila-se que o primeiro caso poderá ter acontecido devido a uma depressão do jogador, enquanto o segundo poderá ter origem em ‘online bullying’.
De imediato nos vem à memória os nomes do antigo guarda-redes do Benfica, Robert Enke (suicídio em Novembro de 2009, aos 32 anos), e a do ciclista Marco Pantani (suicídio em Fevereiro de 2004, aos 34 anos)… e colocam-se também de imediato as questões: serão frequentes os suicídios entre os desportistas? Quais as causas prováveis dos suicídios conhecidos?
No ano do suicídio de Robert Enke demos conta também também das mortes semelhantes de Christophe Dupouey (campeão do mundo de BTT em 1998), de Mike Whitmarsh (vice-campeão olímpico de voleibol em 1996) e do futebolista brasileiro Marcelo Moço, do ASK Bruck/Leitha, que aos 30 anos foi encontrado enforcado no sótão da casa onde vivia. Ainda em 2009 o ciclista belga Dimitri de Fauw pôs termo à vida aos 28 anos.
Não conseguimos saber se serão frequentes os suicídios entre os desportistas, mas quase que poderemos dizer que são mais do que aqueles que imaginamos ou até daqueles que chegam ao nosso conhecimento através da comunicação social.
O mais antigo suicídio de um desportista que temos conhecimento remonta a 1886 e refere-se ao cavaleiro James Archer. Em 134 anos muito aconteceu… Recordamo-nos entre outros, por terem nomes sonantes devido aos seus desempenhos, de Abdón Porte (futebol), de Luís Ocaña (ciclismo), de Sandor Kocsis (futebol), de Melvin Turpin
(basquetebol), de Antonio Pettigrew (atletismo), da judoka austríaca Cláudia Heill e do andebolista sérvio Novak Boskovic.
Devido à sua tenra idade realçamos o suicídio do halterofilista russo Igor Tepikin, de 15 anos, ocorrido em Moscovo, em 2012… e da ‘snowboarder’ britânica Ellie Soutter em 2018, nos Alpes Franceses, no dia em que completava 18 anos…
Entre nós registamos os suicídios do nadador Rui Abreu (este ocorrido nos Estados Unidos em 1982), assim como do ciclista Gonçalo Amorim em Santarém e de um cavaleiro francês na Herdade da Comporta, ambos em 2012.
A grande maioria destes suicídios é provocada por estados depressivos e de ansiedade, os quais são resultado da pressão colocada em cima dos desportistas, pela sua ânsia de ganharem ou atingirem bons resultados competitivos e pelas exigências de um desporto sujeito ao mercantilismo, a patrocinadores, a dirigentes e treinadores sem escrúpulos, ao uso da imagem e ao consumismo. A máquina desportiva (ao contrário do que muitos parafraseiam) não se compadece com a formação dos desportistas, com a sua maturação, a sua sociabilização e a sua adaptação. Mas o competidor também tem a sua quota parte das responsabilidades ao tentar alcançar os maiores feitos a qualquer preço, ao querer ultrapassar o inultrapassável – os seus próprios limites –, ao arriscar a sua saúde e a sua vida, e a correr atrás da fama, da glória e do dinheiro. E não, não estão sozinhos nesta corrida: nós temos também as nossas responsabilidades ao aclamá-los, ao incentivá-los, ao continuarmos a correr atrás da vitória, do recorde, da exaltação e do herói.
Muitos destes factos ocorrem nas cercanias de outros fenómenos: o treino intensivo precoce, o ‘doping’ e o terminar de uma carreira…
O médico Jean-Pierre Mondénard mostrou-nos em 1998 que dos 667 ciclistas franceses que participaram na Volta à França num espaço de 51 anos (de 1947 a 1998), 77 morreram prematuramente, 30 morreram de cancro, 18 de doenças vasculares, 19 em acidentes de viação e 5 suicidaram-se. Estes últimos são só 0,74%, dirão alguns…
Mas no desporto o suicídio não atinge só os principais intervenientes. Ainda não há muito, em 2011, na Alemanha, o árbitro Babak Rafati tentou cometer suicídio horas antes do encontro entre o Colónia e o Mainz. Em 2012 o treinador russo da equipa feminina de voleibol, Sergey Ovchinnikov, de 43 anos, consumou o suicídio. E só mais um exemplo, este mais recente: Robert Follis, treinador de MMA, cometeu suicídio mais recentemente, em 2017.
Resultado diferente tiveram aqueles que escaparam aos seus impulsos ou que não sucumbiram à depressão. Michael Phelps reconheceu ter pensado em suicidar-se logo após os J. O. de Londres em 2012. Em 2015 o futebolista Emmanuel Adebayor confessou já ter pensado em cometer suicídio em várias ocasiões, tal como em 2016 Ronda Rousey também admitiu que chegou a ponderar o suicídio após a derrota por KO frente a Holly Holm…
Urge estudar esta problemática. Urge proteger a saúde e a vida de competidores seja qual for a sua modalidade, a sua idade ou o seu estatuto desportivo. Urge modificar comportamentos e criar condições para que estes exemplos não se repitam. É urgente que o desporto o permita. E o possibilite!"
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