Últimas indefectivações

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Cadomblé do Vata (ofensa-mor!!!)


""... ele tratou muito mal o Corinthians, faltou-me ao respeito, mas faz parte. Não é a primeira vez. Já na venda do Elias na época, ele pensa que é o presidente do planeta, mas ele é simplesmente o presidente do Benfica" - Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, sobre Luis Filipe Vieira

O Presidente do Benfica tem que processar este rapaz. Dizer que ser presidente do Benfica não é a mesma coisa que presidir o Planeta, já é grave, mas confundir o Líder do Sport Lisboa e Benfica com Bruno de Carvalho, é passar vergonhosamente os limites."

Esclarecimentos do presidente da Mesa da Assembleia Geral do Sport Lisboa e Benfica


"Considerando que três das candidaturas anunciadas às eleições para os órgãos sociais do Sport Lisboa e Benfica, a realizar no próximo mês de Outubro, se me dirigiram recentemente, manifestando preocupação quanto ao desenrolar do processo eleitoral, designadamente quanto à fiabilidade do sistema informático que suporta o voto electrónico, compete-me, enquanto presidente da Mesa da Assembleia Geral em exercício, averiguar as questões formuladas e tudo fazer para que a votação decorra com a maior transparência e possibilite uma alargada participação dos sócios do Sport Lisboa e Benfica.
Deste modo, importa prestar os seguintes esclarecimentos:
1. Desde o ano de 2006 que as deliberações em Assembleia Geral, bem como as votações para eleição dos órgãos sociais do Clube, têm decorrido com recurso ao voto electrónico e, sublinhe-se, têm merecido dos sócios em geral a aceitação pacífica dos diversos resultados obtidos. Aliás, naquele ano de 2006 o sistema informático, que ainda hoje se mantém, foi então verificado pela Comissão Nacional de Eleições que lhe deu o seu assentimento.
2. Face às questões formuladas, nomeadamente, quanto à confidencialidade da votação, a impossibilidade de voto múltiplo e a garantia de recontagem de votos no caso de necessidade, foi-me explicado pelos serviços informáticos do Clube o modo de funcionamento de todo o sistema e por estes garantida toda a fiabilidade do mesmo, condição essencial para que as eleições decorram com a maior transparência e seriedade.
3. Em todo o caso, e a exemplo do realizado em anteriores actos eleitorais, logo que estejam formalizadas e aceites as diversas candidaturas, convidarei cada uma delas a indicar um técnico informático para, em sua representação, monitorizar todo o sistema junto dos serviços informáticos do Clube, bem como acompanhar com estes o processo de votação no dia das eleições.
4. Igualmente, convidarei também um representante de cada uma das candidaturas para uma exposição sobre todo o procedimento da votação, nomeadamente, no que diz respeito à garantia de confidencialidade da opção escolhida por cada sócio.
5. Para que se garanta a rigorosa identificação dos eleitores, antes da votação propriamente dita, a credenciação presencial de cada um deles far-se-á através do respectivo cartão de sócio acompanhado de documento oficial válido com fotografia (ex. cartão de cidadão, passaporte, carta de condução). Com efeito, a votação nas diversas mesas de voto é realizada individualmente por cada um dos sócios eleitores, tanto mais que constitui infracção disciplinar [artigo 28.º, alínea c) dos Estatutos] a cedência para qualquer finalidade do cartão de associado.
6. À semelhança dos últimos quatro actos eleitorais, a votação no próximo mês de Outubro será efectuada por meios electrónicos, garantindo assim maior eficiência, celeridade na votação e um rápido apuramento de resultados.
7. Ainda assim, para que, por um lado, não subsistam quaisquer dúvidas nos benfiquistas quanto à correcção e seriedade na votação e nos resultados finais apurados e, por outro, para que mais facilmente se realize eventual recontagem de votos em caso de necessidade, irá ser acoplado, a cada um dos pontos informáticos onde os sócios votarão, um equipamento que imprimirá em papel o número de votos e a candidatura votada. O aludido voto em papel será depositado em urna, ficando desta forma terminado o procedimento individual de votação.
8. Acresce referir que, em todas as mesas de voto, as diversas candidaturas concorrentes poderão fazer-se representar por um delegado da respectiva candidatura (na sede até três), que obrigatoriamente terá de ter a condição de sócio eleitor e terá de se apresentar no local devidamente credenciado pela Mesa da Assembleia Geral.
9. Por fim, informo que me encontro a desenvolver diligências junto dos órgãos de comunicação do Clube, designadamente junto da BTV, de modo a que seja concedido tempo de antena a cada uma das candidaturas entregues e aceites, para que possam esclarecer os sócios dos seus propósitos."

