Últimas indefectivações

terça-feira, 20 de novembro de 2018

105x68... Selecções e o regresso...

Alvorada... do Vicente

Para lá do murmúrio dos despeitados

"Ribeiro dos Reis foi uma figura ímpar do Benfica e é, por vezes, injustamente esquecido. A sua importância na construção do futebol do clube é irrevogável. Como jogador e como técnico. E até como dirigente.

Conheci muito bem a Dra. Margarida Ribeiro dos Reis. Era proprietária da velha A Bola e uma pessoa interessantíssima. Muitos adeptos do Benfica recordar-se-ão de a ver entregar a Bola de Prata a vários jogadores encarnados, no antigo Estádio da Luz.
A Dra. Margarida, também ela benfiquista ilustre, era filha de uma das grandes figuras da história das águias e muitas vezes injustamente esquecida: o tenente-coronel Ribeiro dos Reis.
António Ribeiro dos Reis foi um casapiano, tal como o seu grande amigo e companheiro de muitas jornadas Cândido de Oliveira. Depois estudou no Liceu Pedro Nunes, à Estrela.
Adorava futebol. E era empreendedor como poucos. Quis organizar uma equipa de alunos para participar no Campeonato de Lisboa de futebol de quartas categorias. Não conseguiu. Foi para o Benfica.
Todos os domingos, Ribeiro dos Reis, por amor ao jogo inventado pelos ingleses e por paixão pelas camisolas vermelhas, ia a pé de Santo Amaro, onde morava, até Sete Rios. Jogava com um entusiasmo cativante. Depois regressava pelo mesmo caminho. Sem dinheiro para uma botas de futebol, usava as do dia-a-dia. Mas forrava-as de pano para garantir que sempre duravam mais uns tempitos...

Uma alma de campeão!
Em 1913, Novembro, estreou-se pelas primeira categorias do Benfica. Vitória sobre o Sacavanense por 8-0. Nessa época, o Benfica foi campeão invicto de terceiras categorias, e Ribeiro dos Reis foi titular na maior parte dos jogos. E ainda foi fazer uma perninha às segundas categorias e ao desempate entre Benfica e Sporting pelo título depois de terem chegado ambos ao fim igualados na tabela. O Benfica ganhou 3-0, Ribeiro dos Reis marcou um golo e açambarcou outro campeonato na mesmíssima época. Tinha alma de campeão!
Ribeiro dos Reis não se divida apenas pelas várias categorias do futebol encarnado.
Fazia, como sempre fez, mil e uma coisas.
Foi, sobretudo, um enorme jornalista que passou pelas páginas do Sport Lisboa logo a partir de 1914. As suas análises profundas sobre as influências sociais e económicas do desporto na vida dos cidadãos portugueses deixaram os seus leitores sem dúvidas quanto à craveira intelectual que possuía. Foi um dos fundadores de A Bola.
Avancemos no tempo cerca de 30 anos.
O Sport Lisboa e Benfica promove uma enorme homenagem a Ribeiro dos Reis.
Neste mesmo jornal que tem hoje em mãos, escreve-se: 'Rendeu-se homenagem vibrante, sincera e grandiosa, mas sem o falso esmalte protocolar, a alguém do desporto nacional, homem do espírito forte e forte acção, que tem lutado sempre com a mesma fé, indiferente à maledicência, alheio ao manejo da baixa política desportiva. Os murmúrios dos despeitados e dos maldosos nunca o fizeram vacilar no caminho recto'.
Ribeiro dos Reis soube ser superior aos que quiseram envolvê-lo em mesquinhces. Até quando abandonou pelo seu próprio pé o cargo de seleccionador nacional, ele que fora o primeiro treinador a conseguir uma vitória com Portugal, contra a Itália, em 1925.
Durante onze anos foi jogador das primeiras categorias do Benfica. Em fases diferentes da carreira, esteve cerca de oito anos como treinador do clube.
Atingir a sua grandeza não está ao alcance de qualquer um.
A sua grandeza de carácter que o fez agradecer assim ao Benfica num dia sem regresso 'Os nossos actos seguem-nos. Hão-de ser sempre a nossa força moral. Acabo de ouvir tão lisonjeiras apreciações à minha actividade no campo desportivo e o meu orgulho está precisamente no facto de não enjeitar nenhum dos meus actos. Trouxe-se demasiado à boca de cena o indivíduo. É justo esbater a sua figura para fazer surgir em seu lugar a colectividade em que se formou, em que ele se fez gente. As homenagens que me foram prestadas endereço-as ao Benfica, em cuja escola de virtudes temperei o meu carácter'.
E que carácter!"

Afonso de Melo, in O Benfica

Grão a grão organiza-se uma coleção

"A Secção Cultural idealizou, os benfiquistas fizeram acontecer e o acervo do Clube ficou mais rico

