Últimas indefectivações

domingo, 19 de maio de 2019

SL Benfica - CD Santa Clara

"Era o jogo do título. Estádio estava cheio e a equipa altamente motivada. As condições estavam lá todas. O 37 confirmou-se. E a festa foi tão linda. O Santa Clara apresentou-se na Luz num 4-4-2 que muitas vezes se convertia num 4-5-1 nos momentos defensivos, baixando um dos avançados para junto dos médios. A estratégia resultou durante 15 minutos, até Seferovic ter mais um momento brilhante nesta temporada. Umas notas sobre o jogo.
1. Haris Seferovic. Dois golos. Nada mau para quem “só falha golos dados”. Os dois golos de ontem não tinham nada de fáceis. No primeiro consegue abrir um espaço de alguns metros entre o Fábio Cardoso e o lateral esquerdo, pede a bola, Samaris coloca-a lá perfeitinha e foi só dominar e marcar. À ponta de lança. No segundo consegue ganhar a frente ao central e finaliza de primeira com o pé esquerdo de novo. Dois golos muito bons. Não era qualquer ponta de lança que os marcava.
2. João Félix. Está cada vez mais adaptado a esta posição. É um jogador essencial para a criação dos espaços dada toda a mobilidade que consegue dar ao jogo. Félix, aos 19 anos, acaba uma época com 20 golos. Absolutamente épico. Ontem voltou a fazer o gosto ao pé. Tudo começa num momento em que Seferovic vem atrás para distribuir jogo para ala esquerdo, Grimaldo cruza, o corte sai incompleto, Rafa domina, finta dois jogadores, vai tentar passar a bola pelas pernas do terceiro, mas a bola sobra para Félix que tira o defesa que tem à frente e fuzila na cara do guarda-redes.
3. Rafa. Outro jogador com uma época absolutamente surreal. Na minha opinião, o MVP do Campeonato, por todo o dinamismo que dá ao Benfica, por todos os desequilíbrios que consegue criar, por todas as fintas, por todos os contra-ataques, por todos os momentos defensivos, por todas as assistências e por todos os golos. Ontem foi mais um. Félix abriu na direita, André Almeida cruza, Seferovic cabeceia de raspão, o defesa bloqueia e bola sobra para Rafa que só tem que encostar. Rafa é daqueles que tem que fazer a carreira no Benfica.
4. Andreas Samaris. Tem a assistência para Seferovic, mas o jogo dele foi muito mais do que isso. Raramente falhou um passe e esteve imperial nas dobras tampando muitos contra-ataques que o Santa Clara tentou. Ainda bem que renovou. É um jogador essencial neste sistema de Bruno Lage.
5. Jonas. Soou a despedida. Jonas entrou a chorar, a equipa tentou por tudo que ele marcasse. Foi mesmo um dos jogadores com mais remates (4). Vamos esperar pela confirmação. Mas uma coisa é certa. Com mais uma época ou menos uma época, Jonas é dos maiores craques que vestiu a camisola do Benfica neste milénio. Apenas comparável ao Simão Sabrosa. As vénias que recebeu ontem no Estádio ao longo do jogo foram merecidas.
Está feito. A época terminou. Foi atribulada mas foi um grande sucesso. Ao contrário de nos últimos anos, partimos para o verão com mais certezas do que questões. Há espaço para melhorar o plantel, mas o esqueleto está construído. Acredito que tenhamos 6/7 entradas e o mesmo número de saídas. Mas o 11 inicial não vai mudar muito. Vamos ver quem conseguimos segurar entre Rúben Dias, Ferro, Alex Grimaldo e João Félix. Esta equipa, sob orientação de Bruno Lage pode conseguir muita coisa.
O futebol acabou. A equipa deve voltar aos trabalhos ali no início/meio de Julho. O primeiro jogo marcado, para já, é o Benfica - Chivas a 20 de Julho (deve haver jogos antes disso). Nós vamos continuar por aqui a seguir as novidades do plantel e agora a dar uma especial atenção às modalidades. Temos playoff de Futsal e de Basquetebol, Taça de Portugal de Hóquei em Patins e ainda as competições femininas. Há muito título por conquistar no Benfica nesta época. Viva o Benfica!"

A espera...!!!

Vlog: 5 minutos à Benfica - Marquês...

Vlog: 5 minutos à Benfica - Benfica 4 - 1 Santa Clara

O rosto do 37

"Está, enfim, encontrado o nome do vencedor da Liga 2018/2019: chama-se Benfica e é um campeão justíssimo. Por muito que muitos tentem descarregar noutro lado qualquer a frustração de ver fugir este título que, em Janeiro, talvez já dessem como garantido, basta um olhar aos já batidos números da extraordinária recuperação encarnada para acabar de vez com as dúvidas em torno do mérito de quem o ganhou - e, já agora, do demérito de quem o perdeu. Tudo o resto é (e isso é, em Portugal, infelizmente transversal a todos os clubes...) conversa para desviar atenções de erros próprios que a dirigentes e treinadores interessa sempre disfarçar. Ou pelo menos tentar disfarçar.
Este 37.º título ganho pelo Benfica tem, como têm todos, muitos rostos. Uns mais conhecidos e outros (muitos) anónimos. Mas há um que sobressai sobre todos: Bruno Lage. Aquilo que fez o praticamente desconhecido treinador em que Vieira apostou (tenha sido por coragem, poque não tinha melhor alternativa ou por um pouco das duas...) quando todos davam a águia como morta entrará para a história, não só do clube mas do futebol português: 18 vitórias em 19 jogos é registo realmente impressionante, ainda mais se pensarmos que apenas perdeu pontos num encontro com o Belenenses em casa, quando teve de jogar em Guimarães, Alvalade, Braga ou Dragão. Lage conseguiu o que ninguém acreditava ser possível e deu a Luís Filipe Vieira aquele que foi, talvez, o mais importante título - pelo que se passou fora do campo nos últimos dois anos - dos sete que já ganhou como presidente do Benfica. Celebrou-se por isso, Vieira, de forma mais eufórica do que festejou qualquer outro, tetra incluído, pela importância que sabia ter ganhá-lo agora, para ele e para os adeptos. E devem, todos, agradecê-lo a Lage."

Ricardo Quaresma, in A Bola

Saltos, tristeza e alegria (ficção)

"No infinito, duas rectas paralelas encontram-se, como sabemos. E dois dias completamente opostos também

Sobre saltos
- Está a festejar, excelência?
- Eu, não. Estou triste.
- Mas está aos saltos.
- Isto não é um salto, é um afastamento temporário do solo. Eu, quando estou triste, excelência, fico cheio de energia. Como um motor.
- Não costuma ser assim
- Não. Mas comigo é assim. Quando estou triste, dou saltos, levanto os braços, buzino, etc.
- Pois. Parece mesmo um estado de alegria.
- Por fora, sim, é exactamente igual. Por dentro é que não.
- De novo! Saltou de novo!
- Isto não é um salto.
- Não?
- Deixo de gostar um bocadinho do solo. Quando perco. É só isso.
- Parece-me um salto.
- Salto seria isto. Veja, excelência (salta).
- Igualzinho, Vossa excelência, fez exactamente o mesmo movimento.
- Mas agora estava a pensar noutra coisa, não na tristeza.
- Sim?
- Sim, excelência. Neste segundo salto, não me estava a afastar do solo, estava a aproximar-me das nuvens. É completamente diferente.
- Ah, ok.
- Há saltos que parecem querer ocupar posições intermédias entre o chão e o céu. Isso é um facto.
- São os saltos de quem ganha.
- Os saltos eufóricos.
- E depois há os outros.
- Que são...?
- Os que não querem voar, nem ficar no chão.
- Então?
- Nem estão confortáveis em baixo nem em cima, por isso saltam. Não estão bem em lado nenhum, de facto. Nem no chão, nem no ar.
- E saltam?
- Sim, saltam. É um salto triste, mas é também uma solução.
- Compreendo, excelência.