SL Benfica | As 11 promessas adiadas da Youth League


"A UEFA Youth League foi criada em 2013 como simulação da maior prova internacional de clubes, uma Liga dos Campeões para preparar as gerações mais novas face ao futuro competitivo que se espera da maioria dos participantes: o talento abunda em cada edição, muitos são os craques actuais que venceram o troféu Lennart Johansson ou deram nas vistas no relvado de Nyon, onde se realiza geralmente a final four.
O SL Benfica, com três presenças na final, é já um dos crónicos pretendentes ao trono europeu juvenil, apresentando geralmente equipas de valor superlativo e com andamento para as melhores academias da Europa.
Parece gerar-se um padrão geracional nos encarnados e que se torna curioso: o Benfica apresenta-se na final de três em três anos (2014, 2017 e 2020) e coloca na rampa de lançamento qualidade nas mais diversas posições.
Ainda que muitos se tenham conseguido consolidar em patamares de acordo com o potencial demonstrado, outros existiram que até aos dias de hoje não conseguiram confirmar previsões e o seu rendimento mantêm-se aquém do exigido, pautando a carreira com fases de grande irregularidade e clubes de pouca expressão.

1. José Gomes, ponta de lança – Apelidado de ‘Zé Golo’ pela apetência rara pelo momento principal do jogo, José sempre se destacou como ameaça principal para as equipas adversárias, que respeitavam a sua fama de assassino de área e estilo felino no aproveitamento das oportunidades. Em 18 jogos de Youth League foi autor de 11 golos, apontou 31 em 63 presenças nas camadas jovens portuguesas – onde, aliás, foi um dos líderes da geração de 1999 campeã europeia em dois escalões, sub-17 e sub-19. 
Ficou marcado de forma infeliz pelo penalty falhado em plena Vila Belmiro, no jogo do centenário do Santos FC, numa altura em que começava a ser aposta recorrente de Rui Vitória. Essa fase não encontrou continuidade, Zé parece ter saído afectado da experiência e, coincidência ou não, a sua carreira estagnou a partir daí. Aos 21 anos, tem todo o tempo do mundo para trilhar caminho de sucesso no futebol sénior.

2. Romário Baldé, avançado/extremo – Um currículo de enorme prestígio, onde se incluem 52 internacionalizações nas camadas jovens da selecção, Romário destacou-se precocemente pela técnica prodigiosa que o permitia criar lances que outros nunca imaginavam.
Na Youth League, fez 7 golos em 15 jogos, foi destaque duas temporadas consecutivas (2013-14 e 2014-15) e mostrou talento para ser protagonista em grandes palcos – a coragem, vista quase injustamente como loucura, da panenka (mal executada) frente ao FK Shakhtar, é característica dos grandes artistas da bola. Talvez o desleixo não o tenha permitido manter toda a qualidade na subida aos seniores, mas a experiência que já leva acumulada de Primeira Liga mostra que ainda não é tarde para desistir dele.

3. Hildeberto Pereira, avançado/extremo – Não é o melhor exemplo de um tecnicista puro como os enumerados anteriormente, antes prefere basear o seu jogo na sua capacidade física fora do comum e utilizá-la em prol da equipa. A nível sénior, já foi utilizado a lateral, médio centro, extremo, segundo avançado e ‘9’ – e será essa versatilidade que o fará ter sucesso.
Um dos goleadores da Youth League 2013-14, importantíssimo na caminhada benfiquista, cumpriu épocas de afirmação na Primeira Liga no Vitória de Setúbal, já depois de ter feito parte do contingente luso no Nottingham Forest. A sua prestação à beira Sado valeu-lhe transferência para a China, onde irá alinhar no recém-criado Kunshan FC.

4. João Carvalho, médio ofensivo – Trequartista prodigioso, foi uma das figuras da edição de 2015-16 ao lado de Renato Sanches, e a sua qualidade permitiu-lhe introdução no plantel comandado por Rui Vitória. Infelizmente, não estava preparado para agarrar a oportunidade em 2017-18, aquando da lesão de Krovinovic e a vaga disponível no meio-campo a três dos encarnados – foi titular numa difícil noite no Restelo, saiu ao intervalo e nunca mais voltou ao onze.
Com o famoso rótulo de “15 milhões” estampado no seu talento, rumou a Inglaterra para vestir a camisola do Nottingham. Bastante utilizado, jogou e fez jogar, conseguindo impor o seu futebol rendilhado num contexto de kick and rush, demonstrando capacidade de adaptação fora do vulgar e que justificará regresso pela porta principal ao futebol português, assim o entendam os principais clubes. 