'Vamos (...) organizar uma grande colecção de emblemas desportivos de todo o Mundo!'. O mote foi lançado pela Secção Cultural e os benfiquistas aderiram em massa.
A ideia há muito que germinava na mente dos membros da Secção e, no início de Outubro de 1957, através do jornal O Benfica e do suplemento Cultura e Desporto, foi partilhada com os benfiquistas. Rapidamente sócios e adeptos, de Portugal e do estrangeiro, e até 'filiais e delegações espalhadas pelo país e pelas províncias ultramarinas' endereçaram ao Clube as suas ofertas. A secção Cultural, grata pedia: 'todos os espécimes que tenham a amabilidade de nos enviar deverão vir devidamente identificados. Desta maneira, poupam-nos trabalho (trabalho moroso e, por vezes, infrutífero devido à impossibilidade de identificação) e garantem-nos mais a autenticidade da mesma identificação'.
No final desse ano, e 'excedendo as nossas conjecturas iniciais', já haviam sido 'registados e devidamente identificados 286 emblemas' e o primeiro estojo-mostruário, com 'exemplares de colectividades desportivas portuguesas', exposta 'na vitrina dos novos troféus, na Secretaria'. Os envios prosseguiram e, durante mais de 10 anos, chegaram ao Clube emblemas provenientes dos quatro cantos do mundo, tendo sido o último um emblema do então já extinto Grupo Desportivo do Coliseu dos Recreios, registado em meados de 1969. Entre as ofertas, destaca-se um 'emblema do Grupo Sport Benfica ofertado' pelo então 'sócio n.º 1 do nosso Clube - o sr. Luís Joaquim Gato'.
Mas esta iniciativa não serviu somente o Benfica. 'Por intermédio de um sistema de trocas', também os coleccionadores particulares da especialidade puderam enriquecer as suas colecções.
Os estojos-mostruários com os mais de 1500 emblemas que compõem a colecção - organizados segundo o 'critério adoptado desde o início da colecção - agrupar por nações os emblemas nos estojos-mostruários', 'sem distinção de etnias e de posições na escala de valores desportivos' -, assim como os emblemas repetidos, encontraram-se em reserva no Departamento de Reserva, Conservação e Restauro. No Centro de Documentação e Informação, encontram-se os documentos de arquivo associados à colecção 'Emblemas de Todo o Mundo'."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

Chama Imensa... Cashball, Alzheimer, Finanças, Selecções, desLiga...

Benfica FM - Solnado e Caseira

Sou a informar !!!

"Caros amigos, a título pessoal está preparado por uma equipa de Advogados a ser divulgada em momento oportuno, novos elementos do apito dourado, com testemunhas a assumir que mentiram no tribunal de Gondomar entre outras/os, bem como novos testemunhos reais com provas evidentes.
- Clarifico que tudo isto nada tem a ver com clubismo e muito menos tem haver com o SL Benfica, apenas esta medida vem de encontro ao facto de tanto me acusarem e difamarem com inverdade, por parte de pessoas ligadas ao FC Porto.
- Após profunda análises dos Advogados, chegaram à conclusão de que era possível a reabertura do processo com estes novos dados/elementos.
- O Processo está preparado para dar entrada no tribunal de instrução criminal da Comarca de Lisboa, e será entregue nos próximas horas, para bem do desporto nacional e para que o reinado das difamações, julgamentos públicos e humilhação dos adeptos de futebol Português, termine.
Posto isto, em momento oportuno tudo vai ser divulgado."

A Liga das Nações: uma boa notícia

"A Alemanha foi a primeira vítima. E raramente a Alemanha é primeira vítima do que quer que seja no futebol.
A Liga das Nações confirmou o mau 2018 da Mannschaft e, imagine-se, mesmo sendo uma potência mundial, a Alemanha vai jogar uma segunda divisão. Dito assim, talvez tenha o devido impacto que a Liga das Nações, afinal, parece merecer.
Os jogos de selecções fora de fases finais são na maioria das vezes enfadonhos. Sobretudo quando a diferença qualitativa entre duas equipas é do tamanho de um continente ou nem sequer há um pingo de rivalidade patriótica, coisa que tanto alimenta as representações dos países em campo.
Ficando, nalguns casos, por resolver a segunda questão, a Liga das Nações soluciona pelo menos a primeira. O escalonamento em divisões permite que os jogos sejam mais equilibrados e o sistema de subida e descida põe muita gente a jogar finais em Outubro/Novembro.
Talvez ainda se pense pouco no play-off de qualificação para o Europeu ou das implicações que esta prova tem no apuramento, mas é uma questão de tempo e habituação para se assimilar que é igualmente relevante.
Depois, esta primeira edição trouxe coisas incríveis.
San Marino não ganhou nenhum jogo, mas Gibraltar e o Liechtenstein sim. Há alegrias lá no fundo. 
Na primeira divisão, até um jogador ficou admirado com a própria exibição: Seferovic marcou um improvável hat-trick – pé esquerdo, pé direito e cabeça. Perfeito.
Nesta terça-feira, entramos para o dia para saber se o Kosovo – quem nem país reconhecido por toda a Europa é – afinal tem mais estatuto do que se pensa. Improvável.
Em toda esta primeira fase não houve Cristiano Ronaldo. E mesmo assim, Portugal venceu o grupo, convenceu na maioria dos jogos e volta a organizar uma fase final de uma prova UEFA. Quem diria isto saído do Rússia 2018?
Com tanta incredibilidade, a Liga das Nações foi confusa no papel e pior ficou com a bola a rolar: a Alemanha desceu de divisão?!!
Tudo somado, uma boa notícia. A não ser para Joachim Low, que pode ver as coisas piorarem ainda."

A validade das cláusulas de opção

"Na disputa judicial entre um jogador e um clube, o Tribunal da Relação de Lisboa, em Junho, deu razão ao empregador. Não vingou a contestação à cláusula de opção de prorrogação do contrato.

