Últimas indefectivações

domingo, 21 de junho de 2015

Nesse querido mês de Agosto...

"Taças, Troféus, Copas e Recopas Ibéricas. Já houve de tudo e ao gosto do que cada um lhes quis chamar. Mas o único oficializado entre os campeões de Espanha e de Portugal teve lugar em 1983...

Em Agosto de 1983, o Benfica foi a Bilbau disputar a primeira mão do que se chamou a Taça Ibérica. Quando se fala de Taças, Copas ou Troféus Ibéricos, a confusão tem campo para alastrar.
A verdade é que vários foram os torneios com essas designações desde os primórdios do Futebol organizado na Península assim dita.
Em 1935, por exemplo, houve um confronto entre os campeões dois dois países peninsulares, FC Porto e Bétis com vitória dos portistas. Confronto esse jogado de forma reservada, sem reconhecimento oficial, portanto.
Em 200, foi a vez do Sporting (campeão nacional) defrontar e bater o Real Madrid (campeão da Europa). Mais uma vez, coisa entre clubes amigos, sem oficialização federativa.
Em 1999, 2000 e 2002 disputou-se um tal de Troféu Ibérico. O Benfica perdeu as duas primeiras edições para o Deportivo da Corunha, e o Celta conquistou a última frente a SC Braga e FC Porto. Ainda outra vez, questão particular.
Mas, nesse tal Agosto de 1983, Benfica e Athletic Bilbau, campeões, respectivamente, de Portugal e Espanha, vêem a disputa em duas mãos ser apadrinhada pelas duas federações. Pela primeira vez, a Taça Ibérica disputava-se com pompa e circunstância, prova a valer e a merecer listagem nos registos das honrarias.
Em San Mamés, com arbitragem de Victoriano Sanchez Armínio, alinharam:
ATHLETIC - Zubizarreta; Urquiaga, Nuñez (depois De la Fuente), Luceranzu e Goicoechea; De Andrés, Endica, Sola e Sarabia (depois Julio Salinas); Urtubi (depois Gallego) e Argole.
BENFICA - Bento; Pietra, Bastos Lopes, Oliveira e Álvaro; José Luís (depois de Padinha), Carlos Manuel, Stromberg (depois Shéu) e Diamantino (depois Veloso); Nené e Filipovic.
O treinador do Athletic era Javier Clemente; o do Benfica, Sven-Goran Eriksson.
Sola deu vantagem aos bilbaínos aos 16 minutos; Nené empatou à meia-hora. O resultado final foi estabelecido por De Andrés aos 86.
Tudo se decidiria em Lisboa.
«Futebol champagne!»

No dia 24 de Agosto fui à Luz com a habitual rapaziada dos Olivais Sul. Que luxo!

«Nunca tinha visto coisa assim!», dizia Manniche no final da partida.
Acabara de aterrar em Portugal, esse «tosco, alto e loiro», como lhe chamou José Maria Pedroto, pronunciando louro e não loiro por uma questão de bairrismo.
Talvez tosco. Certamente alto e loiro. Mas marcador de golos. Muitos!
«Foi o melhor Futebol que vi praticar nos últimos anos!», continuava a espantar-se o dinamarquês.
Não tinha estado muito atento à carreira do Benfica no campeonato e na Taça UEFA da época anterior. Futebol maravilhoso. «Champagne!»
Velocidade, crença, lucidez, inteligência. O Futebol 'encarnado' desses dois primeiros anos de Eriksson foi algo de único. Capaz de passar tranquilamente por cima de outro Futebol ofensivo e de técnica apuradíssima do Sporting de Malcolm Allison, esse inglês que teimava em fumar charuto no banco e em beber garrafas de Magos nas conferências de imprensa durante as quais respondia às perguntas de um fedelho mal educado armado em jornalista com uma frase assassina: «stupid boy!»
Deixemos isso por agora, são contas de outros rosários. Mas o meu leitor tão estimado sabe que as lembranças são como as cerejas e sabem a ginjas.
Voltemos à Luz, nesse querido mês de Agosto, cantaria o Dino Meira.
Era o Verão, não estava muita gente, talvez umas 40 mil pessoas.
Todavia, estava nelas o ensejo de ver se o Benfica continuaria brilhante nesta sua nova aventura nórdica.
Continuava.
Em pouco mais de meia-hora transformou o campeão espanhol num farrapo.
Aos cinco minutos já Nené, de cabeça, perdera uma boa oportunidade para ganhar vantagem. Seguiram-se Carlos Manuel e José Luís.
Finalmente, Filipovic. Uma cabeçada elegante... E, como ele era elegante... Sobretudo de cabeça. 23 minutos - 1-0.
Em seguida Nené: 30 minutos - 2-0; 44 minutos - 3-0.

