Últimas indefectivações

segunda-feira, 16 de março de 2020

O exemplo das Casas do Benfica!

"Foi extraordinária a reacção das Casas do Benfica.
Devemos ter todos um enorme orgulho nas Casas, Filiais e Delegações do Sport Lisboa e Benfica espalhadas por todo o mundo pela forma exigente e responsável como estão a gerir esta situação. 
Todos sabemos que depende de cada um de nós que, com atitudes responsáveis, possamos mitigar rapidamente a propagação do coronavírus de forma a podermos rapidamente voltar à normalidade.
É por isso de enaltecer, e realçar isso mesmo, a rápida reacção de todos os dirigentes em todo o mundo na eficácia e colaboração para colocar em prática o plano definido pelo Sport Lisboa e Benfica e replicado também nas Casas do Benfica.
Só uma estrutura organizada possibilita que, e em primeiro lugar, a comunicação flua com enorme rapidez e seja colocada em prática de forma imediata.
Assim, realço que todos os Dirigentes das Casas do Benfica, sejam elas em localidades mais ou menos urbanas, em território nacional, na Europa, África, Américas, Ásia ou Oceânia, têm, sem dúvida, conseguido estar à altura e gerido de forma muito eficaz toda esta situação.
Estávamos também já preparados para, nos dias de jogos, podermos responder com forte responsabilidade, mas com a suspensão das competições de Futebol e Modalidades foi mais fácil evitar o inevitável: a aglomeração de pessoas. Medida esta que abrandará a permanência de sócios e adeptos na procura dos serviços e produtos que, tal como no Estádio e Official Stores, também já estão disponíveis em quase oito dezenas de Casas.
Com rapidez foram anulados treinos, jogos e iniciativas que levam semanalmente mais de 40 000 pessoas de todas as idades e nacionalidades às Casas e que participavam de forma profissional e lúdica nas mais de 40 modalidades que as Casas do Benfica proporcionam em todos os cantos e recantos do mundo.
Resiliência, união e forte capacidade organizativa serão, no futuro, imprescindíveis de forma a conseguirmos ultrapassar toda esta situação, pois outras dificuldades surgirão a médio prazo, como a subsistência e o funcionamento regular de todas as Casas, mas tenho a certeza de que, todos juntos, conseguiremos vencer todas estas batalhas.
Agora é hora de nos protegermos e de nos apoiarmos, e pensar que, só juntos, poderemos voltar a ter, como sempre, as Casas do Benfica, Todos os Dias Para Si!

Domingos Almeida Lima,  Vice-Presidente do Sport Lisboa e Benfica

P.S.: A News Benfica continuará a ser publicada diariamente e passará a incluir um espaço dedicado à programação da BTV para conhecimento de todos os subscritores que nesta fase se encontram recolhidos em casa."

Cadomblé do Vata (Trinco na Baliza!)



"Campeonato Nacional da Primeira Divisão - 27ª Jornada - 10/04/1993 - Estádio do Bessa 
Boavista FC 2-3 SL Benfica
1. Há coisas que são preocupantes de descobrir à 27ª jornada... por exemplo: temos 3 guarda redes no plantel e quem domina melhor o espaço aéreo na pequena área é o trinco.
2. As repetições dos golos do Yuran foram casos típicos de tempo de antena desperdiçado... em ambos os casos o soviético entrou pela área boavisteira adentro de forma tão vagarosa, que nem era necessário replay em câmara lenta.
3. Este jogo demonstra bem o atraso regulamentar em que está o futebol português... as leis falam da obrigação dos jogadores usarem caneleiras, mas são omissas em relação ao escafandro.
4. Feliz regresso de Isaías ao Estádio do Bessa, com direito a entrar para a História do Futebol Mundial... o 3º tento do Glorioso foi o primeiro golo de sempre a ser marcado em apneia.
5. Inacreditável o falhanço de baliza aberta do Futre... para piorar o cenário, o lance foi transmitido em directo pelo canal de TV que adiantou 600 mil contos para a sua contratação."

Cadomblé do Vata (Pepsi!!!)