5. Rochinha, médio ofensivo – Ressurgiu em 2020, comandado por Ivo Vieira no Vitória minhoto, mas foi aparição tardia dada a qualidade demonstrada nas camadas jovens. Outra das grandes promessas do Seixal, foi um dos segundos melhores marcadores da edição de 2013-14, com seis golos, e melhor assistente da competição em igualdade com Munir El-Haddadi, com cinco passes para finalização. 
Depois de um 2019-2020 a bom nível, espera-se plena temporada de afirmação para o jovem, que terá no Estádio Dom Afonso Henriques espaço e contexto para a consistência que o seu futebol ainda não conseguiu atingir.

6. Raphael Guzzo, médio centro – De alta cultura táctica, aliava à técnica exemplar a visão de jogo apurada das grandes figuras da posição. Pêndulo da geração que chegou à final de 2014, era aos 18 anos uma das grandes promessas encarnadas, com experiência de equipa B e pronto a ser introduzido nos trabalhos de equipa principal.
O empréstimo ao GD Chaves, em 2014-15, parecia ir de encontro ao sucesso no seu desenvolvimento a nível sénior, mas empréstimos posteriores a CD Tondela e Reus pareceram desencaminhá-lo do protagonismo que outrora adquirira. Compete novamente pelo clube transmontano, agora na Segunda Liga.

7. Yuri Ribeiro, lateral esquerdo – A experiência falhada nos seniores dos encarnados, onde nunca conseguiu ser alternativa válida a Grimaldo, não apaga o seu passado de sucesso nas camadas jovens, a nível de clube e de selecção, onde cumpriu presenças em todos os escalões formativos (conta com 66 internacionalizações no total).
Na Youth League, foi totalista de minutos na edição 2014-15 e ajudou na caminhada até aos quartos em 2015-16 – depois de uma fase de grupos exemplar, que ficou marcada pelo 11-1 ao Galatasaray.
A nível sénior, além da boa experiência em Vila do Conde, foi bastante utilizado no primeiro ano em Inglaterra, tendo participado em 31 jogos ao serviço do Nottingham Forest FC: experiência que certamente o ajudará a evoluir e a estar mais preparado para o topo competitivo.

8. João Nunes, defesa central – Capitão da geração 2014, primeiro capitão da equipa B aquando do regresso em 2012, João Nunes era um dos principais projectos defensivos do Seixal para o futuro. Às capacidades de liderança juntava fortes índices de concentração, agressividade e uma elevada capacidade de tackle, sendo o parceiro ideal para alguém mais tecnicista.
Porém, com o avançar do tempo e sem as oportunidades a chegar da equipa A, foi um dos primeiros que o Benfica emprestou para a Liga Polaca, ao abrigo de outro protocolo. Chegou a Gdansk para representar o Lechia, experiência feliz onde acumulou muitos minutos ao longo de três anos (76 jogos) e as qualidades demonstradas permitiram-lhe uma transferência para um gigante grego, o Panathinaikos. Após uma época e apenas 10 jogos cumpridos na Liga, mudou novamente de ares e representa agora a Academia Puskas, no campeonato húngaro.

9. Aurélio Buta, avançado/lateral direito – Um dos protagonistas da geração que em 2017 caminhou de forma triunfal até Nyon, Aurélio foi gradualmente adaptado ao lado direito da defesa com excelentes resultados práticos. As suas características permitiram-lhe grande rendimento na exploração do corredor vindo de terrenos mais recuados, apoiando uma frente de ataque recheada de talento onde se encontravam Félix, Jota, Diogo Gonçalves e José Gomes: a vitória por 4-2 sobre o Real Madrid na meia-final é a grande demonstração de força desse leque de talento encarnado.
Na Youth League cumpriu 19 jogos e, com ele em campo, o Benfica perdeu apenas em três ocasiões. Por estes dias, dá nas vistas na Liga Belga ao serviço do Antuérpia, tendo sido desenvolvido pelo histórico Lazslo Boloni.

10. Rafael Ramos, lateral direito – Ala seguro, de técnica apurada e com forte propensão ofensiva, Rafael foi um dos protagonistas da caminhada até à final de 2014. Quando se esperava ascensão até à equipa principal pela mão de Rui Vitória, parte misteriosamente, junto com Estrela, rumo a Orlando para representar o City na MLS.
Protocolos à parte, a estranheza do negócio interrompeu o seu desenvolvimento como atleta de topo e só o regresso ao futebol europeu, pela porta do FC Twente, permitiu recomeçar essa caminhada rumo a um patamar que o seu potencial pressupunha. Hoje representa o CD Santa Clara, tendo aproveitado sobremaneira os minutos que João Henriques lhe deu na temporada transacta.

11. Thierry Graça, guarda-redes Titular da geração de 2014 que perde a final com o Barcelona de Munir El-Haddadi e Adama Traoré, de Thierry esperava-se muito perante as suas características invulgares para a posição. A coragem e agilidade demonstradas anteviam voos maiores nas balizas do futebol nacional.
Após uma época de Benfica B, parte em 2016 rumo ao GD Estoril Praia à procura de visibilidade – na Luz existiam Júlio Cesar e Ederson –, mas não conseguiu dar o salto, rumando em 2019 ao oásis do futebol português: no Chipre, Thierry representa por estes dias as cores do DOXA. É internacional por Cabo-Verde."

