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quinta-feira, 11 de novembro de 2021

SL Benfica está na Liga dos Campeões de Voleibol!


"Águias Voam Alto e Estão na Liga dos Campeões!

Foi épico! Foi (quase) histórico! Pela segunda vez na história – e nas últimas três épocas – a equipa de voleibol masculino do Sport Lisboa e Benfica qualificou-se para a fase de grupos da Liga dos Campeões.
Esta é a prova maior de clubes homologada pela Confederação Europeia de Voleibol (CEV) e as águias estão agora, três eliminatórias de qualificação (a duas mãos) ultrapassadas, entre as 20 melhores equipas da Europa.
Inseridos no grupo D, os encarnados vão defrontar os alemães do Berlin Recycling (líderes da Liga alemã com sete vitórias em sete jogos), os sérvios do Vojvodina (atuais pentacampeões e clube mais titulado – 18 campeonatos – do respetivo país) e os russos do FK Zenit (vice-campeões da Rússia, atualmente em quarto lugar na sua liga).
As honras de apadrinhamento das águias caberão a estes últimos, que vão receber os campeões portugueses no último dia do mês corrente.
Rebobinando: para aqui chegarem, as águias bateram os estónios do Bigbank Tartu (3-1 fora e o mesmo resultado em casa), os finlandeses do VaLePa Sastamala (3-0 na Luz e 3-1 no Norte da Europa) e, por fim e de forma absolutamente gloriosa, os checos do Karlovarsko (derrota por 3-2 em Lisboa e triunfo por 3-1 em Karlovy Vary). Mas que motivos há para se falar em triunfo épico? na Liga dos Campeões
Vários. No entanto, um soergue-se por sobre os outros: a galhardia e capacidade demonstradas na cara das adversidades. Nas duas eliminatórias anteriores, nunca a turma de Marcel Matz (técnico brasileiro que tem feito um trabalho de alto louvor nos encarnados) havia estado em desvantagem. Até que chegou ao Pavilhão da Luz um grupo checo decidido a vergar os pupilos de Matz.
Na primeira mão, as águias perderam os dois primeiros sets – e de forma relativamente categórica. O impulso dos adeptos presentes (que se apresentam em maior número e com mais ruído nos jogos de voleibol do que em qualquer outra modalidade) forçou o empate a dois. Os checos haveriam de vencer o quinto set, vencendo a primeira batalha.
Não venceram a guerra. Venceram, no entanto, o set inaugural da segunda mão, alcançando um agregado de 4-2 e colocando-se a um set de distância da fase de grupos da CEV Champions League. 
Mal sabiam os checos que nesta equipa de voleibol do SL Benfica há “Raça, Crer e Ambição” como em nenhuma outra. 25-23 para as águias no segundo set e a águia começava a levantar voo.
Terceiro set controlado pelos encarnados e o 25-21 final colocava a eliminatória num agregado de 4-4 e as águias a um set de voltar a fazer história. No quarto set (que viria a ser o derradeiro), o Karlovarsko conseguiu uma vantagem de dois pontos que teimava e teimava até ser diluída pelos portugueses na reta final do set.
O 23-23 registado a certa altura adensou o clima no lotado pavilhão checo. Com toda a calma (mesmo colocando em quadra alguns jovens em momentos de tensão), as águias fizeram o 24-23 e fecharam o encontro no primeiro match point que tiveram à disposição. Tenso, suado, épico. na Liga dos Campeões
A festa da comitiva portuguesa foi de arromba, ainda no pavilhão e sentia-se pelo ecrã a irradiação da felicidade que assiste aqueles que fazem história e o percebem no imediato. O vocábulo “melhor” encerra em si algum grau de subjetividade, mas parece-me seguro escrever que, nesta eliminatória, venceu a melhor equipa.
No final, foi uma vitória da determinação, da crença, da união, da qualidade, da vontade. Foi uma vitória de Marcel Matz, da restante equipa técnica, dos jogadores, dos adeptos. Foi uma vitória do voleibol encarnado… e do voleibol português! Agora… é sonhar!"

O homem que escorregou...


"Fazendo parte do Oitavo Exército comandado por Montgomery no Egito, Tom organizou um jogo no qual participou o futuro Omar Sharif Finney.