"Pepsi Cup - 18/08/1993 - Estádio da Luz
SL Benfica 2-1 FC Barcelona
1. Organizamos um torneio com o nome Pepsi Cup, quando a concorrente Coca Cola é que é vermelha... alguém andou a fazer Pepsi Challenges só para sacar o Twix.
2. Como o SLB ganhou, foi presenteado com uma lata de Pepsi em vidro da Marinha Grande... se tivesse sido o Barcelona a vencer, levava para casa uma lata de Pepsi em loiça das Caldas da Rainha. 
3. Foi uma bela jogatina entre dois Dream Teams... de Espanha veio o do Barça, em Portugal estava o do Mundo.
4. Cruiyjf é treinador do Barcelona e Eusébio e Bento são adjuntos do SL Benfica... num jogo entre duas das mais poderosas equipas de Europa, os craques estão no banco.
5. Estreia auspiciosa do ponta se lança Ailton que facturou um golo pouco depois de entrar... paguem-lhe já 5 meses de ordenados adiantados, antes que o Sousa Cintra o venha buscar."

Cadomblé do Vata (3-6)



"Campeonato Nacional da Primeira Divisão 93/94 - 30 Jornada - 14/05/1994 - Estádio José Alvalade 
Sporting CP 3-6 SL Benfica
1. Vencemos o jogo mas podemos ter perdido João Pinto para o resto do campeonato... temo que no controlo anti doping o craque Benfiquista acuse excesso de talento no sangue.
2. Foi uma grande vitória do SL Benfica e também do futebol de rua... clássico "muda aos 3 e acaba aos 6".
3. Os primeiros "olés " vindo da turba verde e branca ouviram-se ainda com 0-0 no marcador... se Stromp era mesmo do Sporting, suicidou-se pensando que tinha sífilis e afinal padecia era de ejaculação precoce.
4. Quando o árbitro apitou para o final do jogo, o relvado estava ensopado de água e não percebi qual a principal razão... foi devido à chuva incessante ou às lágrimas de 40 mil lagartos?
5. A qualidade de um treinador vê-se nas substituições e no caso do Queirós nem sei qual o define melhor... se abrir uma auto estrada na esquerda a perder 2-3 ou colocar em campo o Poejo quando está a enfardar 2-5"

O fim do futebol?

"Com os Campeonatos parados, temos de nos dedicar a temas mais intemporais, mais relacionados com o jogo e menos com os resultados. Aliás, não sabemos se este campeonato chegará ao fim. Com a previsão do pico da epidemia para meados de maio, será quase impossível concluir o campeonato. Assim como a Taça de Portugal.
Para lá disso, temos de ter a noção de que o próprio futebol pode estar seriamente ameaçado. Porque ou há medidas sérias de travagem da globalização, ou este tipo de epidemias tenderá a tornar-se recorrente, inviabilizando os espectáculos com grande concentração de público.
Como sobreviverá o futebol em tempo de epidemia?
Deixará de haver receitas televisivas. Deixará de haver receitas de patrocínios. Deixará de haver receitas de bilhetes. Quanto aos sócios dos clubes, por enquanto continuarão a pagar as suas quotas, mas ao fim de algum tempo deixarão de pagar. Pagar para quê, se não há jogos?
Ora, como vão os clubes sobreviver sem receitas televisivas, sem receitas de patrocínios, sem receitas de bilheteira, sem receitas de quotas?
Como pagam aos jogadores? E aos treinadores? E aos restantes funcionários? Ou despedem-nos, ou rapidamente vão à falência. Sem receitas, os clubes não podem satisfazer os compromissos…
E os canais desportivos de TV? Acabaram quase completamente os directos, mesmo os de outros campeonatos. Por enquanto, vão repetindo jogos já transmitidos. Mas isso não pode durar muito tempo. Sem jogos em directo, os canais desportivos vão perder rapidamente os assinantes e dentro de muito pouco não poderão pagar aos funcionários, nem aos comentadores, nem aos fornecedores. E vão ter de fechar.
E os jornais desportivos? Obviamente, vão ter o mesmo problema. Sem matéria-prima, ficam sem razão de ser. Mesmo esta coluna está ameaçada. Durante algum tempo poderei falar de questões intemporais. Mas essas esgotam-se. No limite, como manter o interesse pelo futebol sem jogos?
O nosso modo de vida está ameaçado. Muita coisa vai ter de mudar. Mas o futebol é particularmente vulnerável a fenómenos como este, por várias razões:
1 - Porque vive de grandes multidões nos estádios;
2 - Porque vive em boa parte das transmissões televisivas, que estão suspensas;
3 - Porque vive também de patrocínios, que deixam de ter razões de ser;
4 - Porque vive ainda de quotizações, que tendem a acabar;
5 - Finalmente, porque precisa de muito dinheiro para sobreviver; não é compatível com pequenas receitas e modestos orçamentos.
E tudo aquilo que gira à volta deste - até hoje - gigantesco negócio está ameaçado. As transferências milionárias de jogadores; os ordenados fabulosos; os canais de desporto; os jornais desportivos; os empresários; as mulheres dos futebolistas rodeadas de luxos. Todo este mundo está em risco. E pode ruir muito rapidamente."