Festa. Lixo e distâncias entre países
- Aquilo que se produz numa festa não deveria ser designado como lixo.
- Exactamente, excelência. Deveria ter um nome mais poético
- Imaginar uma festa que termine e que deixe para trás ouro e outras especiarias. Assim me parecia bem. Uma festa é uma festa!
- Isso! Os restos de uma festa deveriam ser, pelo menos, automaticamente recicláveis.
- Um lixo que se auto-destrua, eis do que necessitamos.
- Outra boa sugestão, excelência.
- Uma festa que não cause lixo, que não deixe atrás um único objecto, um único resto, um único vestígio...eis uma utopia, excelente excelência. Ninguém se diverte sem material de apoio, digamos assim.
- Mas no Japão vi isso.
- O quê, excelência?
- Uma festa com milhares de pessoas que, uma hora depois de terminada, estava completamente desmontada e limpa. Não havia vestígio algum do que se passara ali há menos de uma hora. Parecia um espaço habituado à monotonia de sempre.
- E quem limpou tudo, excelência, quem foi?
- Os próprios senhores participantes da festa.
- Verdade? Isso é inacreditável.
- Onde fica o Japão?
- Bem mais longe do que parece, excelência, bem mais longe.

Dois diálogos com duas ideias opostas
Diálogo A - O passado
- O que há depois de ganhar?
- O dia seguinte.
- E depois de perder?
- O dia seguinte.
- Então é igual!
- Sim, o dia seguinte de quem ganha e de quem perde é igual. O que é diferente, é a véspera.
- Ah, compreendo.

Diálogo B - O Futuro
- Como é o dia depois de se perder?
- É péssimo.
- E o dia depois de se ganhar?
- É maravilhoso!
- E dois dias depois, como são os dias de quem perde e de quem ganha?
- O dia de quem perde vai perdendo a péssima intensidade. E o dia de quem ganha vai perdendo a maravilhosa intensidade.
- E?
- E, passado um mês, mês e meio, os dias estão exactamente iguais.
- Um mês?
- Mais ou menos.
- Explique-me.
- No infinito, duas rectas paralelas encontram-se, como sabemos. E dois dias completamente opostos também. Em suma, no infinito, como toda a gente bem sabe, as coisas opostas juntam-se.
- Ok... E quanto tempo demora a chegar-se ao infinito, excelência?
- Se for a andar?
- Sim.
- Mês, mês e meio, mais ou menos.
- A tal duração de que falava há pouco.
- De facto, excelência: o infinito nos países mais pequenos não é assim tão inalcançavel. O infinito é mais o sítio, o ponto exacto, em que já se esqueceu o passado e, portanto, é também o dia onde se começa de novo.
- Compreendo, excelência.
- Ou seja: quando começa a nova época? Já à data?

Para terminar
Para terminar, comentário do comandante Wellington, que derrotou Napoleão na batalha de Waterloo:
«Nada, a não ser uma derrota, é tão melancólica como uma vitória».
E uma rápida citação, bem irónica, do Ulisses de James Joyce:
«Mais uma vitória como esta e estamos perdidos!»

Escrito em Lisboa, 18 de Maio, 16 horas"

Gonçalo M. Tavares, in A Bola

O lodo no cais...

"Um bom filme que possa dar as melhores metáforas à vida (e ao futebol). Há Lodo do Cais é um desses casos mais do que só por causa do Terry - o Terry Malloy,que andara pelo boxe e estando quase a tocar o «altar do êxito» ficara destino destroçado por combate que teve de perder em jogo d apostas sujas. Tornou-se, então,  «moço de recados» de Johnny Friendly, cabecilha de sindicato que, malfeitor, controlava acções e bastidores em torno do porto de Nova Iorque, enganava, extorquía, manipulava (ou pior...) - por vezes de conluio com Charley, irmão de Terry.
Reacção de Joey Doyle, às inquidades de Freindly condenou-o à morte com contributo (involuntário) de Terry. Que ao apanhar de um dos alarifes, em sarcasmo: «Alguém cai do telhado...) - soltou, chocado, o murmúrio, a Charley. «Colaborei nisso, pensando que só iam  apertar com ele». Avisado de que jamais se atrevesse «lavar a roupa suja do sindicato». Terry resignou-se a que «as coisas tiveram de ser mesmo assim» (resolvidas a «golpe baixo») - e pôs-se, esfarrapado por dentro, a criar pombos no terraço da sua casa (que era o que Joey fazia antes de o multarem?. Acostada a um padre. Edie, irmão de Joey, atirou-se à missão de denunciar  «sangrento ajuste de contas» - e, suplicando a Teddy que o ajudasse no seu desvendar, ainda ouviu dele: «Nesta cidade há muitos falcões. Posicionam-se no cimo dos hotéis e quando veem pomba no parque logo se lançam a ela...»
Friendly, continuou a espalhar a sua perversidade pelo cais (intimidando, saneamento, falseando) - e Terry, perdendo o medo, fez, enfim, o que a sua boa consciência lhe pedira (não a sua boa consciência lhe pedira (não sem antes de matarem os pombos e deixarem pelo chão, sem sangue, amachucados).

PS: Qualquer semelhança entre o Lodo Cais em NY e logo do caís no futebol em Portugal (no que se continua a jogar mais de fora para dentro do que campo em Portugal (no que se continua a jogar mais de fora para dentro do campo do que dentro de campo) não é pura ficção. E entre os imitantes do Frendly (no que se diz, se faz ou não se vê ainda menos.

António Simões, Jornal A Bola

O fim das provas e a disciplina

"Numa altura do ano em que as provas terminam e se inicia a janela de transferências de Verão, o que acontece à justiça desportiva? Vai de férias também? Não.
O Conselho de Disciplina não deixa de reunir semanalmente - senão muito pontualmente -, nas suas respectivas secções, após o término das provas; e recordemos que nem todas as provas terminam na mesma altura. Basta pensar na primeira divisão de futsal que se prolonga até meados de Junho ou os campeonatos de futebol de praia que se realizam no Verão, por exemplo. E isto só falando no futebol.
É certo que o mapa de processos sumários pode sair bastante ais curto porque as provas a decorrer são em muito menor número. Mas isso não significa que não haja instaurações de novos processos disciplinares, ou que os pendentes não sejam, entretanto, decididos, neste período de Verão.
Por outro lado, o Tribunal Arbitral do Desporto também não cessa o seu funcionamento durante o verão. Apesar de ser uma entidade jurisdicional, a Lei do TAD não prevê qualquer período de férias judiciais ou interrupção. O artigo 39.º, n.º 1 da Lei do TAD diz que «Todos os prazos fixados nesta lei são contínuos, não se suspendendo aos sábados, domingos e feriados, nem me férias judiciais». Assim, é normal e comum que existam audiências em processos não urgentes agendadas para Agosto, por exemplo, para além de providências cautelares que podem - e são - decididas.
Ademais, há processos quer disciplinares quer arbitrais que se encontram pendentes à data do fim das provas e que conhecem uma decisão final durante o Verão e cujos efeitos podem até repercutir-se na época desportiva seguinte."