Benfica em toda a parte


"Uma política séria e firme de expansão corresponde a uma política de crescimento e é um sinal de visão estratégica. É isso que queremos.

Não há dúvidas de que o Benfica é um clube unificador. Ao contrário de outros cujo sonho era ser o maior de Portugal, o Benfica estende-se pelo território português praticamente por igual, despertando fervor clubístico em qualquer lugar. Em vez de dividir para tentar reinar, o Benfica reina precisamente porque não divide: antes une todo o povo, de Sagres a Bragança, de Barrancos à Gafanha da Nazaré – já para não falar nas comunidades portuguesas.
Esta difusão e a aproximação do clube aos seus adeptos nem sempre é reconhecida. Pelo contrário, raras vezes é lembrada quando se avalia o mandato dos órgãos sociais. É normal: há muita gente para quem importa não sublinhar o que de bom foi feito até agora, nem que para isso seja necessário passar por cima dos factos e fingir que eles não existem.
No entanto, factos são factos e Vieira e a sua equipa tem-nos do seu lado. Tratemos só dos simples. As Casas, Filiais e Delegações do Benfica, são uma das grandes forças do Clube. Isto é um facto e é irrebatível. Mais: as Casas do Benfica têm um papel fundamental enquanto dinamizador social, estima-se que mais de 40 mil atletas pratiquem desporto através das Casas do Benfica de todo o mundo e na micro criação de emprego.
Outro facto: o Benfica tem as suas Casas distribuídas pelos cinco continentes. O actual presidente durante os seus mandatos inaugurou mais de 100 novas Casas duplicando o número existente em 2003. Tudo isto são factos, mas os mais cépticos podem atrever-se a análises subjectivas. Para esses, temos mais factos: o Benfica é o único clube do mundo que permite, de forma presencial nas Casas do Benfica, que os sócios e adeptos tenham acesso aos mesmos serviços que se encontram no estádio. 
Podia continuar enumerando as vantagens das Casas para os sócios e adeptos que residem fora de Lisboa, nomeadamente o acesso aos bilhetes para jogos ou a renovação do redPass, mas tenho também de destacar a inovação que Jorge Jacinto – Director das Casas do Benfica, desenvolveu ao criar um modelo de Casa com gestão profissional. Depois da uniformização da imagem e a disponibilização de serviços em rede com este passo fica assim criado um verdadeiro conceito de franchising.
Mas o mais importante é a ambição de fazer mais: garantir a continuidade e até o reforço de um projecto único que mantém o Clube ligado aos seus adeptos, independentemente do lugar onde estes se encontrem – um projecto que garanta que o Benfica continuará a ser um clube de todos e em toda a parte.
Quando digo toda a parte, falo também de um Benfica além-fronteiras. É por lá que passa o futuro, pelo assumir e reclamar da herança que deixámos nos PALOP. O Benfica tem de reforçar este ponto, tem de investir ainda mais na expansão da rede das Casas do Benfica, tem de penetrar cada vez mais nos países de Língua Portuguesa.
Uma política séria e firme de expansão corresponde a uma política de crescimento e é um sinal de visão estratégica, porque vai garantir retorno, vai aumentar as vendas de merchandising e vai atrair novos sócios. Queremos um Benfica que chegue a todos e que chegue longe."

Não são tempos bonançosos que se anunciam...