FC Shreriff - Bate Borisov. Aconteceu na distópica Transnístria: homens armados, um hotel luxuoso, um majestoso pombal

"Os tempos que vivemos são de excepção. São tempos de mudança e de aprendizagem. O desafio que temos pela frente (o maior que a nossa geração alguma vez enfrentou) exige uma resposta consciente, responsável e assertiva. Isso só é possível se remarmos todos para o mesmo lado. Se actuarmos como equipa. Como uma equipa que, neste jogo da vida, não tem nem cor nem clube.
A ideia desta rubrica passa um pouco por aí: por reforçar esse sentimento de crença e de optimismo. A ideia passa por recordá-lo(a) que, depois da tempestade, vem sempre a bonança. E vem. Na verdade, vem.
Agora, a história.

Tiraspol. Uma Experiência Inesquecível
Em 2010, a UEFA nomeou-me para um jogo na Moldávia entre FC Sheriff e Bate Borisov. na fase de grupos da Liga Europa). 
O encontro foi disputado em Tiraspol, capital da Transnístria, uma auto-proclamada república socialista independente, mas dentro daquele território nacional. Ou seja, a viagem foi à Moldávia, mas quem jogou "em casa" foi uma equipa que não a reconhece como pátria.
Sabíamos ao que íamos (a burocracia anterior à saída disse quase tudo) e, confesso, não estávamos nada confortáveis. O prazer imenso de mais uma aventura europeia foi substituído, a espaços, pela sensação de falta de segurança que a viagem transmitia.
Éramos experientes, mas nenhum tinha estado em cenário cujo contexto político fosse, digamos, diferenciado.
É engraçado como, em momentos assim, damos por nós a dizer piadas sem piada. A fazer pequenos disparates.
O mais importante, no meio daquilo tudo, foi sentirmos que, caso a coisa complicasse (e nos víssemos, subitamente, no olho de um furacão), não estaríamos sós. Tínhamos a força maior do nosso lado: a presença e apoio uns dos outros. E isso foi suficiente para nos fazer seguir.
A viagem Chisinau/Tiraspol não foi longa, mas foi feita numa carrinha antiga, sem ar condicionado. Sentimos logo ali aquele peso de uma região que ressacava, aos poucos, das mãos da "Mãe" União Soviética.
Cada sinal na estrada, cada zona que passávamos, cada pessoa com quem nos cruzávamos, tinha um ar meio apocalíptico. Pesado. Deprimido.
À medida que nos aproximávamos do posto fronteiriço, víamos mais e mais militares, armados até aos dentes. Parecia que estavam à espera que o nosso jovem motorista fizesse uma asneira qualquer para dispararem a torto e a direito (bom, se calhar não foi nada disso, mas a sensação de insegurança insistia em dizer-nos que sim).
Depois de revistados dos pés à cabeça e da cabeça aos pés - nós, a carrinha e o miúdo que a conduzia - lá nos deixaram passar, mas sempre com aquele ar desconfiado de quem acha que "aqueles quatro rapazitos de fato e gravata, com ar de gozão que os ocidentais têm" estavam ali para enganá-los. Para conspirar contra eles e contra a sua pátria.
Em Tiraspol, nada de visitas turísticas nem passeios sociais. Fomos directos ao hotel, equipámos e de lá seguimos para o treino. No meio de muitas mensagens ideológicas (propaganda política) espalhadas por praças e avenidas, surgiu no horizonte o Complexo Desportivo do FC Sheriff. Uma infraestrutura imperial, que destoava de tudo o que encontrámos no meio de ruas e mais ruas, empobrecidas e envelhecidas.
O nosso interlocutor, um moldavo local que falava romeno e russo, mas muito pouco de inglês, disse-nos que o clube era o orgulho local. Tinha crescido vertiginosamente fruto do investimento milionário de alguém muito poderoso, que até contratara estrangeiros de qualidade para a equipa. Esses dormiam, comiam e viviam todos lá. Raramente saíam... e ficou, no ar, a ideia que não deviam. 
Aquilo era enorme: hotel, piscina, pavilhão, vários campos relvados (um deles, de Futebol de 11, completamente coberto) e um majestoso pombal. Sim, um pombal! Coisas de magnatas com gostos distintos.
O jogo decorreu sem problemas mas, no ar, pairou sempre aquela sensação de: "Isto pode derrapar a qualquer hora". Imaginação fértil? Receio injustificado? Se calhar, sim. Se calhar não. E, se calhar, falou o apelo inconsciente do mais básico instinto do ser humano, num contexto atípico, acinzentado, pouco usual.
A experiência terminou sem grandes sobressaltos, mas foi algo claustrofóbica. Recordou-nos de como é valioso o direito à liberdade e à possibilidade física de o exercer.
Hoje muitos se sentirão assim, como nós nos sentimos em Tiraspol: livres mas pouco. Amedrontados também, sem saber bem o que nos vem a seguir.
A parte boa de tudo isto? A mesma que sentimos lá: a certeza de que não estamos sós. Temos-nos uns aos outros. Temos a força de sermos muitos a lutar contra um inimigo invisível mas nem por isso invencível.
Esse é o seu pior handicap e o nosso maior trunfo. Exactamente o mesmo que nos trouxe a casa sãos e salvos, com a memória distante de uma história para contar.