Marta Vieira da Cruz, in A Bola

Mission Impossible 2 🎬

"S/S Benfica 2012/13 Home
(Nota: este texto foi escrito integralmente na véspera do jogo no Dragão)

Quem me conhece, sabe que eu nutro algum carinho por superstições, macumbas, coincidências ou curiosidades (escolham o termo que acharem mais adequado), algumas delas relacionadas com números. Além dos básicos a fazer em dias de jogo (como "fazer a barba", "envergar a peça de roupa x" ou "comer melão para jogar com as probabilidades"), muitas vezes meti eu 35 litros de gasóleo, saí do trabalho às 18:36 e, de há dois anos para cá, tenho o despertador a tocar às 06:37. Tudo porque não pretendo deixar em mãos alheias tudo o que eu posso fazer pelo Benfica!
No entanto e parafraseando Dr. Nekhorvich da Missão Impossível II, "every search for a hero must begin with something every hero needs, a villain", a insanidade leva-me a construir contra-macumbas, ou por outras palavras, fazer exactamente o mesmo em situações que correram mal para se fazer o chamado "matar o borrego". Pode parecer estranho, bipolar ou simplesmente estúpido, mas só em situações muito particulares é que eu faço isto. Não sou nenhum anormal.
E a escolha da camisola para este artigo, feita em vésperas da ida ao Dragão, é precisamente um exemplo de um casamento antagónico macumba/contra-macumba: apresento-vos a minha camisola nº 37 - a camisola usada no jogo do Kelvin.
Vou-vos dar um tempo para recuperarem das últimas 7 palavras.
Se calhar podemos começar por analisar o modelo.
Vermelho vivo, gola clássica, patrocínio sóbrio e integrado com a camisola. Ainda não há muitos anos tivémos que levar com logotipos gigantes da PT e rectângulos azuis turquesa da TMN. Algo a melhorar seria o decote (que fica demasiadamente "esgargalado") através de um botão, tal como foi feito com a camisola da Escócia que utilizou o mesmo template.
Bom, voltemos a esta época. 2012/13.
Esta camisola para mim será sempre a dos 33 golos do Cardozo, com 3 hat-tricks em menos de um mês (Alvalade, Marítimo e Aves na Luz), logo a seguir a virmos de Barcelona relegados para a Liga Europa. A camisola daquele golo fenomenal Gaitan-Lima ao Sporting na Luz. A camisola da minha primeira deslocação fora para ver o Benfica (em Moreira de Cónegos a 30 de Dezembro para a Taça da Liga). A camisola da ida a Istanbul para a meia final da liga Europa que terminou já no dia dos meus anos.
Mas tudo isso se esfuma com aquele jogo com o Estoril, o jogo no Dragão, a ida a Amsterdão e não ter tido coragem para ir ao Jamor. Quatro montinhos gigantes de esterco que fizeram querer esquecer tudo o associado a 2012/13.
Lições aprendidas?
1. Sobranceria. Em dia de jogo em casa com o Estoril, à mesa do 3º anel estava tudo excitado com bilhetes para Amsterdam e viagem ao Dragão. Até que alguém refere: "Calma, primeiro temos de ganhar ao Estoril..." Evidentemente, levou logo com um "Ganhar ao Estoril?! Em casa?!? Mal da vida..." que até andou de lado. Pois...
2. Nada está ganho até ao final. Quem não se lembra do festejo conjunto na Madeira e com as declarações no Jamor "Eu pensava que o um a zero chigava"?; Não é propriamente uma lição mas um desejo - o bem acaba sempre por vencer!
Agora, Vamos Para o Dragão Para Cima Deles!
A título de curiosidade:
* Esta foi a minha camisola nº 37 do Benfica;
* Também tenho este modelo em versão L/S, que marca o último ano em que o Benfica comercializou camisolas de manga comprida;
* Enverguei-a no jogo na Luz com o Estoril no final da época 2016/17 (em modo contra-macumba). Ganhámos 2-1, bis de Jonas.
* Este ano, no fim de semana do jogo no Dragão, vou estar sozinho em casa porque as minhas mulheres foram para Castelo Branco. Última vez que isso aconteceu? 2012/13.
* A conquista do 35 parecia uma missão impossível. E se este ano conseguirmos o 37?
Mission Impossible 2 - https://www.imdb.com/title/tt0120755/?ref_=nv_sr_1?ref_=nv_sr_1"

Este é o desporto em que mais acredito

"Também concorre ao aperfeiçoamento das características psicológicas, emocionais e éticas de todas as idades e de cada um dos sexos. Nada esquece na motricidade humana, sob o ponto de vista biológico, funcional e do anseio inapagável de transcendência. Pretende dar, de facto, ao praticante força, velocidade, “endurance”, resistência, coordenação e… saudáveis hábitos de vida. Não se limita a concorrer ao surgimento de “bestas esplêndidas”, ou mesmo animais racionais com impecável coordenação neuromotora. É mais ambicioso: quer ser um factor de transformação das estruturas sociais e políticas, porque rejeita um Desporto centrado unicamente no êxito e portanto onde tudo vale, principalmente a corrupção; porque se afasta do “panem et circenses” das turbas massificadas e alienadas; porque exige regras precisas, igualdade de oportunidades e quer ser um meio de o Homem se exercitar na construção de um mundo mais justo e mais fraterno.
Este é o Desporto em que mais acredito. Conserva intacta a função biomédica da prática desportiva. Mas acredita firmemente que tem, igualmente, uma função profundamente educativa, na e para além da Escola, por outras palavras: que se situa na esfera da responsabilidade social. E, porque se situa na esfera da responsabilidade social, acredita no espectáculo desportivo, sem o bramido convulso de um clubismo ou de um regionalismo cegos, sem corrupção, sem violência, sem ódio, embora cultivando convictamente a capacidade de esforço, de bravura, de sacrifício, em prol de um ideal que procure responder às cinco grandes interrogações que iniciam o livro O Princípio Esperança, de Ernst Bloch: Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Que esperamos? O que nos espera?... No espectáculo desportivo deve ressoar, ressuscitar o idealismo competitivo de todos os que lutam por um mundo, sem o império de um economicismo que já se confunde com a globalização.
Este é o Desporto em que mais acredito. Pode não ostentar, em gestos orantes, os melhores jogadores e atletas do mundo; pode não ter a forma corporal de uma epopeia; pode não ter por si estádios monumentais, ginásios e centros de treino com as últimas invenções da tecnologia; pode não ser notícia nas primeiras páginas dos jornais, ou nas redes sociais, ou na rádio, ou na televisão – mas tudo considera instrumental, em relação ao ser humano. Tudo! Sem esquecer o treino e a competição e a medicina e a psicologia do Desporto. Jean-Paul Sartre chegou a escrever que “o inferno são os outros”. O Desporto, em que mais acredito, como um dos aspectos da motricidade humana, ensina, ao contrário do “pai” do existencialismo francês, que o Inferno é a ausência dos outros e que o outro não é uma coisa, entre as coisas, mas sujeito, com a sageza e a força suficientes, para questionar o poder e levantar problemas e escolher objectivos e tomar consciência de si mesmo, como criador.
Este é o Desporto em que mais acredito. Não se limita ao estudo e à prática das aptidões físicas, das qualidades físicas, das habilidades físicas, dos desempenhos unicamente físicos. E sabe que o conhecimento, como a obra de arte, não se resume a um reflexo da realidade, à descoberta de um sentido que já existisse escondido nas coisas, mas ao ato de atribuir um sentido às próprias coisas. Daí, o sentido que ouso dar, hoje, dia 18 de Maio de 2019, à 37ª. vitória do Benfica no Nacional de Futebol da Primeira Divisão: que do desporto de alto nível nasça um homem novo com estas duas características inalienáveis: um militante da revolta contra todas as alienações (com forte componente da desconstrução propugnada por Derrida); um poeta da criação de um mundo diferente, onde o conhecimento-emancipação se concretize num mundo em vias de emancipar-se. E que também a Quarta Revolução Industrial não se esgote na tecnologia e no digital, mas que assuma, sem receio, aqueles valores, sem os quais impossível se torna viver humanamente.
O desporto que reproduz e multiplica as taras da sociedade capitalista (amplamente visíveis também no Capitalismo de Estado, mascarado de Socialismo, que por aí sobrevive e vegeta e… oprime) ainda não se converteu num humanismo planetário, respeitador do vínculo indissolúvel entre a unidade e a diversidade humanas. O seu crescimento vem acompanhado de novas corrupções, da sede imparável do lucro, da incompreensão do outro, do mais exacerbado individualismo. O desenvolvimento (desportivo e não só) que oferecemos aos povos subdesenvolvidos tornou-se no nosso maior problema. Sociedades fundadas sobre o marcado e a concorrência resultam inevitavelmente em fragmentação, em atomização. O Desporto em que mais acredito apela às capacidades criativas da humanidade, para que do seu exercício desponte uma outra História que deve ser imediatamente pensada, porque ainda está por nascer."

