Últimas indefectivações

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O fado do 31

"1. Há quem lhe chame bazófia. Outros preferem bravata, fanfarronice, farronca, embuste, empáfia, prosápia, ou mesmo charlatanaria ou paparrotice. Por mim é igual. São palavras giras. Geralmente, os autores dessas tais jactâncias, caem no ridículo como se caíssem num pântano de areias movediças. E o ridículo pode não matar, mas cola-se ao corpo como uma mancha de óleo e não há terebentina que a apague.

2. É vê-los, nos pim-pam-puns das televisões e dos jornais: sabem tudo! Arvoram-se em directores-desportivos, em presidentes de clubes, me treinadores e até em médicos. Falta a muitos deles inteligência e alfabetização, mas sobra-lhes uma falsa sapiência que atinge as raias da loucura. Se fossem simplesmente loucos, dava-lhes todo o valor. Mas como não passam de mais actores em peças de teatro miseráveis, mudo de canal ou viro a página.

3. Quem se vangloria sujeita-se a que, em público, o acusem de mentiroso. A decrepitude pode ser encarada com nobreza, porque a idade a todos corrói, ou pode ser vivida de forma grotesca. É uma opção de cada um de nós. Há gente que publica livros e não sabe alinhar uma frase de forma decente, nem de viva voz. Mas, pelos vistos, domina a mentira na sua versão oral e escrita. Versões pelintras de uma opulência mitifica. Ou, bem à portuguesinha, «Olariló Pistaré! O fado do 31!»"

Afonso de Melo, in O Benfica

50 minutos sem rematar à baliza...

"Ontem tive um dia cheio de trabalho, daqueles sem folga para mais nada. No tempo que corre, ter muito trabalho é razão de satisfação e não de protesto. Mas quem gosta de futebol fica com tristeza por perder um boxing day como o de ontem. Em Inglaterra sabem como promover o futebol, ver um Man. United com cinco golos, seguidos de um Arsenal, um Chelsea e terminar com um Man- City-Liverpool é cardápio de luxo. Por cá, bastava sentar no sofá, ligar a Benfica TV e degustar futebol enquanto se acabava com as rabanadas da véspera. Foi o meu sonho de ontem, não realizado. Ontem não me empanturrei de bom futebol.
Em Portugal temos três equipas empatadas na liderança, o que poderia nem ser surpresa, não fora uma delas ser o Sporting. Este Sporting supera as expectativas. Umas análise crítica e séria a este campeonato só tem duas hipóteses, ou dar os parabéns ao Sporting ou criticar Benfica e FC Porto. Em fim de semana de Sporting-FC Porto, deixo um prognóstico, que não um desejo, tudo que não seja ma vitória fácil do FC Porto em Alvalade é para mim surpresa. Gostava que o Benfica jogasse na Madeira com uma equipa para garantir um bom resultado, a Taça da Liga é um título que, como outros, também quero vencer. No ano em Jorge Jesus foi campeão, ganhou a Taça da Liga com vitória esclarecedora. A gestão que desejo no Benfica é ganhar, ganhar, ganhar. Ao contrário daquilo que senti contra o Arouca e Olhanense, contra o V. Setúbal o Benfica não permitiu grandes (nenhumas) oportunidades ao adversário. Mas, realmente, 50 minutos sem rematar à baliza é facto que intriga benfiquistas. Esta pausa pode e deve trazer de volta o nosso bom futebol, a começar já na Taça da Liga. Eu sou daqueles que acreditam num 2014 de vários títulos, e que o fantasma da última época vende jornais mas não intimida a equipa."

