Últimas indefectivações

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Senhor Shéu

"Quantas horas de debate televisivo é que a despedida de Shéu Han vai ter? Alguns minutos, umas peças e comentários, elogios sentidos e unânimes e já está. No actual estado mediático do futebol português, esse é o melhor elogio a Shéu. Dele não vão ouvir barbaridades, insultos a adversários ou golpes palacianos.
A primeira vez que estive com Shéu Han foi num elevador do Estádio da Luz, a caminho de uma emissão do 105x68 na BTV. Foi no início da época passada, e posso garantir-vos que, durante os 30 segundos que fiquei frente a frente com o ídolo, me senti o mesmo Ricardo que ouvia os relatos da rádio nos anos 1980 enquanto o imaginava a espalhar distinção no campo. Eu nem sabia o que dizer.
Shéu Han é um dos grandes responsáveis pelo meu benfiquismo, e vejo nele o comportamento exemplar, na vida e no desporto, que todos os que servem o Sport Lisboa e Benfica deveriam ter. Combatente, justo, intenso, cordial, com arte e saber. Acreditem que isto não tem a nada ver com os 9 Campeonatos Nacionais, 6 Taças de Portugal e 2 Supertaças. É muito mais do que futebol.
O senhor Shéu passou por tudo no SL Benfica. De jogador dos escalões jovens a peça fundamental na equipa principal, de secundário técnico a alma e memória do balneário. Viu o Glorioso nas várias mós, de cima, de baixo, de cabeça fora de água, e sai agora, quando o clube está estável, conquistador e em busca de novos sonhos.
Quando vi a homenagem que o plantel lhe fez no balneário, chorei. É assim que se devem tratar os homens e as mulheres que dão tudo pelo Benfica.
Obrigado, Senhor Shéu."

Ricardo Santos, in O Benfica

A cruel espera

"Quase dois meses, oito semanas, 59 dias, 1 417 horas, 85 020 minutos, 5 101 200 segundos depois, ressuscitei. Este foi o intervalo de tempo que separou o Benfica - Moreirense da última época e o Benfica - FK Napredak da passada terça-feira. O substantivo feminino 'aleluia' foi inventado precisamente para ser empregado neste tipo de situações. É um termo com origens hebraicas, o que significa que também os hebreus eram benfiquistas. Somos mesmo gigantes. Durante este período não vivi, limitei-me apenas a sobreviver. Perdi o apetite, o rumo, a felicidade. Sem Benfica, o que é suposto fazer um homem sorrir? Desconheço a resposta, porque provavelmente não existe. O Campeonato do Mundo ajudou a combater esta angústia, embora tenha sido um auxílio manifestamente curto. A queda de Portugal foi um duro golpe. Afundou-me ainda mais na escuridão. Não pela eliminação, mas pelo final dos quinze minutos de treino aberto da selecção nacional onde era possível espreitar o Rúben Dias em acção.
O meu escape foi precisamente esse: acompanhar o que andavam a fazer os nosso craques. O Zivlovic, o Seferovic, o Salvio, o Ebuehi, o Carrillo, o Jovic e o Raúl estiveram no Mundial. O Pizzi recuperou energias no Dubai; o André Almeida, o Grimaldo, o Rafa e o Samaris descansaram em grupo na Grécia; o Jonas viajou até à terra natal, Taiuva; o João Félix entregou-se ao Fortnite.
Quem ficou ausente no Mundial teve tempo para renovar forças físicas e anímicas.
Quem esteve na Rússia também terá oportunidade para tal. Quanto a mim, ainda não gozei férias e nem sequer tenho intenção de o fazer neste ano. Prefiro acumular dias para gastar em Maio de 2019."

Pedro Soares, in O Benfica

Rumo à reconquista

"Vinte mil pessoas nas bancadas para assistir a um treino não é coisa comum. E tanta gente na Luz, num sábado de manhã, com o tempo convidativo a outras práticas, só pode significar que os benfiquistas acreditam vivamente numa época de reconquista. Com o fecho do mercado ainda longe, é óbvio que o plantel não está fechado. Haverá ajustamentos, com uma ou outra entrada, e várias saídas, por venda ou por empréstimo. Mas as indicações que podemos desde já aferir apontam para a construção de uma equipa fortíssima, capaz de lutar em todas as frentes - e desde logo, num futuro mais imediato, pelo importante acesso à fase de grupos da Champions League.
Os reforços são, na sua maioria, jogadores de créditos firmados, e capazes de pegar de estaca. Por exemplo, no ataque, a dupla Jonas-Ferreyra promete bastante. Tal como o amplo conjunto de defesas-centrais agora disponíveis.
Até ao momento, de jogadores habitualmente utilizados, só saiu, por empréstimo, Raúl Jiménez. E mesmo assim já foi possível realizar um encaixe financeiro notável, rentabilizando atletas que ou não faziam parte da equipa, ou não tinham muita utilização. Por outro lado, o Benfica passou relativamente incólume pelo efeito-Mundial: nenhum dos nossos jogadores ultrapassou os oitavos de final, o que vai permitir que se apresentem em boas condições, e a tempo dos primeiros grandes compromissos da temporada.
A hora é, pois, de esperança e de confiança. E de trabalho, muito trabalho. Seguramente, no dia 8 de Agosto, data do primeiro grande combate europeu, o conjunto de Rui Vitória estará em condições de responder 'presente!'."

Luís Fialho, in O Benfica

Shéu e Luisão

"Se há clube que prima pela qualidade humana e profissional dos seus atletas esse é o Sport Lisboa e Benfica. Por estes dias tivemos dois dos nossos melhores intérpretes a deixarem mensagens fortíssimas. Shéu anunciou que vai deixar as funções de Secretário Técnico e Luisão avisou que esta será a sua última época. Ambos merecem o nosso profundo respeito. Shéu e Luisão são dois perfeitos intérpretes da Mística Benfiquista. Ambos dedicaram as suas vidas desportivas ao Maior Clube Português e, por isso mesmo, são grandes referências. Shéu ajudou a conquistar 42 títulos, sendo 17 com jogador e 25 como dirigente. Luisão já atingiu os 20 e revela-se com a ambição de querer conquistar mais três - Campeonato, Taça de Portugal e Taça da Liga. Creio que a palavra chave deste dois capitães é a mesma - ambição. Ambos foram determinantes nos títulos conquistados porque revelaram sempre uma enorme ambição. Shéu e Luisão construíram uma relação impressionante, própria dos grandes seres humanos. Além dos títulos conquistados, o que mais me impressiona em Shéu é a sua dedicação de corpo e alma ao SL Benfica. Alguém que cumpre 19 épocas como jogador e 29 temporadas como dirigente, merece a nossa exaltação. Tudo somado, Shéu passou 48 épocas a servir o Glorioso. Quanto a Luisão, que cumpre a sua 16.ª época de águia ao peito, tem tudo para seguir as pisadas de Shéu."