Tom Finney. Não sei se será o único homem do mundo a ter uma estátua a escorregar, mas não ficaria admirado se me garantissem que o é. A estátua tem o sugestivo nome de The Splash e foi baseada numa famosa fotografia em que Finney está à beira de se espalhar ao comprido num campo de futebol encharcado, espirrando água para todos os lados. A cena passou-se em Stanford Bridge em 1956, mas a estátua só foi inaugurada em 2004, da autoria de Peter Hogdkinson, e está instalada no exterior do Deepdale Stadium, junto à Tom Finney Stand, em Preston.
Muita gente pode nunca ter ouvido falar de Thomas Finney mas acreditem que não era nenhum saloio do Lencashire, nascido nas margens do River Ribble. Filho de um clérigo e sofrendo de raquitismo – aos 16 anos não tinha mais do que 1m45 – ficou bem cedo órfão de mãe no meio de mais cinco irmãos, o mais velho chamado Joe, e quatro raparigas de nome Madge, Peggy, Doris e Edith. Alf, o pai, ganhava pouco e gastava bastante nas apostas. Tom não teve outro remédio senão ir trabalhar ainda na infância como aprendiz de picheleiro na fábrica de Pilkington. Tal como o pai, a cabeça estava presa pelo jogo. Não o das apostas, mas o do futebol. Não vivesse ele a poucos metros do campo do Preston North End. Quando leu um anúncio de jornal no qual se assinalava que o Preston estava a recrutar jovens jogadores entre os 14 e os 18 anos, correu para Deepdale para reclamar a sua oportunidade. Com uma bola nos pés, tudo lhe saía a preceito. Tinha um dom. Os responsáveis do clube não correram o risco de o perder e ofereceram-lhe um contrato de dois anos a duas Libras e dez xelins por semana. Tom abriu um largo sorriso, de orelha a orelha, e assinou de cruz. Alf também sorriu: era tão louco por futebol como o filho. Encheu o peito de orgulho e a pança de cerveja comemorando o acontecimento com os seus amigos num pub.
Com os treinos, Finney finalmente saiu do casulo da sua frágil aparência física. Esticou e encorpou. Estava na calha para vir a ser uma das maiores estrelas da história do Preston mas um homenzinho de bigodinho grotesco e olhar porcino resolveu pegar fogo à Europa e a II Grande Guerra atirou-o para as trincheiras.
Em 1942, Tom Finney estava no Egito, incluído no Oitavo Exército sob o comando do general Montgomery, ao qual os mais próximos se referiam por Monty. Nos tempos livres, entretinha-se a organizar jogos de futebol entre a malta do regimento. Conta a história que numa dessas brincadeiras à sombra das pirâmides, conheceu e fez-se amigo de um fulano que também tinha habilidade de pés, Michael Yusef Dimitri Chalhoub, mas que não queria seguir carreira nos estádios, preferindo tentar a sorte no cinema onde ficou famoso como Omar Shariff. Nunca ninguém desmentiu o episódio, embora nem Finney nem Chalhoub tenham feito particular barulho em volta dele. Do Egito, Tom seguiu para Itália, acompanhando o avanço dos Aliados, conduzindo um tanque de marca Stuart do 9.º de Lanceiros na Batalha de Argenta Gap que teve lugar entre 12 e 19 de abril de 1945 entre o V Corpo do Exército Britânico, comandado pelo tenente-general Charles Keightley e o LXXVI Panzer Corps comandado pelo general der Panzertruppe Gerhard von Schwerin.
A guerra estava no fim. Em breve Tom Finney alegrava os adeptos do Preston North End com o seu futebol ofensivo e ágil e com os seus golos fulminantes, ganhando a alcunha de Plumber of Preston. Vinte e quatro dias depois da sua estreia pela equipa principal do Preston, Tom surgia também pela primeira vez com a camisola de Inglaterra. No dia 25 de maio de 1947 fazia parte do onze inglês que desfez a seleção portuguesa por 10-0 no Estádio Nacional, marcando um golo aos 21 minutos. Era cada vez mais uma estrela em ascensão. O Canalizador de Preston e as Suas Dez Gotas, brincavam os jornais. Em 1952 recusou transferir-se para Itália e para o Palermo pela quantia de dez mil Libras a receber em duas épocas. Ficou para sempre jogador de um só clube: o Preston North End, que caiu para a segunda divisão no ano da sua despedida dos relvados, em 1960, interrompendo a existência de uma dupla atacante aterradora ao lado de Tommy Thompson.
Finney não seria capaz de adivinhar que, depois de uma carreira simplesmente brilhante, alguém decidiria eternizá-lo enquanto escorregava. Bill Shankly, o pai do grande Liverpool, diria dele: «Tom Finney would have been great in any team, in any match and in any age ... even if he had been wearing an overcoat». Bem, talvez fosse melhor ainda se dispensasse o sobretudo e usasse uma gabardina."