O futebol feminino

"Será que a mulher é o futuro do futebol? Estamos a poucas semanas do Campeonato do Mundo de Futebol Feminino (7 de junho de 2019, em França). O primeiro jogo entre duas equipas femininas (Escócia e Inglaterra) teve lugar em Edimburgo, em 1881. Em 1894, surge a primeira associação de futebol feminino, a Bristish Ladie’s Football Club.
O futebol feminino exportou-se e atravessou o canal da Mancha para ganhar a França em 1910, a Rússia em 1911 e a Espanha em 1914. Em Portugal, não existem muitos registos sobre a participação feminina na modalidade, mas aponta-se o ano de 1935.
Os estudos científicos sobre o futebol feminino são escassos e a obtenção dos dados é mais restrita do que o futebol masculino. O estudo francês de Laurence Prudhomme-Poncet, Histoire du football féminin au XXème siècle (2003), é uma obra que ilustra vontade em estudar o fenómeno, mas, com a escassez de dados sobre o futebol feminino a nível internacional, limita-se a apreender a sua história sob o prisma francês ou, quanto muito, europeu.
Os primeiros obstáculos do futebol feminino surgem logo nos primeiros tempos. Os argumentos não faltam: o dever de maternidade, a violência da modalidade desportiva, pois poderiam danificar os “atributos preciosos do seu organismo”, a sua fisiologia considerada especial não lhe permitiria fazer movimentos e esforços muito violentos.
A história do futebol feminino é particular, que continua na sombra do futebol masculino. Isso pode-se explicar, em parte, pelo investimento tardio das instituições futebolísticas, nomeadamente da FIFA. Face aos problemas encontrados, o futebol feminino soube adaptar-se e desenvolver-se, criando muitas diferenças relativamente à história do futebol masculino, mas também pela sua geografia e hierarquia desportiva.
O “desporto-rei”, sob o prisma masculino, não o é menos se se conjuga no feminino, fato que os estudos esquecem muitas vezes. As reticências são ainda fortes, marcadas pelo sexismo. A importância dos investimentos económicos e humanos é também menor, deixando um fosso entre os homens e as mulheres, tanto a nível amador como profissional, regional como internacional."

Urra...

Embalar !!!

Caminhada 'atribulada'!!!

Chuva Vermelha!!!

Marquês...

No fim ganhou o melhor: a equipa de Bruno Lage

"Benfica foi um justo vencedor, obviamente

Os números não deixam dúvidas: o Benfica ganhou porque foi o melhor.
Foi o melhor sobretudo desde que Bruno Lage tomou conta da equipa. Desde então, somou dezoito vitórias em dezanove jogos, marcou 72 golos (tantos quanto o Sporting e apenas menos dois do que o FC Porto em toda a época) e fez a segunda melhor volta de sempre em Portugal.
Se os números não chegarem para convencer o leitor, há tudo o resto também.
Há o futebol avassalador, há a confiança mostrada em campo, há as nove goleadas e há sobretudo o rendimento tirado dos jogadores.
Bruno Lage exponenciou atletas que antes pouco contavam. Samaris, por exemplo. Ou Rafa Silva. Ou João Félix, claro. Ou Ferro e Florentino. Bruno Lage exponenciou até Pizzi, que com Rui Vitória estava longe da influência habitual e muitas vezes era o primeiro a ser substituído. Com Bruno Lage tornou-se o melhor jogador do campeonato: fez 14 das 18 assistências de toda a época e fez oito dos 13 golos em todo o campeonato. No fim teve participação decisiva em 31 golos, portanto. Admirável.
Bruno Lage parece ter entrado dentro dos jogadores, para lhes tocar num qualquer nervo que mandava o coração bombear sangue: e este Benfica era muito isso, coração e sangue, muito entusiasmo por divertir-se com a bola e divertir os adeptos.
Mas houve mais.
O treinador engrandeceu também a equipa em torno de uma ideia de futebol aventureira e corajosa. A partir daí os jogadores sentiram-se valorizados e motivaram-se, como costuma acontecer quando alguém lhes reconhece valor para fazer um jogo corajoso.
O resto foi o que se viu. Um justo campeão."

Benfica reconquista Portugal com futebol bonito e sangue nos olhos

"O técnico Bruno Miguel Silva do Nascimento, que adoptou o sobrenome Lage em homenagem ao seu pai, Fernando, tinha uma enorme bagunça para arrumar quando aceitou a missão de assumir o elenco principal do maior clube de Portugal. O Benfica vinha de surpreendente derrota de 2 a 0 para o Portimonense, estava a sete pontos do líder Porto em plena 15ª rodada da Primeira Liga e corria sério risco de ficar fora da próxima edição da Uefa Champions League. Além disso, o legado deixado pelo antecessor, Rui Vitória, era deprimente: futebol de doer na vista, jogadores desmotivados e torcedores irritados. E a tabela do restante da temporada reservava partidas muito difíceis para os Encarnados nos Açores, em Guimarães, em Moreira de Cónegos, em Braga e na Vila do Conde, clássico no Estádio do Dragão e dérbi no Estádio José Alvalade. A missão, evidentemente, era complicadíssima. Mas, como a vida nos ensina, as dificuldades fazem parte da história dos campeões - e o futebol é uma extensão da vida.
A verdade é que o alto escalão do Sport Lisboa e Benfica, na metade da temporada, não ganhou somente um técnico, mas também um líder, cujas virtudes já eram conhecidas pelos rapazes do Benfica B, frequentadores da parte de cima da Segunda Liga. O depoimento do mister na entrevista coletiva após o triunfo de 4 a 2 contra o Rio Ave, no Estádio da Luz, pela 16ª jornada da Liga, em 6 de janeiro, diz muito sobre quem ele é e sobre quem seriam os seus comandados de lá para cá. "Quando fui apresentado, senti no olhar dos jogadores que eu seria o líder deles. É algo que acontece de forma muito natural. Neste momento de transição de trabalho, é importante nos sentirmos confortáveis e passarmos uma imagem de entrega e de motivação. É muito importante reconquistar o público", declarou Lage naquela ocasião.
Escrevia-se ali a primeira página de uma história gloriosa. Os jogadores demonstraram uma impressionante saúde mental para buscar os três pontos depois de saírem perdendo por 2 a 0, vale recordar. Mesmo com apenas dois dias de contacto entre o novo técnico e o plantel, as perspectivas já eram positivas. Não à toa o então interino foi efectivado no cargo após a vitória de 2 a 0 frente ao Santa Clara, no Arquipélago dos Açores, contrariando rumores da imprensa, que iam de Jorge Jesus a José Mourinho. A directoria encontrou em casa a solução para os problemas que tanto atormentavam a nação benfiquista - boa parte desses problemas foram provocados pelos próprios cartolas, diga-se. 
Desde a mudança no comando à beira do campo, o SLB ganhou outra cara. Passou de um 4-3-3 focado em investidas nas laterais e passes longos para um 4-4-2 mais dinâmico e muito agradável de se ver. Não existia mais aquele time que apostava exaustivamente em chutões, abusava dos chuveirinhos na área, deixava espaços e era facilmente explorado pelos oponentes, dependia da individualidade dos seus principais jogadores, retraía-se até mesmo contra adversários tecnicamente inferiores e se apavorava quando sofria gol. A mesma equipe passou a tocar a pelota de pé em pé, controlar as acções no meio-campo, jogar com intensidade, não se intimidar em momento algum - nem mesmo ao ser vazado - e a marcar em alta pressão quando não tinha a posse de bola.
De acordo com o maior clube de Portugal, mais de meio milhão de pessoas festejaram o título na Praça Marquês de Pombal, na capital federal

