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quinta-feira, 6 de junho de 2013

A primeira Grande Vitória

"Na Quinta Nova, em Carcavelos, no I Campeonato Regional de Lisboa, o Sport Lisboa e Benfica vence, por 2-1, o Carcavellos Club... Sábado, pelas 10h30, vamos reviver esse dia!

Há 106 anos, em 10 de Fevereiro de 1907, ecoou pela cidade um pregão de regozijo. Os ingleses invencíveis acabaram de ser vencidos, na Quinta Nova, pelo Sport Lisboa só com portugueses. O Futebol em Portugal começava a mudar...

No início de 1907 uma vitória histórica, inimaginável e retumbante que haveria de dar novo nome ao Clube, 'Gloriosíssimo' após uma proeza sem paralelo: derrotar os invictos 'mestres ingleses' do Cabo Submarino, em Carcavelos. No início da segunda volta da Liga, o Sport Lisboa e Benfica desloca-se a Carcavelos...
Havia sempre alguma ansiedade e expectativa para este confronto. Alguns adeptos chegaram cansados, porque se enganaram e meteram-se no comboio que ia somente até Paço de Arcos, tendo de ir a correr até Carcavelos, para chegarem à hora marcada para o jogo.
A expectativa de grande interesse por este encontro resultava, especialmente, da fama de invencibilidade que os 'mestres ingleses' do Cabo Submarino, de Carcavelos tinham e da confiança do Carcavelos em si mesmo. De facto, o Carcavelos apenas duas vezes tinha sido batido num largo período de anos - em 1897 e 1898. E os resultados no príncipio da temporada, para a Liga foram eloquentes, só com triunfos: Sport Lisboa, 3-1; Lisbon C.C., 3-0; Internacional, 4-1 e 6-0, este já em 20 de Janeiro de 1907.
A confiança num novo triunfo no jogo frente ao Benfica tornou-se tão pública que foi referida em 'Os Sports', com a indicação de que o Carcavelos mandara pedir ao Sport Lisboa que levasse, para o desafio, os seus melhores jogadores. Além do que tal atitude pode ter representado de firme confiança nos recursos próprios, deve ser também reflectido o belo espírito desportivo dos ingleses, para os quais interessava sobretudo o brilhantismo da partida como exibição de futebol.
Alinhámos com os mesmos jogadores dos últimos dois jogos: Mora; Henrique Costa e Emílio Carvalho; Fortunato Levy (cap.), António Couto (2.º golo) e Aníbal Santos; Marcial Costa, António Rosa Rodrigues, Daniel Queirós Santos (1.º golo), Cândido Rosa Rodrigues e David Fonseca.
Vencemos o Carcavellos Club, por 2-1, com o golo da equipa adversária a ser marcado nos últimos momentos da partida.

Um feito para a história
O Clube alcançara o maior e mais brilhante de todos os triunfos conquistados desde a Fundação, algo impensável para um Clube só com futebolistas portugueses... que apenas tinha três anos de existência!
O Carcavellos Club estava invencível desde 1898, há nove anos, tendo jogado 18 encontros, com 16 vitórias e 2 empates. Foi a terceira derrota do Carcavellos Club desde a sua fundação em 1976. A notícia correu célere entre os desportistas de Lisboa. O Sport Lisboa embalava rumo ao triunfo como agremiação desportiva. Félix Bermudes, capitão do 2.º 'team' passou a denominar o Clube por 'Gloriosíssimo'.
Depois deste acontecimento os jogos do Sport Lisboa passaram a ser acompanhados por muitos espectadores sempre à espera de nova e retumbante vitória do Glorioso.
Em 1906/07 não conquistámos o título - ficámos em 2.º lugar atrás do Carcavelos - mas tornámo-nos num Clube popular e respeitado. Em 1909/10, no IV Regional de Lisboa, interrompemos o tricampeonato dos 'mestres ingleses' e demos expressão ganhadora ao Clube mais popular de Portugal: o nosso Benfica!
E porque motivo lhe contamos agora esta história? Porque sábado, dia 8 de Junho, pelas 10h30, este momento será revivido e evocado, sendo que para o efeito estarão frente-a-frente os veteranos do Benfica e do Carcavelos, num jogo solidário, a realizar na Linha. Para a semana mostramos-lhe como tudo aconteceu!