Por vezes é preciso um esforço para se ver o óbvio, na citação de Orwell: "Ver aquilo que temos diante do nariz requer uma luta constante...". Vem isto a propósito de uma situação que, com todo o respeito, sempre me pareceu manifesta - de que deve declarar-se válido o pacto de opção constante de um contrato de trabalho desportivo - situação que é polémica e contrariada por grande parte da doutrina que trata de questões de direito desportivo.
Resumindo o caso: um clube celebrou um contrato de trabalho desportivo, por duas épocas desportivas e este poderia ser prorrogado por mais uma época caso o clube o manifestasse por escrito. O mesmo clube informou a sua intenção de prorrogar o contrato, ao que o jogador respondeu que considerava que o seu vínculo teria terminado e que não aceitava a validade da cláusula de opção, assinando por clube rival.
No essencial, o jogador alegou que a cláusula de opção constante do seu contrato violava a sua liberdade de trabalho e os princípios constitucionais de proibição de despedimentos sem justa causa e segurança no emprego.
Conclusão, o tribunal deu razão ao clube. Este foi um caso recentemente julgado (acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 06/06/2018) e gostaríamos de evidenciar tal decisão, com a qual concordamos na íntegra, somos de opinião que é perfeitamente válida a cláusula de opção aposta num contrato de trabalho desportivo.
Tal cláusula não implica uma desigualdade de direitos entre as partes. O jogador podia ter escolhido não celebrar o contrato ou celebrar outro contrato sem tal cláusula, mas não o fez. Ora, os pactos assumidos devem ser respeitados, traduzido no brocardo latino: pacta sunt servanda. O jogador não demonstrou qualquer falta ou vício na sua vontade de celebrar tal contrato. Sabemos que a relação de trabalho é assimétrica, todavia, os jogadores profissionais têm hoje um papel mais activo na modelação do respectivo contrato e assessoria técnica, jurídica e negocial.
Ademais, no caso era um jogador reputado, internacional e titular indiscutível de uma selecção nacional, pelo que o seu comportamento foi abusivo e não lhe assistia razão. Todos os contratos devem ser integralmente cumpridos com boa-fé.
Na nossa opinião, esse tipo de cláusula não estabelece qualquer restrição à liberdade de trabalho. Tal cláusula atua na pendência do contrato, podendo levar à prorrogação do mesmo. Se prorroga, não faz cessar. Não cessando, não tem a virtualidade de impor uma limitação da liberdade de trabalho.
O jogador, livre e voluntariamente, decidiu assinar o contrato onde a referida cláusula se insere, consequentemente, terá escolhido livremente a profissão, o género de trabalho e as condições que pretendia, não existindo violação da Constituição. Aceitou ser praticante desportivo do clube durante duas épocas, bem como de uma terceira época, caso o clube também o viesse a querer. E, o clube quis continuar a assegurar o trabalho ao jogador por mais uma temporada desportiva. Não o quis impedir de continuar a trabalhar nos termos contratuais consigo acordados.
Em suma, ao contrário de alguma doutrina, defendemos que a cláusula em causa não é nula, nem padece de qualquer inconstitucionalidade. Fez-se justiça!"

Futebol… O desafio do negócio dentro dos negócios

"O futebol contribui com cerca de 456 milhões de euros para o PIB e gera mais de dois mil postos de trabalho em Portugal, considerando apenas os impactos directos da Liga Portugal e das suas sociedades desportivas.

Os passos que necessita de dar enquanto indústria são desafiantes. Tal como sucedeu no sector do turismo e do real estate, nos anos 90, com a entrada das grandes marcas e em que trabalhei mais de 20 anos, também no futebol se exige que ocorra um abanão técnico, tendo em vista a sua potenciação enquanto indústria.
O negócio da indústria do futebol só é possível com uma Liga credível e transparente nas suas contas e nas dos seus emblemas. Conhecer a realidade financeira dos clubes não é um ato de espionagem, mas sim uma forma de nos unirmos contra uma dimensão maior: a concorrência de outras Ligas que vão ocupando o espaço internacional (comercial, de parceiros e de visibilidade nos adeptos) e a nova distribuição financeira nos figurinos internacionais.
O nosso posicionamento deve ser comum, pela valorização das competições profissionais e pela clara industrialização do futebol nacional, com competência e com rigor. Só assim, podemos partir para a internacionalização da Liga Portugal e, consequentemente, das suas competições e emblemas. Porque o nosso mercado é pequeno, com 11 milhões de habitantes, e disputamos os mesmos territórios de patrocínio de marcas, com orçamentos cada vez mais criteriosos. As grandes marcas internacionais querem o todo e não as partes, e essa deve ser a nossa ambição, para atingirmos orçamentos realmente capazes de fomentar a mudança na e para a indústria.
Desta forma, a Liga Portugal e as sociedades desportivas têm de ser capazes de definir sistemas de planeamento, de executar e monitorizar, implementando ferramentas efectivas de "balanced scorecards"."

Benfiquismo (MXV)

Manuel da Conceição Afonso...
Operário, Sindicalista, Anarquista...
Presidente do SL Benfica

“Na Polónia, um veado atravessou-se à frente do carro e, ao desviar-me, capotei. Quando percebi que estava bem, desatei a rir"

"Fez a formação no Benfica, foi campeão de juniores, mas não conseguiu vingar na equipa principal, muito por culpa própria, assume. Dos tempos passados na Luz recorda como a morte de um dos melhores amigos, Bruno Baião, com apenas 19 anos, o afectou. Jogou na Polónia, Espanha, França e Chipre, mas foi no Estoril Praia de Marco Silva que viveu as maiores alegrias futebolísticas da carreira sénior. Há duas épocas no Feirense, não pensa no futuro nem em arrumar as botas - apenas em fazer a família feliz e continuar a viver perto do mar, para praticar o seu hobby, o surf

Nasceu em Oeiras, cresceu na Rebelva e tem um irmão mais novo três anos. E os seus pais, o que faziam?
O meu pai, Sérgio Gomes, trabalhava numa fábrica e a minha mãe, Cristina Damil Gomes, num supermercado.

Quando era puto o que dizia que queria ser?
Lembro-me que gostava muito de golfinhos e uma vez fui com a minha mãe ao jardim Zoológico e disse-lhe que queria ser tratador de golfinhos [risos]. Tinha uns cinco ou seis anos.

Qual foi o primeiro desporto que começou a praticar?
Fazia muita coisa, mas acho que foi o futebol, comecei com seis anos, ainda só treinava, não podia jogar. Mas gostava muito de ir para a praia, andar de bicicleta, nunca parava em casa.

Torcia por que clube?
Comecei a gostar do Benfica, porque estive lá muitos anos. Também gostava do Belenenses, porque o meu pai gostava, mas, verdadeiramente, nunca fui de nenhum clube. O meu clube é o clube no qual jogo.

