Últimas indefectivações

sábado, 15 de julho de 2017

Vender e ficar contente

"O campeão voltou para o seu primeiro joguinho da pré-temporada depois de duas semanas de trabalhos no Seixal. O campeão apresentou-se num campo suíço e venceu tranquilamente o Neuchâtel Xamax por duas bolas a zero. O resultado tal como a exibição, a exibição possível nesta fase mais do que prematura, terão agradado ao público benfiquista sem causar, no entanto, qualquer espécie de sobrexcitação no que respeita às expectativas para 2017/2018.
O campeão voltou mas vamos com calma até porque o campeão que voltou não é o mesmo que se viu festejado num sábado de Maio por todas as rotundas do país e, uma semana depois, no Vale do Jamor num final de tarde chuvoso e alegre. Entretanto já saíram, a peso de ouro, o guarda-redes, o lateral direito e um central. Se isto é para continuar – e é – ainda vão sair mais um central, mais um defesa-esquerdo, mais um médio ou dois e ainda uns quantos alas e mais um ou dois pontas-de-lança. O Benfica também é "uma casa portuguesa com certeza", como a que rezava uma velha canção. "A alegria da pobreza é esta grande riqueza de dar e ficar contente…", lembram-se? No caso em apreço é só substituir "dar e ficar contente" por "vender e ficar contente" e logo se nos apresenta, sem distorção, o retrato fiel da realidade financeira dos nossos clubes de primeiríssima água.
Haja alegria! Desde que se mantenham o bruxo, o Fejsa e o Jonas não é de crer que o desmembrar da equipa que foi tetracampeã afecte o espírito indomável da nação benfiquista. Mas importante mesmo é não perder o sérvio, que já vai no seu 9.º título internacional consecutivo, e o grisalho Jonas, esse artista fabuloso que é o nosso Sol da Primavera, ou não é?
Por tudo isto, o jogo na Suíça, para os adeptos benfiquistas, não passou disso mesmo: um jogo na Suíça com suíços que terminou em vitória e simpática invasão de campo. Porém, para os adversários internos do Benfica o desafio com o Xamax foi um escândalo, o primeiro da temporada a anunciar todos os que se avizinham mantendo-se este infame estado das coisas. Vejam bem: no 2.º minuto de jogo, o árbitro, um suíço infecto, anulou um golo ao Xamax. Não é que o jogador que fez chegar a bola ao fundo das redes à guarda de Júlio César não estivesse em posição irregular mas, com franqueza, sendo todo o lance de desenho milimétrico bem poderia o fiscal-de-linha não ter dado pelo adiantamento do fulano.
Como se esta atrocidade não bastasse, o mesmo árbitro decidiu no minuto seguinte, o 3.º minuto do jogo, apontar para a marca de penálti quando viu o guarda-redes do Xamax abalroar o velho Jonas. Não é que não tenha havido falta para castigo máximo. Mas, com franqueza, haveria necessidade de vir um sacana de um árbitro suíço fazer cumprir a Lei só pelo prazer de oferecer a Jonas a autoria do primeiro golo do Benfica no curso de 2017/2018?"

A liberdade de inexpressão

"O futebol julga-se um estado dentro do estado, com os seus tribunais próprios.

O nosso futebol conta com a desajuda de uma regulamentação disciplinar frequentemente idiota que, na sua essência, afronta a própria Constituição.
O futebol julga-se um Estado dentro do Estado com os seus tribunais próprios e não deixa de ser verdade que ao longo de décadas, de regimes e de modas, tem-se imposto imperialmente num patamar de excepções que ninguém se atreve a colocar em causa. Até um dia…
Tomemos os casos das "suspensões" do presidente e do director de comunicação do Sporting e do director de comunicação do FC Porto por força de um uso torrencial de palavreado considerado difamatório para uns quantos "agentes" da indústria.
Um qualquer dos muitos órgãos disciplinares da Liga ou da FPF entendeu suspender os referidos palestrantes das suas funções considerando, abusivamente, que a função de falar em público ou para o público se encontra abrangida pela penalização.
Ora não foi para isto que se fez o 25 de Abril. Os órgãos disciplinares do futebol português têm o dever de salvaguardar o bom-nome da sua tropa mas não podem, em caso algum, mandar calar as vozes e as nozes que, mesmo passando das marcas, se atrevem a atirar para o lamaçal os costumes diários das suas gentes.
O que significa, em termos práticos, a "suspensão" de um dirigente ou de um funcionário de um clube? Basicamente, é ficar calado por lei tal como nos tempos do Estado Novo se silenciavam as vozes discordantes. Nada disto faz sentido no século XXI.
Se há matéria impura nas alocuções dos homens do futebol existem os tribunais civis para se resolverem essas questões. Já terão dado conta, certamente, que a partir do momento em que Bruno de Carvalho e Nuno Saraiva foram "suspensos" e mandados calar todas as notícias nos três jornais desportivos sobre a vida política e desportiva do Sporting se iniciam com uma frase-truque – "segundo fonte oficial de Alvalade…" – e que é também um insulto à liberdade de expressão em geral, à ética profissional dos jornalistas e à inteligência dos seus leitores.
O director-suspenso de comunicação do FC Porto lamentou há dias no Twitter este estado das coisas citando a Constituição no que diz respeito à expressão livre do pensamento consagrada na lei. Tem razão Francisco J. Marques. À Constituição não escapa nada e ainda bem.
Até dispõe de um artigo dedicado à "violação de correspondência ou de telecomunicações" em que aponta uma "pena até um ano de prisão" para "quem, sem consentimento, divulgar o conteúdo de cartas, encomendas, escritos fechados ou telecomunicações". À bola o que é da bola, à justiça o que é da justiça.