Do ‘show’ desportivo e da subliminaridade


"Quer seja semana após semana, quer seja de quatro em quatro anos, o indivíduo é mobilizado, é convocado, para seguir a sua paixão dando largas ao ardor e ao arrebatamento – há quem lhe chame libertar as emoções, extravasar energias ou procurar a excitação. São manifestações litúrgicas…
Para tal é necessária a existência do ‘show’ desportivo. Nele se vertem paixões sem se dar conta que as mesmas toldam a razão, não tendo a grande maioria dos apaixonados a capacidade para controlar a simultaneidade da paixão e da razão. Muitas vezes a paixão exacerbada resulta em fundamentalismo, um campo fértil para o desporto.
O espectáculo só produz entretenimento ou divertimento. Não é um bem palpável mas é uma mercadoria que se situa mais na esfera do imaterial. E o entretenimento “é desprovido de qualquer acesso ao conhecimento. Diverte sem aumentar o conhecimento”, como refere Byung-Chul Han (1).
Por seu lado, o espectáculo não existe sem o espectador. A excelência – ‘areté’ no tempo dos gregos e ‘virtus’ no tempo dos romanos – sempre foi do domínio público. A validação da acção do indivíduo na qual pretende sobressair e distinguir-se dos outros implica que a mesma fuja à obscuridade ou mesmo à negritude. Como nos disse Hannah Arendt (2), “para a excelência, por definição, há sempre a necessidade da presença dos outros, e essa presença requer um público formal”.
O espectador existe desde o início da humanidade, tando talvez nascido com a contemplação das pinturas rupestres, tendo o progresso, ou a civilização, determinado um espectáculo actual muito diferente do espectáculo da Pré-história, mas que aí encontra as suas raízes. A evolução do ser humano acompanhou novas formas de divertimento e este foi-se adaptando aos tempos relativos à sua época histórica. A história do desporto, a história do espectáculo, está registada, mas não a do espectador. É pertinente a questão que nos coloca Marie-José Mondzain (3): “Será possível fazer-se uma história do espectador sem nela anotar uma história da crença e, logo, de todas as figuras sub-reptícias ou violentas da persuasão e da convicção?” Sem nos preocuparmos com a resposta e quedando-nos apenas pela pergunta verificamos que «espectador», «crença», «violência» e «persuasão» são conceitos que fazem parte da história da humanidade e têm acompanhado o ser humano ao longo dos séculos .
A essência mais profunda do desporto-espectáculo não reside no facto de o desportista procurar superar-se cada vez mais, de optimizar o seu corpo, de se tornar um herói ou um ídolo. Não reside num escalonamento, num ‘ranking’ e na obtenção de um título. Não reside na meritocracia.
A essência mais profunda do ‘show’ desportivo assenta sim no facto do espectador poder alimentar o seu ‘ego’ com aquilo que não consegue mas gostaria de conseguir fazer (por isso os psicólogos falam em identificação e em projecção) vivendo, segundo o mesmo, assim, momentos inolvidáveis. A essência mais profunda do ‘show’ desportivo assenta na criação do consumidor – o adepto foi há muito ultrapassado – tendo o comércio, o negócio, a publicidade e o ‘merchandising’ tomado conta do desporto.
Por que motivo os logotipos de grandes marcas nos equipamentos, nomes de produtos ou de empresas nos painéis que circundam o campo, nos ‘outdoors’, nos painéis por detrás dos pódios e nas conferências de imprensa, nas costas das camisolas, ou até em cartazes e nos bilhetes? Nós não damos conta mas… existe a recepção de mensagens directamente pelo cérebro pela via ocular sem o crivo crítico da consciência, mas que ficam registadas no nosso inconsciente, como refere Flávio Calazans (4)… e as “mensagens que pouco a pouco levam à adesão, inconscientemente reforçando a cognição consciente gerada pela campanha publicitária tradicional, constituem a propaganda subliminar multimídia.”
É essa propaganda que cria o consumidor. E embora a noção de propaganda seja diferente da de publicidade – a primeira é uma forma de transmitir ideias que procuram influenciar o nosso comportamento enquanto a segunda é uma forma de comunicação que procura promover perante o público um serviço ou um produto –, o objectivo é fazer registar uma imagem no nosso cérebro a fim de modificarmos o nosso comportamento consumista e mais tarde adquirirmos esse produto. E quando compramos o produto, não estamos só a pagar o mesmo… estamos a pagar a própria publicidade! O consumidor final, o tal que está na cauda da cadeia alimentar, é o tal que tudo suporta.
Daí o ser importante, para os promotores do espectáculo desportivo, fazer com que a nossa mente inconsciente repare em coisas nas quais a mente consciente não repara mas regista – as imagens subliminares."