E foi dessa forma que os comandados de Bruno Lage ganharam nos Açores (2 a 0, conforme já relatado), em Guimarães (1 a 0), no Dragão (2 a 1, de virada), no Alvalade (4 a 2), em Moreira de Cónegos (4 a 0), em Braga (4 a 1, de virada) e na Vila do Conde (3 a 2). Foi dessa forma que eles buscaram outras reviravoltas, contra Feirense (4 a 1, em Santa Maria da Feira) e Portimonense (5 a 1, na Luz). Foi assim que golearam o Nacional por 10 a 0 (!!!!!), na Luz. Foi dessa forma que suaram para superar o Tondela pela contagem mínima. Foi dessa forma que chegaram aos 103 gols e igualaram o recorde do lendário plantel de Eusébio, Mário Coluna, José Augusto, Torres, Germano, do técnico Lajos Czeizler e cia., da temporada 1963/1964. Foi dessa forma que acumularam 18 vitórias e um empate nos últimos 19 jogos do campeonato. Foi dessa forma que alcançaram 87 pontos na classificação, ficando atrás somente dos 88 pontos do Benfica de 2015/2016 - que, por ironia do destino ou não, era treinado por Rui Vitória. Foi dessa forma que o Maior de Portugal conquistou o seu 37º título nacional neste 18 de maio, ao superar o Santa Clara por 4 a 1. Mais do que vencer, quem veste a águia ao peito queria manter uma identidade a qual condiz com a grandeza da agremiação, a de vencer jogando bonito, e não a filosofia anterior, a do resultado pelo resultado. 
Como acontece com qualquer equipe, também houve momentos de instabilidade: as eliminações na Taça da Liga (3 a 1 para o Porto, na fase semifinal), Taça de Portugal (2 a 2 com o Sporting no placar agregado e derrota no gol qualificado, também na semifinal) e Uefa Europa League (4 a 4 com o Eintracht Frankfurt no placar agregado e derrota no gol qualificado, nas quartas de final), o revés para o Dínamo Zagreb (1 a 0, na Croácia) na primeira mão das oitavas de final da UEL e o empate com o Belenenses SAD (2 a 2, na Luz, quase custando o título) na I Liga. A partir desses tropeços, o elenco juntou os cacos e se reconstruiu para obter a tão almejada Reconquista.
Odysseas, Grimaldo, Ferro, Florentino, João Félix, Gedson, Gabriel, Samaris, Pizzi e Rafa Silva jogaram em alto nível; André Almeida superou as críticas e comprovou o seu valor para o grupo; Jonas deixou sua marca quando foi acionado; Seferovic se sagrou artilheiro da competição com 23 bolas na rede; Pizzi liderou o quesito passes para gol com 18 assistências; os Encarnados tiveram o melhor ataque do certame com os seus incontestáveis 103 gols. Pelo que as estatísticas apontam, até parece ter sido fácil. Mas não se enganem. Quem vivenciou cada partida sabe que foi muito difícil. Contaremos às próximas gerações a história do Benfica que tratou todos os desafios como uma final, encarou com sangue nos olhos os oponentes, superou com louvor as adversidades típicas dos 90 minutos, jogou bonito e reconquistou o país. Viva o Clube do Povo, 37 vezes campeão de Portugal!"

Cadomblé do Vata

"1. 103 golos marcados em 34 jogos.
2. Jonas chega aos 300 golos na carreira.
3. Segunda volta com 16 vitórias e 1 empate.
4. Uma goleada de 10-0.
5. Ferro, Florentino e Félix.
6. 14 jogos contra os 7 primeiras equipas abaixo de nós, 12 vitórias, 1 empate e 1 derrota.
Estamos a ver História a acontecer e não sabemos."

Bruno: obrigado pelo futuro, pela universidade da vida e pela bebedeira (os 18 agradecimentos (...) à #reconquista)

"Meu caro Bruno,
Obrigado.
Obrigado pela coragem. Pegaste na equipa sem garantia de nada a não ser uma segunda volta quase impossível de superar. E aqui estamos.
Obrigado pelos miúdos. Não sei se ver tanto miúdo português em campo vale mais do que este campeonato, mas faz este campeonato saber muito melhor.
Obrigado por nos ensinares a conviver com o sucesso. Não foi fácil, mas todos juntos recuperámos essa sensação. É manter.
Obrigado por nos fazeres ver a luz que mais interessava, a do estádio cheio, a dos adeptos em todo o país que fazem a equipa sentir-se sempre em casa, seja onde for.
Obrigado pelos miúdos, que a universidade da vida e o Benfica prepararam para nos dar muitas alegrias daqui em diante. Não os percas de vista. É este o Benfica maior, e o que nos engrandece a todos.
Obrigado pelos graúdos, os que recuperaste dentro do campo e os da bancada, que transformaste em crianças novamente, semana após semana.
Obrigado pelo condicionamento. Não, não é esse. O condicionamento dentro de campo, que fez de nós uma equipa superior em quase todos os minutos de cada partida. É isso que mais lhes custa. 
Obrigado pelas reviravoltas. Virámos tantos resultados nesta segunda volta que quase se tornou divertido virar os resultados. Ok, mais ou menos.
Obrigado pelos golos. São a nossa droga, mas em vez do garrote, usamos o cachecol. Nunca pensei vir a cansar-me de celebrar tanto num só jogo, mas aconteceu esta época, mas felizmente quem marca por gosto não cansa.
Obrigado pela humildade. Não confundir com falta de confiança. Sempre nos pareceste capaz, preparado e apontado que nem uma lança ao Marquês.
Obrigado pelas palavras. Não ganham jogos, mas conquistaram o coração dos adeptos, até mesmo de outros clubes.
Obrigado pelos gestos. Não és indiferente aos adeptos, aos momentos vividos deste lado. Sai-te dos poros. Não é pose nem encenação. Contigo sente-se bem: é benfiquismo. Vamos falando.
Obrigado pelo futuro. É bom sentir que temos uma vida inteira pela frente. Um contrato de alguns anos, vá. Segue em frente e dá-nos mais na próxima época.
Obrigado pela bebedeira, em doses iguais de felicidade e espumante da Bairrada. Venham mais destas. O meu fígado já partiu rumo ao 38.
Obrigado por seres civilizado. É cada vez mais raro.
Obrigado por seres do Benfica. E muito obrigado por este título. Não é só teu, bem sei, mas esta #reconquista, meu caro, é toda tua."