Nota: O jogo aconteceu em Outubro de 2010. O FC Sheriff perdeu (0-1) com o Bate Borisov, acabou a fase de grupos em último. Nessa época, o FC Porto conquistou a Liga Europa, batendo o Braga na final."

Simeone jogou com um dos melhores guarda-redes do mundo. Klopp teve na baliza um simpático empregado de um bar de tapas

"De repente, tudo ficou cinzento, pardo, triste. Não há futebol e nos programas de comentário sobre futebol, onde já pouco futebol havia, há agora, além da ausência de futebol, um clima sinistro, fúnebre.
Felizmente acabaram com os jogos à porta fechada, aqueles em que os gritos dos treinadores ecoavam pelas bancadas e cada pontapé na bola era uma pancada surda e ominosa, um dobre de sinos futebolísticos.
Sem os adeptos era como se os jogadores estivessem a representar uma peça absurda, como se os seus gestos nos aparecessem despidos na nudez de esqueletos e nos apercebêssemos de que nada daquilo faz sentido. Quando se vê jogadores a festejarem num estádio vazio o que se vê não são os festejos, é o vazio.
Mas deixem-me recuar até àquele tempo mítico e distante, àquela idade de ouro onde colhíamos inconscientes os frutos da nossa juventude e da nossa inocência, permitam-me, pois, ir até à semana passada.
Tinha vontade de escrever sobre Ronaldinho Gaúcho, comentar os excessos adiposos do seu irmão, Roberto Assis (mas que de franciscano pouco terá), e as suas aventuras paraguaias, e imaginar o que terão pensado e sentido os reclusos que, de um momento para o outro, viram a sua liga penitenciária abrilhantada por um dos melhores jogadores de sempre.
Porém, a desilusão com as palavras de Jürgen Klopp falou mais alto do que o rocambolesco Ronaldinho.
É verdade. Depois de ter dado uma lição ao mundo sobre o coronavírus, recusando falar sobre aquilo que não sabe, Klopp vestiu o hábito talar e, à boa moda catalã, pôs-se a fazer queixinhas catedráticas sobre o pobre futebol do Atlético de Madrid, equipa que acabara de eliminar o Liverpool.
Os seus jogadores, que tantas alegrias nos têm dado neste último ano, não o deixaram sem apoio e apressaram-se a criticar o estilo dos pupilos de Simeone: só defendem, isto assim não é futebol, jogadores tão bons fechadinhos lá atrás, etc., naquele género de relambório que eu só julgava possível em criaturas formadas ou aclimatadas no Barcelona.
Como um Xavi Hernández nos seus tempos áureos, Klopp e os jogadores do Liverpool reagiram a um desaire com a perplexidade aristocrática de quem não percebe porque é que o adversário não lhes franqueou, com veneração e cavalheirismo, o acesso aos portões da baliza.
Quem são estes bárbaros, ter-se-ão perguntado, que ousam visitar o nosso reduto sem jogar num esquema 2x2x2x2x2, abrindo alas à passagem da nossa triunfante locomotiva? O treinador alemão falou dos três mil remates, da posse de bola esmagadora, com o mesmo tipo de superioridade estético-moral propalada pelo Barça de Guardiola.