Sílvio Cervan, in A Bola

Um ano duro

"Não é fácil escrever sobre 2013. Andámos entre o céu e o inferno, passámos da euforia à depressão, tudo em apenas vinte dias. E ainda não nos recompusemos totalmente.
No dia 6 de Maio estávamos, 23 anos depois, apurados para uma Final europeia, e bastava-nos vencer Estoril, Moreirense e V. Guimarães para, 27 anos depois, voltar a conquistar a 'dobradinha'. Vivíamos, então, às portas de uma das melhores épocas de sempre. No dia 26 de Maio, tínhamos perdido tudo.
Os golpes foram fundos. Sobretudo o desferido por um tal Kelvin, cujo nome ainda me arrepia pronunciar, aos 92 minutos de um jogo cuja memória ainda me custa digerir.
Na hora do balanço, não é justo, não pode ser justo, limitar o ponto de vista estritamente aos troféus que nos fugiram das mãos. Todo o percurso dos quatro primeiros meses do ano foi fantástico, e merece ser relevado.
A chegada a uma Final europeia não é, não pode ser, uma perda - entra para a história, como, por exemplo, a de 1983. A mágoa não tem de trazer indignação, agitação, nem qualquer caça às bruxas. O que não significa que descole facilmente das nossas almas, até porque a nova época ainda não nos deu motivos para esquecer a anterior.
Para lá do Futebol, pode dizer-se, porém, que 2013 foi um ano de sucesso. À cabeça de uma lista de triunfos surge o Hóquei em Patins, com o inédito título europeu, conseguido em circunstâncias particularmente saborosas (de que, infelizmente, devido a um motivo familiar da força maior, não pude desfrutar) -, ao qual se seguiram, já na nova temporada, outras conquistas internacionais. Os campeonatos de Basquetebol e Voleibol também vestiram de vermelho. O Futebol Formação trouxe-nos títulos em duplicado (Juniores e Juvenis) o que não acontecia desde 1989. O impressionante Museu Cosme Damião foi inaugurado. A Benfica TV entrou numa nova fase da sua vida.
2014 está à porta. A serenidade e a união são as melhores chaves para o tornar melhor que 2013. Um desejo? Que a sorte nos devolva aquilo que nos retirou."

Luís Fialho, in O Benfica

Natal (quase) vermelho

"O tempo é de balanço. Balanço de Natal, quase meia temporada cumprida. Natal vermelho? Não. Infelizmente, não. Natal desbotado? Não. Felizmente, não.
O Benfica lidera a Liga portuguesa, ainda que em igualdade pontual com o Sporting e o FC Porto. Certo que os desaires caseiros, duas igualdades inoportunas e de todo imprevistas, macularam uma campanha, que até começou mal, a Madeira, mas já conheceu séries vitoriosas, conferindo fôlego emocional ao universo benfiquista.
Com tudo em aberto, inclusive já cumprida a deslocação ao anfiteatro de Alvalade, não existe nenhuma razão para descrer numa temporada vermelha. O mesmo juízo pode e deve ser feito com valimento para as outras duas competições domésticas. Na Taça de Portugal, Sporting já eliminado na Luz, o trajecto só pode estar aberto na direcção do Jamor, respeitando-se todos os oponentes,ainda que sem qualquer receio. Tal e qual como na Taça da Liga, de resto uma prova com histórico hegemónico do Benfica.
A eliminação da Champions, reconheça-se, foi um percalço assinalável, por mais que o pecúlio pontual (dez pontos averbados) traduza consistência, só que aquele jogo em Atenas (atípico, invulgar, cruel) aniquilou as legítimas ambições ao apuramento. E agora? Liga Europa? Qual o temor de assumir a candidatura à vitória, ademais depois da presença na final no último ano?
Este Natal não é totalmente vermelho, mas o vermelho não desbotou. Mais segurança, mais ambição, mais apoio. Essa bem pode ser a receita para uma época de epílogo vermelho."

João Malheiro, in O Benfica

Ano de azares

"1. Com uma difícil vitória em Setúbal - bem melhor o resultado que a exibição... -, estamos chegados ao final do ano, no que ao Campeonato diz respeito. Ano que não deixa saudades. A par de alguma inaptidão (mais flagrante no Final da Taça e na parte inicial desta época), houve também muito azar naquele terrível mês de Maio. O empate com o Estoril, quando tínhamos o merecido título na mão, foi trágico. Depois, perdemos no Porto nos descontos de tempo. A seguir, fomos os melhores na Final da Liga Europa (grande exibição!) mas perdemos muito imerecidamente. O jogo no Jamor já foi o resultado de todos os azares anteriores.
Se acabámos muito mal, não começamos melhor. Primeiro com a lesão de Sálvio, um dos melhores elementos do plantel. Depois, entre vários outros impedimentos, os de Cardozo (que estava a fazer a sua melhor época de sempre) e de Rúben Amorim (que se revelara fundamental na nova opção táctica) foram determinantes neste começo de Campeonato aos soluços.
Entre azares (nomeadamente em Atenas) e culpas próprias (empate caseiro com os gregos), o Benfica 'conseguiu' ser eliminado da Liga dos Campeões somando nada menos de 10 pontos. Enfim, tudo a correr mal neste ano, durante o qual a Direcção fez uma forte aposta na equipa.
Valeram as modalidades: o Hóquei ganhou o título europeu (e, para mais no rinque do FC Porto) e o Atletismo, Basquetebol e Voleibol sagraram-se Campeões Nacionais.
Claro que queremos sempre ganhar tudo (e só nós o podemos conseguir, pois estamos em todas as principais modalidades) mas, não sendo possível, o balanço foi largamente positivo. E, nesta época, voltamos a estar na luta em todas elas.
Resta, neste bravo balanço, referir o momento alto do ano: a inauguração do nosso excelente Museu Cosme Damião. Nem tudo foi negativo...