Outras Histórias
Investida castelhana por mar
Resta agora a Ronaldo contratar a padeira de Aljubarrota
As autoridades fiscais espanholas avançaram até ao iate onde Cristiano Ronaldo passa férias com a corte que sempre o acompanha nestas ocasiões estivais e procederam a "buscas" na embarcação.
O jogador e "capitão" do Real Madrid tem vindo a ser acusado de beneficiar de um ardiloso esquema de fuga ao fisco e está sob a mira de uma investigação judicial.
No mesmo dia em que viu a polícia entrar-lhe pelo barquinho, Cristiano Ronaldo publicou uma fotografia dele próprio com toda a sua alegre trupe escalonados numa piscina suficientemente grande para caberem todos. Não se sabe o que o fisco espanhol encontrou no iate.
Sabe-se apenas que as relações diplomáticas entre os dois países peninsulares podem vir a ser abaladas por este incidente que põe em causa uma paz de séculos.
Resta a Cristiano Ronaldo continuar a marcar golos e contratar a padeira de Aljubarrota para que, de pá na mão, impeça a progressão castelhana como o fez há 7 séculos em Aljubarrota. Invejosos."

O fabuloso mercado da Luz

"É sempre mais fácil trabalhar em cima de vitórias. A frase consta naquele manual de instruções básicas que parece acompanhar muitos dos nossos treinadores mas também se pode aplicar a outros níveis deste magnífico espectáculo/negócio que é o futebol. Veja-se o caso do Benfica. Em cima do sucesso desportivo, o clube da Luz soma triunfos no capítulo financeiro, facilitados, lá está, pela tranquilidade dos últimos quatro títulos consecutivos. Não nos deixemos enganar, claro que Luís Filipe Vieira quer ganhar o penta. Mas o tetra dá-lhe créditos suficientes para olhar/encarar o mercado sem medo de deixar sair, supervalorizados, os seus principais activos. Até agora tem-se dado bem com essa estratégia e não há motivos para fazer diferente. Assim se explica que na Luz tenham já entrado mais de 110 milhões de euros, recorde absoluto na história da águia, que até tem fama de vender caro. E o mercado ainda agora está a começar.
Claro que há riscos numa política deste género. O FC Porto já viveu tempos igualmente áureos e agora é o que se vê. Daí que este mercado de transferências estivesse, percebe-se, a preocupar os benfiquistas, que têm visto os rivais (bem, em especial o Sporting) a reforçar-se com nomes de peso, numa espécie de tudo ou nada pela conquista do título. Nesse capítulo, a notícia ontem dada por A Bola de que o Benfica quer fazer regressar Renato Sanches foi recebido com natural entusiasmo. Não porque Rui Vitória ganharia um reforço de peso - veremos se a vontade de clube e jogador chegam para concretizar o negócio -, mas por ter mostrado que na Luz estão atentos ao mercado. Que as vitórias não são sonolência, só tranquilidade. Isto ainda vai mexer muito..."