A motricidade humana: epistemologia e política


"A Ciência da Motricidade Humana (CMH) constitui um processo inacabado se, no seu estudo, às questões epistemológicas não juntamos as questões ideológicas e políticas. Alongando o olhar pela imensidão das práticas onde a motricidade humana pode corporizar-se, se deixarmos de lado os velhos naturalismo e positivismo, são a epistemologia e a política que melhor nos podem elucidar. Isto, sem qualquer presunção, ou a prosápia, de tudo saber resolver, esquecendo “o primado teórico do erro” de Gaston Bachelard. É que a Verdade, neste nosso mundo, esgueira-se ao interesse do mais aplaudido dos especialistas. Não há Verdade, há verdades – tantas como as pessoas que delas se ocupam. Por isso, as ciências não são mais do que um processo provisório de verdades, provisórias também. A Verdade não passa de uma ignorância ou de uma tradição. E a ciência é um processo em constante construção, jamais a encontraremos feita de uma vez por todas. Estou a escrever banalidades, eu sei. Mas, criticamente, não há critérios científicos absolutamente inquestionáveis. Não há dogmatismo que não nos empurre à esclerose do pensamento. Por isso, quando em 1968 ingressei no INEF não desconhecia o racionalismo cartesiano, a matriz fundante do “físico” da “educação física”. Nem podia ser doutra forma: o dualismo antropológico cartesiano ressaltava, como reflexo, do dualismo social e político da burguesia, a grande vencedora da Revolução Francesa. No entanto, também não me custa reconhecer que é, a partir do legado da Revolução Francesa, que a democracia, a liberdade, os direitos humanos deixam de ser simples argúcia verbocrática. Embora, paulatinamente, a visão, a organização e a construção social do mundo deixem de ter Deus como o seu principal quadro de referência. Nietzsche não teve receio de repetir, com firmeza: “Deus morreu!”. E a “morte de Deus” significava também, para ele, a cultura que via em Deus o princípio de todas as coisas. De facto, na sociedade hodierna nota-se um cheiro forte de vitória da filosofia de Nietzsche. Vive-se num mundo sem Deus que, “a priori”, parece funcionar bem melhor do que nas teocracias (deste e doutros tempos).
A Educação Física nasce no século XVIII e portanto adestrada pelo racionalismo e o mecanicismo ambientes. Será interessante relembrar o Platão do Górgias, que vê, na ginástica, a arte destinada a cuidar do corpo são, e a medicina como a arte que se ocupa do corpo enfermo. Rousseau, no Emílio I, 42, sublinhou que a vida é movimento e que a criança dele necessita é uma opinião unanimemente partilhada, pelos pedagogos, através dos anos. Em qualquer teoria educativa, o jogo ocupa um lugar primordial. Mas, aqui, há um ponto a realçar em Rousseau: julgo eu ser o primeiro autor que faz sua uma teoria do conhecimento que descobre no movimento um auxiliar precioso ao desenvolvimento cognitivo da criança, ao invés do que opinaram Platão e Locke: aquele, um velho prócere do idealismo; este, um liberal e um empirista, ao jeito britânico. Em Platão e Locke, a educação física é educação corporal e o corpo não passa de matéria. “A matéria destila espírito” de Teilhard de Chardin não boiava (nem podia boiar) ainda à tona do conhecimento científico. Escrevia eu acima que o “físico” da “educação física”, na década de 60 do século passado, era de matriz cartesiana, o que provocava, necessariamente, uma clara indefinição do paradigma que fundamentava a educação física e o desporto e do método adequado à sua investigação. Com Mário Wilson, como treinador do Belenenses (em 1970, se não estou em erro) propus à direção do meu clube assentisse no contrato de um professor de educação física que desse ao treino uma versão verdadeiramente científica. E o Dr. José Paúl, licenciado em Educação Física, passou a ocupar-se do “treino físico” dos futebolistas “azuis”, com benefícios evidentes para o desempenho dos jogadores. A propósito, relembro a frase de Norman Augustine (in Science, 279, 1998, 164-165): “Se pusermos o nosso esforço só na lógica e na capacidade técnica, como no passado, perdemos a corrida na competição pela atenção do público”. De facto, para uma verdade científica se impor há muito mais em jogo do que a simples área do laboratório, ou da biblioteca. Eu sei o que isso é e por experiência própria…