"Não, não vou chamar, para um debate, os meus habituais leitores, acerca da crise económico-social, em que descambámos e é fonte inesgotável das mais diversas interpretações e olhares. Por vezes, tenho a sensação que voltámos à segunda metade do século XIX, quando na década de 70 do século XIX abriram as Conferências do Casino e o Eça e os seus colegas de Coimbra imbuídos do ideal positivista, cheios da leitura de Renan e de Proudhon e crentes devotos do cientismo, ousaram desfraldar a bandeira de uma revolução, que transformasse a grande e trágica realidade do Portugal daqueles anos idos. Faltam-nos o Oliveira Martins (embora o seu sobrinho-neto, Guilherme d’Oliveira Martins, que todos conhecemos seja um ensaísta de espantosa erudição) o Eça de Queirós, o Guerra Junqueiro, etc., etc.? Não digo tanto. Na nossa vida intelectual, despontam figuras que não temem cotejo com o que de melhor se admira e cultua, por esse mundo além. E não devo escusar-me a referir que, no âmbito do desporto, com especial relevo para o futebol, os nossos treinadores e jogadores estão entre os melhores do mundo. Não quero substituir-me à lição austera dos factos e estes dizem-nos que a “geringonça” tem trabalho feito que merece admiração e respeito. Aceito, por isso, que seja o Primeiro-Ministro do atual governo a declarar: “Neste momento, temos três prioridades claras: primeiro, controlar a pandemia, recuperar o país e construir o futuro”. E, em termos precisos, acrescenta mais adiante: “Seria um erro enorme, para a esquerda portuguesa, não compreender que esta é a oportunidade histórica que tem de não só responder à crise como de o fazer com uma visão de ambição, de requalificação estratégica”. No entanto, 31 % dos empresários, apoiados pelos fundos comunitários, alertam para o “risco de realização” dos seus projectos, por causa do covid-19; a pandemia suspende 80% dos hotéis projectados para 2020; aliás, 1/3 dos projectos poderão derrapar até 2023. Na quarta-feira, 2020/8/26 e com a aquiescência de muitos “agentes do desporto”, houve quem sustentasse que o desporto português aproximava-se, em passos lépidos, do colapso…
O Secretário de Estado do Desporto respondeu, com acerto, que o problema entende-se com a leitura das primeiras páginas da sociologia: se o todo sofre de grave crise, é evidente que a crise emerge também de todos os elementos dessa totalidade. Heidegger não se cansava de expender que “a filosofia fala grego” e o George Steiner, de quem sou devoto leitor, afirma que não é só a filosofia, também as ciências e a tecnologia e a teologia e as artes… falam grego! Mas eu, um “aprendiz de filosofia”, quedo-me por ela, começando por lembrar a figura de Sócrates. Era um homem sem mácula e, mesmo assim, foi condenado à morte, acusado de corromper a mocidade e de ser ímpio em relação aos deuses da cidade. A história da sua defesa e condenação é relatada, com excelentes pormenores, no diálogo de Platão, Apologia de Sócrates. As discussões, havidas na prisão e nas circunstâncias que o Fédon relata permitem-nos algumas observações: que, na filosofia, a verdade é o todo; que a relação que Sócrates estabelecia com as pessoas não era puramente intelectual, tinha também em conta as emoções; que o seu conhecimento da vida não era meramente livresco ; que filosofar é sempre subverter, desnortear, criticar; portanto, a filosofia não é um saber abstrato, à margem da vida, a filosofia desponta da prática diária. Na linha socrática, Kant adiantava: “ninguém aprende filosofia, mas aprende-se a filosofar”. No entanto, há aqui um ponto a distinguir: a filosofia não faz “juízos de realidade”, como a ciência, mas “juízos de valor”. Ou seja, filosofar é dar sentido à prática. O célebre filósofo brasileiro Dermeval Saviani insiste na ideia que a reflexão é filosófica, quando radical, rigorosa e sistémica. Radical? Ou seja, que não se omitam, nem as causas, nem as causas das causas. Rigorosa? Com metodologia verdadeiramente científica. Sistémica? Pois que um sistema é um conjunto de unidades em inter-relações mútuas. Por isso, é complexa e conflitual também. Nos erros do todo, todos somos culpados. 
E, quando afirmo que “todos somos culpados”, não quero desfocar os factos, em benefício do Governo ou da Oposição. Considero legítimo que cada qual, dirigente ou “trabalhador do conhecimento”, tenham a sua agenda própria. O conflito é “conditio sine qua non” de progresso. Uma célula é capaz de alimentar-se, de reproduzir-se, de metabolizar, mas as moléculas que a compõem são incapazes de tudo isto, se as considerarmos, isoladamente. No desporto português, não há “agente do desporto” despersonalizado ou subserviente a interesses estranhos ao interesse primeiro do desenvolvimento desportivo nacional. E, portanto, até em qualquer divergência grave, pode subsistir vivo o rigor desejável e uma simpática atmosfera de compreensão. Enfim, o dissídio pode resolver-se, facilmente, intelectual e afectivamente. Não direi ideologica e politicamente porque, em democracia, a dialética