"“Detective Colombo, na nossa última conversa, disse que havia três coisas que isoladamente podem estar a contribuir para as pessoas resistirem à mudança, mas cujo efeito combinado é multiplicador. Nessa conversa, falámos da primeira – a aversão à perda – e estava prestes a dizer quais eram as outras duas situações, que dificultam a mudança nas pessoas. Quais são?” – começou por contextualizar e perguntar o Treinador Wooden (para aceder à primeira parte da conversa entre o Treinador Wooden e o Detective Colombo, ir a https://abola.pt/Nnh/Noticias/Ver/797515).
“A teimosia” – respondeu o Detective Colombo e continuou – “consegue imaginar um rio com dois afluentes?”. “Claro” – respondeu o Treinador Wooden. “O rio chama-se persistência e um dos afluentes chama-se teimosia, enquanto o outro chama-se determinação. Quando o rio da persistência é alimentado pelo “afluente” teimosia, há um compromisso com o caminho sempre percorrido, com os hábitos, com as soluções e com os comportamentos anteriores, o passado, e esse compromisso é tal, que a teimosia torna praticamente impossível seguir outro caminho diferente, novas abordagens ou novas soluções. A teimosia impede-nos de desistir de algo, mesmo quando “está na cara” que se trata de algo que irá fracassar e que, paradoxalmente, queremos evitar, a perda.”
“Mas onde está a linha que separa a teimosia da determinação?” – perguntou o Treinador Wooden. “Do mesmo modo que ao ultrapassar os 120 kms/h numa autoestrada, passamos a circular em excesso de velocidade, também passamos a ser “guiados” pela teimosia quando Não somos capazes de nos influenciarmos a nós mesmos. Há uma diferença entre persistir na visão, missão, propósitos ou valores – o que chamo determinação – e persistir e repetir os comportamentos e as soluções que produziram maus resultados, esperando que funcionem – que designo de teimosia” – respondeu o Detective Colombo.
“Acho que estou a perceber” – começou por dizer o Treinador Wooden – “aprendemos que a persistência é um dos ingredientes do sucesso, mas por vezes, há necessidade de fazermos coisas diferentes, para conseguir melhores resultados. Para isso acontecer, “desistir” do que não funciona torna-se num pré-requisito, mas ao acreditarmos que “quem persiste vence e quem desiste perde”, a persistência passa a ser alimentada pela teimosia, entramos em “excesso de velocidade” e acabámos por repetir e persistirmos no que não funcionou.”
“Agora compreendo porque é que muitas vezes repetimos as soluções que não funcionaram no passado, esperando que produzam resultados diferentes. O que Einstein designou de insanidade. Mantemos o que fazíamos, mas não funciona, porque há um compromisso anterior, com o passado” – devolveu o Treinador Wooden. “Podemos persistir nos objectivos, na missão, nos valores que guiam o nosso comportamento, mas ajuda estarmos abertos a experimentar novas soluções, se as que já experimentamos não funcionam” – acrescentou o Detective Colombo. Fez-se nova pausa e o Treinador Wooden disse – “compreendo a mensagem – faça desvios ao caminho e persista no objectivo – e estou a ver que esta situação não é exclusiva dos jogadores, antes a todos. Como quando os filhos persistem teimosamente em “bater com a cabeça na parede” – repetir soluções que não funcionam – independentemente dos alertas dos pais.” “É isso mesmo” – começou por dizer o Detective Colombo e continuou – “o terceiro, é negar a competência e responsabilidade”. “Como assim?” – perguntou o Treinador Wooden.