Como e quando vai treinar no Carcavelos?
Tudo começou porque o meu primo Miguel, que é mais velho do que eu um ano, foi para o futebol de Carcavelos e eu quis experimentar. Lembro-me que não tinha chuteiras e comprei uns ténis, nem sabia que o campo era pelado e eu andava a escorregar de um lado para o outro [risos]. Mas começou com o meu primo que foi lá treinar e resolvi ir com ele, andávamos sempre juntos.

Gostava da escola?
Eu era muito ansioso, queria estar sempre a correr e não gostava de estar tanto tempo nas aulas. O que gostava mais era do toque para o intervalo.
Quando começa a jogar já era defesa esquerdo?
Acho que era extremo esquerdo, fazia o corredor todo porque gostava muito de correr.

Quem eram os seus ídolos?
Adorava o Roberto Carlos e o Maldini.

É verdade que pratica ou praticou surf?
Andei na Escola Secundária de Carcavelos e tinha muitos amigos que faziam surf, aliás, tenho um amigo que tem lá uma escola de surf, e eu gostava e gosto muito de estar na praia, se pudesse estava lá o dia todo, gosto do contacto com o mar, de sentir aquela brisa do mar... E como gosto de todo o tipo de desporto, resolvi experimentar surf. É como se fosse um hobby, quando tenho tempo, gosto de ir surfar.

Como vai parar ao Benfica?
Começo no Carcavelos e há uma altura em que sou convocado para a selecção de Lisboa. Entretanto fomos a um torneio, em que jogámos contra o Benfica, o Sporting, o Estrela da Amadora, e o torneio correu-me bem. Acho que até ficámos em 3º lugar. Quando o torneio terminou, tive propostas do Estrela da Amadora, do Sporting e do Benfica. A primeira pessoa a ir a minha casa falar com os meus pais foi um director ou treinador do Estrela da Amadora. Do Sporting acho que só contactaram por telefone e do Benfica foi também uma pessoa lá a casa. Mostrei mais interesse em ir para o Benfica. A maneira como a pessoa falou e como demonstrou o interesse em mim também fez com que os meus pais optassem pelo Benfica.

Os seus pais nunca lhe impuseram nenhuma condição para jogar futebol, do género "só jogas se continuares a estudar"?
Eles ficaram contentes por ter tido a proposta do Benfica, mas é claro que com 11, 12 anos não me ia tornar jogador e tinha de preparar o futuro. Por isso disseram: “Ok, vais para o Benfica, vamos fazer os possíveis para te levar aos treinos, mas também tens que fazer o esforço de continuar na escola e teres boas notas”. Foi com essa condição.

E isso aconteceu ou não?
Sim, só chumbei um ano e já tinha 16 ou 17 anos. De resto passei os anos todos até ao 11º ano, que já não acabei por causa do futebol.
Lembra-se quem foi o seu primeiro treinador no Benfica?
Quando cheguei ao Benfica, meio envergonhado, estavam lá o Bastos Lopes e o Chalana. Lembro-me que estava com um brinco e o Bastos Lopes disse-me que eu ali não estava na escola e para tirar o brinco. Nunca mais me esqueci porque foi a primeira vez que ele falou comigo.

Era rebelde?
Não. Gostava de usar brincos, se calhar na altura estava na moda.

Do tempo da formação no Benfica há mais algum treinador que o tenha marcado?
Na altura havia juvenis B e juvenis A e o Chalana treinava os A, eu quase sempre treinava com os B mas gostava da maneira como o Chalana era, como ele falava com os jogadores. Mas quem me marcou mais foi o Bastos Lopes - e também gostei muito do Zé Luís.

Quando é que volta a ser chamado a uma selecção?
Continuei a ir à selecção de Lisboa e depois, com 15 ou 16 anos, sou chamado à selecção nacional, para o Europeu, em Viseu, em que fomos campeões.

Qual foi a sensação quando foi convocado pela primeira vez à selecção nacional?
Era um dos meus objectivos e estava a concretizá-lo. Fiquei muito contente mas também sabia que tinha de continuar a trabalhar.

Foi praxado?
Não. Naquela altura não havia o hábito que há hoje quando um jogador chega a uma equipa, em que tem de cantar.

Costumava dividir o quarto com quem nos estágios?
Com vários. Fiquei com o Miguel Veloso, com o Manuel Fernandes e com o Miguel Lopes, que está na Turquia.

Criou amizade especial com algum deles?
Dei-me sempre bem com todos, mas se calhar o Manuel Fernandes é o que me marca mais, porque joguei muitos anos com ele e também fomos juntos à selecção. Ainda somos amigos. E o João Coimbra também.

Fez a formação toda no Benfica mas nunca chegou a estrear-se na equipa principal…
No campeonato não, fiz a pré-época. Tinha 16 anos, o treinador era o Camacho.

O que achou dele?
Para ser sincero não falei muito com ele. Era uma pessoa de cara fechada. Falava só o necessário, não deu para o conhecer, só falava de futebol.

Era amigo do Bruno Baião. Estava lá quando ele teve o ataque cardíaco?
Sim. Ele morava na minha zona, Oeiras, costumava ir com ele para os treinos, às vezes dormia em casa dele. Dava-me bem com ele, jogámos dois anos, ganhei uma grande amizade e um grande carinho, era um dos meus melhores amigos. Nunca vou esquecer esse momento. Estávamos a treinar no Olivais Moscavide, no sintético, o treino tinha acabado e quando acabava o treino íamos sempre comer qualquer coisa no café ao lado. O Baião e mais três ou quatro amigos já tinham ido, eu estava a tomar banho e aparece o massagista a correr a dizer que tinha acontecido qualquer coisa ao Baião. Vesti-me rápido, pensei que ele estava mal disposto e quando chego vejo-o inconsciente a tentar respirar e não conseguir. Ficamos à espera da ambulância que nunca mais aparecia. Aquele ataque cardíaco nunca devia ter acontecido. Ele tinha 18, 19 anos.