A cultura modernista-iluminista, donde nasce a Educação Física, era (nalguns casos, é ainda) mera guardiã de um passado que desconhece as transformações que o pensamento científico vem sofrendo. E a insustentabilidade de tal situação gera uma confusão insanável: um certo setor da Comunicação Social, se quer discutir cardiologia, ou direito administrativo, convida (e muito bem) para o efeito, cardiologistas ou especialistas em direito administrativo. Todavia, se pretende adentrar-se na vasta problemática do desporto, o painel dos participantes é entumescido de pessoas que, sem prática, manifestam verdadeira aversão pelo estudo e pretendem destacar-se (supremo contrassenso), na hora das conclusões. Uma disciplina de “Epistemologia”, ou de “Filosofia das Ciências” parece-me essencial, nos cursos universitários de Educação Física e Desporto, para complementar o ascenso da cultura técnica e tecnológica, que parece monopolizar a cultura, no desporto e… não só! “Novas experiências virtuais, novas simulações computacionais vão, a pouco e pouco, conduzindo a diferentes modos de fazer ciência, alterando a noção do que é ser cientista e os próprios conceitos de natureza, de realidade e de verdade. Pouco dada à reflexão ou à produção teórica, a nova cultura tecnológica responde a uma questão fabricando um instrumento. O seu principal valor é a imediatez. É a cultura da oportunidade, do “just do it”. Entretanto, cada vez menos ser culto significa ler livros, conhecer teatro, música clássica, arte (…). Numa época de mudança acelerada, trata-se simplesmente de “estar informado” (Maria Manuel Araújo Jorge, in Revista Portuguesa de Filosofia, Julho-Dezembro de 1998, p. 553). O próprio Jean-Marie Lehn, Prémio Nobel da Química, afirma, sem temer ou tremer, que a investigação molecular é a ciência do futuro, tendo como fito percecionar “como funcionam os sistemas moleculares, quer dizer, como funcionamos todos nós, seres vivos, já que não somos outra coisa senão sistemas moleculares extremamente complexos” (Alfredo Dinis, in Revista Portuguesa de Filosofia, Julho-Dezembro de 1998, p. 556). Ou seja, com um pouco de bioquímica entenderei o Homem e a Vida, a Sociedade e a História. E um poema do Torga, ou da Sophia…
Quando cheguei ao INEF, entrara de estudar Epistemologia, sob a orientação paciente do Doutor Armando Castro, professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto-. Na minha licenciatura em Filosofia, nas disciplinas de Teoria do Conhecimento e de Ontologia, conservo na memória que a Epistemologia não se estudava. E, na Ontologia, e com palavras incolores, só muito rapidamente se invocava o Merleau-Ponty. De Bachelard, Althusser, Piaget, Foucault, Popper, Kuhn e Feyerabend - nada! Nem uma rápida análise! Silêncio sepulcral! E, quando li que, na maturação de uma ciência, os momentos de descontinuidade, ou seja, de cortes epistemológicos, de mudanças de paradigma, de revoluções científicas, eram a necessária desordem que anunciava uma nova ordem, logo me ocorreu propor outro tanto, para a História da Educação Física e Desporto, através de um novo paradigma que, hoje, assim defino: “a energia para o movimento intencional e solidário da transcendência, ou superação”, que abrange o jogo, o jogo desportivo, o desporto, a gestão do desporto, a dança, a motricidade infantil, a ergonomia, a reabilitação, etc., etc. Aliás, mudanças de paradigma que se descobrem em Marx, em M, Weber, em Durkheim, em Manheim e outros sociólogos do conhecimento - conhecimento que é sempre tributário da História e portanto, como a História, em perene movimento. Com algum rigor hermenêutico, propus um “corte epistemológico”, não só como um facto científico, mas também como um amplo fenómeno cultural e político, quero eu dizer: económico, social, paidêutico, formativo e filosófico. E que desse “corte” resultasse uma nova ciência hermenêutico-humana que, dialeticamente, destruísse, superasse e conservasse o “tradicional” na educação física e no desporto e no treino desportivo. A recusa liminar dos mais radicais defensores do racionalismo e do positivismo e dos intelectuais orgânicos da mediocracia não me enclausurou num pessimismo de desistência. E continuei a estudar para que a Ciência da Motricidade Humana não se transformasse, para mim, num mero exercício de erudição. E, durante treze meses, fui mesmo adjunto do “mister” Jorge Jesus, no departamento de futebol do S.L.Benfica. Corria o ano de 2013…
