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terça-feira, 11 de julho de 2017

Os jogos ganham-se no campo

"O presidente benfiquista falou aos seus, prometeu respostas «no local próprio» e colocou o acento tónico na conquista do pentacampeonato.

Fez ontem um ano que se assinalou o feito mais brilhante do futebol pátrio. A 10 de Julho de 2016, em Paris, Portugal venceu a França em frenética final e sagrou-se campeão da Europa. Nesse dia, os portugueses em todo o mundo sentiram-se orgulhosos de o serem e, por aí adiante, como nunca aconteceu, expressaram a sua vaidade na exibição da bandeira como símbolo de identificação de um povo de longa história que o futebol uniu.
Passou um ano e, no entanto, por cá pouco mudou quanto à tacanhez de uma classe dirigente claramente em contramão, embora no futebol jogado sejamos cada vez mais admirados lá fora por conseguirmos fazer tanto com tão pouco.
A nossa Selecção desde há muito é presença frequente nos topos dos rankings. Temos os melhores do mundo, a jogar e a treinar, representados por Cristiano Ronaldo, José Mourinho e Fernando Santos. Contrariamente ao que se tem pretendido espalhar, a nossa arbitragem é, igualmente, apreciada além fronteiras e Pedro Proença foi o expoente máximo ao ser apontado como número um no universo da FIFA.

O grande problema reside, sim, no défice de formação que é notório entre administradores e directores das estruturas profissionais de clubes. A FPF está a desenvolver esforço notável com o objectivo de eliminar essa discrepância e tem-no feito exactamente de dentro para fora, através da criação de um edifício organizativo irrepreensível que valoriza o modernismo e a legítima pretensão de ser vista como referência para as federações de outros países, as quais começam a perceber que o futebol luso tem muito para oferecer, além de excelentes praticantes: credibilidade e qualidade, garantidas pelo seu presidente e pela equipa que lidera.
Com Fernando Gomes, como já escrevi, fechou-se o quadrado: melhor jogador, melhor treinador, melhor árbitro e... melhor dirigente.
Dispomos de tudo para ser felizes, mas há quem veja nessa felicidade o princípio do fim da chafurdice intelectual que continua a ser arma preferida para bloquear a renovação de mentalidades e consequente arejamento de ideias. Insinua-se, ofende-se, acusa-se, é o vale tudo sem olhar a meios para aliviar as dores de fracassos desportivos. Por isso, usa-se a imaginação para distrair os adeptos e desviar-lhes a atenção daquilo que os mandantes não estão interessados em mostrar.

A poeirada tóxica que se levantou neste princípio de defeso teve o propósito de confundir e influenciar a discussão. Provocou tosse nervosa a uns, outros fez-lhes lacrimejar os olhos, de riso, mas também agitou mentes sensíveis que logo enxergaram culpas e culpados. Em concreto, sem saberem o que estava em causa: é a nova corrente purista no seu melhor, ora exaltada, ora benevolente, dependendo da tonalidade da coisa.
Luís Filipe Vieira sossegou a nação da águia ao afirmar que o clube irá responder a toda gente «no local próprio». E disse mais: «(...) deixem os outros falar, deixem-nos distraírem-se. O que é importante para nós chama-se Benfica e não vale a pena falarem de e-mails, bruxos e contra-bruxos. Nem o Benfica irá responder a isso».
O presidente benfiquista falou aos seus e colocou o acento tónico na conquista do penta. Esse é o alvo principal. O resto segue os seus trâmites, tanto mais que o caso dos e-mails se viu de repente despromovido em termos de alarido comunicacional, primeiro por desinvestimento dos fautores da iniciativa, depois pela eventual imprudência da directora executiva da Liga que procurou ridicularizar o Benfica com uma piadola, como lhe chamou o meu camarada António Simões, em A Bola TV, na conversa que tivemos no Domingo à noite, publicada nas redes sociais.
Deu para saber, porém, que a senhora aprecia pouca a cor encarnada, mas não mais do que isso. Deve ser avaliada, sim, pelo trabalho, pela competência e pela isenção nas funções que exerce na Liga de Clubes. Além de se lhe pedir mais moderação e sensatez na gestão desse espaço dito social em que os utilizadores, sem se darem conta, costumam abrir portas à devassa da sua privacidade.

