"A escolha do novo presidente do Sporting tem de ser assim, como se gerir um clube de Champions ou um rancho folclórico fosse igual
Os presidentes de clube à portuguesa têm, em geral, um defeito inultrapassável: o dinheiro não é deles. São eleitos pelas hormonas saltitantes dos sócios. Vêm dos gabinetes, dos estaleiros de obras, dos bancos, das fábricas de pneus e quase nunca do futebol, embora só isso garanta pouco. Quando chegam, mudam funcionamentos e pessoas, trocando-as por outras que caem lá de paraquedas. Com alguma competência ou sorte, ficarão o suficiente para aprenderem qualquer coisa e reunirem uns quantos profissionais, ou semiprofissionais, que o presidente seguinte dispensará, para recomeçar tudo do princípio, às vezes do zero absoluto. Normalmente, nem sequer há a preocupação de buscar o melhor cérebro possível para o futebol, com anos de experiência, contactos, conhecimento do mercado e trabalho feito. Procura-se um ex-jogador que impressione os adeptos - e quando calha de ser um ex-jogador que já fez de director, ninguém pergunta se foi um desastre na tarefa. É assim que o futebol funciona, em Portugal, para lá do balneário. Os microciclos, a periodização táctica, os índices lesionais, o ácido láctico e as subtilezas do tiki-taka encontram correspondência no improviso e nos palpites dos gabinetes. A administração de clubes, em Portugal, é apenas uma administração de condomínio a uma escala maior, como se o futebol de alta competição não fosse específico e complicado de gerir. O operador de empilhadora do 2.º esquerdo ou o banqueiro do 8.º direito servem perfeitamente. E o terrível é que as eleições têm mesmo de ser como esta do Sporting: a democracia é o pior dos sistemas, tirando todos os outros. Mas do outro lado continuarão Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira, António Salvador e até Júlio Mendes, com épocas e épocas e épocas de avanço."
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