Também tentei uma análise lógica da linguagem científica, mas a denominação “Educação Física”, que não atende, nem satisfaz às condições sociais reais de trabalho dos “professores de Educação Física”, de conteúdo que excresce muito para além da pedagogia, parece, para já, inamovível. As ciências nascem e desenvolvem-se em circunstâncias históricas bem determinadas. E a denominação “Educação Física” tem a marca de um racionalismo definitivamente sepulto. Estou certo que, dentro de três ou de quatro gerações, o paradigma desta profissão será outro, bem mais amplo e de mais complexa interdisciplinaridade. Na Proposta de Lei, apresentada à Assembleia Nacional, para a criação do INEF, pode ler-se: “O problema central de toda a obra educativa é o da formação dos educadores e a esta regra não podia fugir a educação física; ele constitue talvez o seu lado menos aparente, mas é com certeza o mais importante. Para que o sistema da educação física racional triunfasse primeiro, e depois não fosse comprometido, tornava-se indispensável que o compreendessem e servissem homens convenientemente habilitados, pois que ele pressupõe uma pedagogia; e pior do que não fazer ginástica nenhuma seria sujeitar o organismo a exercícios mal dirigidos”. Enfim, sem mais delongas, o início de um racionalismo que ainda sobrevive nalgumas mentes intransigentes e (digamo-lo sem receio) ultrapassadas. Não escondo, porém, que o racionalismo, o positivismo, o materialismo e o cientismo convergiram em direção a uma praxis política ilustrada, como o confirmam os partidos socialistas do mundo ocidental. Quando, na década de 70 do século passado, me deitei a uma reflexão sobre a filosofia implícita, na educação física, designadamente a educação física escolar, admirei, sobre o mais, o triunfo de um biologismo, oriundo da Medicina. Só que, anos passados, começa a assistir-se a um rigoroso questionamento da ciência, da filosofia e da teologia. E o “corte epistemológico”, segundo Bachelard e Althusser, era um elemento prestante do próprio desenvolvimento científico. Por isso, o traço mais típico da epistemologia situa-se no facto de ela ser “polémica”, desafiante, desinstaladora, ao rejeitar os “obstáculos epistemológicos” de determinados discursos, onde há mais ideologia que ciência. E eu também adiantei a necessidade de um “corte epistemológico”, no seio da Educação Física. E rodeou-me então um hálito gélido de desconfiança… no seio da Educação Física!
Sendo o conhecimento concebido como uma produção histórica, a epistemologia revela sempre, como um processo, o conhecimento científico. E como um processo não só biológico, mas também filosófico, social, político, religioso. Compreende-se, assim, que o papel insubstituível da epistemologia se resuma, para alguns autores, “em dar à ciência a filosofia que ela merece. Todavia, trata-se agora de uma filosofia aberta e móvel, que renuncia à forma sistemática, a seu espaço fechado e ao imobilismo, para arriscar-se, ao lado dos cientistas, nos campos novos do pensamento. Donde se conclui que o objeto da filosofia das ciências tem que ser um objeto histórico. Toda ciência deve produzir, a cada momento de sua história, suas próprias normas de verdade e os critérios de sua existência (…). Resulta então que a epistemologia é indissociável da história das ciências” (Hilton Japiassu, Introdução ao Pensamento Epistemológico, Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1988, p. 73). George MacDonald, professor do Departamento de Filosofia da Universidade de Leeds, em carta ao Times, escreveu: “Uma das principais características que distinguem a Universidade de um mero agregado de departamentos de ensino e investigação, é a presença nela de uma aproximação filosófica ao conhecimento: a preocupação pelos supostos básicos, a metodologia, os critérios de verdade, as implicações morais e as conexões entre as diversas disciplinas. Uma instituição que toma a decisão de prescindir da filosofia não está simplesmente a abolir um departamento entre muitos, mas está a prejudicar severamente o seu direito a denominar-se a si mesmo Universidade” (in Associação de Professores de Filosofia, A Filosofia face à Cultura Tecnológica, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1988, p. 11). O nosso hábito tão português de solilóquio entre surdos impediu o diálogo entre duas formas diversas de pensar. Por outro lado, a incomensurabilidade dos paradigmas sucessivos, de Thomas Kuhn, também não deixou que eu fizesse epistemologia, na Escola onde trabalhava. Por isso, não assaco tão-só defeitos aos “outros”. Eu também os tenho. E, afinal, se houve, então, quem fizesse “ouvidos de mercador” ao que eu dizia e escrevia e tentasse condenar-me ao ostracismo, também venho merecendo a confiança dos que me lêem e dos que muito me ensinam e dos que também lutam por um novo paradigma. Melhor é errar por ter feito qualquer coisa, do que não ter erros porque nada se fez…"