“Alguma vez, fez algo que posteriormente se arrependeu?” – perguntou o Detective Colombo. “Várias vezes ou melhor muitas vezes, quer com os meus filhos, mulher, alunos, jogadores, colegas de trabalho, dirigentes, adeptos e comunicação social” – respondeu o Treinador Wooden. “É normal, acontece com todos, uma vez que nem sempre temos a relação que desejamos ter, mas antes aquela que conseguimos, naquele momento, ter” – e continuou o Detective Colombo – “por isso, já dizia Gandhi: “a diferença entre o que fazemos e o que somos capazes de fazer resolveria a maior parte dos problemas do mundo. Do mesmo modo que o ambiente pode influenciar o nosso comportamento, também os nossos impulsos e reacções o podem fazer e, por vezes, pensamos que não há nada a fazer. Quando assim é, os outros, as circunstâncias, as regras e regulamentos, (…), ou os nossos impulsos acabam por determinar uma boa parte do nosso comportamento e relacionámo-nos, com esses comportamentos, como se não tivéssemos qualquer influência sobre eles”.
“Estou a perceber o que o Detective está a referir: nessas situações, as pessoas podem achar que os seus comportamentos impulsivos não lhes são imputáveis, por não terem responsabilidade sobre eles. Isto porque, não têm consciência, nem competências para os influenciar. Necessitámos de liberdade com consciência, responsabilidade e competência” – devolve o Treinador Wooden.
“Alguma vez assistiu a um filme com um cavalo selvagem, que ninguém conseguia domar e, depois, apareceu um cowboy que o domou?” – perguntou o detective Colombo. “Estou a ver onde quer chegar Detective. Os nossos impulsos podem ser fortes como um cavalo selvagem e se negarmos a nossa capacidade de os domar, o cavalo (impulsos) assume as rédeas, então não só não o fazemos, como achamos que não somos responsáveis por eles, no caso comportamentos impulsivos e, por isso, acabámos por não os influenciar, por nos comportarmos impulsivamente e, mais tarde, nos arrependermos” – tentou integrar o Treinador Wooden.
“Treinador Wooden, agora imagine o efeito combinado da aversão à perda, da teimosia e de negarmos a nossa competência e responsabilidade” – desafiou o Detective Colombo. “Posto nesses termos, percebo o efeito multiplicador, que já tinha referido. As pessoas acabam por resistir à realidade, à necessidade de mudar, porque embora as soluções que estão a utilizar não funcionem, a possibilidade de perda, o compromisso com as soluções passadas e a negação de competência e de responsabilidade são mais fortes. Qual é a alternativa?” – perguntou o Detective Colombo.
“Podemos fazer várias coisas. Por exemplo, colocado entre ganhar a jogo, mas perder o campeonato ou perder o jogo, mas ganhar o campeonato, o que prefere?” – perguntou o Detective Colombo. “A segunda” – respondeu o Treinador Wooden. “Essa é a escolha da maioria das pessoas e permite diferenciar duas dimensões da aversão às perdas: as imediatas e as de longo-prazo” – disse o Detective Colombo. “É como aquelas situações em que já perdi um jogo, mas acabei por ganhar uma equipa e consequentemente, fiquei mais próximo de ganhar o campeonato” – construiu o Treinador Wooden.
“Bom exemplo” – começou por dizer o Detective Colombo e perguntou – “Agora, e o que escolhia conscientemente quando o que está a fazer não está a resultar: escolhia repetir o que não está a funcionar ou preferia aceitar que o que está feito, feito está, que é melhor ultrapassar o passado e mudar de direcção, experimentando novas soluções?” “A segunda” – devolve o Treinador Wooden e acrescentou – “isso já me aconteceu. Numa época, acreditei que o Sistema 4-3-3 era a melhor solução para a equipa. Treinei a solução, utilizei-a várias vezes, persisti, mas os resultados não estavam a aparecer e sentia-me um alfaiate que estava a tentar vestir um fato do tamanho 42 numa pessoa que vestia 54. Acabei por mudar para o Sistema 4-4-2 e os resultados foram fantásticos. Não é que um Sistema fosse melhor que o outro, mas apenas que um ajustava-se melhor ao perfil da equipa do que o outro.”
