Últimas indefectivações

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O nosso homem em Viana do Castelo

"As audiências televisivas quebraram quando Cardozo marcou no Funchal. Até então o jogo era seguido por 7 milhões de espectadores. Depois apenas ficaram 6 milhões agarrados ao ecrã


A Federação Portuguesa de Futebol tem um novo presidente. A arbitragem tem o mesmo presidente: Vítor Pereira ganhou por um voto e poderá agradecer a vitória ao delegado de Viana do Castelo que faltou com a sua presença ao referido acto eleitoral.

Segundo os relatos da imprensa ficou-se com a ideia, porventura errada, de que o delegado de Viana do Castelo viria a Lisboa votar no concorrente que haveria de perder as eleições para a presidência dos árbitros.

São desnecessárias e abusivas as comparações entre este episódio do voto colegial e o episódio mais antigo do deputado que um dia surpreendeu a Assembleia da República e todos os prognósticos ao trocar a sua posição pelas venturas da indústria do Queijo Limiano.

O Minho é o cenário destes dois casos, concluirão os leitores mais expeditos.

Façam o favor de se deixar de conclusões primárias, digo eu.

Entre o deputado do Queijo Limiano e o delegado de Viana do Castelo a única coisa que há em comum é o bola. A bola do queijo, naturalmente.

Se foi o delegado de Viana do Castelo que, por falta de comparência, reconduziu Vítor Pereira na presidência dos árbitros, esse facto não deslustra o resultado eleitoral nem sequer ensombra a próxima gerência do presidente do sector. Vítor Pereira vai continuar a ser o homem mais importante da arbitragem portuguesa.

Embora haja sempre quem em tudo pressinta e veja conspirações do mais alto teor. E para esses, como não podia deixar de ser, o homem mais importante da arbitragem portuguesa é, desde o último fim-de-semana, o delegado de Viana do Castelo.


O Sporting jogou ontem com a Lazio e a sua comitiva directiva que viajou até Roma dividiu-se ao meio.

Meia comitiva, sob a liderança de Luís Duque, dirigiu-se à Cidade do Vaticano para uma visita ao Papa e a outra meia comitiva, sob a liderança de Paulo Pereira Cristovão, dirigiu-se à embaixada de Portugal na capital italiana para um almoço com o nosso embaixador em Roma.

Curiosamente, mas ainda fresquinhas eleições para a Federação, o Sporting teve uma atitude muitíssimo parecida. Sob a égide de Godinho Lopes, meio Sporting apoiou a candidatura de Fernando Gomes à presidência, e sob a égide de Luís Duque, o outro meio Sporting declarou todo o seu apoio à candidatura de Carlos Marta, que haveria de sair derrotado no acto eleitoral.

Chama-se a isto altas diplomacias.

Estão sempre bem, venha quem vier.

E o Sporting gosta de ir ao Papa. Sempre gostou.


«QUE joguem assim contra os nossos adversários», disse Jorge Jesus no fim do jogo do Funchal. Referia-se decerto à forma combativa como o Marítimo disputou os dois jogos com o Benfica, vencendo um e perdendo outro, sempre por resultados tangenciais, sofridos, que atestam o equilíbrio das lutas entre os adversários em questão.

Não foi por amor que Jesus disse o que disse. Foi por interesse. E o interesse de Jesus é o interesse de 6 milhões de benfiquistas, mais milhão ou menos milhão.

Ao Benfica interessava muito que o Marítimo chateasse o mais possível o FC Porto e o Sporting, nos jogos que ainda têm de disputar para o campeonato. Embora o Sporting já tenha sido suficientemente chateado pelo Marítimo, ainda por cima em casa, onde estes percalços ainda chateiam mais.

No entanto, devemos ser racionais nestes pormenores de uma prova maior. No domingo, nos Barreiros, o Marítimo, apesar de não ter tido uma oportunidade flagrante de golo, chateou bastante Jesus e os benfiquistas com a persistência e eficácia com que defenderam o 0-0 até quase ao fim da partida.

Mas, de certeza absoluta, que não houve nenhum jogador do Marítimo que tivesse chateado tento Jesus e os benfiquistas, ao ponto da exasperação, como Óscar Cardozo, naquele segundinho ainda na primeira parte, quando o paraguaio encontrando-se diante da baliza, sem nenhum adversário por perto, chutou para fora.

Esse momento fugaz de desconcentração, ou se preferirem os anti-Cardozo, de inépcia, acabou por ser a emoção maior, a grande alegria que viveram os nossos tais adversários na última jornada do campeonato. O mesmo Cardozo haveria de acabar com a chinfrineira e redimir-se na segunda parte, como é do conhecimento geral.

A tabela das audiências televisivas prova isto tudo muito bem provado. O canal da Sport TV que, no domingo, transmitia em directo o Marítimo-Benfica teve cerca de 7 milhões de espectadores grudados ao ecrã até aos 82 minutos de jogo quando Óscar Cardozo, finalmente, acertou com a bola dentro da baliza.

A partir dos 82 minutos, a tabela de audiências registou um abandono de 1 milhão de telespectadores que se desinteressaram do jogo assim que o Benfica se pôs a ganhar.