Foi um choque muito grande.
Sim. Tinha acontecido aquilo com o Fehér e depois aconteceu com o Baião, foi um ano para esquecer.

Sentiu medo, pensou que também podia acontecer-lhe algo semelhante?
Eu fiquei um pouco paranóico com a situação. Lembro-me que uma vez estava no cinema e comecei a ter um ataque de pânico ou de ansiedade. Tive que sair da sala de cinema porque parecia que o meu coração estava a bater muito rápido e que ia acontecer alguma coisa. Até fui ao psicólogo porque havia alturas em que estava nos jogos e estava com receio, em vez de estar focado no jogo e no que tinha de fazer, estava sempre com aquele receio.

Foi por iniciativa própria à procura de ajuda psicológica ou foi aconselhado por alguém?
Conhecia o psicólogo que tinha estado no Benfica e cheguei a falar com ele, fui a uma ou duas sessões, não foi nada de especial.
Da equipa principal houve algum jogador que tenha sido mais simpático consigo?
Eu era um miúdo, tinha 16 anos, foram todos simpáticos, gostei muito do Ricardo Rocha, do Simão Sabrosa, do Hélder. Também gostei muito do Tiago que foi para o Atlético de Madrid.

Não tem nenhuma história divertida desses tempos, que possa contar?
Quando aos 16 anos fui fazer a pré-época com o Benfica, há um dia que apanho o Petit e o Fernando Aguiar no elevador e eles agarram-me, começam a fazer truques de luta livre comigo... Eu parecia um boneco nos braços do Fernando Aguiar [risos].

O seu sonho na altura era obviamente fazer parte do plantel principal do Benfica. Porque é que não aconteceu?
Por culpa minha. Não vou dizer que foi culpa de mais alguém, foi culpa minha. A nível de trabalho, acho que nunca facilitei, nunca desisti. Se calhar foi uma questão de sorte. Não sei. Não há explicação, mas não vou meter a culpa em ninguém, a não ser em mim.

Era rapaz para gostar de andar nas noitadas?
Claro que com 16 anos saía, mas só quando tinha folga no dia a seguir.

Nunca foi castigado, nem se meteu em problemas?
Não. Não saía muitas vezes e quando saía era porque tinha folga no dia a seguir. Quando ganhava um jogo, íamos jantar todos e dar uma volta. Quando isso não acontecia, ia com os meus amigos de infância.

Quando assina o primeiro contrato, a ganhar dinheiro pela primeira vez?
O meu primeiro contrato profissional foi com 16 anos, no Benfica. Antes disso eles pagavam diárias, pagavam um “x” por dia e no final do mês eram uns 500, 600 euros, mas não era bem contrato. 

Comprou alguma coisa para si com o primeiro dinheiro que ganhou?
Se calhar uns ténis ou um telemóvel, já não me lembro.

Quanto é que sai da casa dos seus pais?
Só quando vou para o Estoril, tinha uns 24, 25 anos. Não saí da casa dos meus pais muito cedo.
Não fica no Benfica e vai para o Estrela da Amadora. O que aconteceu?
Fui emprestado ao Estrela. O treinador do Benfica era o Graeme Souness, que veio falar comigo, disse que não contava comigo para os planos dele e que era melhor ser emprestado.

Ficou chateado?
Fiquei um bocado triste porque queria continuar no Benfica e fazer parte do plantel. Mas se calhar foi a melhor opção porque assim podia jogar mais, ia conhecer outra realidade, ia tornar-me um jogador mais profissional, olhar para o futebol de outra maneira.

Acha que isso aconteceu?
Acho que não, porque não correu muito bem essa época.

Quem era o treinador quando chegou ao Estrela da Amadora?
Era o Daúto Faquirá. As condições eram completamente diferentes... Fui emprestado para jogar mais, tinha de estar ali um ano e depois voltava ao Benfica. Mas fui emprestado outra vez.

Foi para a Polónia a seguir, não foi?
Sim, fui para o Zaglebie Lubin, da Polónia, emprestado. A época não me tinha corrido bem no Estrela, ainda tinha contrato com o Benfica, apareceu essa proposta da Polónia... Monetariamente era melhor do que aquilo que ganhava no Benfica.

Quem lhe apresenta a proposta da Polónia, é o Benfica?
Não, foi o Mário Branco. Dou-me muito bem com ele, ele foi diretor do Estoril Praia e agora acho que está na Croácia. Foi ele que me falou nesta proposta e resolvi ir.

Foi sozinho?
Fui.

Tinha quantos anos?
20 ou 21.
Como é que foi sair de casa dos pais directamente para a Polónia, sozinho?
Custou-me ter saído da minha zona de conforto. Custou-me muito ir embora e ver a minha mãe a chorar, isso foi o que me custou mais. Mas monetariamente sabia que ia ajudar a minha família e resolvi fazer esse sacrifício, esse esforço. Ao chegar lá foi uma vida completamente diferente, o ambiente, tudo, mas passadas duas, três semanas comecei a ambientar-me, sobretudo por estar a fazer o que gosto. Como estava lá um português e o Mário Branco era director dessa equipa, eles ajudaram-me muito.

Ficou a viver onde?
Num apartamento, sozinho.

Como fazia com as refeições, ia sempre comer fora?
Uma vez fui comer fora e queria comer carne, mas aquilo era uma terrinha onde a maior parte das pessoas não falava inglês. Resolvi olhar para a ementa e escolher pensando que seria um prato de carne e afinal era um prato de peixe. A partir daí resolvi fazer comida em casa, comecei a ligar à minha mãe a perguntar como é que se faziam as coisas e por fim já estava a tornar-me num chef [risos]. Sobretudo a fazer arroz e carne.

Não gosta de peixe?
Gosto, gosto muito de peixe, mas eles lá comiam peixe frito, eu prefiro grelhado, e o peixe tinha um sabor esquisito.