Ricardo Quaresma, in A Bola

Os políticos, os clubes e o futebol

"Muitos políticos entendem que o futebol é demasiado importante para ser entregue à insanidade de alguns dirigentes desportivos

No final da segunda guerra mundial, quando já não havia dúvidas para que lado iria pender a vitória, a oposição portuguesa, dispersa e pouco respeitada pela lembrança viva da desorganização da Primeira República, acreditava que os aliados não iriam deixar que Salazar continuasse no poder em Portugal e que Franco continuasse no poder, em Espanha. Assim, a ideia quase generalizada era a de que Portugal e Espanha beneficiariam da oferta de um regime democrático, com eleições livres e escolha popular.
A verdade é que, como bem se sabe, tal não aconteceu. Salazar e Franco continuariam, segundo alguns testemunhos históricos, precisamente porque, em Portugal, ausência de uma oposição organizada, que não fosse a do Partido Comunista Português, tal, como em Espanha, o medo de vingança de um republicanismo esquerdista levaram os aliados, em especial os ingleses, a tomarem a decisão estratégica de deixar sobreviver as duas ditaduras, porque poderia ser o mal menor para a Europa.
Também em Portugal, já depois da certeza de que o regime unipartidário iria resistir, Salazar achou por bem justificá-lo em pequenas e confiáveis audiências. Para o chefe do governo da ditadura nacional, as democracias só faziam sentido nos países onde os povos estavam preparados para ela, como era o caso da Inglaterra. Porém, na Europa do Sul, seria demasiado arriscado pedir a um povo inculto e ignorante que decidisse sobre si e sobre os seus países.
Vem esta pequena revisão histórica a propósito da ideia que passou (e passa) por boa parte dos partidos que compõem a nossa Assembleia da República, que passa por propor uma intervenção directa no supostamente autónomo movimento associativo, mudando regras e alterando responsabilidades estatutárias dos organismos que dirigem e organizam o futebol nacional, a Federação e a Liga.
O amplo movimento de deputados que defende uma intervenção directa na regulação do futebol profissional, impondo a passagem das áreas disciplinares e de arbitragem da Liga, ou seja, dos clubes, para a Federação, tem como ideia central que os clubes não sabem autorregular-se. Pensam, mesmo, que não só não se regulam, como desregulam o futebol profissional.
Entende, assim, um número muito significativo de políticos com funções e responsabilidades legislativas que o futebol é demasiado importante para ser entregue à insanidade que alguns dirigentes de clubes têm vindo a exibir.
A questão, porém, é melindrosa. Na verdade, será muito difícil, para não dizer, mesmo, impossível que haja qualquer regulação do futebol nacional sem os clubes profissionais ou, o que vem dar ao mesmo, contra os clubes de futebol profissional.
Podemos, no entanto, estar perante um daqueles impasses em que o país, na sua parte medíocre e mesquinha, é fértil, porque, de facto, e pelo que demonstraram com exuberante desfaçatez, os clubes, como diziam os romanos dos lusitanos, não se regulam nem se deixam regular.
Entre as fórmulas da imposição política e a da bagunça das assembleias da Liga, tem de haver um modo mais inteligente e racional de resolver o futuro do futebol em Portugal. Como sempre, em matérias sensíveis e de dimensão nacional, a melhor solução passa pela responsabilidade política do Estado, que deve trabalhar no sentido de encontrar pontos de convergência para consensos essenciais e por isso deve encontrar um eficaz modelo de discussão, ouvindo e discutindo primeiro, para decidir depois. Uma solução como essa obriga, naturalmente, clubes e outra entidades e assumirem responsabilidades. Coisa a que, aliás, não estão habituados.

Ninguém quer comprar o Luisão?
O Benfica está perto de vender toda a sua defesa. Sejamos rigorosos, toda a sua defesa, menos Luisão. É injusto para o elogiável capitão do Benfica. Luisão tem tantos anos como o Benfica tem títulos de campeão nacional. Pode parecer antigo, mas a longevidade de hoje, não é a mesma de há cinquenta anos. É um jogador experiente e isso tem um valor. Se não em Bayern, ou Barcelona, num clube da China ou das arábias. Assim, o Benfica ficaria no Guiness como o clube que, num ano, vendeu toda a sua defesa. Guarda-redes incluído.

(...)"


Vítor Serpa, in A Bola

PS: Tanta conversa, e bastava recordar a última intervenção directa do Governo nos regulamentos: a redução da I Liga para 16 clubes!
O que aconteceu depois?! Até se criou a Taça da Liga, para 'esticar' a época, mas pouco depois, aproveitando o 'caso Boavista', a I Liga voltou aos 18 clubes, com a promessa que mais tarde iria 'regressar' aos 16, mas isso nunca aconteceu... bem pelo contrário, com o 'caso Gil Vicente' ainda vamos ter a I Liga com 20 clubes!!!
Por estas, e por outras, é que os clubes não tem 'competência' para se auto-regularem...!!!