Nem parecia que estávamos a ouvir um dos homens que mostrou ao mundo que havia vida para lá do tiki-taka, que era possível jogar um futebol de ataque, pressionante e vertiginoso, sem andar a mastigar a bola no meio-campo durante noventa penosos minutos.
E também não parecia que o Liverpool tinha perdido os dois jogos. Já no prolongamento, o Liverpool teve a eliminatória na mão. Não soube ou não conseguiu fechá-la. Quando o Atlético se viu em desvantagem pela primeira vez foi à procura do golo e o golo apareceu. E depois apareceu outro e, para que não restassem dúvidas, outro. Simeone teve sorte? Sim, tal como o Liverpool também teve sorte no ano passado na eliminatória contra o Barcelona.
Além de sorte, Simeone teve Oblak. Klopp sabe melhor do que ninguém a diferença que um bom guarda-redes faz. Aí esteve a chave para esse grande mistério do triunfo de Simeone: jogou com um dos melhores guarda-redes do mundo enquanto o Liverpool, privado de Alisson, teve na baliza um simpático empregado de um bar de tapas.
Já aqui disse, e por mais de uma vez, que um bocadinho de mau perder não fica mal a ninguém, mas Klopp habituou-nos, se calhar mal, a esperar sempre algo diferente, um rasgo, um discurso contra-corrente, contra as vagas de lugares-comuns.
Afinal, na derrota foi igual aos outros.
O bom vencido não é aquele que reconhece a superioridade de um adversário que acabou de o esmagar. O bom vencido é aquele que reconhece a superioridade do adversário que o frustrou. 
Quando uma equipa funciona como uma máquina, como é o caso do Liverpool, o objectivo do adversário não é demonstrar superioridade, mas emperrar a máquina, pôr o grãozinho de areia na engrenagem que desespere os operários qualificados que a controlam.
É o problema das equipas muito boas e que ganham muitas vezes. De início, há uma grande humildade, mas o hábito das vitórias traz com ele um certo sentido de superioridade, de direito divino a vencer.
Por isso, quando aparece um adversário capaz de bloquear a máquina a reacção, em vez de ser “como é que vamos ultrapassar este problema?”, passa a ser “como é que estes esfarrapados se atrevem a estragar a nossa máquina tão oleada, tão vistosa?”. E enquanto os operários tornados fidalgos se debatem com este problema, os salteadores comem-lhes as papas na cabeça e rapam-lhes os cofres. 
Quase no fim do jogo, a cara de Trent Alexander-Arnold dizia tudo. Estava lixado. Frustrado. Era como se dissesse em voz alta: “somos melhores do que estes gajos e não lhes conseguimos ganhar”. Mas ainda não tinham ouvido falar do cholismo? O cholismo é isso.
Jogar como um bando de salteadores, partindo do princípio de que o adversário é sempre superior, uma postura que é particularmente útil quando o adversário é, de facto, superior e que pode ser incapacitante quando o adversário é mais fraquinho.
Se Simeone pudesse escolher não duvido que preferia jogar todas as semanas contra o Liverpool, o Barcelona ou o Real Madrid. Meses atrás o cholismo estava morto. Agora ressuscitou e, com os seus movimentos de morto-vivo, pregou tamanho susto a Jürgen Klopp que o deixou a falar como um treinador banal."

O que é criticar?

