"Cá, qualquer SL Benfica - FC Porto ou vice-versa é sempre acompanhado da fantasia regionalista e das suas patetas farsas de trazer por casa.
O Real Madrid - Barcelona
Vi o jogo Real Madrid - Barcelona. Talvez o encontro (entre rivais) mais icónico do planeta. Sempre de resultado imprevisível. Quando me sentei para o ver, devo dizer que já estava de 'barriguinha cheia', depois de ter também acompanhado pela televisão um Arsenal 3 - Liverpool 3, com quatro golos em minutos e várias viragens do resultado.
Naquelas poucas horas, ali tão perto em Madrid, voltei a sentir o gosto pelo futebol. Puro, emocionante, imprognosticável, jogado apenas nas quatro linhas de um relvado. Sem comentadores aborrecidos ou lapalissianos dos jogos de cá. Sem o insuportável pseudo-moralismo de quem merece ganhar ou não perder. Sem eleger o árbitro como a figura central da partida entre onze de cada lado.
Em Madrid, o que pudemos constatar para além do jogo? Estádio cheio, ainda que a horas só explicáveis para apetência exportadora do espectáculo para a China e Extremo Oriente. Espectadores vibrantes, evidentemente de uma forma maioria merengue, mas com os adeptos do Barça respeitados e respeitadores, sem essas cretinas tarjas e palavreado odiento das claques que, por cá, militam. Presidentes dos dois clubes rivais, lado a lado, serenamente, sem jogos de palavras aparvalhados no antes, no durante e no depois. Treinadores apenas treinadores, não joguetes de recados de bandarilheiros e de instruções de patrões incoerentes e inconsequentes, não artistas foleiros de palavras em ditas e dispensáveis conferências mediáticas.
Acabou o jogo. Tudo sereno. A minoria no Santiago Bernabéu serenamente feliz e contente, e a maioria desoladamente calma. Os jogadores cumprimentaram-se, no fim, com o sentimento de dever cumprido, sem alardes patetas ou provocativos e sem quererem voltar às naturais quezílias dos 90 minutos de boa luta desportiva. Os dois melhores jogadores do mundo cumprimentaram-se antes e depois do jogo, e falaram. Assim Cristiano Ronaldo e Leonel Messi terão desiludido os que sempre procuram encontrar motivos de mal-estar, inveja, senão mesmo de ódio entre os dois mais lídimos embaixadores do futebol planetário. E alguém ouviu ou leu algo de importante sobre a arbitragem do jogo? Alguém reclamou sobre qualquer decisão ou omissão arbitral? Não, evidentemente. Repare-se que este clássico espanhol foi disputado dois dias depois das eleições catalãs e da complexa posição face à independência ou não da Catalunha. Cá, qualquer SL Benfica - FC Porto ou vice-versa é sempre acompanhado da fantasia regionalista e das suas patetas farpas de trazer por casa. Lá, e neste seríssimo ambiente político, um jogo de futebol foi assim e só isso. Aprendam...
Porque, no fim de contas, estes clubes e os seus jogadores, técnicos e empregados sabem quanto os seus rendimentos dependem da preservação saudável do ambiente concorrencial deste desporto. Perceberam que há matérias onde, mais até de que apenas não haver javardice pública de divergências, é imperativo consolidar e robustecer aquilo que a todos deve unir: a grandeza do espectáculo.
No fim, 14 pontos de distância entre o actual campeão do mundo, da Europa e de Espanha - Real Madrid - e o seu eterno rival, o Barcelona, ainda antes de ter terminado a primeira volta da Liga Espanhola. Desilusão dos madrilistas, evidentemente. Mas não desespero, como se o mundo desabasse amanhã. É este o encanto do futebol. Nem sempre se é o melhor, nem sempre se é o pior.
Nesta altura, lembro-me do que agora se vem sentenciando em torno do Benfica. A três pontos da liderança, depois de quatro títulos consecutivos, até parece que tudo já descarrilou e quase tudo também se esfumou da memória recentíssima de quatro anos a tudo vencer. Os seus adversários falam e escrevem como se o Benfica estivesse moribundo. Essa sua (deles) alegria e exageração incontida são a prova da força do SLB e do quanto lhes incomodam estes anos de glória encarnada. Alguém que, por hipótese, chegasse agora cá e ouvisse e lesse o mainstream noticioso e comentarista, logo concluiria que o Porto e o Sporting são os maiores e, coitado, o Benfica um clube que já não ganha nada há longos anos! Deixem-me rir...