A imprensa deu destaque a esta vitória
«O acontecimento da última semana foi a vitória de um grupo desportivo português de futebol, com o primeiro 'team' inglês de Carcavelos, que conseguira manter-se invicto durante doze anos (erro: nove). E o grupo que tão brilhantemente atestou a capacidade e a destreza nacionais, para o jogo atlético favorito dos ingleses, seus inventores, foi o primeiro 'team' do clube Sport Lisboa, o decano dos clubes portugueses de futebol! Viva o Sport Lisboa!»
(Os Sports)

«Há já muitos que o clube inglês, devido ao seu constante treino, perícia no jogo e ataque combinado dos seus 'forwards' (avançados), não era batido por nenhum grupo português; cabe, pois, ao Sport Lisboa a honra de ter acabado com o 'feitiço', e bem o merece, pois é um dos melhores 'teams' portugueses que se apresentam em campo. Ao Carcavelos faltavam três dos seus melhores jogadores, por motivo de doença, o que concorreu (devemos lealmente confessá-lo) para a sua inferioridade no jogo. O 'goal' marcado pelo Carcavelos não foi defendido propositadamente, pelo grupo português, com o pretexto de já passar de hora. Alguns registaram, por isso, o resultado final de 2-0.»
(Tiro e Sport)

«Os valentes e reputados jogadores que constituem esse 'team' (o Sport Lisboa), incontestavelmente o melhor, mais harmónico e o mais unido que, com elementos portugueses, se tem conseguido reunir, são: Manuel Mora, Emílio, Albano, Couto, Levy, Manuel Costa, António Rodrigues, Daniel, Cândido Rosa Rodrigues e David da Fonseca. O desafio em questão foi um dos mais belos que, no nosso País, se têm jogado. Foi uma flagrante demonstração do que podem a tenacidade, a perseverança e a energia postas ao serviço do nosso admirável temperamento, impetuoso e ardente. A vitória do Sport Lisboa não foi um facto acidental: foi consequência da activa preparação e do aturado estudo do brilhante 'team' português. Com efeito, o Sport Lisboa foi vencido no seu primeiro encontro com o mesmo clube, embora na primeira parte a vantagem fosse sua. No segundo encontro, conseguiu empatar. No terceiro, finalmente, alcançou a vitória tão longamente almejada, conquistada tão briosamente. É, pois, digno dos mais calorosos aplausos este valoroso grupo, que tão elevadamente soube representar o País no mais universal dos exercícios atléticos.»
(Os Sports)"

Alberto Miguéns, in O Benfica

Até sempre... El Mago

Despediu-se hoje do Benfica, um dos melhores jogadores do Mundo da sua geração... nas 5 épocas que representou o Benfica, nem sempre pôde dar o seu melhor, devido aos seus problemas físicos, mas tanto dentro como fora do relvado, classe, nunca lhe faltou. Merecia, pelo que fez, ter saído do Benfica, com mais títulos colectivos no curriculum, mas o pior do Futebol Tuga não o permitiu. Os do costume irão tentar recordar os maus momentos, mas os Benfiquistas e os amantes do jogo, irão recordar para sempre a marca do Aimar nos nossos relvados...
Espero que esta despedida seja somente um: até logo... O Pablo terá com certeza algumas ambições pessoais ainda a concretizar, quando finalizar a transição para a vida pós-jogador, tenho a certeza que encontrará o Benfica de portas abertas.... 

A guerra da fruta chegou a Alvalade

"Em Tavira o presidente encontrou-se com Adelino Caldeira, vice-presidente do FC Porto, e a caldeira ferveu em desconsiderações.

SEMANA de divórcios, chamemos-lhe assim. Semana de divórcios mais ou menos amigáveis, semana de revelações, consequentemente. Algumas das revelações foram, no entanto, desabridas.
José Mourinho, por exemplo, trocou o Real Madrid pelo Chelsea e assim que pousou as malas em Londres confessou só ter tido duas paixões na vida, o Chelsea, propriamente dito, e o Inter de Milão.
Do ponto de vista benfiquista, aceita-se. Mourinho passou num ápice pelo Benfica, não teve tempo para se apaixonar. O facto de ter sido no Benfica que, pela primeira vez, ascendeu ao posto de treinador principal também não foi suficiente para lhe despertar qualquer tipo de sentimento benévolo que possa apresentar em público tantos anos depois.
Já do ponto de vista portista, esta confissão de José Mourinho é bem mais difícil de digerir. Foi no FC Porto que o treinador se consagrou como especial, vencendo títulos em Portugal e no estrangeiro, dando-se a conhecer ao vasto mundo. Mas não foi paixão. Fica registado.
João Moutinho, outro exemplo, trocou o FC Porto pelo Mónaco e inspirado pela brisa do Mediterrâneo veio também, à semelhança de Mourinho, evocar sentimentos pessoais. Confessou o jogador ter sido do Benfica «em pequenino» por causa da família e, sobretudo, do pai benfiquista. «Mas depois cresci e agora sou e serei sempre do Porto». acrescentou. Do ponto de vista benfiquista, aceita-se. Por uma razão muito simples. É que, na verdade, João Moutinho não cresceu muito desde os tempos em que era pequenino e benfiquista. Basta olhar para ele, embora não lhe falte sequer um palmo para se rum excelente futebolista, talentoso e trabalhador como poucos.
Com toda a sinceridade, João Moutinho, crescer, crescer..., cresceste alguma coisa que se veja?
Não. Não cresceu.
Já do ponto de vista sportinguista estas confissões amorosas de Moutinho serão mais difíceis de suportar. Na história sentimental de Moutinho não teve cabimento nem uma palavrinha doce, nem um bilhete postal para o Sporting Clube de Portugal que lhe deu o pão e a formação com que se fez profissional da bola.
A semana das separações, dos novos rumos de vida, não se esgotou nos palcos cosmopolitas de Londres e da Côte d'Azur.
De Paços de Ferreira para o Porto seguiu Josué e do Estoril para o Porto seguiu Licá. Ambos professaram imediatamente os seus votos de castidade. São do Porto desde pequeninos e odeiam o Benfica.
Ambos fecharam os seus novos contractos nupciais e assinaram de cruz e de cara alegre a obrigatória cláusula do ódio em que se sustenta todo o seu amor.
Estes, sim! Entraram bem.