Magnífico! Que bonito Benfica esse!
Os bascos esperneavam. E iam às pernas dos adversários sem respeito. A segunda parte tornou-se pesada. Os 'encarnados' baixam ritmo, mas estão de novo à beira de mais golos, por Filipovic e Stromberg.

Javier Clemente não está disposto a sair de Lisboa com o saco cheio. Junta mais a sua equipa, dá ordens aos seus rapazes para se defenderem como podem.
Os minutos vão correndo para o fim, a vitória não fugirá ao Benfica, a Taça Ibérica, a primeira oficial e única «autêntica», será levantada pelo «capitão» Nené.
O árbitro da segunda mão foi Rosa Santos.
BENFICA - Bento; Pietra, Bastos Lopes, Oliveira e Álvaro; José Luís, Carlos Manuel, Stromberg (depois Shéu) e Veloso (depois Diamantino); Nené e Filipovic (depois Manniche).
ATHLETIC - Zubizarreta; Urquiaga, Nuñez (depois De la Fuente), Liceranzu e Goicoechea (depois P. Salinas); De Andrés, Gallego, Sola e Saraiba depois Julio Salinas); Urtubi e Argote.
E porque digo eu «autêntica»? Simples. Em 2005, voltam as federações de Espanha e de Portugal a apadrinhar novo confronto ibérico. Por falta de datas ou de disponibilidade dos campeões nacionais, resolve-se optar por outra solução: colocar em confronto os dois vencedores das Taças. Na liça ficam Vitória de Setúbal (que vencera o Benfica no Jamor) e Bétis de Sevilha. O jogo disputa-se em Huelva e o Vitória ganha por 2-1.
Em Portugal, há quem chame a esse troféu igualmente Taça Ibérica. Mais práticos, os espanhóis chamam-lhe Recopa Ibérica. Assim a modos que uma Supertaça Ibérica. Tanto faz... De qualquer forma é das que valem.
Ou seja, valem tanto como as memórias.
Em Agosto ou não."

Afonso de Melo, O Benfica

PS1: Querem adivinhar quem era o Stupid Boy para o Malclom Allison?!

PS2: Parabéns às nossas meninas do Pólo Aquático, que hoje venceram a Taça de Portugal, ao Fluvial Portuense, por 9-8, no ano de estreia da secção!!!

PS3: Como é habitual nesta altura, vou fazer um jejum d'Indefectível por uma semana. Desta vez o Captain Redheart vai ficar a tomar conta o estaminé...

Jorge de Brito, o presidente colecionador

"Benfiquista, banqueiro e fulcral na constituição do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão e da Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva.