envolve uma escrupulosa fidelidade a princípios partidários, por vezes, de difícil adaptação numa economia de rastos. E, tanto à esquerda como à direita, a economia é o radical fundante. Há mesmo quem diga que o economicismo à direita tem a mesma matemática do economicismo à esquerda, conquanto os objectivos nem sempre sejam os mesmos (temos de reconhecê-lo). “O Espírito Desportivo encerra em si mesmo um conjunto alargado de valores e princípios, que deverão ser assimilados e vivenciados, na prática desportiva. Trata-se de um conjunto de valores que têm a função de imprimir um sentido positivo à actividade desportiva e que, sem os quais, esta perde a sua finalidade primordial: contribuir para o desenvolvimento harmonioso e universal da pessoa humana” (AA.VV., Código de Ética Desportiva, SEDJ/IPDJ/PNED, Lisboa, 2014). Habermas preconiza, em todas as circunstâncias, o paradigma da comunicação, que aplaudo sem restrições, designadamente entre desportistas. Sem comunicação, costuma haver colonialismo, manipulação e não se vislumbra qualquer assomo de pluralismo, democracia…
O desporto é também um fenómeno histórico. Significa dizer, “ab initio”, que a política desportiva tem, necessariamente, avanços e recuos, por esta razão muito simples: é história! Os próprios “pareceres” dos especialistas são, quase sempre, objecto de acertos e de consensos. A autoridade científica, com todo o seu narcisismo lógico, não é o principal argumento numa política desportiva… porque interesses mais altos se levantam! Lembram-se do “processo Galileu”: sabem de que lado se encontrava o paradigma científico, só que as decisões do Santo Ofício não provinham dos argumentos da retórica científica, mas da autoridade político-eclesiástica. Enfim, o Galileu foi condenado por razões estranhas à ciência. Nas nossas democracias, a competência exigida a quem decide é, demasiadas vezes, de teor eminentemente político e assente em voluntarismos e veleidades também políticas ou partidárias. No entanto, o que inova, o que transforma não é a ideologia, mas o conhecimento. Não preconizo, para os partidos do “arco do poder”, o declínio da crítica, mas que o conhecimento não se dilua na teoria. Quem o escreve é o teórico, que sou eu. Mas nunca me conformei beatificamente com os dados da teoria. Passei boa parte da minha vida a questionar os “práticos”, numa aprendizagem contínua com eles. E de tal maneira que a minha pouca tecnociência (não tenho receio em escrevê-lo) é, hoje, sobre o mais, hermenêutica. As desastradas intervenções de alguns dirigentes não o são, no campo do desporto, por escassez de dados técnicos, mas pela continuação de hábitos rotineiros tipicamente burocráticos e porque se deu ao olvido a necessidade da rotura estrutural. Em Weber aprendi que a ciência política estuda as condições, as consequências, as implicações do compromisso político, mas (digo eu) não são os desportistas que o concretizam.
Não tenho qualquer receio em considerar-me Amigo do Dr. João Paulo Rebelo, actual Secretário de Estado do Desporto e da Juventude – um homem que sabe que não sabe e por isso, necessariamente, sabe muito. A análise crítica do que existe (é a “teoria crítica” a dizê-lo) assenta no pressuposto de que, no desporto, há mais do que desporto. E portanto continuam por cumprir as mais proclamadas promessas dos países capitalistas avançados, os quais, “com 21 % da população mundial, controlam 78 % da produção mundial de bens e serviços e consomem 75 % de toda a energia produzida. Os trabalhadores do Terceiro Mundo do sector têxtil ou da electrónica ganham 20 vezes menos que os trabalhadores da Europa e da América do Norte, na realização das mesmas tarefas e com a mesma produtividade. Desde que a crise da dívida rebentou, no início da década de 80, os países devedores do Terceiro Mundo têm vindo a contribuir, em termos líquidos, para a riqueza dos países desenvolvidos, pagando a estes em média por ano mais 30 biliões de dólares do que o que receberam em novos empréstimos. No mesmo período, a alimentação disponível, nos países do Terceiro Mundo, foi reduzida em cerca de 30%. No entanto, só a área de produção de soja, no Brasil, daria para alimentar 40 milhões de pessoas se nela fossem cultivados milho e feijão. Mais pessoas morreram de fome no século XX do que em qualquer dos anos precedentes. A distância entre países ricos e países pobres e entre ricos e pobres, no mesmo país, não tem cessado de aumentar” (Boaventura de Sousa Santos, in Revista Crítica de Ciências Sociais, revista nº. 54, pp. 198/199). É impossível não dar-se conta, num mundo em larga e profunda crise, de uma também larga e profunda crise desportiva. É inevitável! Digo então que a crítica não é necessária ao progresso desportivo? Pelo contrário: digo que a crítica é necessária ao progresso do desporto. Mas com este pequeno pormenor: no meu entender, à luz do que exige a “teoria crítica”. Quero eu dizer: a crítica, mais do que “regular”, de acordo com concepções já retrógradas - deve tentar “emancipar”…"