O que fazia nos tempos livres?
Não havia muita coisa para fazer. Treinava de manhã, à tarde ia ao estádio e fazia trabalho de ginásio, mas era mesmo só para passar o tempo. Depois chegava a casa, via dois ou três filmes, fazia o jantar, via mais um filme e adormecia. Praticamente era o meu dia a dia.

E o futebol, era muito diferente?
Sim, era um futebol mais directo, mais à base de força, não era muito de trocar a bola. Eu achava que ia ser mais fácil, mas não foi, havia muitos jogadores com qualidade, boas equipas. Foi muito bom para mim, como experiência, jogar ali.

Conseguiu impor-se na equipa?
Naquela época penso que fiz 23, 24 jogos, se não fossem as lesões podia ter feito mais.

Teve muitas lesões?
Tive duas lesões musculares.

Esteve muito tempo parado?
Na primeira lesão parei um mês. Depois comecei a treinar e na primeira semana quis jogar, ressenti e estive parado mais dois meses. Como estava emprestado pelo Benfica, falei com eles e deram-me a liberdade de vir fazer os tratamentos a Portugal, ao Benfica.
Qual é a melhor recordação que tem da Polónia?
Eu e o Rui Miguel para irmos para uma cidade mais movimentada tínhamos de fazer mais ou menos 40 minutos de carro e nós tínhamos um colega, o Sreten Sretenovic, que não sabia ir para o aeroporto e precisava de ir lá buscar um amigo. Combinámos que ele vinha atrás de nós, no carro dele. Na volta ele está mais à frente e de repente atravessa-se um veado à frente do meu carro. Era uma estrada normal, com dois sentidos. Eu assustei-me e como a estrada estava com gelo, capotei o carro. Foi um milagre não nos ter acontecido nada.

E ao veado aconteceu alguma coisa?
Não, ainda bem. Só aconteceu ao carro.

O carro era seu?
Não, era do clube. Mas eles foram porreiros e deram-me outro.

Saíram ilesos?
Sim, o carro ficou virado ao contrário e quando vi que não nos tinha acontecido nada, comecei a rir e o Rui Miguel queria bater-me [risos]. “Mas tu estás maluco! Estás a rir?!” Quando vi que não nos tinha acontecido nada de mal, comecei a rir-me, se calhar foi do nervosismo. Entretanto o Sreten ligou, expliquei-lhe o que tinha acontecido, mas ele não acreditou. Quase que tive de fingir que estava a chorar para ele dar a volta e vir buscar-nos [risos].

Depois da Polónia vai para Espanha, para o Osasuna.
Sim. Acabou a época no Zaglebie, eles queriam ficar comigo mas eu não conseguia ficar ali outro ano. Entretanto aparece a proposta do Osasuna na altura o meu empresário era o Carlos Gonçalves, foi ele que me arranjou essa proposta. Como era uma equipa que estava na Primeira Liga, não hesitei. 

Também foi sozinho para Espanha?
Fui. Mas foi mais fácil do que na Polónia. O idioma era mais fácil, também estavam lá o Dady, de Cabo Verde, o brasileiro Rovérsio, e ficou muito mais fácil. Lembro-me que quando lá cheguei, eu que não gosto muito de entrevistas, nem de falar para a televisão, estava uma série de jornalistas para fazerem perguntas, ainda por cima em espanhol e eu não sabia falar espanhol. Ainda hoje estou a tentar perceber se eles realmente perceberam o meu portunhol [risos]. Gostei muito do apoio dos adeptos ao chegar lá. No primeiro e no segundo dia estavam lá, contentes pela minha contratação. 

Adaptou-se bem ao futebol espanhol?
Sim, mas não me correu muito bem. Apanhei o Camacho como treinador e não fiz muitos jogos lá. 
Não tinham muita empatia um pelo outro?
Talvez. Se calhar também tenho um feitio... Até perco com isso.

Como é esse seu feitio?
Prefiro não contar, é melhor [risos].

É refilão?
Às vezes não reajo da melhor maneira, tenho que ter mais calma, não responder e “engolir alguns sapos”.

É muito explosivo?
Às vezes e por isso posso perder a razão e dizer coisas que se calhar não devia dizer.

Qual foi a pior coisa que disse ou fez enquanto jogador?
Não era tanto de chegar ao pé do treinador e dizer tu és este ou aquele, eram mais as atitudes que às vezes tinha no treino. Lembro-me que uma vez estava num clube, as coisas não estavam a correr bem no treino e quando saí dei um murro no banco. É mais este tipo de atitudes que não leva a lado nenhum.

Ainda é assim?
Já me controlo mais. Chegas a uma certa idade e vês que isso não te leva a lugar nenhum.

Estava a dizer que as coisas não correram muito bem no Osasuna.
Não correram porque não joguei. Cheguei em finais de Agosto, estava lá outro lateral esquerdo, o Nacho Monreal. Nem fiz a pré-época, comecei logo a treinar e comecei a sentir-me melhor. Entretanto faço um jogo treino contra uma equipa francesa, correu-me bem e fui chamado à selecção dos sub-18 ou sub-19, mas na véspera de vir para Lisboa, estou a treinar e lesiono-me, uma ruptura muscular. Ou seja não fui à selecção e fiquei um mês e meio parado. Entretanto os resultados do Osasuna não estavam a correr bem, o treinador é despedido e é nessa altura que contratam o Camacho. Depois para jogar ficou mais difícil.

Não voltou a jogar?
Não.

É por isso que vem embora? Como é que vai parar ao Belenenses?
Como não tinha feito nenhum jogo, não tinha nenhum golo marcado, quando apareceu a proposta do Belenenses, ainda por cima era em Lisboa ,estava perto da família, aceitei logo.

Como é que foram essas duas épocas em Belém?
Correu melhor no segundo ano, com o José Mota. Fiz a época inteira, não tive lesões, fiz os jogos quase todos e correu bem. Depois fui para o Estoril. Estava no final do segundo ano de contrato com o Belenenses e no final da época apareceu a proposta do Estoril.
Na altura em que vai para o Estoril ainda estava em casa dos seus pais.
Estava. Foi no Estoril que comprei casa.