Jorge de Brito (1927-2006) foi o 29.º presidente da Direcção do Sport Lisboa e Benfica. Acérrimo Benfiquista e Águia de Ouro (1973), entrou para órgãos sociais do Clube como vice-presidente no segundo mandato de João Santos e seguiu-se-lhe como presidente, entre 24 de Abril de 1992 e 7 de Janeiro de 1994.
Foi como presidente do Clube que ficou na memória da maioria dos benfiquistas. Porém, no panorama artístico, foi como coleccionador de arte que o seu nome se perpetuou na história, não só em Portugal como no estrangeiro.
A sua colecção foi iniciada nos anos 40 mas foi, sobretudo, entre o final dos anos 60 e o 25 de Abril de 1974 que as suas aquisições se tornaram mais sistemáticas e programáticas, tornando-se uma das maiores colecções privadas portuguesas da segunda metade do século XX. Esta colecção era constituída por mobiliário, porcelanas, pratas, livros, moedas e pintura, sendo este último o núcleo mais importante, com mais de 3000 obras.
Composta maioritariamente por pintura portuguesa, produzida a partir do final do século XIX, possuía também obras de vulto de pintura internacional. Entre os principais nomes portugueses que coleccionou, destacam-se Amadeu de Souza-Cardoso, Eduardo Viana, Almada Negreiros, Mário Eloy, Vieira da Silva - terá sido o maior coleccionador privado de obras da pintora -, Júlio Pomar e Paulo Rego. Das obras de autores estrangeiros, evidenciam-se Picasso, Paul Klee, Robert e Sonia Delaunay, Max Ernst, Mafritte e Chagall. É ainda de salientar que algumas obras provenientes da sua colecção foram fulcrais no constituição tanto do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão da Fundação Calouste Gulbenkian, como da Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva. De destacar também o Retrato de Fernando Pessoa, de Almeida Negreiros, que Jorge de Brito ofereceu à Câmara Municipal de Lisboa e que se encontra exposto na Casa Fernando Pessoa.
No Museu Benfica - Cosme Damião, na área 28. Homens do leme, o público pode conhecer este e os restantes 32 presidentes do Sport Lisboa e Benfica."

Mafalda Esturrenho, in O Benfica

Testes de Vitória

"Se chegar ao Benfica já era um desafio alto para Rui Vitória, chegar a um Benfica renovado aumenta, e muito, o trabalho do treinador. Perder jogadores influentes no último título, como Gaitán, Jonas e Lima, ou Maxi, que pode muito bem não aceitar renovar, é pegar numa equipa sem muitas das suas referências. Não significa que seja negativo, mas pode significar, sim, maior responsabilidade. Senão vejamos. Rui Vitória tem dado o aval às contratações feitas pela SAD, e está, naturalmente, a par dos negócios de venda. Perder Lima e Jonas de uma vez podia ser visto como uma catástrofe. A menos que os jogadores, sobretudo Jonas, não se encaixem num modelo de 4x3x3 do qual o técnico tem mostrado ser adepto. Nesta perspectiva, a venda de Jonas até passa a ser um bom negócio. Por outro lado, e mesmo tratando-se do goleador da equipa, seria difícil à SAD justificar que a contenção financeira, que tem servido de justificação para travar loucuras, seria compatível com a recusa de uma proposta milionária. Receber 10 milhões por um jogador que chegou a custo zero e desportivamente rendeu 100 é um negócio... da China."

Vanda Cipriano, in Record

Rui Vitória terá enorme desafio

"Antevê-se muito difícil a missão de Rui Vitória, no Benfica. Com a saída de mais de metade da equipa, as alterações serão inevitavelmente profundas. Nos jogadores e, muito provavelmente, no sistema. Por isso, não é indiferente a continuidade, ou não, de Maxi Pereira. Mudando quase tudo no meio e na frente, o Benfica poderia, pelo menos, ter estabilidade e continuidade na defesa, além de que Maxi é já um jogador emblemático no balneário. Entende-se, no entanto, que depois do Benfica ter oferecido ao lateral-direito uruguaio, com 31 anos de idade, um novo contrato por mais três anos e com um vencimento de milhão e meio líquido por ano, o clube fez o que podia fazer e a mais não é obrigado. Do ponto de vista da observação à distância, o Benfica será, dos três maiores clubes do futebol português, aquele que terá de ultrapassar maiores dificuldades.
O FC Porto também mudará muito de jogadores, mas irá manter o mesmo treinador; e o Sporting deverá manter grande parte dos seus jogadores, sendo verdade que mudou de treinador, mas passa a contar com um treinador experiente e muito conhecedor da realidade do futebol português.
É admissível que se levante a questão sobre se o Benfica não poderia ter evitado um solavanco tão significativo. Penso que sim. Não tanto no que respeita ao treinador - um ciclo de seis anos é mais do que aceitável - mas no que respeita à transformação de grande parte do seu plantel, que deveria ter sido feita de forma mais planeada e menos brusca. A verdade é que os benfiquistas têm de se preparar para, no mínimo, um ano de transição."