37, a temperatura média do corpo humano

"Nisto do futebol é difícil ser-se paquiderme, manter o sangue estável, a pele dura. E no jogo do campeonato, o Benfica entrou nervoso, como que a sentir o peso do momento. Mas não durou muito, porque o Benfica de Lage também sempre foi uma equipa capaz de resolver problemas e capaz de manter a temperatura corporal a níveis normais: Seferovic marcou aos 16', os encarnados marcariam mais três vezes, o Santa Clara apenas uma e no final o Benfica festejou o título 37

Agarrar uma equipa em Janeiro, estar a sete pontos, chegar a primeiro. Tudo isto parece mais complicado do que vestir o equipamento, beber o último gole de água e avançar para o campo, para o último jogo do campeonato, aquele que falta para se ser campeão depois de se agarrar uma equipa em Janeiro, estar a sete pontos, chegar a primeiro.
Parece, mas às vezes não é. Nisto do futebol, é difícil ser-se paquiderme, manter o sangue estável, a pele dura. Aqueles primeiros minutos do Benfica, este sábado frente ao Santa Clara, foram nervosos, intranquilos, inconstantes. O 37 ali tão perto, o 37 que é a temperatura média do corpo humano, mas que nestas alturas parece andar para cima e para baixo incontrolavelmente.
O Benfica entrou assim, emperrado. Emperrado para o jogo que lhe podia valer o campeonato. Com dificuldade a sair a jogar, com dificuldade a pressionar, com o Santa Clara dono da bola, a mesma que queimava nos pés dos jogadores do Benfica, não é isso que se costuma dizer?
Porque nisto do futebol, é difícil ser-se paquiderme. É difícil manter a temperatura corporal aos normais 37 graus, ainda mais quando há um 37.º campeonato para ganhar.
Mas o Benfica de Lage, o tal que chegou a estar a sete pontos, não foi só uma equipa de bom futebol, também foi uma equipa que soube resolver problemas, que soube ser utilitária e eficaz nos dias em que a inspiração não apareceu, que teve aquele jogador que naquele dia desbloqueou o que parecia complicado.
Talvez aquele passe de Samaris aos 16 minutos, directamente para Seferovic, que recebeu no meio da defesa do Santa Clara e rematou à meia-volta para a baliza, talvez tenha sido esse passe a desbloquear o que parecia ali, no meio daquela intranquilidade, complicado, ainda que o Benfica só tenha estabilizado com o sangue a 37 graus sete minutos depois, quando Rafa entrou na área e, num ressalto, a bola tenha ido parar aos pés mágicos de João Félix, que sentou César com o pé esquerdo e rematou com o pé direito para o 2-0.
E a partir daí o Benfica ficou livre, tranquilo, à espera apenas que os minutos passassem para festejar o 37, o tal da reconquista que às tantas ali pelo início do inverno até arrancava sorrisos jocosos de quem julgava os encarnados perdidos para este campeonato - e de facto estiveram, até deixarem de estar.
O resto do encontro conta-se com a imensa eficácia do Benfica, que ainda na 1.ª parte fez mais um golo, o terceiro golo em quatro remates, desta vez por Rafa, que aos 39’ e ao seu jogo 100 pelos encarnados, aproveitou uma bola que ficou perdida na área depois de um remate de cabeça mal calculado de Seferovic para fazer a emenda.
Na 2.ª parte, Seferovic bisou aos 56’, após um cruzamento de Grimaldo e três minutos depois César reduziria num lance esquisito, cheio de carambolas e ressaltos, com a bola a ir parar às pernas do central brasileiro e a seguir para a baliza - César pediu desculpas e sabemos que é por ter jogado no Benfica, mas poderia muito bem ter sido um daqueles pedidos de desculpas que os tenistas fazem quando ganham um ponto fortuito.
Depois de fazer o 4-1, o Santa Clara ainda deu algum trabalho a Vlachodimos, mas a história estava contada, os minutos passavam, o 37 era certo, tão certo como 37 ser o 12.º número primo, o número atómico do rubídio, a temperatura média de um corpo humano."

Veredicto: culpado por devolver a esperança a seis milhões

"Há momentos na vida em que um adepto de futebol – actividade monomaníaca e exclusivista – desvia a atenção dos relvados e começa a reparar na beleza de desportos minoritários e exóticos como o futebol de praia, a natação sincronizada e o lacrosse.
Ocorre-lhe a ideia, também ela exótica, de que na verdade o que diferencia o futebol desses outros desportos olimpicamente menosprezados é apenas a atenção que o cidadão comum lhe devota. Então, esforça-se por acreditar, não sem um certo lirismo, que o padel e os saltos para a água também atrairiam multidões se, por decreto governamental ou catástrofe inexplicável, o futebol desaparecesse dos nossos hábitos quotidianos.
Nas preferências de outros povos por desportos que não entende, como o basebol ou o críquete, julga encontrar provas que fundamentam a sua teoria. Pensa que se o seu fanatismo futebolístico é apenas fruto de um caldo cultural específico, e não de uma superioridade intrínseca ao chamado desporto-rei, poderá talvez diminuí-lo, controlá-lo e até emancipar-se da sua influência se puder escapar às condições ambientais que, em primeira instância, o tornaram num viciado do pontapé na bola.
Os momentos mais propícios a uma desintoxicação são os Jogos Olímpicos – duas semanas de quatro em quatro anos em que o futebol passa para segundo plano e, em comparação com outras modalidades, até com a equitação, se revela um espectáculo entediante – e aquela altura do campeonato em que o clube desse adepto se atrasa irremediavelmente na luta pelo título.
Se, ao fim de uma semana de Jogos Olímpicos, há quem suspire logo por um joguinho de preparação da sua equipa contra onze autóctones amadores num campo de treinos de uma pacata povoação suíça rodeado de montanhas e emigrantes, os maus resultados a meio da época transformam cada jogo num tormento pois nessa altura é impossível encontrar um refúgio a salvo do entusiasmo dos adversários e de notícias sobre futebol. É então que o adepto se vira para outras modalidades em busca de consolo e com o sentimento de culpa de quem, nos dias felizes, nunca quis saber delas para nada.
Entre o fim de Outubro e o início de Novembro, quando o Benfica alinhou três derrotas consecutivas (Ajax, Belenenses SAD e Moreirense), muitos benfiquistas descobriram o encanto discreto do bilhar às três tabelas.
No final de Novembro, a goleada em Munique fê-los pesquisar sobre ginástica rítmica no google. Dezembro, mês de paz entre os homens de boa vontade, reconciliou-os com o futebol, graças ao espírito natalício, sete vitórias de rajada e meia-dúzia de golos para o cabaz do Braga. Mas veio o novo ano e a derrota em Portimão fez disparar o interesse pela pesca desportiva, técnicas de pintura a óleo e o consumo de álcool em geral.
A única boa notícia vinha do Porto. Ao contrário do que se poderia esperar, as dezoito vitórias seguidas da equipa de Sérgio Conceição ofereciam algum sossego aos rivais. Uma superioridade tão vincada tem, nos adeptos de outros clubes, o efeito da morfina num doente terminal. Já que o desfecho é inevitável, quanto menos se sofrer melhor.
Cada triunfo do Porto era, à sua maneira, um golpe de misericórdia nas ilusões que, contra toda a lógica, ainda subsistissem nos corações vermelhos. O ideal era dar o campeonato por perdido, encomendar as faixas e remetê-las ao adversário, estudar as regras do voleibol e ocupar o tempo a elaborar mentalmente a lista de dispensas e de contratações desejadas. O ano de 2019 mal tinha começado e já o pano descia sobre a temporada do Benfica.
Com a entrada de Bruno Lage e a paulatina recuperação da equipa, os adeptos lá foram abandonando as modalidades ditas amadoras e começaram a espreitar pelo canto do olho a evolução do futebol. De início, a medo e sem alimentar muitas esperanças. Depois, quando o Porto perdeu alguns pontos, com uma expectativa crescente, ainda que tão controlada quanto possível. Finalmente, após a ultrapassagem na curva do Dragão, com o sentimento dúplice de alegria por se ter feito o mais difícil e pavor pela possibilidade de perder duas vezes o campeonato num só ano.
Foi Bruno Lage quem o disse no início de Abril, na véspera da visita a Santa Maria da Feira: “A determinada altura os adeptos sentiram que perderam o campeonato, mas com a recuperação que a equipa fez eles voltaram a acreditar. Agora sinto que as pessoas, por tudo aquilo que se vai vivendo, estão novamente com receio de voltar a perder o campeonato, e perder um campeonato duas vezes no mesmo ano é algo que os pode marcar”.
A frase revelou um entendimento perfeito do ponto de vista do adepto, mas também da bizarra situação em que o próprio Lage se encontrava. Ganhando, todos os louros lhe seriam atribuídos e Rui Vitória, não obstante a sua contribuição para o título, seria arrumado numa gaveta juntamente com uma baça medalhinha de campeão.
No entanto, se Lage perdesse o campeonato depois de uma recuperação digna de um argumento cinematográfico, poucos estariam dispostos a atirar-lhe a tábua dos sete pontos de atraso com que pegou na equipa para justificar o fracasso. Seria o maior, e para muitos benfiquistas o único, responsável por perder dois campeonatos na mesma época e o veredicto não admitiria recurso: culpado por ter devolvido a esperança a seis milhões de crentes.
Ao ganhar o campeonato, não só lhes proporcionou o prazer redobrado de uma conquista que, nos primeiros dias de Janeiro, parecia impossível, como atirou para as hostes contrárias aquela espécie de alegria secundária e mortificante suscitada pelos triunfos nas outras modalidades quando a equipa de futebol falha ignobilmente.
E nada como a peregrinação primaveril ao Marquês para preparar o espírito do adepto para os meses de abstinência futebolística e então, sim, apreciar na plenitude, sem vestígios de azia, o pelotão colorido do Tour, as proezas na relva de Wimbledon, as maravilhas do polo-aquático e os remates acrobáticos e bronzeados dos artistas que, em pleno verão, trabalham onde os outros se divertem."

