"Jorge Pinto da Costa (o Nuno terá sido omitido por complexo histórico...) fez uma breve viagem ao passado para destacar alguns dos pontos mais relevantes dos seus longos anos na presidência do clube do dragão em entrevista ao diário espanhol El País, que teve como tema principal a recente contratação de Casillas, a estrela mais humilde que já conheceu. Destacou Artur Jorge e a vitória na Taça dos Campeões Europeus de 1987, falou de Mourinho, recusou a ideia de vender caro, socorreu-se de Pepe, Deco, Ricardo Carvalho e James Rodríguez e teve uma tirada bem ao seu gosto: «caros são os que se compram barato e não jogam».
Deslizava interessante a conversa até surgir a pergunta de que precisava para a resposta decorada. Que explicação para o facto de o Porto não ter conquistado nem um título sequer. Fraco desempenho de Lopetegui? Nada disso. Os culpados são os árbitros que beneficiaram o Benfica em sete pontos. É um estudo da Liga que o demonstra, sublinhou, para que toda a Espanha fique a saber o que por cá se passa. De aí que tenha retirado o apoio à recandidatura de Luís Duque e transferido para uma figura concorrente que está a ser cozinhada em lume brando, para evitar que se queime. Medida oportunista, sem projecto estruturado e sentido de futuro a sustentá-la. No essencial, trata-se de mais uma tentativa de regresso ao passado...
Não faz um mês ainda que escrevi neste espaço sobre o cerco que se preparava ao Benfica, através de alianças fingidas, com o objectivo de combater o adversário mais forte. Primeiro fez-se da despromoção de Marco Ferreira uma tragédia nacional para abalar a honorabilidade do presidente do Conselho de Arbitragem. Ora, se a intenção era atacar Vítor Pereira poderia ter-se começado pelo princípio e solicitar-lhe esclarecimentos sobre a indicação do referido árbitro para internacional em vez de promover este aranzel de nulo significado. Depois, surgiu Pinto da Costa a privilegiar a arbitragem como questão central, no tom e na forma que o caracterizam, o que foi interpretado como reentrada triunfal em cena do presidente portista após meses de estranha discrição e que sujeitaram Lopetegui a excessiva exposição e consequente desgaste.
Visto pelos seus seguidores como estratega de inigualáveis dotes, Pinto da Costa sabe que a sua grande dor de cabeça se chama Benfica e a possibilidade de o ver campeão pelo terceiro ano seguido corresponderá, em definitivo não só à mudança de ciclo do futebol português como à sua própria capitulação. Há um ano gastou em plantel novo até perder de vista, o que poderá tê-lo obrigado a ampliar as fronteiras orçamentais. Esforço para travar a ascensão da águia, que resultou em nada, porém. Este ano, mantém a mesma tendência gastadora de que a mediática aquisição de Casillas constitui o caso mais recente. É claro que profissional de tamanho currículo reclama vencimentos a condizer e se o Porto o recebeu é porque tem como pagar-lhe. É o lado irracional que a magia da bola carrega, sendo certo que quem acha bem, ou encolhe os ombros como se tudo deva ser consentido por um campeonato, deixa de ter moral para se queixar das taxas moderadoras nos hospitais, das tarifas nos transportes públicos ou da subida nos preços dos combustíveis.
Sei que tudo é relativo e o que Casillas ganhava no Real Madrid com certeza que se enquadrava na folha salarial do clube, mas o mercado português é incomparavelmente menor, não pode dar-se a esses atrevimentos. Razão para o reparo pertinente de José Mourinho, ele que é o número um e também o mais bem pago do Mundo. Mas não trabalha em Portugal, nem Ronaldo joga em Portugal. Da mesma maneira que os nossos melhores praticantes representam emblemas estrangeiros. Por isso, vendo o seu reinado aproximar-se do fim, PC, além de afrontar o admissível, capta aliados de ocasião que o ajudem na empreitada que, sozinho, não é capaz de concretizar: travar o Benfica."
Fernando Guerra, in A Bola