Vítor Serpa, in A Bola

Timoneiro III - Nota Artistica II



Gloriosos indefectíveis,

No seguimento de Timoneiro III - Nota Artistica aqui deixo para memória futura mais algumas das obras de arte que foram recorrentes ao longo deste último ciclo findo.

Na imagem, pode ver-se, um instante mágico, extraído do canto de laboratório que deu golo frente ao Estoril. Cardozo marca e Nico Gaitan finaliza suspenso no ar de calcanhar. A nota artística no expoente máximo! Obras artísticas destas acontecerão por acaso?

Assistam o video e tirem as vossas conclusões:
Exemplos de nota artística colectiva (aconselho a ver sem som. As minhas desculpas mas o video já vinha assim):
Tem o dedo do mestre aí ou não tem? O que vos parece?

Olhem uma vez mais a soberba jogada contra a AAC:
Aqui contra o Estoril:
Contra os corruptos:
E nestas obras de arte que se seguem? Terá o mestre nada a ver com a obra de arte. É apenas obra do artista?
São estas memórias que eu guardo comigo gloriosos indefectíveis.
Memórias de nota artística.
Que outras memórias guardais vós?
Partilhem para que não se percam.
Nós no Indefectível encarregar-nos-emos de as guardar a sete chaves.

E sobretudo algo que acho importantíssimo:
Estas memórias são todas nossas. Merecemo-las por inteiro.
Não as estraguemos por favor, é o meu apelo.

Digam de vossa justiça, companheiros...

Pelo Benfica! Sempre!

Redheart <3

Timoneiro III - Nota Artistica



Gloriosos Indefectíveis,

Encarando o enredo com nobreza permitimo-nos olhar o passado com memória. As coisas boas e as coisas más. E assim deve ser sempre.
Preservar o passado, preservar a memória, torna-nos a todos mais clarividentes. Nossos olhos se abrem para além do visível e o futuro se desenha assim de um outro modo.

Olhando para o bom que fica desse passado existe algo que me enche o coração e a alma e o qual jamais esquecerei e esse algo tem um nome: 'Nota Artística'.
A nota artística porque ela é alegria, ela é festa, ela é celebração. A excelência do jogo em seu estado mais puro.
As bancadas cheias de cor, de brilho, de entusiasmo, de devoção,...

Tive a sorte de assistir pela primeira vez a uma temporada completa de jogos na nossa catedral. Foi a única vez em toda a minha vida que o pude fazer. Como estou agradecido aos deuses. Que memórias me foram doadas. Memórias que não têm preço. Angel Di Maria, Pablo Aimar, Oscar Cardozo, Javier Saviola, Fábio Coentrão ...
As individualidades, uma equipa e muita nota artística.

Quem dera poder lá ter estado ao longo de todo o ciclo findo. Como são afortunados os agraciados por tal sorte.

Que anos fantásticos o futebol do nosso glorioso nos proporcionou...



Quem tem memória não esquece:

De minha parte, Jorge Jesus, gostaria de deixar aqui também expresso o meu agradecimento profundo por tudo aquilo que me proporcionaste. Foste o mestre que inventou magia sobre os relvados da nossa catedral e por essa Europa fora. Jamais esquecerei.

Muito obrigado.

Pelo Benfica! Sempre!

Redheart <3