"Inauguro este meu pequeno artigo, com um texto dos Ensaios, de António Sérgio: “Não trago o intento de ser piloto, não avento o lábaro de nenhuma seita; não recruto chusma para nenhum batel. Que quero, pois? Inspirar-te o desejo de soltares amarras, de fugir do porto, de te aventurares (…). Treina contra mim teus braços ágeis, fere-me com lealdade e a sorrir (…). Que nada te imobilize, nem te detenha. Nada. Nem as tuas mesmas conclusões Lembra-te que a característica da Razão humana é o pleno à-vontade e o sorriso cândido”. E, mais do que nunca, na nossa Sociedade do Conhecimento, bem é que saibamos fruir o espaço da crítica, nas livres aventuras do espírito. O ranking dos países mais (ou menos) desenvolvidos elabora-se com base em três indicadores: educação, longevidade das pessoas e poder de compra. A educação ergue-se, como o primeiro dos indicadores. Uma educação que, se bem entendi o Paulo Freire (ambos integrámos o júri de dois doutoramentos, na PUC/SP) se aproxima da “consciência crítica”. De facto, a crítica é a grande característica definidora da Sociedade do Conhecimento. Concebia-se o mundo moderno em termos de propriedade e trabalho. Na sociedade hodierna, marcada pelo processo da informatização, a fonte da produtividade reside numa revolução tecnológica da informação ou, melhor, nas tecnologias do processamento da informação e da comunicação. Donde se infere que não há produtividade sem educação, nem educação sem uma informação, tecnológica e intelectualmente actualizada. É que, como o refere Pedro Demo, no seu livro, editado pela Vozes (Rio de Janeiro) Educação & Conhecimento, “a sociedade intensiva do conhecimento também pode ser a mesma sociedade intensiva da ignorância” (p. 122). Urge, por isso, a necessidade de organizar os dirigentes, os treinadores e os árbitros desportivos como “trabalhadores do conhecimento”, tornando-os capazes de organizar o Desporto, com ciência, consciência e eficácia. De facto, sem eficácia, pode perguntar-se: “Mas… para que serve a organização?”.
Ora, “eficácia” perderam os clubes de futebol portugueses. E o facto, na Sociedade do Conhecimento, torna-se evidente(íssimo) nas críticas constantes aos árbitros, quase todas (não todas, evidentemente) provenientes de uma gritante desactualização dos agressivos “criticantes”. É que criticar não é só apontar os erros das pessoas ou dos factos, é também apontar a bondade e os êxitos que acompanham os erros. O que é criticar? Vejamos, a este propósito, o que nos ensina o Padre Manuel Antunes: “Nós somos do século de inventar as palavras que já foram inventadas, escreveu o Almada Negreiros de A Invenção do Dia Claro. Criticar deve ser uma delas. Ela tornou-se, hoje, com frequência, sinónimo de julgar desfavoravelmente, de invectivar, de condenar. Em bloco: sem discrime e sem ponderação. Um pequeno hiato, uma falha, uma atitude menos esperada por parte daqueles que se arvoram em juízes de vivos e de mortos bastam, não raro, para aniquilar pessoas, instituições, obras. Não raro, também, por simples primeiras impressões, por antipatias que irrompem, bruscas e gratuitas, , ou então mercê de longas e lentas projecções motivadas sabe-se lá por obscuras correntes da psique humana, individual e/ou colectiva. A afectividade, uma afectividade desbordante dos canais que a deviam conter, salta por cima de todas as barreiras da objectividade, agredindo e demolindo na sua passagem quanto parece oferecer obstáculo ao seu imperialismo. E chama-se a isto o direito de criticar, radicalizando, ou o de julgar, condenando. Ora, a palavra criticar significa , segundo a sua raiz indo-europeia (em grego, krinõ, em latim, cerno) joeirar, ver, observar, ponderar, escolher, discernir, o valor exacto de uma pessoa, de uma coisa, de uma situação existencial ou histórica. É este o sentido originário, que importa restituir (Padre Manuel Antunes, SJ, Compreender o Mundo e Actualizar a Igreja, Gradiva, Lisboa, 2018, pp. 61/62 ). Portanto, criticar, porque é joeirar, ponderar, discernir, não se resume aos momentos menos felizes das actuações de um árbitro, porque deve também sinalizar-se os momentos impecáveis da sua actuação; e, porque “a Verdade é o Todo”, num jogo de futebol também erram os treinadores e os jogadores e não os árbitros tão-só. Uma crítica exige os prós e os contras dos nossos interesses. Para que seja possível a razão, em vez do mito e o conhecimento, no lugar da ignorância.