Coincidindo com a festa do primeiro aniversário do título de campeão europeu, um assunto que o cidadão comum pensava morto, enterrado e esquecido - confesso que já não me lembrava -, a Justiça, todavia, manteve-o vivo e as consequências aí estão: três secretários de Estado pediram a demissão, e o primeiro-ministro aceitou, por terem assistido a jogos do Europeu à conta da Galp.
Afinal, a Justiça funciona. À velocidade em que mais jeito lhe dá, mas funciona. Estejam, pois, tranquilos os intrépidos embaixadores da verdade. A seu tempo tudo se esclarecerá, no local próprio, como sublinha Vieira, jamais em programa de canal televisivo ligado ao FC Porto, como é óbvio... Entretanto, façam o favor de deixar treinadores e jogadores trabalharem em paz. Porque são eles os actores e é no campo que os jogos se ganham."

Fernando Guerra, in A Bola

Trote português no meio da cavalaria alemã

"Preocupante a forma como o videoárbitro não serviu, na maior parte das vezes, para esclarecimento inequívoco das dúvidas, até com benefícios evidentes para a selecção nacional que conquistou o terceiro lugar nesta Taça das Confederações.

Chove sobre a cidade, agora que o Portugal-México, a contar para esse sempre irritante e meio incompreensível jogo para definir o terceiro e o quarto lugar desta Taça das Confederações, Rússia 2017, chegou ao fim é é tempo, ao fim de quinze dias passados a saltar entre Kazan, Moscovo, São Petersburgo, e depois Kazan e Moscovo outra vez, de regressar a casa com a ideia clara de que, apesar de tudo, a selecção nacional ficou um bocadinho (não grande, mais ainda assim um bocadinho) aquém das expectativas que nela foram depositadas, sobretudo sendo, como é, a campeã da Europa em título com todas as responsabilidades que isso, evidentemente, acarreta. Vitória final dos alemães, com golpes de uma jovem cavalaria, sempre capaz de tirar proveito dos erros alheios, e de que maneira!
Cinco jogos disputou Portugal - aí o máximo possível - e não tendo enchido o olho aos que seguiam a equipa de perto e com entusiasmo (os russos trouxeram-na, positivamente, nas palminhas, tirando, vá lá, o último jogo com o México), como aliás é apanágio do tal pragmatismo que o seleccionador, Fernando Santos, implementou desde o seu primeiro dia no cargo, fez o suficiente para estar entre os quatro melhores de um torneio que serviu, principalmente, para testar a organização que levará a cabo o empreendimento de pôr a funcionar a próxima fase final do Campeonato do Mundo, daqui a um ano. E, quanto a isso, só há que retirar ilações positivas. Estádios regularmente cheios - muito à custa de convites, mas tudo bem, afinal os testes fazem com estádios compostos e não às moscas -, uma forma clara de responder às questões colocadas, rapidez e método em qualquer problema que foi preciso resolver na área da imprensa, que é a que me diz mais directamente respeito.