E desse 1 milhão de desistentes, metade era do Sporting. E dessa metade que era do Sporting, há que contar a facção que foi ao Para, a facção que apoiou Carlos Marta, a facção que foi almoçar com o embaixador e a facção que apoiou Fernando Gomes.

Agora percebe-se a razão de tanta reflexão interna por dá aquela palha.


POR decisão do Tribunal, ficam impedidos de frequentar estádios de futebol durante um ano e obrigados a apresentarem-se à hora dos jogos na esquadra da polícia mais próxima das respectivas residências, aqueles indivíduos que foram caçados em desacatos pela polícia na noite do último derby.

É assim mesmo. Aliás, este foi um dos passos do governo inglês para acabar com o hooliganismo lá na terra deles nos anos 80.

Outro, também eficaz, foi o estacionamento nos arredores dos estádios, em dia de jogo, de vans dissuasoras, ou seja, carrinhas da polícia com grades, a quem os ingleses chamavam de hoolivans e que serviam para arrecadar e levar para o xelindró todos os espectadores que dentro ou fora do recinto apresentassem sintomas declarados de delinquência.

Trata-se, pois, de um problema que só pode ter uma resolução feliz de houver vontade política, não só dos políticos de carreira como dos dirigentes desportivos de carreira.

A confirmarem-se, estas decisões do Tribunal poderiam prometer muito em termos civilizacionais. Mas o cepticismo é grande e os grandes não ajudam nada.

Enquanto houver dirigentes desportivos que se vangloriem de que as suas claques ao menos «estão legalizadas» não haverá progresso.

E um dia ainda alguém, em nome do Estado, terá de vir explicar ao país que Lei é essa que confere enquadramento legal e a honradez de um estatuto aos hooligans portugueses de Norte a Sul do país.


lá vão tantos dias, semanas até, sobre o derby e Godinho Lopes ainda não revelou publicamente o escaldante material áudio e audiovisual que anunciou ter em sua posse 24 horas depois de João Capela ter apitado para acabar com o jogo da Luz.

Não só não houve divulgação pública, mantendo-se o suspense insuportável, como, aparentemente, também não há registo de que o Sporting tenha entregue o seu explosivo e altamente comprometedor material ao departamento de disciplina da Liga dos Clubes para que possa actuar, segundo os regulamentos, sobre o prevaricador.

Segundo Godinho Lopes, que apoiou Fernando Gomes e nem foi ao Para nem foi almoçar com o embaixador de Portugal em Roma, prevaricador foi, nem mais nem menos, o próprio presidente do Benfica, acusado de ter mantido um diálogo aceso e sabe-se lá o que mais com Luís Duque, que apoiou Carlos Marta e foi ao Para.

Também é verdade que Godinho Lopes, quando afirmou ter a posse de material audiovisual comprometedor para o presidente do Benfica, logo acrescentou que o mesmo material iria ser alvo de profunda «análise interna».

Oh, já dizia o poeta:

-O que farei com esta espada?

Por amor de Deus, façam lá qualquer coisinha."


Leonor Pinhão, in A Bola

As diferenças

"Benfica e Sporting, em Portugal, Real Madrid e Barcelona, em Espanha, protagonizam o jogo de todos os jogos. Independentemente do momento e das circunstâncias, a sua tradição, rivalidade e simbolismo são insuperáveis.

Quiseram os calendários que, no espaço de duas semanas, cá e lá, acontecessem estes jogos. Com notórias diferenças.

As mais impositivas e incontornáveis: a do retorno do espectáculo e a do dinheiro dos plantéis. Quinhentos milhões de pessoas terão visto o clássico espanhol! Quanto aos jogadores, basta referir alguns dos jogadores nos bancos: Kaká, Higuain, Khedira, Albiol, Mascherano, Keita, Pedro, Villa, Thiago Alcântara!

Mas evitáveis serão as diferenças de certas atitudes. No Santiago Bernabéu basta citar A BOLA: «os presidentes dos dois clubes reuniram-se num hotel e aproveitarem para lançar apelos de tolerância e falar da rivalidade sã entre os dois clubes». Aqui, foi o que se sabe.

Cá correu tinta a rodos por causa de uma caixa de segurança. Lá estiveram 5000 catalães numa estrutura semelhante à da Luz, sem que tal se notasse.

Lá os adeptos manifestaram-se vibrantemente pela sua equipa. Cá, além dos estragos, o apoio é sempre uma forma de insulto à equipa oponente.

Lá o jogo terminou com 11 de cada lado, com um árbitro inteligente que sabe que dirigir um espectáculo é também preservá-lo. Cá, expulsam-se jogadores por dá cá aquela palha ou um murro na relva.

PS - A propósito, lembrou-me de Domingos Paciência, no fim da Liga de há dois anos, se queixar de o Benfica ter sido campeão a jogar contra 10 em muitos jogos. Que dirá agora? Nos últimos 4 jogos, o SCP acabou sempre em superioridade: Feirense, Leiria, Benfica e Nacional, para além de P. Ferreira e Rio Ave..."


Bagão Félix, in A Bola