Pedro Guerra, in O Benfica

A inteligência

"Mais um final de ano lectivo, mais um ciclo que se fecha para outro se reabrir. É tempo de somar resultados e fazer balanços para reentrar em Setembro com baterias recarregadas e objectivos mais ambiciosos. Esta é a atitude com que os alunos do projecto 'Para ti Se não Faltares!' partem para férias e verbalizam nas reuniões de avaliação final com a Fundação Benfica. Foi um ano de trabalho intenso em todas as escolas do projecto, envolvendo dezenas de técnicos e centenas de jovens, famílias e professores num processo quotidiano de motivação e compromisso.
Apostamos tudo nos jovens, e eles retribuem ao máximo, por isso no final todos ganhamos. Em primeiro lugar os jovens, pela sua valorização e resultados, mas também as famílias que melhoram a relação e o ambiente familiar e descobrem, ou redescobrem, o real valor dos seus filhos que, em muitos casos, estava encoberto pelas vicissitudes e atribulações da adolescência.
Ganham os professores e a escola no seu todo, pela satisfação de ver o seu trabalho recompensado e valorizado a missão que abraçaram, mas também pela melhoria global do ambiente escolar, de redução do bullying e de maior respeito e disciplina. Ganha também o Benfica, porque se houvesse um campeonato da ética e dos valores ou uma taça da crença na pessoa humana, sairia vencedor. Não porque corresse para isso, mas simplesmente por ser como é!
Assim, uma vez mais, reina entre todos uma sensação de dever cumprido e a alegria de ver tantas centenas de sorrisos sobre o trabalho feito.
Em todas as escolas, os jovens voltaram a cumprir com o prometido. Baixaram as faltas e melhorou o comportamento, logo abriu-se espaço ao talento e à conquista de resultados. Esta é, na realidade, a receita do projecto que um jovem de Marvila, há quatro ou cinco anos, tendo passado de 5 negativas para média de 4, resumia numa frase esclarecedora: 'Foi fácil: fui às aulas, concentrei-me, e a inteligência fez o resto'.
Boas férias!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Transmitir - outro conceito-chave

"Nestes últimos dias, houve três episódios muito interessantes na vida do Benfica que gostaria de assinalar, não só tendo em conta os elevados significados que cada um representa, por si, mas também, considerando o inefável laço que é comum a todos eles.
Primeiro, a alegria com que os adeptos vieram partilhar o seu benfiquismo com a equipa principal, no treino aberto de sábado passado. Depois, ainda nesse dia, a suave despedida do nobre Shéu Han do seio da equipa que sempre honrou, continuamente, ao longo de quarenta e oito anos. E, logo no começo da semana, na ocasião em que se abria o segundo ciclo da preparação da equipa, em Tróia, as confiantes declarações do capitão Luisão, ao iniciar a sua décima sexta época no Glorioso.
O espectador registo de expectativa, dedicação e entusiasmo que os adeptos quiseram demonstrar, massivamente, de fora para dentro, ao mais relevante grupo de trabalho do Benfica e, nos casos de Shéu e Luisão, o profundo sentido da vivência do Benfica na perspectiva do ambiente interior, mais protegido e preservado, representam que a força e a grandeza do nosso clube resultam da perenidade dos valores que nos fortalecem entre nós, dos adeptos aos atletas e das cadeias de transmissão cultural que sempre soubemos conservar, proteger e desenvolver, no seio das nossas estruturas de competição.
Na esplêndida manhã de sol daquele sábado, o momento da comunhão dos sócios e simpatizantes e das suas famílias com os craques mais celebrados, assim como o ensejo de reconhecerem as caras dos jovens oriundos da Formação e as figuras dos atletas recém-chegados de outras paragens, resultaram num momento de festa inesquecível para muitos milhares de benfiquistas e para os próprios jogadores.
Não restam dúvidas de que o convite para o 'treino aberto' - pouco comum nos tempos que correm - patenteou a determinação com que todos nos preparamos para o grande desígnio da reconquista que nos permitirá alcançar o 37.º em Maio de 2019.
Por outro lado, ao dar por concluído, com a maior descrição, o seu longevo contributo ao serviço da equipa principal, precisamente na sensível circunstância de uma mudança de ciclo, o significado da serena atitude de Shéu Han não pode deixar de ser correlacionado com o sentimento de confiança implícito nas declarações do grande capitão. Shéu e Luisão são, indubitavelmente, no presente e no cenário muito específico do nosso mais importante grupo de trabalho, os dois exemplos míticos da continuidade da mística do Benfica. Quando um deles, considerando cumprida a sua missão, humildemente se retira, o outro afirma a sua permanência, sinalizando, designadamente, quão decisivo julga poder ser o seu desempenho junto dos newcommers.
O mais relevante denominador comum aos três episódios consiste na solidez dos modelos de transmissão de uma mesma cultura que, ao ser passada de avós a filhos e a netos, e que todos gostam de manifestar entusiasticamente aos atletas, estes, por sua vez, se sentem conscientemente estimulados a preservar e desenvolver, no seu da equipa. Por isso, o Benfica é tão forte.
Por isso, o Benfica é único."

