"Três metros! Medem tudo os fautores da inovação. Vão acabar a medir ecrãs de televisão de régua em punho porque o golpe de vista já não chega. Nesta senda, "O Jogo" chamou para título de uma sua recente edição on-line o caso do "tamanho das bandeiras do Benfica" nos estádios de futebol. Depreende-se, pela melancolia da reportagem, que têm tamanho a mais. No entanto, maior força moralizadora teria esta luta se o alerta bandeiral do diário portuense apresentasse as medidas concretas dos panos. Até porque naquele célebre rendez-vous elegante no Hotel Altis entre os chefes-comunicadores do FC Porto e do Sporting ficou logo assente que, no que a bandeiras do Benfica dissesse respeito, pertencia ao pessoal do Porto medir os estandartes propriamente ditos enquanto ao pessoal de Alvalade caberia medir os respectivos paus.
Saúde-se, assim, quem leva a peito as incumbências. Neste caso preciso, saúde-se o diligente Saraiva que, ao contrário dos amigos negligentes que medem tamanhos a olho nu, deu-se ao trabalho – e, aliás, viu-se bem atrapalhado… – de desenrolar 300 centímetros de fita métrica até se poder apresentar em público denunciando a verdade sobre o tamanho dos paus das bandeiras do Benfica. Têm "hastes de três metros" disse conscientemente porque as mediu e, também, elegantemente porque as hastes sempre lhe soam melhor do que os paus como, aliás, soam melhor a toda a gente de bom senso.
Os dois primeiros jogos oficiais confirmaram as suspeitas: para Seferovic não há ângulos difíceis. Todos os ângulos são bons para o suíço atirar à baliza. Eis um facto que não se enquadra em nenhum ilícito penal.
Já para Ricardo Espírito Santo, o realizador da transmissão televisiva do jogo da Supertaça, houve um ângulo difícil. O Ricardo, o extraordinário profissional, o cavalheiro que docemente nos poupou ao abuso necrófilo na hora da morte de Féher, viu-se em fogueiras porque, inadvertidamente, deixou ir para o ar 3 segundos mais cedo do que estava previsto o plano de uma rapariga extraordinariamente bem equipada. E o que estaria destinado a ser o milionésimo plano geral de uma adepta vistosa num estádio de futebol apareceu em casa de toda a gente como um zoom ao peito da rapariga. Pediu desculpa o Ricardo, claro. Mas não chegou para pôr cobro à indignação, o que é de estranhar porque, por exemplo, os três jornais desportivos nacionais, que tanto se orgulham de ter mulheres nos seus quadros como prova absoluta da "igualdade" entre sexos, publicam a toda a hora nas suas edições on-line fotografias de raparigas quase 100% desequipadas e a que correspondem legendas como "É de ver e de chorar por mais" ou "Chame-lhe o que quiser mas depois não se queixe" ou "Esta tailandesa leva qualquer um para a cadeia". E, segundo parece, ninguém se ofende apesar de já estarmos na 2.ª década do século XXI.
Têm "hastes de três metros" disse conscientemente porque as mediu."