QUEM entrou mal foi o presidente do Sporting de acordo com a opinião de um vice-presidente do FC Porto. Está consumado o divórcio mais improvável do futebol português das últimas décadas.
E porquê? Por causa da fruta. Finalmente, por causa da fruta.
O recém-eleito Bruno Carvalho, nunca é demais repetir, foi o primeiro dirigente do Sporting a dizer «fruta», palavra proibida do léxico desde que as escutas do Apito Dourado passaram a ser um sucesso no Youtube.
Em Tavira, à pala da final da Taça de Portugal de andebol, o presidente do Sporting encontrou-se com Adelino Caldeira e a caldeira ferveu em desconsiderações várias. A sensacional notícia é que o presidente do Sporting não gostou do que ouviu.
Recorde-se que ainda há pouco tempo, por ocasião do Sporting-FC Porto em futebol, um ex-dirigente do Sporting pegou-se em palavras com Reinaldo Teles na tribuna VIP de Alvalade. O teor da discussão nunca foi tornado público. Terão vindo os quinhentinhos à baila? Mas não faltou um coro leonino de ofendidos com o alegado destrato aplicado ao famoso Reinaldo Teles.
Que era falta de educação, disseram. Lembram-se?
Noticiaram os jornais no dia seguinte o incidente diplomático, coisa sem expressão política de monta até porque o líder dos Super Dragões tinha sido recebido como um príncipe em Alvalade.
As relações entre Sporting e FC Porto dizem respeito aos dois emblemas mas é grande cobardia não ter opinião sobre o assunto. Há coisa de um século Lenine inventou a expressão «idiotas úteis» para categorizar os ingénuos que ardiam de entusiasmo por um movimento que era contrário aos seus interesses.
Parece que Bruno Carvalho se recusa a ser mais um idiota útil. E terá sido por isso que Adelino Caldeira, fazendo fé no que se leu nos jornais, o deixou de «mão estendida» em Tavira e lhe disse, paternalmente, «você entrou mal».
Esperem, esperem amigos, que ainda vão ouvir dizer a gente importante da fruta que Bruno de Carvalho, tal como João Moutinho, é benfiquista desde pequenino. Mas depois se perdeu...

QUEM é benfiquista desde pequenina também é a CMVM. Só assim se explica o interesse desmedido em ter notícias da renovação dos votos ou do divórcio entre o Benfica e Jorge Jesus. É que, como qualquer sócio mais enfurecido ou desesperado por notícias, andou a CMVM a semana passada a pedir esclarecimentos ao Benfica sobre o nome a pôr no contracto do novo treinador.
Isto é paixão.
No que diz respeito ao contracto do novo treinador do FC Porto, a CMVM está-se perfeitamente marimbando para o assunto. E faz muito bem. O presidente do FC Porto anunciou que é no dia 12 que divulga o nome do sucessor de Vítor Pereira pelo que o melhor é não fazer ondas. É no dia 12 e não se fala mais nisso.
Isto é razão.

COM a alegria de um ressuscitado, o presidente do FC Porto discursou na Afurada celebrando as derrotas do Benfica nos descontos que é como lhe dá «mais gozo». Pela boca morre o peixe, não é verdade? Nem foram precisas 24 horas para o Benfica ganhar nos descontos dois títulos ao FC Porto na sua própria casa.
Deus me livre de vir para aqui glorificar o título nacional de juvenis em futebol e o título europeu de seniores em hóquei em patins. Foram saborosos, justíssimos, apenas isso.
O treinador de hóquei em patins do FC Porto disse no fim de tudo: «A incerteza sobre a realização do encontro prejudicou-nos». Fez bem o Benfica em ameaçar não comparecer se as condições de segurança do recinto não fossem garantidas, tratando-se para mais de um jogo de importância internacional, superentendido por uma organização internacional.
Sendo estrangeiros na organização, mete logo outro respeito.
Fez bem em ameaçar não ir a jogo e fez melhor ainda indo a jogo e ganhando-o. Assim é que foi bonito. Também foi bonito ver o fair play dos jogadores de hóquei em patins do FC Porto que se mantiveram em campo assistindo à entrega da taça ao rival. Gostaria de poder dizer o mesmo dos jogadores de futebol do Benfica a propósito da final da Taça no Jamor.