A actividade física desportiva... em nome da vida!... (2)


"Concluía no artigo anterior com a referência a Galeno (129-199 d.C.), médico estudioso da obra de Hipócrates, em que aplicava a educação do físico à medicina, criando a ginástica médica, em que dizia: “a cada indivíduo, segundo as suas características, deveria corresponder um conjunto de exercícios também específicos, associado o termo saúde ao prazer do movimento”!...
Continuando esta análise, necessariamente em termos de síntese da evolução histórica da actividade física e desportiva, entramos agora no tempo do Cristianismo, ou seja, a religião do amor, da bondade e igualdade entre todos os homens.
Jesus Cristo ensinou aos seus discípulos: “sempre que rezardes dizei: Pai Nosso”, proclamando uma doutrina da igualdade universal, contrária aos princípios da sociedade escravocrata de Roma. Deste modo, os cristãos passaram a ser objecto de perseguição, selvaticamente chacinados, servindo de atracção nos circos, ao serem atirados às feras, em espectáculos violentos e sangrentos. De facto, Roma até aí império duma dimensão cultural e artística dominante, começa a distinguir-se por vícios degradantes, caracterizados pela corrupção e pela degradação moral. Por isso não foi surpresa que tenha sida invadida pelos bárbaros, pelo ano 476, d.C.
A partir da queda do Império Romano do Ocidente, entramos num longo período de transição, considerando dois períodos: da Baixa e Alta Idade Média.
No 1.º período até ao séc. IX, baseado nos princípios do Ora e Labora, as actividades físicas praticamente não tinham um papel de fundamental desempenho.
A seguir, com o princípio da entrada no 2.º período, é no ideal de cavalaria que devemos encontrar as raízes mais profundas do espírito desportivo, recebendo apenas os nobres o treino militar, equitação, esgrima e natação, enquanto que o povo se divertia com os jogos populares.
É de referir, nos jogos medievais portugueses, a menção do livro de montaria de D. João I: “correr bem, saltar bem, lançar bem” e para os fidalgos, as justas e os torneios.
Do séc. XV a XVIII, com a considerada Época Moderna, o eterno divino vai suceder ao natural e humano.
De referir o movimento artístico, cultural e intelectual renascentista surgido em Itália com uma exponencial intervenção no sec. XVI, em que os exercícios físicos são considerados indispensáveis para que o homem atinja a felicidade, e só com o conhecimento das capacidades do seu corpo se conseguirá atingir a harmonia do homem com a natureza.
Montaigne (1533-1592), filósofo, escritor e humanista francês, influenciado pelo humanismo renascentista, inspirado pelo antropocentrismo (o homem no centro do mundo), afirmou mesmo: “não é a alma, não é o corpo que se educa, é o homem”.
Havia já preocupações em introduzir jogos na primeira infância, defendendo-se um período de duas horas diárias para o exercício físico.
O médico Jerónimo Mercurialis, (1530-1606), através da sua obra publicada em 1569, “De Arte Gynástica”, considerava a ginástica como um meio de prevenção de doenças e conservação da saúde e bem-estar, dividindo a aula em partes e sistematizando os exercícios em relação à idade e ao tempo de execução.
Mas à medida da evolução do tempo o absolutismo político e respectivas transformações sociais, em que o dinheiro tudo compra, incluindo títulos de nobreza, o capitalismo europeu entra em franco progresso, até quase metade do sec. XVIII, em que a crise económica provocada pelo suborno e acção das companhias especulativas, levou a rupturas económicas generalizadas.
As práticas físicas e desportivas deixam de ser olhadas como um fim prático, passando a ser consideradas especialmente em França como simples diversão, sem nexo, logo matéria desprezível. Descuida-se a educação corporal, pela falta de necessidade de preparação guerreira, e a preguiça passa a ser o ideal de felicidade, juntamente com os prazeres fáceis duma burguesia endinheirada.
Será, contudo, de fundamental importância referir, uma prática desportiva de características aristocráticas, implementada na Inglaterra do sec. XVII e XVIII.
Aos poucos e pela coexistência nos colégios dos filhos duma burguesia rica, tornou-se necessário motivar aqueles e daí a popularização do desporto nobre. Formam-se clubes (Jockey Club, Cricket Club…) formalizando-se regulamentos desportivos.
As apostas motivam marcas e a actividade desportiva tende para a especialização e mesmo para a profissionalização. A corrida ganha adeptos, a equitação e o boxe congregam grandes multidões via apostas elevadas. Publicitam-se os campeões e o desporto passa a vencer barreiras inimagináveis.
Com a entrada da Idade Contemporânea (meados do sec. XVIII até aos dias de hoje), a prática do exercício e actividade física recomeça a aparecer como fim terapêutico e higiénico, cabendo a responsabilidade do lançamento das bases do desporto organizado à Inglaterra, com a criação das associações e codificação das principais regras do jogo. E é nas escolas públicas e universidades que encontramos o gérmen aglutinador de paixões que o mundo adoptou e fez um crescendo de entusiasmo.
(Continua)"

«Tem direito à sua opinião, não aos seus próprios factos»