Onde?
Perto dos meus pais.

As três épocas no Estoril com o Marco Silva correram bem.
O primeiro ano correu muito bem, fomos campeões e subimos de divisão. No segundo ano tive de ser operado a uma hérnia e estive dois, três meses parado, não fiz pré-época. Entretanto veio o Jefferson que faz uma boa época e ficou mais complicado para mim, por isso a segunda época não correu tão bem. E no terceiro ano só comecei a jogar nos últimos seis meses. Correu bem e fui para o SC Braga. 

Gostou do Marco Silva?
Gostei muito, como pessoa e como treinador.

Porque é que vai para o Braga? Era um contrato melhor ou o Estoril já não estava interessado?
O Estoril mostrou interesse em renovar comigo, mas não dava o mesmo que o SC Braga e eu na altura já estava com 28 anos, não podia desperdiçar a oferta do SC Braga, ainda por cima é uma excelente equipa.

E lá vai o Tiago de malas aviadas para Braga. Vai sozinho?
Vou com o meu irmão para assinar o contrato, fiquei lá os dois primeiros meses sozinho e depois a minha namorada foi ter comigo.

Onde e quando conhece a sua namorada?
Em Espanha. É de Valência. É a mãe dos meus dois filhos.

Como é que se conheceram?
Ela estava a acabar o curso de veterinária na faculdade. Nessa altura o Manuel Fernandes estava a jogar no Valência e eu como estava sozinho, costumava ir ter com ele. Ela tem uma irmã gémea que namorava com o Rui Moreira, o avançado que também foi meu companheiro de selecção. Houve uma altura em estávamos os dois juntos, eu e o Rui, e apareceu a namorada dele com a irmã. Começámos a namorar. Eu entretanto vim para o Belenenses mas ela só veio viver comigo quando fui para o Estoril.

Quando é que nasce o primeiro filho?
O Gabriel nasce no meu primeiro ano em Braga.
Quando chega ao SC Braga, quem era o treinador, como é que foi o impacto?
Era o Sérgio Conceição. Gostei dele como treinador. É uma pessoa muito frontal, gostei dos métodos de treino. Há uma coisa que não me esqueço, a palestra que ele dá antes dos jogos. Dá-nos uma grande motivação. A maneira como ele fala antes do jogo e “entra” nas nossas mentes para em campo darmos tudo.

Como é que foi a adaptação à cidade e às gentes de Braga?
As pessoas são muito simpáticas, a comida era boa, era tudo bom. A única coisa de que não gostava tanto era da chuva. Chovia muito.

A sua namorada adaptou-se bem?
Sim. Eu dava-me muito bem com o Rafa e com o Pedro Santos, normalmente estávamos juntos e ela também se dava com as mulheres deles.

Depois dessa época é emprestado ao Metz, de França.
Sim, no segundo ano. Na altura o treinador do SC Braga era o Paulo Fonseca, fiz a pré-época, mas apareceu essa proposta. Eles davam-me o dobro do que ganhava em Braga. Pensei que uma oportunidades daquelas podia não voltar a aparecer, falei com o Paulo Fonseca e ele deu-me o ok.

Foi com a família para França?
Sim, eles foram comigo. Adaptei-me logo muito bem porque o director era o Carlos Freitas, uma pessoa muito séria, tudo o que ele dizia estava sempre correto e certo. E o facto de lá estarem outros portugueses fez com que fosse mais fácil. Vivíamos todos perto uns dos outros, dava dois passos e estava ao lado da casa do Candeias ou do André Santos. Tornou-se muito fácil e gostei muito de lá estar. Foi uma época que correu bem, subimos de divisão, foi uma boa experiência.

Sabia falar francês?
Tinha aulas, desenrascava-me mais ou menos. Percebia melhor do que falava.

Depois vai para o Chipre. Foi uma oportunidade de ganhar mais dinheiro?
Eu estava emprestado pelo SC Braga ao Metz. Quando volto a Braga, o treinador era o Peseiro e ele não contava comigo para a pré-época. Estive a treinar à parte até que chegaram ao pé de mim e disseram que o Peseiro queria falar comigo. Fui falar com ele, perguntei-lhe por que razão já queria contar comigo se não tinha feito a pré-época. Disse-me que lhe tinham apresentado uma lista com os jogadores que iriam fazer a pré-época e que eu não estava na lista. E disse que contava comigo para treinar com a equipa A, mas para uma posição que não era a minha. Entretanto surge a proposta do Apollon e resolvi ir.

Como foi a experiência no Chipre, gostou?
Como qualidade de vida foi dos melhores sítios onde já estive. Estavam lá o Bruno Vale e o João Pedro, ambientei-me logo muito bem. Gostei muito do futebol, do clube, era um clube sério, com boas condições. Foi dos sítios onde mais gostei de estar. Tínhamos uma boa qualidade de vida.

Fica só essa época no Apollon Limassol e vem embora para o Feirense. Porquê?
Eu ainda tinha contrato com o SC Braga, voltei para Braga, mas foi a mesma história. Fui treinar à parte outra vez e apareceu-me a opção Feirense. Resolvi aceitar e estou lá até agora.
Passar do SC Braga para o Feirense foi um grande choque?
Se não contavam comigo de que me valia estar no SC Braga? Aqui contam comigo. Foi a melhor opção que fiz, é uma equipa de primeira, tem um bom plantel.

Está a viver onde?
No Furadouro.

Para estar perto da praia?
Santa Maria da Feira é uma cidade pequena mas tem muita gente e eu gosto de dar os meus passeios pelo mar. Gosto de estar numa zona mais tranquila, onde não haja tanta gente e no Furadouro estou perto da praia, gosto de viver lá.