José Nuno Martins, in O Benfica

Responsabilidades europeias do SLB

"O vendaval que varreu o Sporting a partir do momento em que Bruno de Carvalho zurziu jogadores e treinador, após a derrota frente ao Atlético de Madrid, teve um efeito de eucalipto no panorama noticioso e permitiu que os restantes clubes pudessem trabalhar em paz e sossego. Depois, a febre do Mundial atacou Portugal e logo que a turma das quinas abandonou a Rússia a campanha eleitoral do Sporting, que está na rua, e a transferência de Cristiano Ronaldo do Real Madrid para a Juventus, açambarcaram as atenções da opinião pública. Assim se explica que a actualidade do Benfica não tenha sido tão escrutinada como em anos anteriores, sendo que a época que agora começa se reveste de uma importância inusitada, em função das receitas (directas e indirectas) que uma participação na Champions League hoje representa. Relativamente a temporadas anteriores, o modus operandi dos encarnados (e do presidente) deve ser alterado. Se, antes, era razoável que o plantel estivesse fechado até ao fim do mercado, este ano o Benfica precisa de estar na máxima força a partir de 7 de Agosto, dia em que inicia a sua participação na terceira pré-eliminatória da liga milionária. O que significa que Rui Vitória deverá dispor dos jogadores, para trabalhar automatismos e rotinas, pelo menos até ao início da última semana de Julho. O que está em causa, para os encarnados, é demasiado importante para que não haja um esforço tendente à construção de uma equipa realmente competitiva a nível europeu. E, pelo que tem sido possível ver, ainda há algumas posições que necessitam de melhor apetrechamento. Tic-tac, tic-tac, o relógio não pára."

José Manuel Delgado, in A Bola

Artistices

"Fiquei muito satisfeito por, além da França, também a Bélgica a Croácia e a Inglaterra terem atingido as meias-finais

1. Reconheço que há muitos critérios para avaliar e comparar os treinadores de futebol. Desde a condição de terem, ou não, sido jogadores até à metodologia de treino adoptada. É a tal estória dos chamados perfis. Porém, no meu modesto ver, antes e depois das divisões em classes e subclasses, todos os técnicos pertencem a uma de duas categorias, a nomear: i) os que, acima de tudo, têm medo de perder; ii) aqueles, mais raros já se vê, para quem só a luta pela vitória justifica a glória. Os primeiros pretendem-se pragmáticos, realistas, e desprezam a beleza do futebol em nome do zero a zero, enfim, são os resultadistas. A sua ordem chama-se defesa e contenção. Já os segundos são percebidos como líricos ou românticos, ingénuos que acreditam no fair play, enfim, na opinião dos primeiros, uns totós que acreditam no ataque como vocação. Este mundial também serviu bem para ilustrar quem são uns e outros.

2. Fiquei muito satisfeito por, além da França, sem dúvida a equipa mais forte, também a Bélgica, a Croácia e a Inglaterra terem atingido as meias finais. Aliás, esta exclusividade europeia conecta-se com o seguinte paradoxo: em todas as principais ligas europeias há centenas de jogadores sul-americanos. Mas não há técnicos brasileiros, chilenos, uruguaios ou colombianos em equipas de topo. A única excepção que me ocorre é o argentino Diego Simeone no Atlético de Madrid. Conclua-se então que tais treinadores são como os árbitros portugueses - só servem mesmo para consumo interno.

3. Por falar em Atlético, Jose Maria Gimenez, central uruguaio, é um homem! Daqueles que são homens mesmo a sério. Que melhor prova do que as lágrimas que o atacaram ainda antes do fim do jogo?

4. Os adeptos do Japão já tinham mostrado, em diversos eventos por esse mundo fora, o seu culto da limpeza. Neste Mundial, esse exemplo de superlativo respeito voltou a ficar patente: mesmo depois de eliminados, os japoneses deixaram as bancadas impecáveis. E o balneário também.

5. E para quem pensava que no futebol já tudo estava inventado, eis que a Inglaterra apresenta um dispositivo de marcação de cantos jamais visto..."

Paulo Teixeira Pinto, in A Bola

CCCP

"Moscovo - Quatro letras que se tornaram um ícone, também no desporto, também no futebol: CCCP.
Soyuz Sovetskikh Sotsialisticheskikh Respublik. Obviamente, o C no alfabeto cirílico corresponde ao nosso S, como o P corresponde ao nosso R.
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, traduzindo cabalmente, representação pátria daquilo a que os bolcheviques gostavam de chamar a unidade sagrada dos povos soviéticos.
Para a malta da minha geração, com a adolescência mergulhada na inevitabilidade da Guerra Fria, a marca CCCP foi fortíssima. Dificilmente algum génio da publicidade (O’Neill à parte) conseguiria melhor.
Por falar em O’Neill, o meu irmão José Vidal tem sempre histórias para contar, seja sobre o que for, e esta é sobre uma figura que Alexandre de Bulhões classificaria de sumamente ridícula. Colega seu (do Zé), guia turístico mexicano, com muita empáfia mas conhecimentos reduzidos dos lugares aos quais levava os seus arrelampados excursionistas, ei-lo na Praça Vermelha, mesmo aqui ao lado, em Moscovo, explicando o que sabia e o que ia inventando pelo caminho quando um, mais curioso, mais chato, menos de engolir conversa para papalvos, se sai com esta: “Hey, compañero, que quiere decir CCCP?”
Sumamente ridículo, sim, mas jamais acanhado e com a manha na ponta da língua, o rapaz responde de pronto, quase de jato, para que não restassem dúvidas sobre a sua erudição (tinha estudos): “CurruCuCuPaloma!”
E desatou a falar do Kremlin."