"No início de 2018, Barack Obama foi o convidado do programa de David Letterman na Netflix. Quando foi questionado sobre os desafios da democracia americana, nomeadamente sobre a possibilidade de um governo estrangeiro ter manipulado as eleições internas, o ex-presidente começou por referir que os russos apenas tinham explorado o que já havia nos Estados Unidos. "Se vir a Fox News, vive num planeta diferente", ironizou, evocando de seguida um episódio protagonizado muitos anos antes pelo ex-senador democrata Patrick Moynihan, já falecido. Contou Obama que o ex-senador "desafiou um colega menos capaz" em relação a um tema que não especificou, e que este ficou tão nervoso, que se limitou a replicar "é a sua opinião, eu tenho a minha". "Meu caro", prosseguiu Obama citando Moynihan, "tem todo o direito a ter a sua opinião, mas não os seus próprios factos".
É disto que se trata. Por força dos maus resultados desportivos da última época, a campanha eleitoral do Benfica foi claramente antecipada, o que mostra a dinâmica democrática do clube, tão contestada por alguns.
Lendo alguns dos artigos publicados por aqueles que mais reclamam por uma mudança de líder, dá ideia de que o Benfica teve uma década de absoluto insucesso desportivo, que vive debaixo da alçada da UEFA no que ao fair play financeiro se refere, que o seu centro de formação não é capaz de produzir talento, que os seus direitos televisivos continuam a ser detidos e transmitidos por um canal hostil ao clube, que tem dificuldade em contratar e que tem dívidas vencidas que não consegue liquidar. É como se estivéssemos a ver a Fox, "um planeta diferente", uma realidade alternativa.
Pois bem, a realidade do Benfica é bem diferente. Diametralmente diferente! O que nos leva de regresso a Moynihan: todos devem ter direito à sua opinião, mas não aos seus próprios factos.
Não era minha intenção escrever este ou qualquer outro artigo, mas há limites que não devem ser ultrapassados e afirmações que não podem ser toleradas. Quando há poucos dias li que Manuel Vilarinho "deixou a Vieira um estádio novo", tive de reler. Esperei pelos dias seguintes, mas não houve nenhuma errata.
Vilarinho devolveu a decência ao Benfica, e esse foi o seu maior mérito, mas a grandeza de Vilarinho também se vê na forma como sempre reconheceu que sem Mário Dias e Luís Filipe Vieira não teria havido estádio. Omitir este facto não foi acidente, foi intencional.
Não interessa quem escreveu, mas porquê. Podemos divergir dos caminhos, das propostas ou das estratégias, podemos identificar-nos mais com um candidato e com o que este defende, mas não reconhecer os méritos de Vieira nestes 17 anos não revela apenas desonestidade, mas também mesquinhez de espírito. Um cineasta devia ser o primeiro a saber que um bom guião pode ser destruído por maus actores.
E o guião com que João Noronha Lopes inicialmente se apresentou está a ser destruído por alguns dos que o rodeiam. A gratidão engrandece, não nos diminui como alternativa, e os que apoiam Noronha Lopes deviam ser os primeiros a sabê-lo. O ruído, só por si, não é uma alternativa, é apenas ruído. 
Trabalhei com Luís Filipe Vieira durante oito anos. Errou, porque não é infalível. Exagerou nos objectivos, e por isso muitas vezes falhou, mas foi por esse permanente inconformismo e pelas metas sempre inflacionadas que traçou que chegámos aonde estamos. Já se contradisse, porque em 17 anos é impossível não o fazer. E, se conseguimos chegar até aqui sem rumo ou sem plano, como alguns defendem, espero que Vieira continue sem rumo para os próximos quatro anos.
O final da época de 2014 foi doloroso, e muitos vaticinaram o fim do projecto Vieira. Não foi. Tal como o insucesso da última época também não será. Falar de Vieira à frente do Benfica obriga-nos a voltar atrás. Antes de Vieira, o clube era um fantasma, uma sombra do passado, incapaz de suportar o peso da história. Vieira e todos os que o acompanharam nestes anos devolveram a grandeza e a dignidade ao clube.
Não posso terminar sem fazer mais um reparo ao artigo que aqui me trouxe. Nos oito anos em que trabalhei no Benfica, assisti a quase todas as Assembleias Gerais do clube. Nunca vi, em nenhuma delas, o autor do mesmo, o que não o diminui como sócio, nem lhe retira a legitimidade de criticar ou desejar outra pessoa para dirigir os destinos do clube, mas devia inibi-lo de produzir afirmações sobre algo a que não assistiu, de que desconhece o contexto. Vieira irrita-se, exalta-se, simplesmente porque – para surpresa de muitos – tal como nós é humano.
E para aqueles que querem usar a justiça para pôr em causa a obra e a credibilidade do Presidente do Benfica, convém lembrar que a justiça é um processo e, tal como um jogo de futebol, o importante não é como começa mas como acaba!
O desconhecido é perigoso quando o que temos nos continua a dar garantias, sobretudo quando o nosso principal adversário, aquele que festeja mais as nossas derrotas que as suas vitórias, parece tão interessado em que a liderança do clube mude."