Factos: a última década
Vai acabar o ano. Vamos ter um novo ano, o que não significa necessariamente um ano novo. Entre previsões, premonições, desejos e efabulações, uma coisa é segura: podemos falar do passado, com certeza.
Para avivar as memórias do passado mais recente, dei-me ao trabalho de coligir dados e fazer uma análise da última década (2008/2009 até à parte já decorrida da actual) relativamente ao desempenho dos três 'grandes'. Vejamos os quadros:
A Última Década:
2008/09 até 2017/18 (primeira volta)
Benfica - Pontos 80%; Vitórias 74%; Empates 16%; Derrotas 10%
FC Porto - Pontos 79%; Vitórias 73%; Empates 19%; Derrotas 8%
Sporting - Pontos 67%; Vitórias 59%; Empates 24%; Derrotas 17%
Primeira Metade
2008/09 até 2012/13
Benfica - Pontos 76%; Vitórias 71%; Empates 17%; Derrotas 12%
FC Porto - Pontos 83%; Vitórias 77%; Empates 18%; Derrotas 5%
Sporting - Pontos 58%; Vitórias 50%; Empates 25%; Derrotas 25%
Segunda Metade
2013/14 até 2017/18 (primeira volta)
Benfica - Pontos 83%; Vitórias 78%; Empates 14%; Derrotas 8%
FC Porto - Pontos 75%; Vitórias 69%; Empates 19%; Derrotas 12%
Sporting - Pontos 77%; Vitórias 70%; Empates 22%; Derrotas 5%
Algumas óbvias ilações:
1. O Benfica foi o clube com mais pontos conquistados e com o maior número de vitórias
2. O Porto foi a equipa com menos derrotas.
3. O Sporting ficou a uma larga distância em todas estas bitolas.
4. Nos primeiros 5 anos da última década, o Porto foi claramente o melhor em todos os aspectos, com um baixíssimo nível de desaires.
5. Já na segunda metade, é o Benfica a atingir um máximo de 83% de pontos conquistados, tanto quanto o Porto nos anos anteriores.
6. Neste segundo quinquénio, o Porto foi ultrapassado pelo Sporting que tem um assinalável número mínimo de derrotas (5%), embora tenha sido o campeão dos empates (22%).
7. Se fizermos a comparação da primeira parte da década para a segunda (e já incluindo a quase primeira volta completa desta temporada), é notória a melhoria do Benfica (passa de 2.ª para 1.ª) e aumenta em 7 pontos percentuais o total de pontos alcançados. Também o Sporting evidencia uma assinalável melhoria, com um aumento de 19 pontos percentuais, depois de ter apenas atingido pouco mais do que metade dos pontos possíveis nos anos anteriores. Já o Porto, não obstante o desempenho deste ano, baixa de 83% para 75% o seu desempenho pontual.
Outra análise que fiz respeito à classificação final. Vejamos:
Número de Vezes:
Benfica - Campeão: 5; 2.ª: 3; 3.ª: 1
FC Porto - Campeão: 4; 2.ª: 2; 3.ª: 3
Sporting - Campeão: 0; 2.ª: 3; 3.ª: 3; 4.ª: 2; 7.ª: 1
Lugar Médio da década:
Benfica - 1,6.ª
FC Porto - 1,9.ª
Sporting - 3,3.ª
O Benfica apenas no 1.ª ano (2008/09) não foi campeão ou vice-campeão. O Sporting teve a pior classificação de sempre em 2012/13 (7.ª lugar), superando, pelo pior, a mais negativa época do Benfica (2000/2002) com um 6.º lugar e a do Porto que foi 9.ª classificado em 1969/1970.
Se fizermos uma classificação ponderada, dando 1 ponto ao campeão, 2 ao vice-campeão, 3 ao terceiro classificado e assim por adiante, o Benfica e o Porto oscilam entre serem campeões ou vice-campeões (1,6.ª e 1,9.ª, respectivamente) e o Sporting oscila entre o 3.º e o 4.º lugares.
Por mais que se queiram espremer ou torturar os números, eles falam por todas as palavras. Mesmo as que agora se espalham virulentamente pelas redes sociais, em versão facebookiano, tweetista, ou outro qualquer...
P.S. - Hoje, entre o Natal e o Ano Novo, não há contraluz Fico-me pelo contador (da Luz).
(...)"
Bagão Félix, in A Bola