Últimas indefectivações
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Os velhos senhores
"«La Vecchia Signora»: A Velha Senhora. É assim que lhe chamam. Poderia haver alcunha mais sinistra para um clube? Não é fácil encontrá-la. A Velha Senhora é o clube do poder. Não do poder eleito, mas do poder constituído. O poder das grandes famílias: o velho poder. A história da Velha Senhora é uma história muita antiga, cheia de episódios macabros. A Velha Senhora tem o armário cheio de esqueletos. Houve tempos em que os patrões da Velha Senhora eram, simultâneamente, os patrões da marca de automóveis que patrocinava os árbitros. Só uma voz se levantou, no Parlamento, para denunciar tal atrocidade. Calaram a voz. E os árbitros continuaram, por muito mais anos, a viajar em automóveis construídos pelos patrões da Velha Senhora são, também, patrões de uma poderosa cadeia de meios de Comunicação, à qual pertencem dois dos maiores jornais de Itália.
A Velha Senhora foi sempre tratada com a consideração que é devida a uma senhora velha nas páginas desses jornais. E a Velha Senhora tinha vícios secretos que não convinha serem divulgados, pois um manto de silêncio tratava de envolver confortavelmente os ombros da idosa figura. A Velha Senhora teceu durante décadas uma teia de sedosa corrupção. E viveu convicta de que nada poderia, alguma vez, pôr em causa o seu poder antigo. O problema dos velhos senhores é que o tempo passa por eles e eles não dão pelo passar do tempo. E a Velha Senhora sofreu a ignomínia do escândalo e o ferrete da vergonha.
A história parece-vos conhecida? Não estranhem. Há gente que além de carecer de seriedade tem falta de imaginação. Esta semana a Velha Senhora queixou-se dos árbitros. A falta de subservivência, a ausência dos favores de outrora, fazem confusão à anciã. Não apenas a ela. Também a outros esclerosados senhores cuja memória fede de episódios podres. A Velha Senhora dificilmente deixará de ser intimamente corrupta. Mas não é só ela, pois não?"
Afonso de Melo, in O Benfica
O aviso trágico de Port Said
"A primeira vez que li sobre a cidade de Port Said foi no livro 'O Egipto', de Eça de Queiroz, uma obra de juventude que revelava já o extraordinário talento literário e jornalístico daquele que viria a ser autor de 'Os Maias'. Port Said, num tempo em que se viajava pouco, devido às dificuldades com os transportes, ainda lentos e arcaicos, era um nome envolvido pelo mistério das paragens exóticas.
Desta vez o nome ressurgiu associado a uma das maiores tragédias de história do Futebol, com 74 óbitos registados em consequências da violência com que a equipa visitante, o Al-Alhy, treinado por Manuel José, mesmo perdendo, foi tratada pelos adeptos enfurecidos do Al-Masry, que cercaram a mataram pessoas totalmente indefesas nos balneários, no relvado e nas bancadas.
Este quadro de violência extrema só pode ser entendido se tiver em fundo a profunda tensão política, social, económica e religiosa que envolve um país de história milenar, com uma população de mais 80 milhões de habitantes.
Muito boa gente, no chamado Ocidente, convenceu-se de que a 'primavera árabe' iria franquear as portas a saudáveis e sustentáveis democracias de tipo europeu ou norte-americano. Esqueceram-se, porém, de que a realidade política e religiosa dessas países nada tem a ver com a nossa e também de que, na sombra, nunca deixaram de actuar, de forma sistemática e experiente, as forças do Islão radical, prontas a chegar ao poder por via eleitoral para depois imporem todas as restrições resultantes de uma leitura fundamentalista do Corão.
Foi o choque dessas forças com as restantes que deu origem a uma tragédia como a que ensombrou Port Said e a história do Futebol. Quem quer dar dimensão mediática à violência, escolhe, em regra, grandes espaços como os estádios de Futebol para que a mensagem se globalize e chegue a todo o Mundo. Foi o que aconteceu e poderá voltar a acontecer noutros países com idênticos problemas, caso não sejam tomadas a tempo as medidas adequadas."
José Jorge Letria, in O Benfica
Objectivamente (África)
"As recentes passagens por África da equipa de Juniores do Benfica têm entusiasmado não só os adeptos, que estão, assim, mais próximos do Clube do seu coração, como igualmente treinadores e dirigentes que têm sentido bem de perto aquele «calor especial» próprio das gentes africanas.
Recentemente foram duas deslocações à Guiné e Angola. Muito proximamente será a equipa principal que rumará a Luanda para participar num grandioso torneio Lusófono com Sporting, FC Porto e as melhores equipas angolanas - segundo anunciaram fontes próximos dos Ministros dos Desportos - o que levou de imediato a grandes ondas de entusiasmo, fazendo recordar os bons velhos tempos em que eram frequentes jogos entre Benfica e Sporting, quer em Angola, quer em Moçambique. Foi dessas ligações fraternas que Benfica, Sporting e a Selecção Nacional descobriram valores como Eusébio, Coluna, Hilário, Néné, Vicente e Matateu.
No início da semana, quando foi inaugurada a nova sede da CPLP em Lisboa, com a presença dos mais importantes diplomatas de todos os países lusófonos, foram muitas as ideias lançadas para fazer essa reaproximação ao grande continente. Falou-se muito na abertura e estudo de novas condições para igualdade de estatutos. Pode ser que seja desta a abertura de uma nova via de aproximação entre Portugal e estes países irmãos de África. Recordo que neste momento os jogadores brasileiros têm estatuto privilegiado em relação aos africanos. Estes têm de procurar parentes para que lhes seja concedido igual estatuto.
No Benfica veja-se como sempre foram acarinhados os jogadores africanos. Mantorras é um exemplo dessa extraordinária relação sentimental de carinho e afecto. Até Yannick Djaló, luso-guineense, foi recebido como um príncipe. Vai ser a nova coqueluche dos benfiquistas porque ele também merece pela sua humildade e profissionalismo. Somos assim, e não devemos perder esta virtude por razão nenhuma."
João Diogo, in O Benfica
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