Está a chegar ao fim

"Falta pouco. Estamos já a 48 horas de saber quem será o campeão do mundo de 2018 e tanto França como Croácia têm jogo suficiente para merecer o troféu. Admiro o crescimento dos gauleses, que tacticamente tornaram-se quase irrepreensíveis, e valorizo muito o andamento da selecção de Dalic, que já jogaram prolongamentos até dizer chega.
Dos croatas, sublinho a classe e a omnipresença de Luka Modric. Com aquele nível técnico, vestindo aquela camisola, só tinha visto Robert Prosinecki. As amostras da parte inicial dos jogos contra a Nigéria e contra a Rússia demonstraram as fragilidades que a Croácia manifesta por ter apenas Modric e Rakitic a gerir o eixo do meio-campo. Sem Brozovic como terceiro homem no meio, a Croácia preenche mal a cobertura e a elaboração.
A melhor Croácia tem os dois sprinters Perisic e Rebic em simultâneo, mas também necessita da composição de três médios. Essa configuração, com Brozovic a pivô recuado, permite que Modric e Rakitic se adiantem nas zonas de pressão para mais perto de Mandzukic. Aliás, esse detalhe foi fundamental para obrigar Argentina e Inglaterra a jogar mais longo do que o desejável nos planos de Sampaoli e de Southgate. Ao mesmo tempo, reparamos como Kramaric não se adapta ao papel de segundo-avançado e era incapaz de fornecer apoio frontal aos dois médios-centro – dificuldade verificada na primeira parte contra os nigerianos e no começo contra o moralizado exército de Cherchesov.
Em nome da optimização dos axadrezados, conto ver a retoma dos três médios-centro, seguindo a linha da semi-final com a Inglaterra. Porém, a França é o adversário mais completo que a Croácia apanhou pela frente. Deschamps afinou aquilo que tinha para afinar no decurso da campanha e apostou em Giroud a partir da segunda parte frente à Austrália. A França deu o salto. É o ponta de lança do Chelsea que melhor faculta tabelas, potenciando a chegada vertiginosa de Mbappé ou as desmarcações surpreendentes de Griezmann. Parte do segredo está nessa função invisível de Giroud que sabe como prender os defesas-centrais oponentes, contando que Griezmann, à imagem do que faz no Atlético de Madrid na cooperação com Diego Costa, se movimente bastante em toda a largura da zona ofensiva, pedindo a bola em áreas mais recuadas do campo. Griezmann é o melhor elo de ligação da equipa quando estabelece elaboração perto de Pogba, Kanté e Matuidi. É nesse momento que o ataque francês ganha uma velocidade diferente, havendo capacidade dos três médios para agirem em modos distintos: Kanté no transporte, Pogba no drible e passe longo, Matuidi na rotura. 
Outro truque está na maior estabilização geral fornecida por Lucas e Pavard nas laterais, em contraste com o estilo mais galvanizante e aventureiro de Mendy e Sidibé, respectivamente. Lucas e Pavard não foram utilizados na qualificação, são defesas-centrais de génese, mas comportam-se irrepreensivelmente nas laterais, gerindo o momento certo de apoio ofensivo e também o de protecção da linha mais recuada com mais firmeza.
Imagino Mbappé a dar muitos problemas a Strinic/Pivaric, bem como a Vida. Mas a Croácia tem meio-campo para reter ou lançar com qualidade. Evitar confrontos com Kanté será o caminho certo para os balcânicos aguentarem a posse de bola, ao mesmo tempo que Perisic também impõe respeito a Pavard e que Brozovic estará preocupado com as deambulações de Griezmann no seu raio de acção. 
A França é mais equipa do que era há dois anos na final contra Portugal e a Croácia está, pelo menos, ao mesmo nível da geração semi-finalista de 1998, quando caíram aos pés de Lilian Thuram."

As mulheres bonitas vão ser proibidas de existirem

"Quando vejo um jogo de futebol pela televisão quero saber o que se passa no relvado, mas acho o colorido das bancadas, seja de mulheres ou homens bonitos ou feios, revelador da forma como as pessoas sentem a sua equipa

É oficial: o mundo enlouqueceu de vez e a censura tornou-se um mecanismo ao serviço de pequenos ditadores. A FIFA, organização mundial que gere o futebol, decretou agora que as televisões não podem mostrar imagens de mulheres bonitas nas bancadas. Não sei se o futebol feminino vai ser interdito às televisões, mas nas bancadas não pode haver mulheres bonitas filmadas. A medida foi anunciada por Federico Addiechi, o chefe de departamento de responsabilidade social da FIFA, que alegou ser “uma evolução normal”. Diz este Diácono Remédios dos tempos modernos que esta decisão tem como objectivo desincentivar os alarves que se metem com mulheres. Mas isto faz algum sentido? É por as mulheres aparecerem nas televisões que os energúmenos ficam mais acicatados?
Só faltou ao troglodita da FIFA argumentar que as televisões só podem passar imagens de mulheres feias, incentivando a não sei o quê. Quando uma organização futeboleira tem a capacidade de censurar o trabalho dos profissionais que cobrem os jogos de futebol, o que poderemos esperar? Que proíbam as televisões de filmar as pernas dos jogadores para não deixarem as mulheres e os gays em êxtase?
Quando no Ocidente tanto se critica os países muçulmanos por cobrirem as mulheres dos pés à cabeça, vem agora a FIFA, depois dos responsáveis da Fórmula 1 e do ciclismo, querer que as mulheres sejam tapadas ou apagadas das imagens. Calculo que, por este andar, a indumentária de todos os desportos femininos seja revista e que o tal modelo dos países talibãs seja copiado pelo Ocidente. Afinal, uma burca não convida nenhum energúmeno a molestar as mulheres escondidas debaixo do pano.
Quando vejo um jogo de futebol pela televisão quero saber o que se passa no relvado, mas acho o colorido das bancadas, seja de mulheres ou homens bonitos ou feios, revelador da forma como as pessoas sentem a sua equipa. Mas isso passará a ser privilégio de quem vai aos estádios. Os outros que vejam a RTP Memória."

Contra os nazis, marchar, marchar!

"Num país com os índices de leitura mais baixos da Europa, num país de invencíveis analfabetos, alguns doutorados, de repente, mil e um especialistas em história da Europa Central brotaram do chão.