O Benfica é o sistema: explicando como o 4x4x2 libertou o talento

"Antes de chegar a ser apontado para a equipa principal do Benfica, Bruno Lage apresentava um 1-4-3-3 assimétrico, onde os médios tinham muito protagonismo. Da construção à criação, tudo passava pelos pés dos médios que podiam livremente exprimir o seu talento dentro e fora dos blocos defensivos mais, ou menos, congestionados. A promessa era a de um futebol de posse e de competência na forma de romper com blocos densos que estacionam perto da baliza que defendem. 
Porém, desde o dia em que assumiu, o treinador do Benfica afirmou que a equipa principal iria jogar em 1-4-4-2. E se é o sistema mais utilizado no campeonato português, também é aquele que permitiu ao treinador juntar a maioria dos melhores executantes no mesmo onze. Bruno Lage soltou o talento que tão poucos acreditam existir no plantel encarnado, libertou vários jogadores ostracizados pelo comando anterior, e trouxe de volta o entusiasmo perdido pelo público da Luz.

Parece Fácil
A dinâmica de jogo começou por surpreender os adversários pela velocidade e facilidade com que os jogadores executavam os movimentos. Como ninguém sabia exactamente que movimentos eram aqueles, quais eram os objectivos dos mesmos, e se eram ou não circunstanciais, a dificuldade em parar o ímpeto ofensivo encarnado era imensa.
Ajudou, neste caso, os jogadores não estarem demasiado familiarizados com os requisitos do treinador para o momento ofensivo, tendo isso permitido que o ataque fosse mais imprevisível do que é hoje.
A equipa melhorou muito no momento ofensivo e no momento defensivo, pela forma agressiva como encarou as transições – da defesa para o ataque e do ataque para a defesa -, e perdeu fulgor pela menor capacidade de ferir os adversários, passado o efeito surpresa, em organização ofensiva. E ao dia de hoje, poderemos ver um Benfica campeão sem grandes competências nos momentos de organização defensiva e em ataque posicional.
Como o Benfica de Bruno Lage é melhor do que a maioria dos outros, do ponto de vista da qualidade individual, soma uma percentagem de vitórias bastante superior às derrotas e empates.

Porquê o 4x4x2?
A escolha do sistema não foi inocente, e se existiram momentos de vendaval das águias estes apareceram registados no nome de João Félix. Foi o grande beneficiado pela mudança de sistema e um grande responsável por quase tudo que de bom se tem visto do Benfica. A aposta em Félix foi clara e concisa, e o seu treinador está a colher o que plantou: colocou os melhores a jogar nas posições onde mais rendem. Rafa à esquerda, Félix no meio, Pizzi a partir da ala para o corredor central, Florentino em campo, Ferro como central do lado esquerdo, Seferovic como ponta de lança. 
O miúdo rebentou ao início por aparecer mais vezes no corredor central, preocupado com tarefas colectivas de construção, criação e finalização. Notava-se o seu impacto por ser o elemento mais diferenciado que a equipa tinha em campo a jogar dentro do bloco adversário.
Quando passou a aparecer mais vezes no corredor lateral na preparação e na definição, quando deixou de ser tão importante para ligar a equipa nesses momentos, perdeu fulgor e a equipa ressentiu-se disso. Hoje, apesar de continuar a ser decisivo, não representa a mesma ameaça do que quando o treinador dava os primeiros passos.

Apesar de Tudo...
Não se deixe enganar pelas minhas críticas, porém; se a turma do Seixal levantar o caneco o grande mérito será do seu treinador. Herdou uma equipa colapsada do ponto de vista mental por falta de estímulos adequados no treino. Em campo ninguém se percebia, ninguém parecia saber o que fazer. Não existia comunhão entre os jogadores e a equipa técnica anterior, nem entre a equipa e os adeptos.
Bruno Lage agarrou nas cinzas e delas fez renascer a Águia, voltando a dar sentido ao seu nome: vitória. Tudo isto com foco no treino e no jogo. É inegável que a equipa hoje é bem mais equipa do quando Rui Vitória decidiu dizer adeus: sabem o que fazer em cada momento do jogo, por força da ideia do seu treinador. Os jogadores passaram de fracassados, de pouco competentes do ponto de vista individual, a heróis, pelas vitórias conquistas com Bruno Lage ao leme.
Com bola a equipa procura fazer a bola entrar nos médios ala (Rafa e Pizzi), para que estes possam ter protagonismo na definição dos lances. Recebem a bola fora do bloco ou dentro dele, e tentam através de combinações, e/ou da condução da bola pelo corredor central fazê-la chegar à situações de último passe ou de finalização.
Também eles, no momento de atacar a finalização, aparecem a dar uma alternativa a quem procura entregar a responsabilidade de finalizar um ataque.
Não é suposto os médios centro participarem em situações de ataque que possam colocar em causa o momento da perda da bola. Florentino e Samaris (antes Samaris e Gabriel) são os responsáveis pela gestão dos equilíbrios da equipa. Salvo raras excepções, estão os dois mais preocupados em cobrir os colegas que têm a bola do que em ser uma solução de passe válida, e uma opção viável para dar seguimento ao ataque.
São eles que controlam e param a maior parte dos contra-ataques, ainda no seu meio campo ofensivo. A ausência de Gabriel, o quarter-back, tornou ainda mais evidente a pouca relevância que os médios encarnados têm no momento ofensivo.
Os centrais ora conduzem, ora soltam nos médios para que sejam estes a colocar a bola em zonas mais adiantadas. Têm liberdade para jogar longo, e não tantas condições para joga curto.
Os laterais aparecem, à vez, em largura e profundidade. Aparecem de uma segunda linha quando a bola se move de um lado à outro do campo, por força da sua posição mais central na altura em que a bola não está a ser jogada no seu corredor. Grimaldo constrói, cria, e finaliza; André Almeida tenta fazer o passe, a desmarcação, a combinação mais simples.
Os avançados participam a partir do corredor e ficam escondidos para finalizar depois. As trocas posicionais que fazem com os médios, para tentarem arranjar espaço com movimentos dissidentes, para tentarem apanhar o adversário em contra movimento, não os tem beneficiado no momento da construção e criação.
Têm a vantagem de, no momento da finalização, não estarem a ser seguidos e acompanhados pelos defesas, por não os conseguirem referenciar uma vez que eles aparecem de fora para dentro. Em contra-ataque abrem, e deixam muitas vezes que sejam os médios ala a aparecer no espaço mais enquadrado com a baliza.
Sem bola a equipa defende com três linha e meia. Os dois avançados formam a primeira linha de pressão, Pizzi, Florentino e Samaris a segunda, a linha defensiva a terceira. Falta Rafa que adopta uma posição intermédia, fica um pouco mais solto das tarefas defensivas, e prepara o contra-ataque em condução para aproveitar o espaço que o adversário lhe permitir.
A equipa da Luz joga um futebol contundente e pouco rendilhado, não é brilhante, mas está melhor trabalhada do ponto de vista táctico e há mais jogadores disponíveis para ajudar a resolver os problemas em campo do que apenas aqueles que têm somado mais minutos, e dão mais garantias ao treinador.
Está longe de ser extraordinária naquilo que faz, mas para tal é preciso tempo; um factor fundamental na aquisição de comportamentos colectivos, e na forma como o treinador consegue convencer os seus jogadores sobre qual o melhor caminho a seguir.
Bruno Lage tem repetido por inúmeras vezes que os jogadores estavam a fazer dele treinador, não menos verdade é que sem ele alguns jogadores de muita qualidade não estariam hoje com o mesmo estatuto que foram ganhando com o novo treinador."