Proença cada vez mais isolado

"No caso dos emails acordou quando a conversa do bruxo já estava estafada.

O PSD retirou uma proposta de alteração legislativa que visava atribuir às Federações com provas profissionais a regulamentação da arbitragem e da disciplina.
Em teoria, com uma mão dava-se mais poder à Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e com a outra tirava-se o pouco que a Liga de Clubes tem.
A proposta social-democrata, doutrinariamente falando, fazia sentido, porque a Liga deve concentrar-se, tão-só, na gestão dos quadros competitivos e na defesa da indústria, por sinal muito maltratada, precisamente por aqueles a quem compete cativar público para encher os estádios.
Em termos substantivos, era igual ao litro, pois a Assembleia Geral da FPF já tem poder de veto sobre os regulamentos disciplinar e de arbitragem da Liga – um exemplo paradigmático é o do ‘chumbo’ da polémica norma para proibir o fumo (do cigarro de Bruno de Carvalho) na chamada zona técnica.
O que também não faz sentido é o cada vez mais isolado Pedro Proença – desta vez, célere nas reacções à abortada proposta do PSD, ao contrário do que sucedeu no caso dos queridos emails, acordando quando a conversa do bruxo já tinha passado à reserva – argumentar com um golpe à autorregulação, pois, com estes dirigentes, ela é impossível.
Por isso, é fácil perceber a razão de as receitas dos clubes portugueses serem quase 13 vezes menores do que as dos ingleses."

Benfiquismo (DXXX)

Ser Benfiquista...
Luís Piçarra e Paulino Gomes Junior

Uma Semana do Melhor... com o 'inimigo'!!!

Atacar o penta com a defesa do tri

"Sem mais de metade dos titulares e com a ferrugem do primeiro jogo-treino, vencemos adversário esforçado. Sporting empatou 0-3.

Ontem já houve bola, começou a pré-época com um bom indicador - um advogado chega seis minutos atrasado a casa e perde logo o primeiro golo da época. Jonas mostrou-se impiedoso com adeptos que se atrasam a chegar ao sofá. Foi merecido. Sem mais de metade dos titulares e com a ferrugem do primeiro jogo-treino, vencemos um adversário esforçado, com a preparação mais adiantada, mas que não resistiu ao perfume de Jonas e a bons indicadores de Diogo Gonçalves.
Há notícias da venda de Nélson Semedo e a maioria dos adeptos não fica satisfeita com negócios porque o negócio dos adeptos é ter os melhores e ganhar títulos. É a parte emocional, sempre difícil de conjugar com a parte racional de quem tem que manter uma gestão equilibrada.
Os adeptos sabem que dos cinco titulares da defesa do tetra teremos vendido três. Podem ter sido €100 milhoes, muito dinheiro, mas deixam saudades. Não tendo a defesa do tetra, teremos de atacar o penta com a defesa do tri. Todos conhecemos a máxima importada do basquetebol, que um bom ataque ganha jogos e uma boa defesa ganha campeonatos.
O sorteio da Liga ditou um caderno de encargos muito duro logo de inicio (Braga, Chaves) e o tempo é pouco.
A pré-época também se joga muita na gestão da expectativas. O FC Porto, com o anúncio mediático do descalabro, com as sanções e condições da UEFA e com as anunciadas dificuldades financeiras , ficou numa situação de muito baixa expectativa. Há um bom aproveitamento de activos, as duas maiores vendas (Rúben Neves e André Silva) são negócios indiscutivelmente bons. Casillas e Maxi são problemas que vêem de trás, tudo que vejo na pré-época deste ano no rival azul e branco me parece fruto de decisão ponderada e de critério (Aboubakar, por exemplo). Teremos um FC Porto a lutar por títulos e pela sua sustentabilidade. Este FC Porto parece menos panfletário e mais eficaz e será candidato. No caso do Sporting vivemos a situação inversa. A expectativa vendida é máxima, as compras, os anúncios e as dispensas fazem com que a única classificação possível aos olhos dos seus adeptos seja ser campeão. Qualquer outro cenário faz com que estes adeptos, dedicados e fieis, não tolerem mais a semântica dos seus responsáveis. Ontem, num treino mais a sério, empataram 0-3 com o Valência, mas também serão fortes candidatos aos mesmos objectivos.
Quase todos, porque dia 5 de Agosto jogo o Benfica e o Vitória de Guimarães."

Sìlvio Cervan, in A Bola