Esta manhã, enquanto preparava o pequeno-almoço, recebi uma mensagem alarmante:
“Cabrões dos nazis! Allez les bleues [sic]!”
Como demoro sempre a entrar no ritmo, continuei a fazer o café, as torradas e o sumo de bagas colhidas minutos atrás nos arbustos defronte da minha casa. O remetente da mensagem, pessoa que nunca me dera motivos para desconfiar da sua sanidade mental, insistiu:
“Que nojo de país! Detesto a história dos gajos! Vão ser goleados.”
Neste momento, fiquei um pouco perturbado, mas aprecio tanto o ritual do meu café pela manhã que nenhum lunático, mesmo que recentemente assumido, é capaz de mo estragar. A meio da manhã, terceira mensagem:
“Vais torcer por quem? Pelos nazis?”
Ontem, ao final da noite, quando me fui deitar depois de ver o jogo e escrever a crónica, tinha deixado o mundo entretido com um Mundial. De manhã, estávamos de volta à Segunda Guerra Mundial, com hordas de internautas a apontar o dedo à Croácia e aos jogadores croatas, como se nas últimas quatro semanas Modric, Rebic, Mandzukic e os outros tivessem aproveitado os intervalos entre jogos e treinos para conduzir Judeus para as câmaras de gás, como se festejassem os golos brandindo exemplares d’A Minha Luta, como se tivessem suásticas tatuadas no meio da testa.
Num país com os índices de leitura mais baixos da Europa, num país de invencíveis analfabetos, alguns deles doutorados, de repente, mil e um especialistas em história da Europa Central brotaram do chão. Ontem, a Croácia adormeceu eufórica. Hoje, pelo menos aqui para os nossos lados, acordou anatemizada, considerada indigna de pertencer ao concerto das nações por causa do que aconteceu durante a Segunda Guerra (coisas terríveis, fascistamente terríveis, até a resistência croata aos nazis tinha qualquer coisa de nazi). Da Croácia disse-se hoje o que o Irão não disse dos Estados Unidos – o Grande Satã – quando as selecções dos dois países se enfrentaram no Mundial de França.
Ah, os franceses! Claro. Parece que temos o dever multicultural de torcer pela França porque a diversidade da selecção vai inspirar todos os cidadãos e os filhos dos imigrantes sentir-se-ão de imediato membros de pleno direito da República. Não haverá mais atentados, nem motins, nem caixotes do lixo incendidados. Não foi esse, afinal, o efeito da vitória de 1998? Se for a Croácia a ganhar, adivinham-se tempos negros para a Europa.
O fascismo alastrará por todo o continente já não de botas cardadas, mas de chuteiras. Já não de uniforme cinzento, mas envergando as enganadoramente simpáticas camisolas axadrezadas. Felizmente para o mundo, um conjunto de heróicos resistentes, comandados por um punhado de irredutíveis portugueses, impedirá a consumação da tragédia e rechaçará com galhardia e pundonor a ofensiva croata, obrigando-os a regressar à sua condição clandestina de nazis nos clubes europeus em que se movimentam, condição essa mui oportunamente denunciada graças à perspicácia e à intuição lusas de alguns dos nossos mais brilhantes compatriotas, que, como os áugures liam o futuro no voo das aves, conseguiram decifrar o código insidiosamente inscrito nos passes fascistas de Modric, nas defesas totalitárias de Subasic, na pérfida disposição da equipa num 4-2-3-1 riefenstahliano.
Por mim, está decidido. Vou torcer pela França. E também pela Croácia. E que fique registado que, ganhe quem ganhar, ofereço-me desde já para colaborar activamente com as autoridades do país vencedor no dia a seguir à final. Como disse um imperador bem conhecido dos gauleses: “Veni! Vidi! Vichy!”"

Homem de papel

"Hoje invoca-se Matthias Sindelar, o mais cintilante futebolista austríaco, integrante da ‘Wunderteam’, a equipa-maravilha da Áustria da década de 1930.
Apelidado de ‘Homem de Papel’ devido à sua silhueta ligeira e falecido aos 35 anos, foi considerado o melhor desportista austríaco do século XX.
Sindelar, o ‘Mozart do Futebol’, orquestrou a Áustria em 43 concertos com 27 golos. Entre 1931 e 1934, contribuiu para grandes vitórias como os 8-2 à Hungria, onde fez um papelão: 5 assistências e… 3 golos!
Em 1932, marcou o seu melhor golo contra a Inglaterra quando partiu do meio campo e fintou os ingleses que o tentaram contrariar. Talvez em 1986, Maradona não tenha feito um golo singular, mas antes um golo… Sindelar!
No Mundial de 1934, fez o primeiro golo austríaco em Mundiais. O sonho terminou na meia-final. A chuva desfavoreceu o jogo austríaco, o árbitro desafinou e os italianos marcaram (literalmente!) Sindelar e venceram (1-0).
Matthias ainda se destacou no apuramento para o França’38 no qual não participou porque a selecção austríaca… desaparecera! Hitler ordenara a anexação da Áustria e incorporou o ‘Wunderteam’ na ‘Grande Alemanha’. Sindelar não quis reger a nova orquestra, recusando o convite por discordar da… partitura alemã!
Em Abril, na comemoração da anexação, desafinou no último jogo da Áustria com a Alemanha. Sindelar festejou fervorosamente o seu golo (vitória por 2-0), junto das atónitas autoridades nazis. 
Meses depois, foi encontrado morto no seu apartamento em Viena. Causa oficial do óbito: suicídio, depois acidente, por fuga de monóxido de carbono.
Em surdina, aventava-se outra razão: homicídio, por indicação da Gestapo, que o via como opositor e pró-judeu ou até pelos festejos no golo à Alemanha.
Emudeceu o ‘Mozart do Futebol’, maestro sinfónico que agregou num só homem e numa só peça os sons melódicos do futebol.
Em jogo de ‘Papel, Pedra ou Tesoura’, Sindelar foi coerente com o seu papel, tesoura de corte ao regime e pedra no sapato do nazismo!
Neste tempo do ‘Homem Digital’, Sindelar será lembrado como homem de inspirador papel na história do futebol."

Desmentido

"Ao contrário do que amplamente foi divulgado por diversos órgãos de comunicação social, a Sport Lisboa e Benfica - Futebol SAD informa que nunca o Clube encetou qualquer contacto ou apresentou qualquer proposta pelo internacional brasileiro Bernard.
Pelo que não têm qualquer fundamento as diversas notícias publicadas sobre essa hipótese."

Benfiquismo (DCCCLXXXVII)

Ex-futuro...!!!

Aquecimento... por Tróia

Quinta... com alguns pastéis!

O canalha de Coyocán tinha uma história para contar

"Na Rússia, quando um homem se senta para comer e beber, não se levanta antes de ter esvaziado, pelo menos, garrafa e meia de vodca.

