"A sentença estava quase assinada, o Benfica ainda conseguiu apresentar argumentos, mas o juízo final foi inequívoco. Ataque em campo aberto e rapidez de execução ‘mataram’ as aspirações dos encarnados
O sonho comanda a vida. E sempre que o homem sonha, o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança, escreveu António Gedeão na sua Pedra Filosofal. Na Catalunha, no imponente Estádio Olímpico Lluís Commpanys a bola que rolou era branca com estrelas pretas, atrás dela 22 jogadores com o mesmo objetivo: levá-la até às redes da baliza do adversário.
O Barcelona, com vantagem conseguida na Luz (1-0), carregava aos ombros a missão de homenagear Carles Miñarro Garcia, o médico da equipa que faleceu nos últimos dias, envergando uma braçadeira preta em sua homenagem, tal como foi cumprido um minuto de silêncio em sua memória.
Do outro lado estava o Benfica, à procura da glória, com o seu treinador, Bruno Lage, empenhado em cumprir promessa aos filhos Jaime e Manuel, de que ia ganhar um jogo de Champions, desejo também de todo os benfiquistas. A tarefa não era fácil, é certo, a desvantagem na eliminatória quase que assinava a sentença, ainda assim, os encarnados apresentaram alguns argumentos na Catalunha. Com Dahl a ocupar-se da lateral esquerda, com Florentino a surgiu no onze para se ocupar do miolo, enquanto a Schjelderup e Akturkoglu coube a missão de ladear Pavlidis no ataque à baliza de Szczesny.
Da parte dos catalães os suspeitos do costumo, com Ronald Araújo a ser o escolhido para substituir o castigado Cubarsí no eixo da defesa e, claro, lá na frente aquele tridente ofensivo que impõe respeito a qualquer adversário: Raphinha, Lewandowski e Yamal.
A equipa da casa foi quem saiu com bola e a pressão quase asfixiante foi imediata, com o Benfica a reagir muito bem, a tentar jogar, com Florentino a ter um par de boas intervenções na construção ofensiva, sendo que aos 10 minutos de jogo já o guarda-redes das águias, Trubin, tinha feito duas intervenções, com o jovem Yamal a ser o protagonista, numa delas de trivela, um gesto técnico que tanto aprecia e melhor executa.
O primeiro golo da noite, aos 11 minutos, é de se tirar o chapéu a Yamal, deixou Florentino estendido no chão e sacou um cruzamento teleguiado ao segundo poste onde estava quem? Isso, Rapinha, o carrasco do Benfica (marcou os golos das vitórias dos blaugrana nos dois jogos desta época, um na fase de grupos e o outro na 1.ª mão dos oitavos, ambos na Luz).
Certo é que a resposta do Benfica não podia podia ter sido melhor, volvidos apenas três minutos, na sequência de um pontapé de canto cobrado por Schjelderup, do lado esquerdo, a bola voou para o coração da área, onde acabou por encontrar a cabeça do capitão Otamendi, que aproveitou da melhor forma mau alívio de Lewandowski e assinou o golo 500 do Benfica na Champions.
Nova fase de investida dos catalães, a mastigar muito bem a bola a meio-campo e a subir no terreno, obrigando o adversário ao erro, sem medos no um para um e num desses lances foi ganho um livre lateral que, aos 27 minutos, resultou em golo. Balde na cobrança, a bola andou a rondar a área, até que foi parar aos pés de Yamal, na direita, que bailou à frente de Tomás Araújo e, claro, não desperdiçou oportunidade de bater Trubin. Sensacional, tanto o golo como este diamante lapidado que veste a camisola 19 do Barcelona.
A passagem da meia-hora de jogo trouxe pausa para que os muçulmanos que cumprem o Ramadão, nomeadamente Kokçu, Akturkoglu e Yamal, se alimentarem e hidratar, mal o sol se pôs, depois, o jogo conheceu momentos bonitos, com muitas faltas e paragens. A linha defensiva do Barcelona estava a jogar a cerca de 30 metros do guarda-redes, o Benfica bem viu isso, e colocar a bola nas costas? Pois, não acontecia e já perto do intervalo a sentença acabaria por ser assinada pelo carrasco Raphinha, após contra-ataque conduzido por Balde, que, no momento certo, soltou a bola para o brasileiro não dar hipótese a Trubin e bisar.
Lage mexeu na equipa aos 56 minutos, tirando os dois extremos, Schjelderup e Akturkoglu lançando Amdouni, jogador com muita facilidade de remate, e Renato Sanches, com o intuito de dar mais energia à equipa, pressionar e levar a bola para a frente, com o Barcelona a dar-se ao luxo de descansar com bola e, ainda assim, conseguir criar perigo: tabelinha de Olmo com Yamal, com Trubin a ter de aplicar-se (56’), depois foi De Jong a combinar com Raphinha, que temporizou, meteu em Yamal, que, de calcanhar serviu para Koundé, que devolveu a De Jong, cujo remate passou a rasar o poste, um autêntico carrossel.
O Benfica tinha dificuldades em soltar amarras, cada vez mais apertadas, com os minutos a correr e os caminhos para a baliza dos blaugrana cada vez mais turvos, tentando através de lances de bola parada criar algum incómodo, ainda se pediu penálti em Montjuic, aos 77’, com Dahl a tirar Ronald Araújo da frente e rematar para corte de Iñigo Martínez que pareceu com o braço, mas o árbitro francê François Letexier mandou seguir.
Momento apoteótico aos 81’, com a saída de Yamal, debaixo de salva de palmas, com os adeptos culé todos de pé, rendidos ao génio do jovem atacante.
O Benfica, já com Belotti, Leandro Barreiro e João Rego em campo, não descurou a baliza do Barça, com Otamendi, aos 86’, a cruzar para o segundo poste, onde Amdouni cabeceou, mas Koundé impediu que a bola chegasse à baliza! Apito final. Festa de um lado, tristeza do outro, sendo que, diga-se, os encarnados tentaram livrar-se do cepo, mas os argumentos foram insuficientes."