2. Bastou um inesperado empate, quando já faziam a festa do Natal, para que presidente do Sporting, Bruno Carvalho, que até aqui surpreendera pela positiva, perdesse as estribeiras e desatasse a enviar críticas e recados para todos os lados, sem o mínimo nexo. Por esta amostra, quando o seu clube começar a perder, vai ser o bom e o bonito..."

Arons de Carvalho, in O Benfica

Natal

"O meu avô Guerra, que era minhoto e Benfiquista, costumava levar-me ao circo pelo Natal, no Coliseu dos Recreios. Mas houve um ano que me levou ao Campo Grande para ver o Benfica. Fomos de eléctrico, dos Restauradores ao Lumiar, e o meu avô disse-me que, se tivéssemos ido mais cedo, teríamos porventura encontrado uma ou outra das estrelas do Benfica que em dias de jogo viajavam para o campo nos amarelos da Carris.
Jogavam pelos nossos, entre outros, Jacinto, Moreira, Francisco Ferreira, Félix, Rogério, Julinho, Arsénio, e eu fiquei maravilhado com o que vi. De tal maneira que até acreditei que era especialmente para mim, que me estreava a ver Futebol a sério, que todos jogaram tão bem e pespegaram com seis golos ao Vitória de Setúbal, que marcou o ponto de honra quando já havia espectadores a sair do recinto.
Como era miúdo, e os adeptos me tapavam a vista para o campo quando se levantavam a festejar a equipa, contei a maior parte dos golos pelos gritos e aplausos.
Naquele tempo não se chamava hat-trick, mas Julinho marcou três, Rogério e Arsénio mais dois e do outro não me lembro.
Depois, como residia fora de Lisboa, passei a ver o Benfica só quando a equipa ia jogar perto de mim, no campo da Amoreira.
Mas agora, no Museu do Benfica, rememorei que aquele velho Campo Grande foi palco de algumas das maiores goleadas do Glorioso: 12-2 ao Porto, em 1943, 7-2 ao Sporting, em 46, 13-1 à Sanjoanense, em 47, ainda hoje recorde das goleadas no campeonato nacional, 9-0 ao Vitória de Setúbal em 1954, na despedida do Campo Grande.
Sei que aquele foi um Natal redondo, com 11 de cada lado, e no fim ganhou o Benfica. Mas não sei se tudo se passou assim mesmo ou se isto foi em grande parte sonho de uma quadra de Natal."

João Paulo Guerra, in O Benfica

O que representa o 'boxing day'

"No dia de Natal, em Los Angeles, defrontaram-se os Lakers e os Heat, duas das mais sonantes marcas do basquetebol profissional norte-americano. No Stapples Center estiveram, a trabalhar, alguns dos desportistas mais bem pagos do planeta, de Pau Gasol e LeBron James, sem um queixume, uma lamúria que fosse por não terem tido o Natal que provavelmente gostariam. Contribuir para o sucesso da indústria do basquetebol é um imperativo e como ninguém quer, não digo matar, mas pelo menos pôr a dieta a galinha dos ovos de ouro, a solução é calçar os ténis e produzir um espectáculo de altíssimo nível para os consumidores que estão naquele dia particularmente disponíveis.
Na Premier League inglesa, ao contrário da NBA, não se jogou a 25 de Dezembro mas jogou-se a 26, no famoso boxing day. E houve grandes jogos, o mais fabuloso dos quais o Manchester City-Liverpool, que foi um verdadeiro banquete natalício de futebol. Estádios cheios, audiências televisivas tremendas (em todo o mundo), ou seja, os consumidores com altíssimo índice de satisfação.
Nos Estados Unidos e em Inglaterra a indústria do desporto é próspera também porque vai à procura da maior disponibilidade, física e financeira, dos adeptos. São, pois, bons modelos para serem seguidos. Por Portugal também.
Não digo que se jogue a 25 ou a 26 de Dezembro, por cá não há essa tradição. Mas dever-se-ia seguir o princípio de jogar quando é mais conveniente para quem vai aos estádios, dar espectáculo no dia e hora onde a disponibilidade de quem paga é maior.
E se esse princípio fosse seguido, a calendarização dos principais provas seria, por certo, muito diferente, bem como o formato das competições. Por isso é que uns têm e outros não..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Bastidores...