Moscovo – Ontem , ainda vi um mexicano. São de uma teimosia admirável, os mexicanos. A sua equipa nunca vai longe, mas eles teimam em ficar até ao fim. O ano passado, em Kazan, depois do Portugal-México para a Taça das Confederações, entrei num bar meio manhoso para comer um qualquer daqueles pedaços de carne cozida e fria que fariam o Ivolguín, de O Idiota, lamber os alcoólicos beiços de incomprensível sofreguidão, e vi-me, de súbito, submergido por uma maré verde de gente que cantava Cielito Lindo até ao exaspero da desafinação e ao desmantelamento das cordas vocais.
Na Rússia, quando um homem se senta para comer e beber, não se levanta antes de ter esvaziado, pelo menos, garrafa e meia de vodca.
Fomos esvaziando.
Eu e um casal sentado a meu lado que, sinceramente, não faziam a bota bater com a perdigotal. Enfim, não era comigo. Estava absolutamente decidido a dormir sozinho e, assim à distância, acho que foi o que fiz, Deus me perdoe.
Para cá e para lá na taramela, Eusébio ao barulho que nenhum de nós era menino, venho a saber que o casalinho, ainda que por conveniência orgânica própria das libações e das madrugadas, era de Coyocán e digo-vos que o nome me fez logo comichão no sangue. Ora bem, se há algo que junte o México com a Rússia, esse algo é Coyoacán, o vilarejo dos coiotes antes de a Cidade do México se tornar uma espécie de devoradora de “barrios” e engordar até à enormidade dos seus 16 ou 17 milhões de habitantes, assim por baixo.
Aguentei-me firme, mas o nome saiu-me pela boca aos borbotões como se o vomitasse: Ramón Mercader!
O canalha de Coyoacán!
Saltou de uma sombra para, com uma picareta escondida no bolso da gabardina, fender a cabeça de Trostski.
Não sou de meter em intrigas políticas, mas tenho uma certa simpatia por Leon Trostski.
Não me perguntem porquê. Ou, vá lá, perguntem.
Eu respondo como posso.
Estava Trotski com a ponta da picareta enfiada no seu crânio lenhificado quando avançam, de supetão, os seus guarda costas que, ao que se sabe, não eram tão poucos como isso. Desatam a espancar, e bem, o tal de Mercader, canalha de pai e mãe até à quinta geração, quando ouvem uma voz sumida, quase transparente.
Trostski já vivia no México há tempo suficiente para compreender que nada se deve fazer de um momento para o outro, mesmo que depois de ter o encéfalo incomodado pela ponta de uma picareta. 
Como eles dizem: “Una cerveza para ahora y otra para ahorita”. Então murmurou: “Não o matem que esse homem tem uma história para contar”."

(...) a arbitragem está bem, tem um palpite para a final e faz um pedido: por favor, minha gente, aprendam as regras do jogo

"A FIFA fez o seu trabalho e indicou dois juízes experientes, cujo nome impunha, desde logo, tranquilidade e respeito.
Andrés Cunha, do Uruguai e Cuneyt Cakir, da Turquia, procuraram contribuir para que as partidas tivessem ritmo elevado, deixando jogar até ao limite máximo do tolerável.
A estratégia, de risco, acabou por ser bem interpretada pelos jogadores que, apesar de pontual dureza, nunca ultrapassaram a fasquia do "razoável". Houve impetuosidade momentânea e algumas entradas mais viris, mas nunca agressividade ou violência.
Diz o bom senso que esta opção - a de intervir o menos possível - deve ser exercida por árbitros maduros, com pulso, estatuto e grande sensibilidade para o jogo. Isto porque, para um juiz mais jovem ou menos respeitado, o critério largo é frequentemente interpretado como falta de controlo, como um convite ao "vale-tudo", cuja tendência é depois bem mais difícil de travar.
Para a grande final de domingo, o Comité de Arbitragem deve manter a opção mais segura (e sensata), nomeando um juiz de estatuto e qualidade inatacáveis.
Sendo ambas as selecções europeias, não seria descabida a indicação de um árbitro de outro continente. Nessa linha, o brasileiro Sandro Ricci, que fez uma prova de grande nível, poderá ser um dos eleitos.
Quanto ao VAR e caso mantenha a forte (e sublinhe-se, insistente) aposta em juízes italianos, não seria de admirar que o já nosso conhecido Massimiliano Irrati fosse escolhido para a função.
O transalpino - que só detém as insígnias FIFA desde 2017 - surpreendeu, primeiro, ao ser indicado para esta competição com tão pouco tempo de "internacional", depois ao ter a honra de estar no jogo de abertura e, por último, ao ser (de longe, bem de longe) aquele que mais jogos efectuou nessa missão específica.
A admiração não advém propriamente da escolha insistente dos também italianos Roberto Rosseti e Pierluigi Collina, mas sobretudo porque Irrati - que tem qualidade - acumulou vários erros graves e visíveis, como por exemplo a não intervenção no lance entre Diego Costa e Pepe ou a recomendação (depois aceite pelo mexicano Enrique Cáceres) para que fosse assinalado pontapé de penálti por braço deliberado de Cédric.
Se o critério que preside às escolhas de quem vai e quem fica fosse o da meritocracia, como seria expectável, o árbitro de Itália já teria regressado a casa. São razões que a razão desconhece. 

Quando uma mentira repetida várias vezes quase se torna numa verdade...
Mas as meias-finais trouxeram ao de cima, uma evidência tão clara quanto inadmissível em alta competição: a de que parte significativa de jogadores, técnicos e imprensa especializada desconhecem as normas que regem o jogo que jogam, treinam e comentam.
É como se Karpov e Kasparov se preparassem para disputar o título mundial sem conhecerem, totalmente, as regras do xadrez. Não faz sentido.
No jogo de ontem e após o segundo golo da Croácia, os ingleses apressaram-se a colocar a bola no meio campo e lá arrancaram rumo à baliza de Subasic, na esperança de marcar um golo enquanto os croatas ainda festejavam o seu, fora do terreno de jogo.
A situação - vista várias vezes noutras partidas desta prova - roça o inacreditável (de tão absurda), mas tem convencido uma legião de adeptos e até jornalistas, que acham haver algum fundamental legal na estratégia.
Mas não. Não há. Não há normas nem directrizes UEFA ou FIFA que contrariem a evidência, escrita e expressa, das Leis de Jogo, redigidas pelo International Board.
A verdade é que nenhum jogo pode começar ou recomeçar sem que as duas equipas estejam no seu próprio meio-campo (à excepção do próprio executante do pontapé de saída que, momentaneamente, pode pisar o meio campo adversário).
Mais. Nenhum jogo pode começar ou recomeçar sem que as equipas tenham, no mínimo, sete jogadores.
Como se não bastasse o que dizem, respectivamente, as leis oito e três, também a do "bom senso" apela à razoabilidade a todo o momento. Por essa ordem de ideias, nenhum árbitro equilibrado e sensato permitiria que uma atrocidade destas valesse. Ela atropelaria a verdadeira essência e espírito do futebol. Do próprio desporto.
Esta insistência, repito, alimentada por parte da imprensa especializada como se fosse uma verdade absoluta, reforça a ideia de que há ainda um longo caminho a percorrer no sentido de educar e ensinar os agentes directos e indirectos do jogo... sobre as próprias regras do jogo.
Caso contrário, corremos o risco de continuar a alimentar uma mentira como se de uma verdade se tratasse, com todos os custos e prejuízos que a desinformação permanente acarreta. Não faz sentido. 
Não em pleno século vinte e um, quando a verdade está à distância de um clique."