Tem mais uma filha que nasceu em Setembro do ano passado, certo?
Sim, chama-se Índia.

Assistiu ao parto de algum dos seus filhos?
Não consegui, quando cheguei já tinham nascido. O Gabriel nasceu em Espanha, eu estava no avião e quando cheguei já tinha nascido. A Índia nasceu em Portugal, mas eu estava cá em cima e ia a caminho quando ela nasceu.

A sua mulher não ficou consigo no Furadouro?
No ano passado não, ficou em Lisboa. Este ano é que eles vieram ter comigo.

Esta já é a segunda época no Feirense. Está a correr bem, está a gostar?
À primeira já cheguei tarde, não cheguei a fazer pré-época, fiz 15 ou 16 jogos. Não joguei muito mas também devido a lesões. Esta segunda época não está a correr como esperava, não tenho estado a jogar, não tenho feito muitos jogos, fiz uns quatro jogos, não é o que eu pretendo, mas a época também é longa, vamos ver o que vai acontecer.
Tem tatuagens?
Tenho. Tenho uma maori, dois santos...São umas quatro ou cinco, estão misturadas, já nem sei.

É crente?
Não sou pessoa de ir à igreja. O facto de tentar ser uma pessoa boa e saber que consegui ajudar alguém faz-me sentir realizado e contente. Tenho a minha maneira de acreditar.

Como falou em tatuagens de santos...
Sim. Tenho uma nossa senhora, mas foi uma figura que gostei, que achei interessante, não tem nada a ver com religião, não tem propriamente um grande significado.

Falou em ajudar os outros, quem é que mais ajudou?
Lembro-me de uma situação de um amigo que estava a dever dinheiro ao banco e caso não pagasse o banco ficava-lhe com a casa. Naquela altura eu pude ajudar e só o simples facto de o ver aliviado, a sentir-se contente, deixou-me feliz, deixou-me contente por saber que assim ele já não tinha aquela preocupação de poder ficar sem casa. Houve uma outra vez, devia ter uns 15 anos, em que uma senhora chegou-se ao pé de mim e começou a falar. Não me pediu dinheiro, começou só a falar: “Não te metas nas drogas”. Acho que ela tinha um neto que pedia ou roubava dinheiro para a droga e aquilo tocou-me, acho que até me veio uma lágrima ao olho. E não foi por ter dado à senhora o dinheiro que tinha ali, não era isso que ia ajudar a senhora, mas o facto de saber que contribuí um bocadinho para que ela tivesse um momento feliz, fez-me sentir bem.

Tem ou já teve animais de estimação?
Tive sempre cães. Agora tenho três, uma labradora castanha, a Kenza, uma cocker que se chama Chica e um que encontrei na rua, o Tozé [risos], o rafeiro.

Qual é o seu maior sonho?
Neste momento, que não falte nada aos meus filhos nem à minha mulher, nem à minha família. Esse é um dos meus primeiros objectivos. Tenho de cuidar-me para estar bem e poder jogar o máximo de anos possível. E que possa dar uma boa educação aos meus filhos e fazê-los sempre felizes.

Está disposto a ir jogar novamente para fora?
Depende da situação. Depende do que me for oferecido.

Onde é que ganhou mais dinheiro?
Em França.

Onde é que tem investido o seu dinheiro?
No imobiliário.

E carros, é maluco por carros ou não?
Não, tenho dois carros, um para mim e outro para a minha mulher, e espero que durem muitos anos. Não ligo muito a isso. Uma pessoa tem um carro novo e fica contente durante um ou dois meses, depois se calhar já quer outro, isso para mim não é nada.
Se pudesse formar uma equipa de sonho, quem é que não podia faltar?
Na minha posição, o Roberto Carlos, para avançado o Zlatan Ibrahimovic, o Marcelo do Real de Madrid e o Cristiano Ronaldo.

Qual foi o adversário mais difícil de travar?
Lembro-me de um que jogava nas camadas jovens do Sporting, o Bruno Fernandes. Para mim foi dos jogadores mais complicados que já apanhei.

E qual é a equipa de sonho onde gostava de ter jogado?
No Real Madrid.

Há mais algum campeonato que gostasse de experimentar?
O inglês, pelo ambiente que se vive. Vê-se que as pessoas vivem o futebol. Mesmo que a equipa esteja a meio da tabela ou vá descer de divisão, os estádios estão sempre cheios, sempre ambientes fantásticos.

O que é que se vê a fazer no futuro, depois de pendurar as chuteiras?
Não penso muito nisso. Não penso no passado, nem no futuro, penso viver só o presente. Penso em investir bem, como já disse, para que não falte nada à minha família, mas o que vou fazer no futuro, não sei. Ainda queria jogar mais uns aninhos.

Mas seria algo ligado ao futebol ou não?
Acho que não. Como treinador não me vejo. Talvez como adjunto, não sei.

No último jogo da Taça de Portugal foi expulso...
Foi duplo amarelo. Foi estupidez minha.

O que é que aconteceu?
O primeiro amarelo foi porque a bola bate na mão. O segundo, um jogador foi ter comigo, toca-me na cara e a minha reacção foi agarrar-lhe no pescoço e empurrá-lo.

O sangue continuar a ferver-lhe rápido.
Tenho de tentar ter mais controlo emocional.

Sai a alguém da família?
Se calhar ao meu pai. Mas ele já está melhor.

Alguma vez foi castigado por um clube ou pelos seus pais?
Por um clube não. Os meus pais não eram de castigos do tipo ficar trancado no quarto, era mais uns açoites. Levei alguns.

Lembra-se de alguma situação dessas?
Uma vez fomos acampar, o meu pai montou a tenda e deixou-me lá com o meu irmão, sozinhos, quando chegou a tenda estava toda partida. Começámos a lutar um com o outro e partimos a tenda toda. Depois era o meu pai a correr atrás de nós no meio do parque de campismo [risos], para nos dar umas."