Uma despedida rija!
O terceiro lugar de Portugal, depois da desilusão chilena de Kazan, aguentada até aos penalties à custa de muita fortuna e boa estrela, que foi desde a bola dupla ao poste e à barra de Rui Patrício, ao penálti claro perdoado a José Fonte, acabou se afirmar à custa de um México que até tinha sido ligeiramente superior à equipa de Fernando Santos no jogo de estreia desta prova. É um facto que, tal como aconteceu com a selecção portuguesa, a mexicana se apresentou sem alguns dos seus nomes mais sonantes. Isso não invalidou que tivéssemos assistido a um jogo rijo, de peito a peito, como se, afinal, estivesse em causa bem mais do que a consolação do triunfo na final dos pobres. A vitória lusitana não sofre contestação por aí além, baseou-se mesmo num folgo final meritório quando já tudo parecia perdido e com nova sessão perdulária de remates à baliza de Ochoa, que se deu ainda ao luxo de defender um penálti.
Beneficiaram, na generalidade, os nossos compatriotas do recurso ao videoárbitro. Que começou nesta competição, como uma epidemia e terminou, felizmente como uma mera constipação: deixando de ser um recurso constante.
Por acaso, ou talvez não, e vou bem mais pela segunda hipótese, ambos os jogos das meias-finais não foram interrompidos para opiniões televisivas. E confesso: não senti falta desses intervalos maçadores de expectativa irritante. Sobretudo depois de ter visto a forma dúbia como os foras-de-jogo são tratados com recurso a esta nova técnica: é fácil repor a situação de um lance ilegal que deu golo (volta-se ao local de partida), mas é impossível repor a situação de um lance anulado por um off-side mal assinalado, já que não pode desenhar-se o movimento outra vez. Talvez fosse bom repensar a forma de intervir. Sob o risco de entrarmos num tempo de injustiças informáticas.
No entanto para o terceiro e quarto lugares, o fraquinho árbitro da Arábia Saudita foi buscar aos ecrãs o penálti de Rafa Marquez sobre André Silva (que foi, de facto), mas não exerceu essa vantagem em outros casos e em prejuízo do México. Não se livrou, por isso, de um final de partida embrulhado em confusões, com muitos insultos e meia-dúzia de 'chinga-te!' à mistura. Na final, outra macacada: o árbitro foi ver na pantalha a repetição de uma agressão de um jogador chileno para depois lhe mostrar um amarelo. Ridículo! Para não dizer grotesco. É preocupante imaginar o charivari que se vai espalhar pelos campos de futebol de Portugal na próxima época, com adeptos a reclamarem do uso do não uso do videoárbitro por tudo e mais alguma coisa, razão porque, na minha opinião, e só minha, a imposição desta regra é manifestamente precipitada.
Aquilo que se viu durante a Taça das Confederações a que assistimos, ao vivo, nas cidades russas pelas quais Portugal passou, não oferece quaisquer garantias nem de isenção absoluta nem de diminuição dos erros arbitrais. Quanto muito passarão a ser escalpelizados praticamente, em directo ao invés de termos de esperar pelos programas da noite.
Fecha-se um capítulo. Outro se abrirá no próximo Verão. Até lá, regressa o futebol muito lá de casa."

Afonso de Melo, in O Benfica

Uma cidade a fervilhar de futebol

"Com histórias, cartooms e cartografia se revela a evolução de 20 clubes lisboetas, unidos numa história comum.

Campos enlameados, elementos do público a substituir árbitros que não compareceram, jogadores ou equipas completas atrasadas para jogos. Histórias de um tempo em que o futebol era mais espontâneo, menos organizado, trazem-nos o caricato de uma modalidade tão diferente a um século de distância. Mas também há situações ainda actuais, como os desmaios perante a emoção da partida e os comportamentos menos adequados dos adeptos, mesmo que noutro tempo isso significasse ver um jogo 'em mangas de camisa'.
Com estas e outras histórias curiosas se construiu a relação do Benfica com os clubes de Lisboa. Inseridos numa cidade fervilhante de futebol, os clubes, simultaneamente irmãos e adversários, cresceram lado a lado. As provas da Associação de Futebol de Lisboa, as mais importantes do país no dealbar do desporto-rei, uniram os clubes numa história comum. Algumas das colectividades do início do século não sobreviveram mais do que uma não-cheia de anos. Outras consolidaram-se ao longo do tempo, passaram por dificuldades, mas sobreviveram até hoje. Outras ainda, unindo-se, deram origem a novos clubes que se transformaram em grupos emblemáticos da cidade.
A história destes clubes está intimamente ligada não só à evolução do futebol mas também aos seus campos desportivos. No início do século XX, a maioria dos campos eram terrenos públicos, muitas vezes utilizados também para outras actividades, como feiras, que deixavam os terrenos pouco próprios para o prática do futebol. Depois, vieram os simples campos, com modestas vedações, ainda pelados. Com o crescimento da cidade, alguns campos desapareceram. Os grandes estádios surgiram na paisagem urbana nas décadas de 40 e 50 e, hoje, a cidade conta com modernos estádios do século XXI.
Esta é a evolução de um século de paixão pelo futebol, de paixão pelos clubes e de paixão pela cidade. Na exposição Lisboa e Benfica - 20 Clubes, 20 Histórias, celebramos essa paixão. Com traço de Ricardo Galvão, cartoonista de A Bola, damos a conhecer 20 histórias de 20 clubes lisboetas, recorrendo a uma das grandes tradições na comunicação do desporto, o cartoon. Objectos do acervo dos clubes lisboetas mostram a sua identidade. Através da cartografia da cidade, relembramos a Lisboa de outros tempos. Para visitar até 30 de Setembro, na Rua do Jardim do Regedor, em Lisboa."

Rita Costa, in O Benfica

12.º dia...

Alvorada... Rolando...

Benfiquismo (DXXVI)

Chico Ferreira

As Regras dos Jogos... Bipolaridades!!!

Tetralambreta...!!!