O próximo amador

"A escolha do novo presidente do Sporting tem de ser assim, como se gerir um clube de Champions ou um rancho folclórico fosse igual

Os presidentes de clube à portuguesa têm, em geral, um defeito inultrapassável: o dinheiro não é deles. São eleitos pelas hormonas saltitantes dos sócios. Vêm dos gabinetes, dos estaleiros de obras, dos bancos, das fábricas de pneus e quase nunca do futebol, embora só isso garanta pouco. Quando chegam, mudam funcionamentos e pessoas, trocando-as por outras que caem lá de paraquedas. Com alguma competência ou sorte, ficarão o suficiente para aprenderem qualquer coisa e reunirem uns quantos profissionais, ou semiprofissionais, que o presidente seguinte dispensará, para recomeçar tudo do princípio, às vezes do zero absoluto. Normalmente, nem sequer há a preocupação de buscar o melhor cérebro possível para o futebol, com anos de experiência, contactos, conhecimento do mercado e trabalho feito. Procura-se um ex-jogador que impressione os adeptos - e quando calha de ser um ex-jogador que já fez de director, ninguém pergunta se foi um desastre na tarefa. É assim que o futebol funciona, em Portugal, para lá do balneário. Os microciclos, a periodização táctica, os índices lesionais, o ácido láctico e as subtilezas do tiki-taka encontram correspondência no improviso e nos palpites dos gabinetes. A administração de clubes, em Portugal, é apenas uma administração de condomínio a uma escala maior, como se o futebol de alta competição não fosse específico e complicado de gerir. O operador de empilhadora do 2.º esquerdo ou o banqueiro do 8.º direito servem perfeitamente. E o terrível é que as eleições têm mesmo de ser como esta do Sporting: a democracia é o pior dos sistemas, tirando todos os outros. Mas do outro lado continuarão Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira, António Salvador e até Júlio Mendes, com épocas e épocas e épocas de avanço."

O adeus pouco sentimental de Cristiano Ronaldo

"Existem uns poucos jogadores que são filhos do seu tempo, mas que transcendem esse mesmo tempo. Um deles é Cristiano Ronaldo, avançado implacável, goleador sem limites e personagem discutida que agora se despede do Real Madrid para jogar na Juventus. Como sempre acontece com os futebolistas míticos, e Cristiano está absolutamente consciente de que é um mito vivo do futebol, não existe nada mais difícil do que encerrar a carreira com precisão e elegância. É raro um jogador aceitar o seu declínio e não é fácil encontrar um clube que carregue o peso da decadência.
Durante o mandato de Florentino Pérez (2000/2006, 2009/2018), o Real Madrid tornou-se o clube menos sentimental do Mundo. Apenas uma grande estrela, Zinedine Zidane, deixou o clube e acabou a sua carreira no Real Madrid. Todos os outros - um grupo de jogadores fabulosos - completaram os últimos anos das suas trajectórias em outras equipas, a maioria deles irritados, outros tristes, outros desorientados, todos interrogando-se sobre as razões do desafecto final do presidente. Não entenderam algo simples: para Floretino Pérez, um dos principais empresários espanhóis, o futebol é um negócio e que ele, principal representante do clube mais importante do planeta, é mais importante do que qualquer futebolista que passe pelo Real Madrid, incluindo Cristiano Ronaldo.
Floretino Pérez acha que Cristiano Ronaldo deve mais ao Real Madrid do que o Real Madrid a Cristiano. Na sua lógica, o clube impregna aos jogadores uma aura especial. É possível que assim seja. A realidade é que é muito difícil encontrar um jogador que tenha melhorado a sua trajectória fora do Real Madrid, e isso afecta futebolistas da magnitude de Raúl, Casillas, Figo, Ronaldo, Ozil, Di María, Sneijder ou Van Nistelrooy. Uma das excepções tem sido Arjen Robben, cuja excelente carreira no Bayern Munique e na selecção holandesa não chegou para a Bola de Ouro, o tipo de recompensa que o Real Madrid garante mais do que nenhuma outra equipa no Mundo. Cristiano Ronaldo sabe disso: ganhou três desses troféus durante a sua etapa em Espanha.
No entanto, Florentino Pérez não pode negar que Cristiano é, junto a Alfredo Di Stéfano, o futebolista mais transcendente da história do Real Madrid. Por um lado impressiona a sua enorme contribuição goleadora, 450 golos em 438 jogos oficiais, um número e uma percentagem de golos rara no futebol. Puskas, outro monstro do futebol, terminou a sua dupla carreira (Honved e Real Madrid) com uma percentagem de 0,99% de golos por jogo. Um aspecto menos objectivo, mas de enorme importância simbólica, foi a liderança de Cristiano Ronaldo na feroz resistência ao melhor Barcelona da história. Chegou ao Real Madrid como resposta angustiada à formidável equipa construída por Pep Guardiola e, nove anos depois, deixa o clube com a satisfação do dever cumprido: Três Ligas dos Campeões, dois Ligas espanholas e duas Taças do Rei.
Tão-pouco é de desconsiderar o papel de Cristiano Ronaldo como contrapeso popular, mediático e comercial de Leo Messi, destinado a servir de farol desde Barcelona. Poucas vezes na história, ou mesmo nunca, se viu algo igual: as melhores equipas do Mundo, dirigidas pelos dois melhores futebolistas do seu tempo, na mesma liga, e num momento em que o futebol não tem rival como máxima expressão global do desporto. Cristiano Ronaldo ganhou com o seu esforço, talento e golos o direito a discutir a hierarquia de Messi. O Real Madrid aproveitou-se disso, utilizando o jogador português como principal atracção comercial e futebolística.
Embora seja verdade que Cristiano Ronaldo mantém quase intacto o seu crédito futebolístico, não pode esquecer-se que tem 33 anos e que se aproxima de um declínio inevitável. Também não é fácil o momento que atravessa o Real Madrid: vários dos seus melhores jogadores - Sergio Ramos, Marcelo, Modric e Benzema - já passaram a barreira dos 30 anos. A renovação é tão necessária como a urgência em contratar um galáctico, como aconteceu na primeira passagem de Florentino pela presidência. Entre 2000 e 2004, o Real Madrid colocou-se no topo do mercado com as contratações de Figo, Zidane, Ronaldo e Beckham. A situação mudou nos últimos anos. O contrato televisivo da Premier League favorece a posição do Manchester United. A relação do Paris-Saint Germain e do Manchester City com os petrodólares do Golfo Pérsico torna-os quase invulneráveis no mercado actual, onde o Real Madrid precisa de dar um golpe de autoridade. Não é fácil. O seu modelo corporativo impede o clube de competir com as verbas dos xeques árabes.
Cristiano Ronaldo - admirado, mas não querido em Espanha - ainda é a máxima expressão do tempo atual. Funciona como um fabuloso produto futebolístico, comercial e social. É uma indústria com botas. Ele sabe e gosta disso. O seu ego é enorme. E nisso não difere de Florentino Pérez, cuja imagem discreta esconde uma vaidade esmagadora. A relação entre os dois não foi fácil, mas sempre pautada pela conveniência entre as duas partes.
Esta relação quebrou nos últimos meses. Cristiano Ronaldo, que fará 34 anos em Fevereiro, pretendia auferir o dobro do seu contrato atual - 20 milhões de euros/ano, livre de impostos - e situar-se ao nível de Messi. O presidente considera que os melhores anos de Cristiano já passaram e mantém uma fé enorme e ilimitada em Gareth Bale, confiança que não é extensível à maioria dos adeptos do Real Madrid. Como sempre acontece com Florentino Pérez, finalmente surgiu o empresário que há dentro dele, um homem sem dúvidas sentimentais. Havia uma oportunidade de negócio e aproveitou-a: 100 milhões de euros para os cofres do Real Madrid e para melhorar a aproximação a Neymar, o sonho que o assombra há cinco anos."