Gigantes!

Karlovarsko 1 - 3 Benfica
25-20, 23-25, 21-25, 23-25


Eu acreditava... no final da derrota da semana passada, que estávamos na luta... No jogo da Luz, cometemos muitos erros, e os Checos fizeram um jogo quase perfeito no Serviço, que dificilmente iriam conseguir repetir, portanto se estivéssemos ao nosso melhor nível, podiamos conseguir a qualificação, e foi isso que aconteceu...!!! Esta equipa já nos habituou a momentos destes, momentos onde não existe margem de erro... e onde a ambição, a qualidade e o vicio da vitória ultrapassam todos os obstáculos que nos aparecem pela frente!!!

Por acaso, até começamos mal, no 1.º Set não conseguimos concretizar vários 'contra-ataques' e isso penalizou-nos! Nas a partir daí, melhorámos... só no final do 3.º Set quando tínhamos uma vantagem enorme, relaxámos, e permitimos a aproximação do adversário! Esse 'relax' passou para o início da 4.º Set, mas acordámos a tempo, 'empatamos' o parcial, e na ponta final, fomos letais...

Tudo isto, com uma arbitragem super-caseira! Que nos 'roubou' vários pontos... mas apesar dos nossos protestos, nunca perdemos a cabeça!

Este é daqueles jogos onde todos jogaram bem... mas tenho que destacar alguns:
- Gaspar fez 'séries' de pontos consecutivos incríveis!
- Violas, bem melhor na Distribuição...
- Japa, soube ser a 'alternativa' ao Gaspar, nos momentos decisivos...
- Zelão, melhor do que no 1.º jogo, e importantíssimo na garra...
- Boas entradas do Nikula e do Westermann...
- Casas, acho que só 'falhou' uma recepção!
- André muita experiência, quando a bola chegou 'torta'!!!

Pela 2.ª vez na nossa história, estamos na fase de grupos da Champions, o nível é altíssimo, e muito provavelmente as vitórias vão ser poucas, mas só assim podemos evoluir... Será importante a recuperação do Honoré!

Injusto...

Benfica 0 - 1 Hacken


Frustrante, muito frustrante, perder um jogo destes, com um penalty inexistente!
Não fizemos um grande jogo, mas defendemos bem... e a espaços, até conseguimos sair em contra-ataque com qualidade, e chegamos a ter 'posse de bola' ofensiva com alguma qualidade, mas voltou a faltar 'peso' na área, sem a Nycole, ficamos sem capacidade física no zona mais perigosa... Sinceramente, não compreendo a não utilização da Lara nestas situações!

O jogo foi equilibrado, as Suecas tiveram mais tempo no nosso meio-campo, a Leté fez algumas boas defesas, mas o resultado normal deste jogo, seria um empate, não fosse a apitadeira desempatar!!!
Mais uma arbitragem vergonhosa, e não foi só o penalty, os Amarelos às nossas jogadoras foram quase todos absurdos, ao mesmo tempo que foi perdoando vários Amarelos às Suecas!!!

Este era o jogo teoricamente 'para ganhar', os jogos fora com o Bayern e com estas Suecas vão ser complicados, pelo que fizemos na 1.ª e agora na 3.ª jornada, já mereciamos, mais golos e mais pontos!