Nem mais, persistiu no objectivo de ganhar e mudou o caminho para lá chegar, ultrapassou o passado, aprendeu com a situação e experimentou uma nova abordagem, para conseguir melhores resultados” – começou por dizer o Detective Colombo e continuou – “a determinada altura, fui convidado a participar numa reunião de uma equipa. As coisas estavam a correr mal e aconteceu uma coisa curiosa, quando falamos com os jogadores. Nem todos percebiam os factos do mesmo modo, nem todos pensavam o mesmo sobre esses factos, nem todos sentiam o mesmo e nem todos se comportavam da mesma maneira, perante os mesmos factos. Treinador Wooden, se perante a mesma realidade pessoas diferentes pensam, sentem, desejam e fazem coisas diferentes, de quem é a responsabilidade dos pensamentos, sentimentos, intenções e comportamentos das diferentes pessoas?” Nova pausa, o Treinador Wooden estava a reflectir, começa a levantar lentamente o queixo e respondeu – “de cada uma das pessoas”.
Contudo, por vezes, as pessoas atribuem a responsabilidade pelas suas expectativas, pensamentos, sentimentos, objectivos e comportamentos aos outros e às circunstâncias, em vez de assumirem a responsabilidade por eles. Que jogadores prefere: "os que se vitimizam e os que culpam os outros e as circunstâncias ou os que assumem a responsabilidade e melhoram as suas competências, de forma a estarem à altura dos desafios?”. “Novamente a segunda” – respondeu o treinador Wooden.
“Do mesmo modo que ninguém nasceu capaz de conduzir um automóvel, mas a grande maioria das pessoas acaba por fazê-lo, também ninguém nasce capaz de influenciar os seus impulsos e os condicionalismos do ambiente, mas é possível as pessoas determinarem mais o seu comportamento, em vez de serem vítimas. Para isso acontecer, do mesmo modo que é necessário aprender a conduzir um carro, também podemos aprender e desenvolver as competências que nos permitam determinar, tanto quanto possível (não é fácil, mas é possível), o nosso comportamento, como nos tentou recordar Nelson Mandela com “I am the master of my fate, I am the captain of my soul”” – clarificou o Detective Colombo.
“Detective Colombo, encontramos mais um culpado de estar a matar a mudança no Clube, a Resistência à Realidade, isto é, de a realidade nos mostrar que algo não funciona, nos convidar a aprender e a experimentar algo de novo, diferente, mas, em vez disso, as pessoas poderem resistir a ela – realidade, mudança – persistindo na repetição das soluções que não funcionaram” – rematou o Treinador Wooden.
"Excelente Treinador Wooden. Agora tem três pistas para ajudar o Peter Taylor a escolher que interacção quer ter: a) deixar a mudança nas mãos das circunstâncias externas, das aprendizagens anteriores, do compromisso com o passado e da dependência dos impulsos internos ou b) enfrentar a tarefa de assumir a liberdade de escolher com responsabilidade e desenvolver as competências, para fazer face às dificuldades da realidade. A diferença da escolha resultará na capacidade ou incapacidade de se influenciar a si próprio e às circunstâncias” – disse o Detective Colombo.
“Detective percebo que persistir é importante, mas não chega. Necessitamos – filhos, pais, professores, gestores, (…) - de combinar a persistência nos objectivos com novos caminhos, experiências, abordagens ou soluções, quando as coisas não estão a funcionar, caso contrário, poderemos ser vítimas de nós próprios” – concluiu o Treinador Wooden.
Passados uns meses, o Detective Colombo entrou na bomba de gasolina, olhou para a direita e lá estavam os jornais desportivos. Na primeira página, de todos, apareciam fotos de alegria do F.C. os Galácticos. No mesmo jornal, que meses antes, estava a frase “200.000 Milhões podem ir pelo Ralo”, agora apareciam várias fotos. Na central, via-se a equipa do F.C. os Galácticos entusiástica a levantar o Troféu de Campeão Intercontinental e à sua volta, outras imagens. Uma com os adeptos eufóricos, outra onde os dirigentes exibiam um sorriso de orelha a orelha, outra com o Peter Taylor e a frase – “Vale o Dobro” - e um título esclarecedor: “Milagre”. O Detective Colombo esboçou o sorriso e pensou – “será?”"