Neymar

"Neymar, o eterno adiado sucessor de Messi e Ronaldo, afundou-se neste Mundial.
O futebol é rico em situações caricatas e folclóricas, mas Neymar é único e espectacular pela negativa. Neymar, não há dúvida nenhuma é um predestinado e superdotado para o futebol, tendo tudo para ser o melhor, todavia, analisando bem o seu percurso, é um jogador que goza de enorme reputação, mas com um currículo de troféus limitado.
Todos os entendidos, em futebol, dizem que é o candidato a suceder a Ronaldo e Messi, mas não aproveitou essa possibilidade, o Brasil foi eliminado prematuramente do Mundial de futebol.
Neymar não é um profissional a sério, é mais inato do que treino, é mais jeito do que aplicado, contudo, ter jeito no futebol actual não chega. Depois da sua lesão no PSG, em vez de fazer, o que os médicos disseram para adiantar a sua recuperação. Foi para o Brasil, não ligou nada ao plano traçado e às recomendações, andou em festas, praia, música com os seus amigos num ambiente de adolescência. O rapaz não cresce e isso reflecte-se na sua carreira. É muito bom, mas podia ser melhor se se esforçasse. Procura desesperadamente ser futebolista a tempo inteiro, mas aborrece-se e não consegue.
Neymar tem um péssimo conselheiro que é o seu pai, sempre com exigências e pedidos estrambólicos, só vê dinheiro e nunca está no sítio e na hora certa.
Neymar é o exemplo paradigmático do futebol sul-americano: corrupção, exportação precoce de talentos, formação inadequada. Tudo isto faz com que a escola sul-americana esteja em declínio. Não está, ainda mais, porque a maioria dos seus jogadores joga na Europa e as diferenças atenuam-se.
O Real Madrid e Florentino Pérez quiseram trocar Ronaldo por Neymar, e foi uma das razões, que levou Ronaldo a querer sair do Real Madrid por desconsideração e falta de reconhecimento.
O Real Madrid está seduzido pelo seu peso mercantil mais do que pela sua realidade desportiva, tanto o Real Madrid como o PSG levam meses para definir a sua situação.
É inacreditável como Florentino Pérez que é tão cioso dos seus negócios preferir dar um aumento de ordenado a Ronaldo que até 2022 gastaria à volta de 40 milhões de euros e arrisca investir em Neymar em que a sua aquisição, a concretizar-se andará à volta de 400 milhões.
Não se compreende tal atitude, mas ele lá saberá porquê. Entendo que o ter que dividir protagonismo com Ronaldo, não é do seu agrado.
Posso enganar-me, mas o Real Madrid não vai fazer grande figura com Lopetegui um treinador menor e Florentino Pérez pode comprar quem quiser que tão cedo não vai fazer esquecer Ronaldo. O Real Madrid é grande, mas nenhum clube resiste à saída de um treinador querido e vencedor como Zidane e, a um super-jogador como Ronaldo. Foram duas bombas seguidas.
Florentino Pérez também está a prazo em Madrid, procura manipular o orgulho espanhol e não ser responsabilizado pela saída de Ronaldo.
Neymar é caprichoso, instável emocionalmente, claudica nos momentos de maior pressão, está mal aconselhado e não tem perfil para ser o maior em Madrid.
Neymar tem que provar com títulos e jogos que merece ser o melhor jogador.

Nota: A França, neste mundial, provou que a derrota na final do europeu com Portugal foi um acidente. A Croácia merece estar na final."