Mais de 7 horas de Benfica!!!

E na Rotunda Cosme Damião...!!!

Vitória no Restelo...

Belenenses 23 - 34 Benfica
(12-16)

Passou despercebido no meio da festa do 37, mas ontem à noite vencemos no Restelo...

Benfiquismo (MCLXXXV)

E tudo no ar...!!!

Vermelhão: o 37 vindo da Alma !!!

Benfica 4 - 1 Santa Clara


No meio de toda a alegria, de toda a vontade de festejar, o nosso grande sentimento foi de alívio! Foram dois anos de um ataque cerradíssimo ao Benfica, foram dois anos de calúnia, difamação, mentiras, colocando em causa a nossa honra... Após aquela tarde muito molhada do Jamor, foram praticamente dois anos sem títulos maiores, lutando num Campeonato totalmente inquinado, semana após semana, sempre a jogar contra mais de 11 adversários, nos nossos jogos, e nos jogos dos nossos adversários directos... Por tudo isto, e muito mais, foi com alivio que assisti a este jogo... Cada golo deste final de tarde, foi uma machadada no crime organizado, pois para o Benfica vencer esta 'guerra', só pode ganhar, ganhar e ganhar... E se alguém pensa que a 'guerra' será ganha nos Tribunais, desenganem-se, as vitórias do Benfica, têm que ser dentro do relvado... Com união, com trabalho, com competência, com talento... mesmo se para isto, tenhamos que fazer mais de 20 pontos do que os adversários, para vencer por 2 !!!

O jogo desta tarde, como todos os jogos decisivos, com toda a ansiedade que é criada no pré-jogo, nunca são fáceis... E hoje, os primeiros minutos, até foram divididos, o Santa Clara demonstrou competência na posse de bola, o Benfica sentiu algumas dificuldades na pressão a meio-campo, mas esta tarde, principalmente na 1.ª parte, fomos letais, hoje, não houve desperdícios escandalosos... E quando a bola entrou pela primeira vez, o jogo estava decidido!!! E não foi por falta de atitude do adversário, que quando reduziu para 4-1, parecia que estava com vontade de fazer uma 'remontada', mesmo com algumas dificuldades, principalmente nos Cantos, o 37 nunca iria fugir!!!
O Lage voltou a reafirmar no final, que o colectivo é o mais importante, e hoje voltámos a fazer uma exibição colectiva, com exibições muito 'parecidas'! O Seferovic pelos golos foi considerado o MVP... e talvez o mereça, até porque é bom recordar que o Haris começou a época como potencial dispensado, e acaba com o melhor marcador da Liga e só não chegou aos 30 e tal golos, porque ainda não 'aprendeu' a marcar quando aparece isolado à frente do guarda-redes, com a bola controlada!!!
Mas para mim, o Samaris hoje voltou a ser o mais influente... e com o Rafa no 1.º tempo, a desestabilizar completamente a defesa contrária!
Este deverá ser um dos títulos do Benfica, com mais jogadores da 'casa', no pós-anos 80, seguramente! Não podemos pensar que todas as épocas, vão aparecer jovens com o mesmo talento do Félix, e do Tino por exemplo, mas tenho a certeza que a Direcção tudo vai fazer para que esta juventude fique o tempo suficiente, dando 'tempo' para os 'próximos' aparecerem...
O Tino, por exemplo, tem um  potencial enorme, já é um bom jogador, mas ainda falta-lhe alguma experiência, isso até se nota, na forma como tenta jogar 'limpo' sempre, quando naquela posição têm-se que ser 'esperto' e às vezes é preciso fazer aquelas faltas úteis... O Félix não precisa de adjectivos elogiosos, hoje voltou a marcar um grande golo, mas não fez um grande jogo... O pessoal pensa que isto é automático, mas o Félix o ano passado por esta altura, andava a lutar pelo título nacional de Juniores!!! O Ferro em Janeiro ainda estava na equipa B... estava a jogar em Mafra, quando acabou por ser substituído de 'emergência', devido à lesão do Conti num treino... Ter esta gente toda, num equipa Campeã, ainda por cima num Campeonato decidido desta forma, com um sprint final repleto de pressão, com 19 jogos, que deram 18 vitórias e 1 empate, que permitiram passar do 4.º lugar a 7 pontos do líder, para a vitória final, é extraordinário!!!
Agora, não tenho dúvidas que o MVP do título, foi claramente o Bruno Lage!!! Tudo mudou, rapidamente, praticamente sem treinos, a jogar de 3 em 3 dias, com toda a pressão do mundo em cima...
Nem tudo foi perfeito, mas o Lage é o menos culpado... Sem ter qualquer responsabilidade na escolha do plantel, sem ter feito a pré-época, foi inteligente na forma como percebeu que a prioridade das prioridades era mesmo o Campeonato... Sendo que desde do 1.ª dia, já tinha percebido que isto só ia lá com a empatia total dos adeptos com os jogadores... e que tinham que ser os jogadores dentro do campo, a 'puxar' pelos cânticos!!!
Até Segunda-feira, na Praça do Município, temos todo o direito de celebrar, merecemos. Nós adeptos, com este triunfo até podemos ter um defeso mais tranquilo, mas tenho a certeza que quando a silly season começar em força, iremos novamente ser massacrados com notícias anti-Benfica... Portanto, o melhor é aproveitar...
Agora a 'estrutura', com o treinador à cabeça, deve fazer tudo para não deixar as decisões para o final de Agosto, tanto em relação às saídas, como às entradas... O primeiro jogo oficial será 'somente' a Supertaça, desta vez não temos pré-eliminatórias, mas estas remontadas na classificação não acontecem todos os anos, e temos que ter consciência que os campos inclinados não vão 'melhorar'!!!
Lateral esquerdo, mesmo se o Grimaldo não sair, Alas (o Caio já está confirmado) e Avançados para rodar com o Seferovic e o Félix, mesmo se o Jonas 'ficar' temos que ter mais opções! Na minha opinião estas 3 posições são fundamentais...