PARA os que explicam o sucesso europeu no hóquei em patins com o facto de o árbitro do jogo ter sido um estrangeiro, recorde-se que o árbitro do jogo decisivo do campeonato de juvenis era português. Nestas coisas, mais fruta ou menos fruta, o importante é sempre marcar mais golos do que o adversário.

NÃO há muito a dizer sobre a renovação de contracto com Jorge Jesus por mais duas temporadas. Não há, aliás, nada a dizer neste momento. Para haver conclusões falta bola, faltam jogos, faltam resultados. Daqui a duas temporadas, talvez uma, já haverá muita coisa para se dizer."

Leonor Pinhão, in A Bola

Josué e Joshua

"O futebol está sempre a surpreender-nos. Desta vez por causa de um promissor jogador do Paços de Ferreira, de seu nome Josué. Outro Josué (em hebraico, Joshua) foi o sucessor do profeta Moisés e responsável por conduzir os israelitas à Terra Prometida. Este contemporâneo Josué veio de Paços, de passo em passo, para chegar à frutuosa terra desejada.
Feliz e contente, o jogador proclamou, no canal do novo clube, em jeito de sentença: «Tinha duas certezas na minha carreira: a primeira é a que um dia iria voltar ao FC Porto e outra é que nunca jogaria no Benfica.» E remata fulminante: «Sou do FC Porto e toda a gente que é deste clube não gosta do Benfica. E eu não fujo à regra.» Assim se distinguiu do colega Licá que, do Estoril, veio dizer a habitual banalidade de ser do clube contratante desde pequenino. Ora aí está, uma novidade nas contratações. Um jogador assina pressurosamente por dois clubes: pelo Porto e pelo anti-Benfica. Com o aplauso vibrante dos prosélitos e o tão sincero quanto interesseiro desejo de agradar ao chefe. Não sei se a parte do contracto anti-Benfica vem em letra gorda ou se, como nas apólices de seguros, vem em letra miudinha. Sim porque é de um seguro que se trata. Só não sei se de seguro de caução, seguro contra terceiros, seguro multirriscos ou, mais simplesmente, seguro de vida.
Imagino como deve ter sido cruel para Josué ter jogado contra o seu clube que precisava de ganhar na última jornada em Paços de Ferreira.
Josué disse que tinha duas certezas neste seu tão vibrante e elegante modo de mudar de clube. Mas, ao contrário do bíblico Joshua, não estou certo que alcance a Luz."

Bagão Félix, in A Bola

CaboPolvo !!!


(A partir do minuto 3.58)

Já não temos uma fantástica Selecção

"Continuamos a assumir como verdade indiscutível que temos uma das melhores selecções de futebol do mundo. Já tivemos, de facto, selecções de altíssima qualidade e suficientemente equilibradas para nos darem confortantes garantias de que era pelo menos razoável aquela tão generosa quanto assídua presença no top mundial no ranking da FIFA. A verdade - e é bom que todos tomemos consciência disso - é que, neste momento, Portugal estará no início de uma transição que pode vir a ser dolorosa.
Olhe-se com algum distanciamento e com sentido de objectividade para a última convocatória de Paulo Bento para um jogo decisivo com a Rússia. Abstraindo - o que nem sempre é fácil - a natureza da teimosia humana de que Paulo Bento não prescinde no momento da escolha, a verdade é que de vinte e cinco jogadores convocados, metade (para sermos simpáticos) não tem classe para estar numa selecção de topo. Seria menos mau se os que sobravam se pudessem arrumar cada um num dos onze lugares diferentes da equipa. Claro que não podemos ambicionar a tal sorte. Há lugares preenchidos por jogadores de altíssimo nível, outros de nível médio e outros ainda de nível baixo, o que torna a Selecção, em si mesma, numa equipa com limitações que só o engenho do treinador, a disciplina táctica e - mais importante de tudo - a vontade de ganhar pode ultrapassar com sucesso.
Tudo piora se pensarmos que os vinte e cinco jogadores chamados pertencem a um total de dezoito clubes, o que transforma a Selecção numa Babel futebolística (tanto mais que só estão três clubes portugueses representados) e aumenta, drasticamente, o grau de dificuldade do seleccionador nacional. Ganhar à Rússia será fundamental, mas deixou de ser uma obrigação."

Vítor Serpa, in A Bola