Escrevi, acima, que criticar é joeirar, ou seja, separar o joio do trigo. Por isso, o objectivo primeiro deste artigo limita-se a fornecer aos meus habituais leitores (que deles necessitem) os elementos e instrumentos conceptuais básicos do que é, verdadeiramente, uma crítica. Por outras palavras, criticar não deixa de ser um trabalho interdisciplinar onde, num jogo de futebol, se distingue a complexidade humana dos criticados e dos criticantes. Com efeito, nas referidas críticas, não se encontram simples trocas de “dados” mas elas convertem-se, amiudadas vezes, no lugar, na ocasião em que o criticante mostra que sofre, embora a sua honestidade pessoal (o mal prova-se e o bem presume-se) de uma grave patologia: uma “clubite” exacerbada! Francamente, também já fui apaixonado de um clube. Sei a que nos leva esta doença impetuosa e avassaladora. E dela tenho procurado informações, em dirigentes, árbitros, treinadores e jogadores. E nenhum me escondeu a maré de irracionalidade que se desprende de um clube de futebol altamente competitivo – que aliás também a senti, nas suas mais inesperadas e variadas formas, quando trabalhei, sob as ordens do “mister” Jorge Jesus, e nos 24 anos de dirigente, no C.F.”Os Belenenses”. Quando leccionei, como professor visitante, no Brasil, fui espectador de inúmeros jogos de futebol, no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte, em Brasília e principalmente em São Paulo e em Campinas (cidade onde morava). Um dia, em conversa com o Dr. João Paulo Medina (o criador da Universidade do Futebol e pessoa que sabe estudar o “desporto-rei”) em São Paulo, no Canindé, o estádio da Associação Portuguesa de Desportos, ele confidenciou-me (bem me lembro), durante um jogo Portuguesa-Palmeiras: “É impossível não haver violência verbal e física no futebol, quando, nele, todas as formas de racionalidade são atacadas”. E continuou: “Principalmente o diálogo entre os dirigentes. Se os dirigentes dos clubes cultivassem a amizade com os dirigentes dos clubes seus adversários, o futebol seria outro”.
Na nossa “sociedade aprendente” (cfr. H. Assmann, Reencontrar a Educação – rumo à sociedade aprendente, Vozes, Petrópolis, 1998) bem é que os dirigentes dos clubes de futebol não deixem de criticar (sem crítica, não há progresso), mas que o façam tendo em conta que só há crítica quando se analisa o “todo” e não, única e apaixonadamente, os erros dos árbitros. Se o Desporto, para mim, é uma especialidade de uma ciência humana, tudo o que é humano nele está, quer real, quer potencialmente. Cabe-nos (designadamente aos estudiosos, onde eu humildemente me incluo) não abdicar da lógica incómoda da crítica racional. E por que digo eu “incómoda”? Por esta razão: crítica que nada nega, não questiona. E, quando se questiona, tudo o que, por escondidos interesses, se encontra parado, inquinado, aburguesado, banalizado, colonizado se ergue em aspérrimas palavras de repúdio. A Verdade só lhes interessa, quando capta uma determinada face da realidade – não o Todo, onde a Verdade está. Para eles, nada se encontra errado, nem nos homens, nem nas leis. Mudar, romper com o Passado – para quê? Desconhecem eles que todo o conhecimento é dialético e portanto são muitos os obstáculos epistemológicos a dificultar o acesso ao conhecimento? E ainda um ponto que importa reter e que releio no Diário-I de Ernst Junger: “Mais sagrado ainda do que a vida de uma pessoa deve ser, para nós, o respeito pela sua dignidade”. Portanto, não ponho em causa a crítica, mas (esta é a temática a relevar) que nunca se esqueça o conceito de totalidade, quando se critica. Um facto, um acontecimento, uma pessoa tornam-se tanto mais concretos quanto mais os consideramos como elementos de uma totalidade. A característica principal de um reducionismo reside precisamente, na permanência obstinada no isolamento, na separação dos diferentes elementos que, dialeticamente, constituem uma totalidade Concluindo: criticar – sempre, desde que se saiba o que é criticar."

#BenficaEmCasa !!!

Benfiquismo (MCDLXXIII)

Raramente nos demos bem com estes...!!!

Pequena amostra de alguns documentos que nos chegaram às mãos

"Agradecemos a quem tiver em sua posse informação que possa ser disponibilizada, nos envie por mensagem privada. Não podemos permitir que a comunicação oficial e oficiosa do FC Porto continue a perpetuar tentativas de pressão, coação, manipulação e deturpação em todos os canais que têm ao seu dispor. É crucial que todos os benfiquistas façam a sua parte e defendam o SL Benfica dos ataques abjectos de que tem sido alvo.
Muitas pessoas falam e criticam, mas indivíduos como César Boaventura são elementos fundamentais na denúncia de suspeitas de corrupção do futebol português.
O nosso obrigado a ele, e a todos os que fazem o que podem para defender o Sport Lisboa e Benfica."